Do Valor S/A :
Há dois anos, quando as exportações brasileiras de commodities começaram a incomodar os produtores dos países industrializados, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) decidiu preparar um estudo para averiguar se a produção agrícola seria subsidiada no Brasil. O resultado, que será divulgado nos próximos dias, deverá frustrar os queixosos produtores rurais da Europa e dos Estados Unidos.
Segundo o Valor apurou, o relatório da OCDE concluiu que o subsídio brasileiro representou apenas 3% do valor da produção agrícola no período 2002/04. Esse nível é insignificante quando comparado aos subsídios oferecidos pelos países ricos, de 30% em média. O volume fica muito aquém do que o país poderia conceder pelo atual acordo agrícola da OMC e é bastante inferior aos 37% da União Européia e aos 17% dos EUA. Está na média da Nova Zelândia (2%) e da Austrália (4%).
O auxílio governamental no Brasil concentra-se em poucos produtos: trigo, milho, arroz e algodão, com subsídios variáveis entre 6% e 17%, quase sempre implícitos na taxa de juros. O Apoio Total Estimado (TSE, em inglês) para a agricultura no Brasil foi calculado em US$ 2,6 bilhões. Representa 0,5% do PIB. O TSE nos países ricos alcançou US$ 318 bilhões em 2002. Daí porque o Brasil luta na OMC por forte redução de subvenções e liberalização do comércio. A constatação da OCDE legitima a posição agressiva brasileira.
Talvez seja por isso que o Pascal Lamy (com a ajuda benfazeja de uma deputada verde italiana) já vem atacando em outra frente, bem mais fácil : a administração ambiental e trabalhista brasileira. Se bem que na ambiental, apesar da facilidade retórica - afinal "preserve a Amazônia, mate um brasileiro" já virou pichação - um estudo comparativo não deixa a OCDE lá na melhor situação do mundo. Afinal, o Mercosul estava bem melhor do que a OCDE no "Indice de Sustentabilidade Ambiental," e isso apesar do índice incluir renda per capita e crescimento demográfico.
O melhor é se concentrar nas relações trabalhist- pera, o trabalhador agrícola média na Europa e América do Norte tá melhor que a média brasileira, mas lá também tem trabalho escravo, principalmente de imigrantes usados na colheita de frutas...vai ver essa história de estender o sagrado Livre Comércio a outras esferas acaba dando em coisa boa no final. :D
Auferre, trucidare, rapere, falsis nominibus imperium; atque, ubi solitudinem faciunt, pacem appellant.
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31.5.05
30.5.05
Nous avons omis de faire la bonne pédagogie
Diz o primeiro ministro do Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, do "Não" francês.
Os partidários do "não" estão longe de formar, como alguns tentam fazer crer, uma população unida em torno do repúdio ao neoliberalismo da constituição européia. Pra começar, a extrema direita e família contam muito entre eles. Depois, os líderes socialistas que se rebelaram e fizeram campanha contra têm algo a explicar : a constituição só ratifica posições de política econômica européia que vêm do começo dos anos 90, no mínimo. O supra-sumo da ascendência da "técnica" liberal-economicista sobre a política (ie sobre a democracia), a criação de um banco central superior aos governos, foi levado a cabo pela aliança entre o socialista francês Miterrand e o democrata-cristão Kohl, e o Kohl tava mais interessado na anexação da Alemanha Oriental. "La moitié de l'Allemagne pour Kohl: tout le Deutsche Mark pour Miterrand" é como a criação do Euro foi descrita (estavam certos os que achavam que o Euro ainda custaria mais caro à Alemanha do que a reunificação). Então, onde estavam esses socialistas todos enquanto a Europa do Euro era construída? Sonhando e acordaram agora?
Mas, com todas as bexigas na cara do movimento pelo "não," ele ainda lava a alma, por conta de frases como essa do Juncker. Como se atrevem, esses campónios, a não fazer o que lhes dizemos? Insolentes!
Os partidários do "não" estão longe de formar, como alguns tentam fazer crer, uma população unida em torno do repúdio ao neoliberalismo da constituição européia. Pra começar, a extrema direita e família contam muito entre eles. Depois, os líderes socialistas que se rebelaram e fizeram campanha contra têm algo a explicar : a constituição só ratifica posições de política econômica européia que vêm do começo dos anos 90, no mínimo. O supra-sumo da ascendência da "técnica" liberal-economicista sobre a política (ie sobre a democracia), a criação de um banco central superior aos governos, foi levado a cabo pela aliança entre o socialista francês Miterrand e o democrata-cristão Kohl, e o Kohl tava mais interessado na anexação da Alemanha Oriental. "La moitié de l'Allemagne pour Kohl: tout le Deutsche Mark pour Miterrand" é como a criação do Euro foi descrita (estavam certos os que achavam que o Euro ainda custaria mais caro à Alemanha do que a reunificação). Então, onde estavam esses socialistas todos enquanto a Europa do Euro era construída? Sonhando e acordaram agora?
Mas, com todas as bexigas na cara do movimento pelo "não," ele ainda lava a alma, por conta de frases como essa do Juncker. Como se atrevem, esses campónios, a não fazer o que lhes dizemos? Insolentes!
28.5.05
A Globalização, a Eficiência, e Károly Polanyi
, ou "no dos outros é refresco."
Direto de Moçambique, onde os portugueses (como os ingleses na Índia ou os belgas nos Grandes Lagos) criaram, deliberadamente, as bases de conflitos pós-coloniais :
Maputo citizens, mostly women, who make their living by selling live chickens fear that they will have to give the business up because they are unable to compete with the cheap Brazilian frozen chickens dumped on the Mozambican market.
Up until a few months ago, the cheapest way of obtaining meat was to buy a live chicken, then slaughter and pluck it at home. Not any more.
The Maputo daily paper "Noticias" sent reporters to four Maputo markets where they found live Mozambican chickens selling for between 70,000 and 80,000 meticais each (at current exchange rates there are about 24,000 meticais to the US dollars).
But the Brazilian frozen chickens cost between 45,000 and 65,000 meticais, depending on weight. 46 year old Joana Matsinhe, who has been selling live chickens in the Xipamanine market, the largest in the city, since 1994, told "Noticias" that her sales have been in decline since December, when the Brazilian poultry began to arrive on a large scale.
"I can't stop selling from one day to the next because I have no other source of income", she said. "We're in a bad way.
We don't know what's going to happen tomorrow".
Rute Salomao, who sells birds in the Mahlhazine market, said that sometimes she sits at her stall all day without selling a single chicken. A good day is when she sells just two or three birds. Two widows, Luisa and Joana Joao, are part of the informal economy - they told the paper they sell chickens on the streets of Jardim neighbourhood. Last year they would buy 100 or 200 chickens at a time from the wholesaler, the General Union of Cooperatives (UGC), and would sell them all in "less than four days".
Now they buy 100 chickens from the UGC and it takes them two or three weeks to sell them. So they have to buy chicken feed to keep the birds alive - and even so some of them perish since the two women do not have proper facilities for keeping live birds for any length of time "Where can I find the money to meet these losses?", asked Luisa Joao.
To make matters worse, the Municipal Police is currently cracking down on illegal street vendors. The City Council wants all vendors to sell in the municipal markets, where there are several thousand unoccupied stalls. But the two widows claim they would sell even less in the markets (they would also, of course, have to pay market fees).
Direto de Moçambique, onde os portugueses (como os ingleses na Índia ou os belgas nos Grandes Lagos) criaram, deliberadamente, as bases de conflitos pós-coloniais :
Maputo citizens, mostly women, who make their living by selling live chickens fear that they will have to give the business up because they are unable to compete with the cheap Brazilian frozen chickens dumped on the Mozambican market.
Up until a few months ago, the cheapest way of obtaining meat was to buy a live chicken, then slaughter and pluck it at home. Not any more.
The Maputo daily paper "Noticias" sent reporters to four Maputo markets where they found live Mozambican chickens selling for between 70,000 and 80,000 meticais each (at current exchange rates there are about 24,000 meticais to the US dollars).
But the Brazilian frozen chickens cost between 45,000 and 65,000 meticais, depending on weight. 46 year old Joana Matsinhe, who has been selling live chickens in the Xipamanine market, the largest in the city, since 1994, told "Noticias" that her sales have been in decline since December, when the Brazilian poultry began to arrive on a large scale.
"I can't stop selling from one day to the next because I have no other source of income", she said. "We're in a bad way.
We don't know what's going to happen tomorrow".
Rute Salomao, who sells birds in the Mahlhazine market, said that sometimes she sits at her stall all day without selling a single chicken. A good day is when she sells just two or three birds. Two widows, Luisa and Joana Joao, are part of the informal economy - they told the paper they sell chickens on the streets of Jardim neighbourhood. Last year they would buy 100 or 200 chickens at a time from the wholesaler, the General Union of Cooperatives (UGC), and would sell them all in "less than four days".
Now they buy 100 chickens from the UGC and it takes them two or three weeks to sell them. So they have to buy chicken feed to keep the birds alive - and even so some of them perish since the two women do not have proper facilities for keeping live birds for any length of time "Where can I find the money to meet these losses?", asked Luisa Joao.
To make matters worse, the Municipal Police is currently cracking down on illegal street vendors. The City Council wants all vendors to sell in the municipal markets, where there are several thousand unoccupied stalls. But the two widows claim they would sell even less in the markets (they would also, of course, have to pay market fees).
Ainda é pouco, mas é um passo
Um milhão de pessoas estão sendo alfabetizadas no programa de alfabetização do MEC. Universalizar a alfabetização é pouco, pouquíssimo, quase nada. Até a universalização do ensino médio não significa necessariamente um povo educado. Mas é uma revolução social tão grande quanto a universalização fundiária, ei quei ei reforma agrária. Algumas consequências:
Num dos muitos livros "pensando o Brasil," um ensaísta* fala de seu sonho do Brasil com ensino médio universalizado, no qual a empregada lhe anota o recado, ao invés do Brasil real onde a empregada não sabe ler. Sinto muito, mas numa situação de acesso universal ao conhecimento, empregadas domésticas ficam muito mais caras. A não ser que ele imagine uma empregada importada da Bolívia ou das Filipinas, como nos EUA.
O debate sobre cotas, que hoje significa o acesso de uma classe média e média-baixa negra emergente à faculdade, passaria a representar realmente a "inclusão dos excluídos," ao invés de "a inclusão dos próximos 20%."
A indústria cultural sofreria uma transformação, de escala quanto geográfica quanto na sua dependência do governo. Aliás, toda a geografia econômica e social do Brasil mudaria.
Boa parte da diferença de renda entre os sexos está relacionada à baixa educação - não porque as mulheres são menos educadas, mas porque profissões masculinas exigindo pouca educação formal são mais bem pagas do que as feministas (com a possível exceção da diarista servindo em casa de rico, que é classe média).
*esqueci quem no momento; prometo passar na livraria e dar edit aqui.
**************
O PV faz parte da coalizão que elegeu Blairo Maggi. E pretende reeleger. Também fez parte da coalizão do Ivo Cassol, que está nas manchetes por conta do autogrampo, mas poderia ter chegado lá por conta da sua ferrenha oposição a qualquer coisa que cheire a ambientalismo, com direito a bate-boca entre ele e a Marina Silva.
**************
Mea culpa : o "descarmamento" teria pontos negativos; por exemplo, o desaparecimento de uma classe de microempresários que são os caminhoneiros; um baque na indústria automobilística nacional; um gasto alto, principalmente para vencer a serra costeira; o encarecimento e sucateamento das estradas de rodagem.
Aliás, não existe NADA (nem a Sabrina Sato) que só tenha pontos positivos. Se alguém tentar dizer que existe, está pregando, e não discutindo. Me lembrei disso por conta da declaração de um executivo japonês ao Lula, "no Japão, estabilidade de longo prazo é por 30 anos, não 5." A fábula moral do capitalismo contemporâneo justifica o ganho do capitalista pelo risco que ele corre; daí, teorias surgidas com base nela dizem que risco e lucro são sinônimos. Ora, a cultura empresarial japonesa é alérgica a risco desde o período Taisho, no mínimo, e a economia japonesa é a que mais cresceu no mundo. Os coreanos, que imitaram o modelo japonês em boa parte, são a segunda.
***************
Falando na Coréia, que queria mudar de capital, a África do Sul vai fazer o mesmo. Bem, quase - como não tem dinheiro, a África do Sul vai só mudar o nome. Olha só - uma decisão simples, em que ficar contra ou a favor é difícil. Que estranho.
Num dos muitos livros "pensando o Brasil," um ensaísta* fala de seu sonho do Brasil com ensino médio universalizado, no qual a empregada lhe anota o recado, ao invés do Brasil real onde a empregada não sabe ler. Sinto muito, mas numa situação de acesso universal ao conhecimento, empregadas domésticas ficam muito mais caras. A não ser que ele imagine uma empregada importada da Bolívia ou das Filipinas, como nos EUA.
O debate sobre cotas, que hoje significa o acesso de uma classe média e média-baixa negra emergente à faculdade, passaria a representar realmente a "inclusão dos excluídos," ao invés de "a inclusão dos próximos 20%."
A indústria cultural sofreria uma transformação, de escala quanto geográfica quanto na sua dependência do governo. Aliás, toda a geografia econômica e social do Brasil mudaria.
Boa parte da diferença de renda entre os sexos está relacionada à baixa educação - não porque as mulheres são menos educadas, mas porque profissões masculinas exigindo pouca educação formal são mais bem pagas do que as feministas (com a possível exceção da diarista servindo em casa de rico, que é classe média).
*esqueci quem no momento; prometo passar na livraria e dar edit aqui.
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O PV faz parte da coalizão que elegeu Blairo Maggi. E pretende reeleger. Também fez parte da coalizão do Ivo Cassol, que está nas manchetes por conta do autogrampo, mas poderia ter chegado lá por conta da sua ferrenha oposição a qualquer coisa que cheire a ambientalismo, com direito a bate-boca entre ele e a Marina Silva.
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Mea culpa : o "descarmamento" teria pontos negativos; por exemplo, o desaparecimento de uma classe de microempresários que são os caminhoneiros; um baque na indústria automobilística nacional; um gasto alto, principalmente para vencer a serra costeira; o encarecimento e sucateamento das estradas de rodagem.
Aliás, não existe NADA (nem a Sabrina Sato) que só tenha pontos positivos. Se alguém tentar dizer que existe, está pregando, e não discutindo. Me lembrei disso por conta da declaração de um executivo japonês ao Lula, "no Japão, estabilidade de longo prazo é por 30 anos, não 5." A fábula moral do capitalismo contemporâneo justifica o ganho do capitalista pelo risco que ele corre; daí, teorias surgidas com base nela dizem que risco e lucro são sinônimos. Ora, a cultura empresarial japonesa é alérgica a risco desde o período Taisho, no mínimo, e a economia japonesa é a que mais cresceu no mundo. Os coreanos, que imitaram o modelo japonês em boa parte, são a segunda.
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Falando na Coréia, que queria mudar de capital, a África do Sul vai fazer o mesmo. Bem, quase - como não tem dinheiro, a África do Sul vai só mudar o nome. Olha só - uma decisão simples, em que ficar contra ou a favor é difícil. Que estranho.
Quanto custa, d'après Bouvard & Pecuchet
Os royalties bolivianos inviabilizam a produção de qualquer coisa lá.
A Noruega cobra 50% de royalty, 28% de imposto de renda, e licença-maternidade de um ano. E o custo de produção é de 17US$ o barril. Apesar das três empresas estatais dominarem o mercado, há muita empresa estrangeira por lá.
A rejeição aos garotinhos é uma rejeição ao populismo e corrupção deles.
Quem rejeita emenda muitas vezes uma declaração de admiração pelo "excelente administrador César Maia." A única diferença : este é elitista e católico, aqueles populares e evangélicos. Até o populismo é similar, se direcionado a classes diferentes.
Os juros estão altíssimos.
Só agora que vocês repararam? Quando eles desceram do patamar médio das últimas décadas? Diga-se o mesmo da carga tributária.
Os EUA são um país conservador e "de direita" em geral.
Nos EUA já houve casamento gay. O aborto é permitido há décadas. O governo sustenta o transporte ferroviário de passageiros (mal pra caralho, mas sustenta) e a indústria pesada em geral. A proporção de universidades públicas sobre o total é o dobro da brasileira. O Fome Zero americano tem setenta anos, e a ação afirmativa vai fazer quarenta. Em muitos sentidos (e dependendo das suas esquerda e direita) os EUA estão à esquerda da Europa, símbolo da esquerda.
Por que o Brasil não deu certo?
O que cargas de diabos é "dar certo"? Vade retro, Comte.
A Noruega cobra 50% de royalty, 28% de imposto de renda, e licença-maternidade de um ano. E o custo de produção é de 17US$ o barril. Apesar das três empresas estatais dominarem o mercado, há muita empresa estrangeira por lá.
A rejeição aos garotinhos é uma rejeição ao populismo e corrupção deles.
Quem rejeita emenda muitas vezes uma declaração de admiração pelo "excelente administrador César Maia." A única diferença : este é elitista e católico, aqueles populares e evangélicos. Até o populismo é similar, se direcionado a classes diferentes.
Os juros estão altíssimos.
Só agora que vocês repararam? Quando eles desceram do patamar médio das últimas décadas? Diga-se o mesmo da carga tributária.
Os EUA são um país conservador e "de direita" em geral.
Nos EUA já houve casamento gay. O aborto é permitido há décadas. O governo sustenta o transporte ferroviário de passageiros (mal pra caralho, mas sustenta) e a indústria pesada em geral. A proporção de universidades públicas sobre o total é o dobro da brasileira. O Fome Zero americano tem setenta anos, e a ação afirmativa vai fazer quarenta. Em muitos sentidos (e dependendo das suas esquerda e direita) os EUA estão à esquerda da Europa, símbolo da esquerda.
Por que o Brasil não deu certo?
O que cargas de diabos é "dar certo"? Vade retro, Comte.
27.5.05
Descarmamento
Em meio à udenização do debate político, o plebiscito do desarmamento é das poucas coisas práticas que ainda podem acontecer no Congresso até a eleição.
Dado original : o Brasil, em números absolutos, é dos países em que mais gente morre de maneira violenta. O número de mortes devidas a armas de fogo é similar ao dos EUA (que têm 100 milhões de habitantes a mais), mas nos EUA metade dos mortos são suicidas, e suicidas são geralmente descontados. Não que eu saiba por quê - a facilidade de se matar é quase tão ampliada pela arma quanto a facilidade de matar outros.
O desarmamento, porém, não afeta uma parte significativa dessas mortes : as derivadas da guerra às drogas, que aqui só não é tão violenta quanto na Colômbia. Traficantes e policiais dispõem de canais de compra que não serão afetados em nada pelo desarmamento. A percepção corrente de que essas mortes representam a maior parte das mortes por armas de fogo no Brasil é incorreta; os pró-desarmamento não desfazem a confusão porque acham que perderiam impacto, e os anti- porque feita a confusão o desarmamento é inútil.
E, é claro, a discussão sobre os mortos da guerra às drogas inexiste. Depois falam dos EUA, onde 50% da população é contra a guerra no Iraque. Aqui, é quase consenso de que a guerra às drogas é consequência natural e necessária do próprio tráfico de drogas.
Mas o assunto "descarmamento" é outro. As três categorias principais de morte violenta são Homicídio, Suicídio e Acidente de Trânsito. A lista de 30 países selecionados, para o total das três, põe o Brasil em 9º lugar, com uma taxa total de 49.2/100.000capitae p.a.
Dessa taxa, suicídio (26º lugar) responde por 5.1 , homicídio (3º) por 23.3, e acidente de trânsito (5º) por 20.8 Ou seja, o país está "bem" em duas categorias. Cadê o povo reclamando por um "descarmamento"?
O IPEA calcula que a utilização de caminhões para cargas de longo curso, superdimensionada no Brasil em pelo menos 60%, seja responsável por 33% dos acidentes de trânsito nas estradas. Relevando esse cálculo*, cortemos pra 20%. Se você adicionar os mortos em viagens de ônibus, frequentemente em linhas de grande tráfego, que poderiam muito bem ser servidas por trens- mais, que foram servidas por trens no passado - pode acrescentar uns 10%. Os acidentes urbanos não seriam tão afetados por um incentivo ao transporte público sobre trilhos, mas em compensação a poluição seria - e até na Europa dos trens, a fumaça de caminhões e ônibus é a causa primária de mortes por poluição atmosférica.
Um "descarmamento" do Brasil, com o aumento do preço dos combustíveis e criação de uma malha ferroviária**, pouparia uns 15.000 mortos por ano, por baixo. Cadê a passeata de branco na Lagoa?
*porque ele geralmente parte do princípio de que outro país "similar" é o certo. Mas a China usa hidrovias porque se desenvolveu ao longo do Huang Ho e do Yang-Tse-Kiang, os EUA e o Canadá são planos até chegar no complexo hidroviário do São Lourenço, e a Rússia é quase toda plana.
**Uma malha hidroviária significa, de certa forma, matar os rios, transformando eles em estradas. No Brasil, isso já aconteceu com o Tietê e o médio Paraná. E fazer o mesmo com o alto Paraná-Paraguai é uma imprudência; pode acabar com o Pantanal, e mudar todo o sistema hídrico sul-americano.
Dado original : o Brasil, em números absolutos, é dos países em que mais gente morre de maneira violenta. O número de mortes devidas a armas de fogo é similar ao dos EUA (que têm 100 milhões de habitantes a mais), mas nos EUA metade dos mortos são suicidas, e suicidas são geralmente descontados. Não que eu saiba por quê - a facilidade de se matar é quase tão ampliada pela arma quanto a facilidade de matar outros.
O desarmamento, porém, não afeta uma parte significativa dessas mortes : as derivadas da guerra às drogas, que aqui só não é tão violenta quanto na Colômbia. Traficantes e policiais dispõem de canais de compra que não serão afetados em nada pelo desarmamento. A percepção corrente de que essas mortes representam a maior parte das mortes por armas de fogo no Brasil é incorreta; os pró-desarmamento não desfazem a confusão porque acham que perderiam impacto, e os anti- porque feita a confusão o desarmamento é inútil.
E, é claro, a discussão sobre os mortos da guerra às drogas inexiste. Depois falam dos EUA, onde 50% da população é contra a guerra no Iraque. Aqui, é quase consenso de que a guerra às drogas é consequência natural e necessária do próprio tráfico de drogas.
Mas o assunto "descarmamento" é outro. As três categorias principais de morte violenta são Homicídio, Suicídio e Acidente de Trânsito. A lista de 30 países selecionados, para o total das três, põe o Brasil em 9º lugar, com uma taxa total de 49.2/100.000capitae p.a.
Dessa taxa, suicídio (26º lugar) responde por 5.1 , homicídio (3º) por 23.3, e acidente de trânsito (5º) por 20.8 Ou seja, o país está "bem" em duas categorias. Cadê o povo reclamando por um "descarmamento"?
O IPEA calcula que a utilização de caminhões para cargas de longo curso, superdimensionada no Brasil em pelo menos 60%, seja responsável por 33% dos acidentes de trânsito nas estradas. Relevando esse cálculo*, cortemos pra 20%. Se você adicionar os mortos em viagens de ônibus, frequentemente em linhas de grande tráfego, que poderiam muito bem ser servidas por trens- mais, que foram servidas por trens no passado - pode acrescentar uns 10%. Os acidentes urbanos não seriam tão afetados por um incentivo ao transporte público sobre trilhos, mas em compensação a poluição seria - e até na Europa dos trens, a fumaça de caminhões e ônibus é a causa primária de mortes por poluição atmosférica.
Um "descarmamento" do Brasil, com o aumento do preço dos combustíveis e criação de uma malha ferroviária**, pouparia uns 15.000 mortos por ano, por baixo. Cadê a passeata de branco na Lagoa?
*porque ele geralmente parte do princípio de que outro país "similar" é o certo. Mas a China usa hidrovias porque se desenvolveu ao longo do Huang Ho e do Yang-Tse-Kiang, os EUA e o Canadá são planos até chegar no complexo hidroviário do São Lourenço, e a Rússia é quase toda plana.
**Uma malha hidroviária significa, de certa forma, matar os rios, transformando eles em estradas. No Brasil, isso já aconteceu com o Tietê e o médio Paraná. E fazer o mesmo com o alto Paraná-Paraguai é uma imprudência; pode acabar com o Pantanal, e mudar todo o sistema hídrico sul-americano.
25.5.05
Partido Inelegível da Terra de Santa Cruz
Não prometo nenhum combate à corrupção nem melhora na eficiência do gasto público. Não pretendo roubar, nem fazer gastos inúteis, mas não acho que conseguiria mudar isso no sistema como um todo. E sistemas de "eficiência" em governos e corporações frequentemente aumentam os gastos totais (incluídos consultores e auditores) e diminuem a qualidade.
Aumento de impostos : o IR federal passaria a ter tarifas de 5, 10, 20, 30, e 40 por cento. Seriam instituídos IRs estaduais, com tarifas de 3, 6, e 9%. Imposto sobre a herança (com isenções para doações filantrópicas) de 10, 20 e 30%. Os subsídios à saúde e educação privadas via isenção de imposto de renda seriam cortados. A carga tributária ficaria estável pela redução dos impostos indiretos, com exceção da CIDE, que seria dobrada para a gasolina e álcool. IPVA, IPTU, e ITR também sobem.
Aumento dos gastos correntes : os orçamentos de IBAMA, receita federal, INPI, e universidades aumentariam, assim como a verba dos programas do Fome Zero. Subsídios ao transporte de massa, com a possível estatização (mediante compra) de empresas de transporte a ser estudada.
Aumento pífio dos investimentos, concentrado em estradas de ferro, C&T e saneamento.
Redução nas aposentadorias do setor público. Estudo para mudar o financiamento da previdência social, diminuindo a carga tributária regressiva representada pelas contribuições.
Política de ação afirmativa geográfica (e não racial) agressiva. Não com cotas, mas com direcionamento de verbas educacionais, financiamento de cursinhos, e pontos extras no vestibular. Note que a cota geográfica, na prática, também põe mais pretos na universidade.
Cobrança de anualidade nas universidades públicas, de acordo com a renda familiar do estudante. O dinheiro não iria para o MEC, mas direto para a conta de cada universidade.
Quebra de empresas monopolistas, incluíndo a Petrobras. A exploração e produção talvez continuasse em mãos estatais; as refinarias seriam transformadas em empresas independentes, com ações na bolsa vendidas de forma pulverizada. A Transpetro e a BR, que já são empresas, idem.
Destombamento de tudo que não tiver algum plano de preservação.
"Faixas de domínio" de rios, com multas e até desapropriação previstas para quem degradar as ditas. Criação de parquen nacionais grandes fora da Amazônia.
Ajuda externa de 0.1% do PIB no primeiro ano, crescendo em 0.1% ao ano.
Vender ou transformar em museu o NAe São Paulo. Fim do serviço militar obrigatório, e da Vila Militar no Rio de Janeiro.
Reformar a lei das S/A, prevendo o fim imediato da obrigatoriedade de pagamento de dividendos e o fim eventual das ações preferenciais.
Exílio ou prisão domiciliar dos cidadãos Oscar Niemeyer, Míriam Leitão, e Pedro Bial.
Aumento de impostos : o IR federal passaria a ter tarifas de 5, 10, 20, 30, e 40 por cento. Seriam instituídos IRs estaduais, com tarifas de 3, 6, e 9%. Imposto sobre a herança (com isenções para doações filantrópicas) de 10, 20 e 30%. Os subsídios à saúde e educação privadas via isenção de imposto de renda seriam cortados. A carga tributária ficaria estável pela redução dos impostos indiretos, com exceção da CIDE, que seria dobrada para a gasolina e álcool. IPVA, IPTU, e ITR também sobem.
Aumento dos gastos correntes : os orçamentos de IBAMA, receita federal, INPI, e universidades aumentariam, assim como a verba dos programas do Fome Zero. Subsídios ao transporte de massa, com a possível estatização (mediante compra) de empresas de transporte a ser estudada.
Aumento pífio dos investimentos, concentrado em estradas de ferro, C&T e saneamento.
Redução nas aposentadorias do setor público. Estudo para mudar o financiamento da previdência social, diminuindo a carga tributária regressiva representada pelas contribuições.
Política de ação afirmativa geográfica (e não racial) agressiva. Não com cotas, mas com direcionamento de verbas educacionais, financiamento de cursinhos, e pontos extras no vestibular. Note que a cota geográfica, na prática, também põe mais pretos na universidade.
Cobrança de anualidade nas universidades públicas, de acordo com a renda familiar do estudante. O dinheiro não iria para o MEC, mas direto para a conta de cada universidade.
Quebra de empresas monopolistas, incluíndo a Petrobras. A exploração e produção talvez continuasse em mãos estatais; as refinarias seriam transformadas em empresas independentes, com ações na bolsa vendidas de forma pulverizada. A Transpetro e a BR, que já são empresas, idem.
Destombamento de tudo que não tiver algum plano de preservação.
"Faixas de domínio" de rios, com multas e até desapropriação previstas para quem degradar as ditas. Criação de parquen nacionais grandes fora da Amazônia.
Ajuda externa de 0.1% do PIB no primeiro ano, crescendo em 0.1% ao ano.
Vender ou transformar em museu o NAe São Paulo. Fim do serviço militar obrigatório, e da Vila Militar no Rio de Janeiro.
Reformar a lei das S/A, prevendo o fim imediato da obrigatoriedade de pagamento de dividendos e o fim eventual das ações preferenciais.
Exílio ou prisão domiciliar dos cidadãos Oscar Niemeyer, Míriam Leitão, e Pedro Bial.
24.5.05
O desmatamento do Mato Grosso
Citar a si mesmo é sempre um péssimo hábito, mas o que fazer se as notícias são cíclicas?* A obsessão da imprensa brasileira por Brasília é impressionante. Brasília não é nem a quinta maior cidade do Brasil; não é um centro de decisões econômicas; até regionalmente, divide a primazia com Goiânia; até em número de servidores públicos federais perde do Rio. Ao contrário da França em que 90% das verbas nacionais (e lá não existe federação) de C&T e Cultura vão parar em Paris, no Brasil nem a Biblioteca ou o Museu Nacionais estão em Brasília, e a principal universidade federal ainda é a UFRJ (fora que o Rio, na prática, tem três, se você não cair na lenda de que Niterói é uma cidade). As redações dos grandes jornais e cadeias de TV, que tanto falam do Planalto, estão no eixo Rio-SP.
O Brasil é uma federação, e mais : ao contrário de outras federações, soma ao governo central e ao estado o nível municipal. Com atribuições previstas em lei para todas as esferas do poder, da segurança à educação ao meio ambiente. Apesar disso, lendo um jornal brasileiro parece que o Brasil é mais macrocefálico que o México, o Japão ou a Argentina.** Em parte, isso reflete uma real distorção da nossa federação, que foi feita para sujeitar a União às oligarquias locais, não para preservar a independência destas em relação àquela, situação que se agravou com a renegociação das dívidas públicas inferiores e com a institucionalização dos repasses federais como fonte de receita estadual e municipal (sem falar nos impostos compartilhados). Mas em boa parte é simplesmente uma manifestação do uso generalizado de antolhos, que os governantes de todos os níveis tentam utilizar a seu favor.
Agora, saíram os novos índices (previsíveis) de desmatamento, gerando mais calor do que luz. São "índices do governo (inserir nome do presidente corrente)." Mas desde 98 o IBGE já constata que o desmatamento ocorre principalmente em áreas onde ele já ocorria - ou em floresta secundária, ou em área de floresta primária dentro dos mesmos municípios, na mesma região. Ou seja, essa estória de "coração da Amazônia" é bobagem : o desmatamento está se intensificando no mesmo lugar. O "arco do desmatamento" não é uma frente. E esse arco (voltando à macrocefalia) está muito mais ligado ao poder local e estadual do que ao federal. É uma "questão de polícia" acima de tudo (e, como os assassinatos no Rio, tem mais de envolvimento ativo do poder estadual do que de omissão). Do ano passado para este, o desmatamento diminuiu em quase todos os estados da Amazônia Legal :
A devastação, diga-se, não compreende somente a Amazônia. O Cerrado e a Caatinga sofrem muito mais. E, se fosse incluída a área antropizada destes nos números da tabela acima, a liderança do Mato Grosso aumentaria ainda mais. Blairo Maggi demoraria, ao passo corrente, 200 anos para reduzir a Amazônia a algo parecido com as Great Plains americanas ou a Floresta Negra alemã. O Cerrado, ele pode deixar assim ainda em vida. Detalhe : os rios que abastecem de água e energia elétrica o Brasil não nascem na Amazônia.
*Assim como a economia; saber disso nos pouparia de algumas notícias cíclicas, como o desemprego aumentando no começo do ano e caindo no final, ou a inflação do tomate.
**Todas as três representam mais de um terço da população e algo parecido com a metade do PIB de seus países. No Brasil, isso seria uma cidade de uns 60 milhões de habitantes, com PIB de 1 trilhão de reais.
O Brasil é uma federação, e mais : ao contrário de outras federações, soma ao governo central e ao estado o nível municipal. Com atribuições previstas em lei para todas as esferas do poder, da segurança à educação ao meio ambiente. Apesar disso, lendo um jornal brasileiro parece que o Brasil é mais macrocefálico que o México, o Japão ou a Argentina.** Em parte, isso reflete uma real distorção da nossa federação, que foi feita para sujeitar a União às oligarquias locais, não para preservar a independência destas em relação àquela, situação que se agravou com a renegociação das dívidas públicas inferiores e com a institucionalização dos repasses federais como fonte de receita estadual e municipal (sem falar nos impostos compartilhados). Mas em boa parte é simplesmente uma manifestação do uso generalizado de antolhos, que os governantes de todos os níveis tentam utilizar a seu favor.
Agora, saíram os novos índices (previsíveis) de desmatamento, gerando mais calor do que luz. São "índices do governo (inserir nome do presidente corrente)." Mas desde 98 o IBGE já constata que o desmatamento ocorre principalmente em áreas onde ele já ocorria - ou em floresta secundária, ou em área de floresta primária dentro dos mesmos municípios, na mesma região. Ou seja, essa estória de "coração da Amazônia" é bobagem : o desmatamento está se intensificando no mesmo lugar. O "arco do desmatamento" não é uma frente. E esse arco (voltando à macrocefalia) está muito mais ligado ao poder local e estadual do que ao federal. É uma "questão de polícia" acima de tudo (e, como os assassinatos no Rio, tem mais de envolvimento ativo do poder estadual do que de omissão). Do ano passado para este, o desmatamento diminuiu em quase todos os estados da Amazônia Legal :
A devastação, diga-se, não compreende somente a Amazônia. O Cerrado e a Caatinga sofrem muito mais. E, se fosse incluída a área antropizada destes nos números da tabela acima, a liderança do Mato Grosso aumentaria ainda mais. Blairo Maggi demoraria, ao passo corrente, 200 anos para reduzir a Amazônia a algo parecido com as Great Plains americanas ou a Floresta Negra alemã. O Cerrado, ele pode deixar assim ainda em vida. Detalhe : os rios que abastecem de água e energia elétrica o Brasil não nascem na Amazônia.
*Assim como a economia; saber disso nos pouparia de algumas notícias cíclicas, como o desemprego aumentando no começo do ano e caindo no final, ou a inflação do tomate.
**Todas as três representam mais de um terço da população e algo parecido com a metade do PIB de seus países. No Brasil, isso seria uma cidade de uns 60 milhões de habitantes, com PIB de 1 trilhão de reais.
23.5.05
Lugares estranhos
Falando mal da transposição do São Francisco, já me referi aqui ao Mar de Aral, na antiga URSS, onde a irrigação em larga escala, principalmente voltada à produção de algodão, tirou água do Amu Darya e do Syr Darya - que são o Oxus e o Jaxartes da antiguidade, secando o lago. A paisagem resultante - um deserto estépico, com os navios enferrujados, alguns imensos, servindo de abrigo a cabras e nômades - é das mais surreais que existem no planeta.
Em homenagem ao passeio coreano do Lula, menciono outro dos lugares estranhos do mundo : o refúgio ecológico da Zona Desmilitarizada. Geralmente, os "refúgios ecológicos" são, ou em zonas extremamente remotas e inférteis (como o refúgio ecológico do Rub Al-Qali, o "pedaço do nada" saudita), ou, pra todos os efeitos práticos, parques sob constante intervenção humana. (Vamos deixar de lado efeitos antropogênicos mais antigos ou globais, como a terra preta na Amazônia ou a extinção de algumas espécies de superherbívoros, ou a atual mudança na atmosfera terrestre.)
Entre as duas coréias, está um refúgio ecológico bastante acidental, mas muito melhor do que 99.99% dos refúgios oficiais. Graças aos milhões de minas e vigilância constante, a Zona Desmilitarizada virou um santuário para os que não são bípedes inplumes (a respeito dessa definição, note-se que Aristóteles não era muito bom em zoologia).
A DMZ pode ser vista nessa foto de satélite, ela é uma faixa mais verde, logo a norte dos subúrbios mais remotos de Seul.
Aqui, uma foto de parte da área
Em homenagem ao passeio coreano do Lula, menciono outro dos lugares estranhos do mundo : o refúgio ecológico da Zona Desmilitarizada. Geralmente, os "refúgios ecológicos" são, ou em zonas extremamente remotas e inférteis (como o refúgio ecológico do Rub Al-Qali, o "pedaço do nada" saudita), ou, pra todos os efeitos práticos, parques sob constante intervenção humana. (Vamos deixar de lado efeitos antropogênicos mais antigos ou globais, como a terra preta na Amazônia ou a extinção de algumas espécies de superherbívoros, ou a atual mudança na atmosfera terrestre.)
Entre as duas coréias, está um refúgio ecológico bastante acidental, mas muito melhor do que 99.99% dos refúgios oficiais. Graças aos milhões de minas e vigilância constante, a Zona Desmilitarizada virou um santuário para os que não são bípedes inplumes (a respeito dessa definição, note-se que Aristóteles não era muito bom em zoologia).
A DMZ pode ser vista nessa foto de satélite, ela é uma faixa mais verde, logo a norte dos subúrbios mais remotos de Seul.
Aqui, uma foto de parte da área
Desfazendo mitos
Segundo a Folha de São Paulo, um estudo do IBGE derruba o mito de que poluição do ar está relacionada principalmente à existência de fábricas, indústrias e ao excesso de veículos nas ruas.
Como é de praxe em declarações bombásticas da imprensa, ler a matéria é recomendado. No caso, nem precisa procurar a fonte original, e a própria matéria já desfaz o desfeito. Afinal, o que a pesquisa mostra é, não a importância de cada fator na poluição atmosférica, mas a prevalência desses fatores entre os relatados pelas prefeituras brasileiras. Isso é, quantos dos 1200 municípios que disseram sofrer com a poluição do ar listaram entre seus poluentes esses fatores.
Ora, desses 1200 municípios, é difícil crer que a maioria fosse de cidades grandes. E, realmente, no campo e nas cidades pequenas, sem indústrias, a poluição do ar realmente está mais ligada à agropecuária e à poeira das estradas. Além disso, a própria pesquisa aponta que muitas prefeituras de cidades que sofrem com a poluição atmosférica não mencionaram o fato.
Pelo título da Folha, você imaginaria algo mais polêmico do que "cidadezinhas reclamam mais frequentemente de poluição de queimadas e poeira do que de indústrias e escapamentos." O "mito" de que fala a Folha - a importância dos gases produzidos por chaminés e canos de escapamento na poluição - continua sendo verdade. Experimente conferir quem reclama mais de poluição, o morador do sertão ou o de Duque de Caxias.
PS existe, sim uma anomalia de fontes poluentes no Brasil. As queimadas e os arrotos bovinos são, aqui, marginalmente mais importantes na emissão de gases do efeito estufa (CO2 e CH4) do que a queima de combustíveis fósseis, enquanto no resto do mundo esta é de longe a principal fonte.
Como é de praxe em declarações bombásticas da imprensa, ler a matéria é recomendado. No caso, nem precisa procurar a fonte original, e a própria matéria já desfaz o desfeito. Afinal, o que a pesquisa mostra é, não a importância de cada fator na poluição atmosférica, mas a prevalência desses fatores entre os relatados pelas prefeituras brasileiras. Isso é, quantos dos 1200 municípios que disseram sofrer com a poluição do ar listaram entre seus poluentes esses fatores.
Ora, desses 1200 municípios, é difícil crer que a maioria fosse de cidades grandes. E, realmente, no campo e nas cidades pequenas, sem indústrias, a poluição do ar realmente está mais ligada à agropecuária e à poeira das estradas. Além disso, a própria pesquisa aponta que muitas prefeituras de cidades que sofrem com a poluição atmosférica não mencionaram o fato.
Pelo título da Folha, você imaginaria algo mais polêmico do que "cidadezinhas reclamam mais frequentemente de poluição de queimadas e poeira do que de indústrias e escapamentos." O "mito" de que fala a Folha - a importância dos gases produzidos por chaminés e canos de escapamento na poluição - continua sendo verdade. Experimente conferir quem reclama mais de poluição, o morador do sertão ou o de Duque de Caxias.
PS existe, sim uma anomalia de fontes poluentes no Brasil. As queimadas e os arrotos bovinos são, aqui, marginalmente mais importantes na emissão de gases do efeito estufa (CO2 e CH4) do que a queima de combustíveis fósseis, enquanto no resto do mundo esta é de longe a principal fonte.
21.5.05
De centro
O PFL, ex-ARENA, recebe o equivalente "de centro" da Internacional Socialista. De centro, porque, veja bem, César Maia e Bornhausen já explicaram ao Globo que não são de direita. Você se perguntaria onde está a internacional de direita, então, já que "centro" é uma posição intermediária.
Não vale pensar que a Internacional de Direita seria uma reunião de partidos fascistas, porque muitos dos partidos da Internacional de Centro já se encaixam na definição. O PFL é apenas uma das muitas ARENAs latinoamericanas na lista. O PP espanhol é herdeiro do Franco. Os partidos de centro ex-soviéticos, como a "União das Forças de Direita" (será que eles deveriam mudar o nome para União das Forças de Centro?) são cleptocratas e fundamentalistas de mercado. Os africanos são terroristas como a RENAMO moçambicana, ou a postulante UNITA, de Angola. E por aí vai. Os partidos com a melhor reputação na lista são os partidos de direita do Ocidente, os republicanos, tories e a UMP francesa.
A lista de partidos está aqui. É divertido que uma associação que denuncia o populismo (leia-se Chávez) tenha tantos "Partidos Populares" em seus quadros (Sem nem contar os que mudaram de nome mais recentemente, eliminando o adjentivo).
Enfim. Se o centro são Bornhausen e Aznar, ACM e César Maia, Jorginho Talibã e Michael Howard, Maggie Thatcher e Pinochet...eu sou trotskista e não sabia.
Não vale pensar que a Internacional de Direita seria uma reunião de partidos fascistas, porque muitos dos partidos da Internacional de Centro já se encaixam na definição. O PFL é apenas uma das muitas ARENAs latinoamericanas na lista. O PP espanhol é herdeiro do Franco. Os partidos de centro ex-soviéticos, como a "União das Forças de Direita" (será que eles deveriam mudar o nome para União das Forças de Centro?) são cleptocratas e fundamentalistas de mercado. Os africanos são terroristas como a RENAMO moçambicana, ou a postulante UNITA, de Angola. E por aí vai. Os partidos com a melhor reputação na lista são os partidos de direita do Ocidente, os republicanos, tories e a UMP francesa.
A lista de partidos está aqui. É divertido que uma associação que denuncia o populismo (leia-se Chávez) tenha tantos "Partidos Populares" em seus quadros (Sem nem contar os que mudaram de nome mais recentemente, eliminando o adjentivo).
Enfim. Se o centro são Bornhausen e Aznar, ACM e César Maia, Jorginho Talibã e Michael Howard, Maggie Thatcher e Pinochet...eu sou trotskista e não sabia.
19.5.05
Os amigos do Jorginho
A piada do ano foi, provavelmente, quando o governo do Jorginho Talibã declarou, depois de ter passado três anos dizendo o contrário, quando se referia ao Uzbequistão de seu cumpádi Islam Karimov que "The people of Uzbekistan want to see more representative and democratic government, but that should come through peaceful means, not through violence.".
Preocupado com o ciúme entre os amigos do Jorginho, eu catei essa página sobre o primo do Karimov, Saparmurad Niyazov, pela graça do Céu pai e bashi (líder) de todos os Turcomenos. Também tem essa.
Aqui tem uma foto da estátua do Turkmenbashi, folheada a ouro e que gira de acordo com a posição do sol, tirada daqui :
Preocupado com o ciúme entre os amigos do Jorginho, eu catei essa página sobre o primo do Karimov, Saparmurad Niyazov, pela graça do Céu pai e bashi (líder) de todos os Turcomenos. Também tem essa.
Aqui tem uma foto da estátua do Turkmenbashi, folheada a ouro e que gira de acordo com a posição do sol, tirada daqui :
18.5.05
Edit Template
À falta de leitores, o blog é um bom lugar pra pôr links. E editar HTML tem uma vantagem sobre a copidescagem : o erro mínimo mas crasso é visível na hora.
17.5.05
Resumo da ópera
Superávit primário, ao deixar de ser um detalhe técnico para ser apresentado como o resultado das contas do governo, é uma linda invenção de governos neoliberais e do FMI (que está interessado no "commitment" dos governos à sua ideologia, mais do que na sustentabilidade fiscal destes). Experimente gastar todo mês mais do que ganha, e alegar que a culpa é do crediário e do cartão de crédito.
Na tabelinha do Valor, temos o verdadeiro resultado dos últimos anos, que não é de "responsabilidade fiscal," como quer o senso comum, mas de déficits fiscais de assustar o Bush. O déficit fiscal americano bateu em 6% ao ano sob os cortes de impostos e gastos militares do Jorginho Talibã.
Holocausto Brasileiro
Se alguém quiser me dar um presente sem motivo, aqui tem uma sugestão.
One of his best-known, and in some quarters notorious, findings concerns America's falling crime-rate during the 1990s. Towards the end of that decade, confounding the expectations of most analysts, the teenage murder rate fell by more than 50% in the space of five years; by 2000, the book notes, the overall murder rate was at its lowest for 35 years. Other kinds of crime fell too. Why? Some gave the credit to economic growth; others to gun control; still others to new methods of policing, or to greater reliance on imprisonment, or to increasing use of the death penalty, or to the ageing of the population.
Mr Levitt goes carefully through these various explanations, checking them against the evidence. He finds that some of them do offer a partial explanation (more jail time, for instance), whereas others do not (greater use of the death penalty, new policing methods). But the most intriguing finding was that one of the most powerful explanations had not even been broached. That explanation was abortion.
The reasoning is simple enough. In January 1973, the Supreme Court made abortion legal throughout the United States, where previously it had been available in only five states. In 1974, roughly 750,000 women had abortions in America; by 1980, the number was 1.6m (one abortion for every 2.3 live births). “What sort of woman was most likely to take advantage of Roe v Wade?” the book asks. “Very often she was unmarried or in her teens or poor, and sometimes all three...In other words, the very factors that drove millions of American women to have an abortion also seemed to predict that their children, had they been born, would have led unhappy and possibly criminal lives...In the early 1990s, just as the first cohort of children born after Roe v Wade was hitting its late teen years—the years during which young men enter their criminal prime—the rate of crime began to fall.”
The theory is the easy part, once you dare to articulate it. Testing it is quite another matter. But the book moves methodically and persuasively through the statistical evidence. It turns out, for instance, that crime started falling earlier in the states that legalised abortion before Roe v Wade; that the states with the highest abortion rates saw the biggest drops in crime (even controlling for other factors); that there was no link between abortion rates and crime before the late 1980s (when unborn criminals, as it were, first began to affect the figures); and that a similar association of crime and abortion has been found in other countries.
One of his best-known, and in some quarters notorious, findings concerns America's falling crime-rate during the 1990s. Towards the end of that decade, confounding the expectations of most analysts, the teenage murder rate fell by more than 50% in the space of five years; by 2000, the book notes, the overall murder rate was at its lowest for 35 years. Other kinds of crime fell too. Why? Some gave the credit to economic growth; others to gun control; still others to new methods of policing, or to greater reliance on imprisonment, or to increasing use of the death penalty, or to the ageing of the population.
Mr Levitt goes carefully through these various explanations, checking them against the evidence. He finds that some of them do offer a partial explanation (more jail time, for instance), whereas others do not (greater use of the death penalty, new policing methods). But the most intriguing finding was that one of the most powerful explanations had not even been broached. That explanation was abortion.
The reasoning is simple enough. In January 1973, the Supreme Court made abortion legal throughout the United States, where previously it had been available in only five states. In 1974, roughly 750,000 women had abortions in America; by 1980, the number was 1.6m (one abortion for every 2.3 live births). “What sort of woman was most likely to take advantage of Roe v Wade?” the book asks. “Very often she was unmarried or in her teens or poor, and sometimes all three...In other words, the very factors that drove millions of American women to have an abortion also seemed to predict that their children, had they been born, would have led unhappy and possibly criminal lives...In the early 1990s, just as the first cohort of children born after Roe v Wade was hitting its late teen years—the years during which young men enter their criminal prime—the rate of crime began to fall.”
The theory is the easy part, once you dare to articulate it. Testing it is quite another matter. But the book moves methodically and persuasively through the statistical evidence. It turns out, for instance, that crime started falling earlier in the states that legalised abortion before Roe v Wade; that the states with the highest abortion rates saw the biggest drops in crime (even controlling for other factors); that there was no link between abortion rates and crime before the late 1980s (when unborn criminals, as it were, first began to affect the figures); and that a similar association of crime and abortion has been found in other countries.
BRIC do F
A União Européia já foi descrita como um meio de conter a Alemanha, "grande demais para a Europa, pequena demais para o mundo," amarrando-a aos outros países europeus. Não há como não achar que Adenauer ficaria surpreso ao descobrir que, em algum ponto do século XXI, a Alemanha seria ultrapassada em população pela França. Do Figaro :
Au point que la France pourrait compter 75 millions d'habitants en 2050, soit 11 millions de plus que ne l'envisageait précédemment l'Insee dans son scénario central. Elle deviendrait ainsi le pays le plus peuplé de l'Europe des vingt-cinq, devant l'Allemagne.
«Le dernier recensement était prudent. Aujourd'hui, nous réalisons qu'en 1994, nous aurions dû retenir l'hypothèse haute et non centrale», dit Gilles de Robien dans un entretien au Figaro. «Du coup, les projections sont bien en dessous de la réalité! La France devrait en effet voir sa population atteindre 75 millions en 2050». «Même s'il est difficile de donner un chiffre au million près à l'horizon 2050, la population pourrait très bien atteindre cet ordre de grandeur», confirme de son côté Gilles Pison, directeur de recherches à l'Institut national des études démographiques (Ined). Jusqu'à présent, l'Insee prévoyait plutôt une population de 64 millions d'habitants au milieu de ce siècle.
Phénomène unique au sein de la «vieille Europe», le taux de croissance de la population française a augmenté de plus de 50% depuis une quinzaine d'années, passant d'un rythme de 0,39% par an sur la période 1990-1999 à 0,58% au cours des années 1999-2003 et même 0,68% en 2004. La France retrouve ainsi un rythme de croissance démographique qu'elle n'avait pas connu depuis 1974. Une génération!
Les données du recensement montrent en outre que cette croissance est due pour les trois quarts à l'excédent naturel de la population (solde des naissances et des décès) et pour un quart seulement à l'immigration.
L'écart se creuse entre la France et les autres pays européens, à l'exception notable de l'Irlande dont la démographie est encore plus dynamique. «Notre pays assure à lui seul la quasi-totalité de la croissance démographique de l'Europe des 25», souligne le ministre de l'Equipement. En 2003 (derniers chiffres disponibles), la population a augmenté de 216 000 habitants dans les vingt-cinq pays européens dont... 211 000 en France
Escrevendo no Figaro, o articulista parece nem ter imaginado a possibilidade de haver um rival para o título de país mais populoso da Europa de 2050 - a Turquia. Pobre demais, pouco democrática demais e muçulmana demais, mesmo assim ela pode surpreender a facção Giscard, e entrar para a União.
Aliás, quais são as fronteiras eventuais dessa união? A Rússia pode? O Marrocos? Israel? (Há quem argumente que participar do concurso Eurovision seja o verdadeiro signo de que se é europeu. O que faria com que os Bushetes que dizem ser o continente satânico estivessem certos.) Sobre a Turquia na União Européia, ver aqui, aqui, e aqui.
Au point que la France pourrait compter 75 millions d'habitants en 2050, soit 11 millions de plus que ne l'envisageait précédemment l'Insee dans son scénario central. Elle deviendrait ainsi le pays le plus peuplé de l'Europe des vingt-cinq, devant l'Allemagne.
«Le dernier recensement était prudent. Aujourd'hui, nous réalisons qu'en 1994, nous aurions dû retenir l'hypothèse haute et non centrale», dit Gilles de Robien dans un entretien au Figaro. «Du coup, les projections sont bien en dessous de la réalité! La France devrait en effet voir sa population atteindre 75 millions en 2050». «Même s'il est difficile de donner un chiffre au million près à l'horizon 2050, la population pourrait très bien atteindre cet ordre de grandeur», confirme de son côté Gilles Pison, directeur de recherches à l'Institut national des études démographiques (Ined). Jusqu'à présent, l'Insee prévoyait plutôt une population de 64 millions d'habitants au milieu de ce siècle.
Phénomène unique au sein de la «vieille Europe», le taux de croissance de la population française a augmenté de plus de 50% depuis une quinzaine d'années, passant d'un rythme de 0,39% par an sur la période 1990-1999 à 0,58% au cours des années 1999-2003 et même 0,68% en 2004. La France retrouve ainsi un rythme de croissance démographique qu'elle n'avait pas connu depuis 1974. Une génération!
Les données du recensement montrent en outre que cette croissance est due pour les trois quarts à l'excédent naturel de la population (solde des naissances et des décès) et pour un quart seulement à l'immigration.
L'écart se creuse entre la France et les autres pays européens, à l'exception notable de l'Irlande dont la démographie est encore plus dynamique. «Notre pays assure à lui seul la quasi-totalité de la croissance démographique de l'Europe des 25», souligne le ministre de l'Equipement. En 2003 (derniers chiffres disponibles), la population a augmenté de 216 000 habitants dans les vingt-cinq pays européens dont... 211 000 en France
Escrevendo no Figaro, o articulista parece nem ter imaginado a possibilidade de haver um rival para o título de país mais populoso da Europa de 2050 - a Turquia. Pobre demais, pouco democrática demais e muçulmana demais, mesmo assim ela pode surpreender a facção Giscard, e entrar para a União.
Aliás, quais são as fronteiras eventuais dessa união? A Rússia pode? O Marrocos? Israel? (Há quem argumente que participar do concurso Eurovision seja o verdadeiro signo de que se é europeu. O que faria com que os Bushetes que dizem ser o continente satânico estivessem certos.) Sobre a Turquia na União Européia, ver aqui, aqui, e aqui.
16.5.05
Generosidade
Pedro Dória, do NoMínimo, repete a versão FoxNews sobre as negociações entre Ehud Barak e Yasser Arafat. Pela falta de originalidade, nem é tão divertido quanto "Serra dá a cara a bater" (do Seti, acho).
Aqui tem outra versão. Eles não mencionam, porém, o essencial - a "oferta generosa" de Ehud Barak mantinha em mãos israelenses, além das colônias e bases militares, as auto-estradas que cruzam a região, incluídas suas faixas de domínio, de 100 metros pra cada lado, as fontes de água da região, e a fronteira com a Jordânia. O que faz do "estado palestino" oferecido um apanhado de bantustões.
Aqui tem outra versão. Eles não mencionam, porém, o essencial - a "oferta generosa" de Ehud Barak mantinha em mãos israelenses, além das colônias e bases militares, as auto-estradas que cruzam a região, incluídas suas faixas de domínio, de 100 metros pra cada lado, as fontes de água da região, e a fronteira com a Jordânia. O que faz do "estado palestino" oferecido um apanhado de bantustões.
Índices
Foi divulgado o Índice de desigualdade de gênero do Fórum Econômico Social, no qual o Brasil estaria em 51º lugar. Nas palavras da Folha, "
Na classificação geral, o Brasil ficou atrás de países como Bangladesh (39º) e Zimbábue (42º). A Argentina ficou em 35º. A melhor colocação do Brasil foi em oportunidades econômicas (21º lugar) e a pior, no índice de presença em cargos decisórios (57º). Em termos de acesso a educação, o Brasil ficou em 27º lugar, enquanto a Argentina ficou em terceiro."
E daí? Daí que o índice, que mistura números "duros" e os resultados de uma pesquisa junto a executivos, lista em "acesso à educação" os fatores : meninas/meninos, escola primária, secundária, terciária, alfabetização, anos de estudo. Em quase todos esses quesitos, o Brasil já passou da paridade, assim como muitos outros dos países avaliados. Quando falam do índice de saúde, eles mesmos mencionam práticas de clitoridectomia, mas o quesito final só inclui questões ligadas à saúde reprodutiva, mais uma pergunta aos executivos sobre "a eficácia de esforços do governo para reduzir a pobreza e a desigualdade." Além de usarem, como deflator dos índices de saúde reprodutiva, o número de médicos por habitante, ao invés da universalização do saneamento básico, que tem relação mais direta.
Os outros quesitos são igualmente questionáveis "mulheres no posto máximo nos últimos 50 anos" inclui todas as viúvas e filhas das dinastias políticas asiáticas, e faria da Aquitânia de Leonor ou da Castela de Isabela países em que as mulheres eram "politically empowered." Desemprego é questionável quando usado sem se prestar atenção no emprego (se 20% das mulheres que trabalham estão desempregadas, de um total de 50% das mulheres em idade ativa que trabalham, isso é melhor ou pior do que 10% de um total de 30%?) Mulheres no ministério em 2002 não leva em conta a relevância do ministério (alguém acha equivalentes a Dilma Roussef e a Benedita?), além de, sendo um dado instantâneo, poder não representar muita coisa.
Para um índice feito por uma entidade liberal (e que, portanto, deveria prezar mais a liberdade do que a igualdade, e mais a ciência jurídica do que a estatística), é até estranho que ele não mencione, a não ser de forma indireta, no quesito política, o mais essencial, e desrespeitado em muitos dos países avaliados : os direitos básicos, civis e humanos, da mulher e da cidadã. Uma mulher que tenha que usar burca e andar doze passos atrás de seu marido não lhe é igual, mesmo que ganhe a mesma coisa no mesmo emprego. Um código penal que acata a legítima defesa da honra, ou que não acredita em estupro conjugal, está discriminando contra mulheres.
Na classificação geral, o Brasil ficou atrás de países como Bangladesh (39º) e Zimbábue (42º). A Argentina ficou em 35º. A melhor colocação do Brasil foi em oportunidades econômicas (21º lugar) e a pior, no índice de presença em cargos decisórios (57º). Em termos de acesso a educação, o Brasil ficou em 27º lugar, enquanto a Argentina ficou em terceiro."
E daí? Daí que o índice, que mistura números "duros" e os resultados de uma pesquisa junto a executivos, lista em "acesso à educação" os fatores : meninas/meninos, escola primária, secundária, terciária, alfabetização, anos de estudo. Em quase todos esses quesitos, o Brasil já passou da paridade, assim como muitos outros dos países avaliados. Quando falam do índice de saúde, eles mesmos mencionam práticas de clitoridectomia, mas o quesito final só inclui questões ligadas à saúde reprodutiva, mais uma pergunta aos executivos sobre "a eficácia de esforços do governo para reduzir a pobreza e a desigualdade." Além de usarem, como deflator dos índices de saúde reprodutiva, o número de médicos por habitante, ao invés da universalização do saneamento básico, que tem relação mais direta.
Os outros quesitos são igualmente questionáveis "mulheres no posto máximo nos últimos 50 anos" inclui todas as viúvas e filhas das dinastias políticas asiáticas, e faria da Aquitânia de Leonor ou da Castela de Isabela países em que as mulheres eram "politically empowered." Desemprego é questionável quando usado sem se prestar atenção no emprego (se 20% das mulheres que trabalham estão desempregadas, de um total de 50% das mulheres em idade ativa que trabalham, isso é melhor ou pior do que 10% de um total de 30%?) Mulheres no ministério em 2002 não leva em conta a relevância do ministério (alguém acha equivalentes a Dilma Roussef e a Benedita?), além de, sendo um dado instantâneo, poder não representar muita coisa.
Para um índice feito por uma entidade liberal (e que, portanto, deveria prezar mais a liberdade do que a igualdade, e mais a ciência jurídica do que a estatística), é até estranho que ele não mencione, a não ser de forma indireta, no quesito política, o mais essencial, e desrespeitado em muitos dos países avaliados : os direitos básicos, civis e humanos, da mulher e da cidadã. Uma mulher que tenha que usar burca e andar doze passos atrás de seu marido não lhe é igual, mesmo que ganhe a mesma coisa no mesmo emprego. Um código penal que acata a legítima defesa da honra, ou que não acredita em estupro conjugal, está discriminando contra mulheres.
15.5.05
Estado cafetão
O ministério da saúde rejeitou uma verba de 40 milhões de dólares dos EUA, porque a verba estava condicionada à condenação da prostituição.
Aparentemente, alguns senadores brasileiros gostariam de seguir os seus pares americanos
Do site do PSDB
Jornal do Senado (13 de maio) - O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) acusou o governo federal de estimular a prostituição. Segundo o parlamentar, isso estaria ocorrendo porque o Ministério do Trabalho, em seu site, define a categoria "profissionais do sexo" na lista da Classificação Brasileira de Ocupações.
- Este é um governo trapalhão, que pode ser processado por cafetinagem. Só faltava isso ao Brasil: um governo cafetão. Mas é isso o que é o governo Lula - declarou Antero.
O senador mencionou em seu discurso matéria publicada no jornal Correio Braziliense segundo a qual um juiz da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, motivado por essa mesma questão, solicitou que o Ministério Público Federal investigue o Ministério do Trabalho.
- O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, que já foi responsabilizado por maus-tratos aos anciãos quando ordenou o cadastramento de todos os aposentados do país, agora estaria estimulando os jovens a se prostituir. O governo deveria ter mais responsabilidade com a sociedade brasileira - afirmou. Antero também criticou o que chamou de "inesgotável capacidade do governo do PT de criar confusão e de gerar situações que desgastam sua própria imagem".
Os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Romeu Tuma (PFL-SP) expressaram apoio às posições de Antero. Virgílio sugeriu que o ministro do Trabalho fosse convocado para esclarecer a polêmica. Já Tuma disse que o discurso do senador de Mato Grosso parecia a "leitura de um relatório policial".
Da coluna do senador Eduardo Valium Suplicy , no JB:
Antero Paes de Barros (PSDB-MT) usou a tribuna para um discurso bombástico para fazer ''a mais grave denúncia que até então qualquer pessoa poderia imaginar sobre este governo''. Sobretudo porque a Igreja e todas as organizações religiosas iriam criticar severamente o que chamou de '' grande pecado''.
Ele disse ter descoberto no ''site'' do Ministério do Trabalho que o ministro Ricardo Berzoini estava promovendo a prostituição, estimulando jovens a se prostituir. Isto porque naquele ''site'' referente à categoria ''profissionais do sexo'' na lista da Classificação Brasileira de Ocupações, estava descrito o que normalmente fazem as pessoas que vivem de vender o seu corpo. Antero Paes de Barros estava à toda: ''Só faltava isso ao Brasil: um governo cafetão. Mas é isso o governo Lula'', disse, enfático.
Os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Romeu Tuma (PFL-SP) e Heloísa Helena (PSOL-AL) expressaram apoio às posições de Antero. Virgílio sugeriu que o ministro do Trabalho seja convocado para esclarecer os fatos. Tuma disse que Antero estava fazendo a leitura do que parecia ser um relatório policial. Heloísa Helena afirmou seu ''protesto e indignação'' em relação ao ato do ministério.
Logo após a sessão encontrei o ministro Ricardo Berzoini e lhe contei sobre o episódio. Se estivessem bem informados, os senadores teriam mudado os seus discursos. Quem foi o responsável pela criação da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), em cuja lista as profissionais do sexo estão, entre mais de três mil ocupações? Foi o presidente Fernando Henrique Cardoso e o seu ministro do Trabalho, Paulo Jobim, que anunciaram a nova CBO, em 10 de outubro de 2002, após extenso trabalho. A anterior era de 1972. Mais de sete mil pessoas pesquisaram sobre todos os tipos de ocupações realizadas pelos brasileiros, desde as de médicos, professores, engenheiros, advogados até as de cacique, mãe-de-santo, mestre de bateria de escola de samba; pajé, parteira, raizeiro - e também profissionais de sexo.
A nova CBO foi saudada, dentre outros, pelo economista Roberto Macedo, do PSDB, em artigo no Ö Estado de São Paulo'', de 17.10.2002: ''A CBO revela como o mercado de trabalho se estrutura no sentido ocupacional, descrevendo as ocupações existentes e a formação educacional necessária para exercê-las, entre outros aspectos.
A descrição do que constitui a atividade dos profissionais do sexo na CBO, portanto, não é incentivo do governo Lula nem do de Fernando Henrique à prostituição, mas um bom trabalho de pesquisa.
Aparentemente, alguns senadores brasileiros gostariam de seguir os seus pares americanos
Do site do PSDB
Jornal do Senado (13 de maio) - O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) acusou o governo federal de estimular a prostituição. Segundo o parlamentar, isso estaria ocorrendo porque o Ministério do Trabalho, em seu site, define a categoria "profissionais do sexo" na lista da Classificação Brasileira de Ocupações.
- Este é um governo trapalhão, que pode ser processado por cafetinagem. Só faltava isso ao Brasil: um governo cafetão. Mas é isso o que é o governo Lula - declarou Antero.
O senador mencionou em seu discurso matéria publicada no jornal Correio Braziliense segundo a qual um juiz da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, motivado por essa mesma questão, solicitou que o Ministério Público Federal investigue o Ministério do Trabalho.
- O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, que já foi responsabilizado por maus-tratos aos anciãos quando ordenou o cadastramento de todos os aposentados do país, agora estaria estimulando os jovens a se prostituir. O governo deveria ter mais responsabilidade com a sociedade brasileira - afirmou. Antero também criticou o que chamou de "inesgotável capacidade do governo do PT de criar confusão e de gerar situações que desgastam sua própria imagem".
Os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Romeu Tuma (PFL-SP) expressaram apoio às posições de Antero. Virgílio sugeriu que o ministro do Trabalho fosse convocado para esclarecer a polêmica. Já Tuma disse que o discurso do senador de Mato Grosso parecia a "leitura de um relatório policial".
Da coluna do senador Eduardo Valium Suplicy , no JB:
Antero Paes de Barros (PSDB-MT) usou a tribuna para um discurso bombástico para fazer ''a mais grave denúncia que até então qualquer pessoa poderia imaginar sobre este governo''. Sobretudo porque a Igreja e todas as organizações religiosas iriam criticar severamente o que chamou de '' grande pecado''.
Ele disse ter descoberto no ''site'' do Ministério do Trabalho que o ministro Ricardo Berzoini estava promovendo a prostituição, estimulando jovens a se prostituir. Isto porque naquele ''site'' referente à categoria ''profissionais do sexo'' na lista da Classificação Brasileira de Ocupações, estava descrito o que normalmente fazem as pessoas que vivem de vender o seu corpo. Antero Paes de Barros estava à toda: ''Só faltava isso ao Brasil: um governo cafetão. Mas é isso o governo Lula'', disse, enfático.
Os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Romeu Tuma (PFL-SP) e Heloísa Helena (PSOL-AL) expressaram apoio às posições de Antero. Virgílio sugeriu que o ministro do Trabalho seja convocado para esclarecer os fatos. Tuma disse que Antero estava fazendo a leitura do que parecia ser um relatório policial. Heloísa Helena afirmou seu ''protesto e indignação'' em relação ao ato do ministério.
Logo após a sessão encontrei o ministro Ricardo Berzoini e lhe contei sobre o episódio. Se estivessem bem informados, os senadores teriam mudado os seus discursos. Quem foi o responsável pela criação da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), em cuja lista as profissionais do sexo estão, entre mais de três mil ocupações? Foi o presidente Fernando Henrique Cardoso e o seu ministro do Trabalho, Paulo Jobim, que anunciaram a nova CBO, em 10 de outubro de 2002, após extenso trabalho. A anterior era de 1972. Mais de sete mil pessoas pesquisaram sobre todos os tipos de ocupações realizadas pelos brasileiros, desde as de médicos, professores, engenheiros, advogados até as de cacique, mãe-de-santo, mestre de bateria de escola de samba; pajé, parteira, raizeiro - e também profissionais de sexo.
A nova CBO foi saudada, dentre outros, pelo economista Roberto Macedo, do PSDB, em artigo no Ö Estado de São Paulo'', de 17.10.2002: ''A CBO revela como o mercado de trabalho se estrutura no sentido ocupacional, descrevendo as ocupações existentes e a formação educacional necessária para exercê-las, entre outros aspectos.
A descrição do que constitui a atividade dos profissionais do sexo na CBO, portanto, não é incentivo do governo Lula nem do de Fernando Henrique à prostituição, mas um bom trabalho de pesquisa.
13.5.05
Furo
O Ancelmo Gois registra o furo : o governo pretende isentar de impostos federais investimentos que sejam 80% ou mais destinados à exportação.
O furo seria mais espetacular se não pudesse ser lido, no dia anterior, ocupando a página 2 do Jornal do Commercio inteira...o velhinho tá precisando de grana, então o acesso é pago, mas o Valor também fala do assunto.
Vai ver o furo está no segundo parágrafo, "
A MP viabiliza, por exemplo, a megassiderúrgica da chinesa Baosteel em parceria com Vale do Rio Doce no Maranhão." A Posco e a Krupp desistiram de seguir o conselho do Larry Summers? (Registre-se que a Krupp está fazendo uma siderúrgica mais ao sul, na Baía da Ilha Grande.)
O furo seria mais espetacular se não pudesse ser lido, no dia anterior, ocupando a página 2 do Jornal do Commercio inteira...o velhinho tá precisando de grana, então o acesso é pago, mas o Valor também fala do assunto.
Vai ver o furo está no segundo parágrafo, "
A MP viabiliza, por exemplo, a megassiderúrgica da chinesa Baosteel em parceria com Vale do Rio Doce no Maranhão." A Posco e a Krupp desistiram de seguir o conselho do Larry Summers? (Registre-se que a Krupp está fazendo uma siderúrgica mais ao sul, na Baía da Ilha Grande.)
12.5.05
Negócio da China
O Valor Econômico noticia que o lucro da Vale no trimestre passou de R$1,6bn. Com isso, o lucro anualizado acaba de passar a 200% do preço que o governo recebeu por ela. (Não o pago pelos novos donos, já que graças à divisão entre ação ordinária e preferencial, e à possibilidade de se ter parte de uma companhia controladora*, você pode ser dono de uma empresa com menos de um sexto dela nas mãos. À época, com o preço do minério de ferro perto do vale(sem trocadilho), era de "só" 50%
Cabe lembrar que os únicos "investimentos," pelo critérios pelos quais se diz que "o governo não investe," feitos pela Vale privada foram a mina de cobre de Sossego e a compra de outras empresas. Se bem que, pelo acontecido em Guapimirim, parece que os gastos de custeio deles são realmente baixos... Aliás, é interessante ver como a Vale, depois de privatizada*, ficou mais próxima do monopólio (vertical e horizontal) do que antes. Interessante, mas previsível, haja visto o papel das instalações dela no escoamento de minérios brasileiros. (O maior porto do Brasil (Tubarão) é da Vale, assim como o segundo maior (Itaqui). O terceiro é público (Santos), o quarto (S. Sebastião) da Petrobras.)
Fora isso, é mais um capítulo da história do Brasil pós-varguista anunciado no discurso de despedida do senador FHC. Ao invés de o governo gastar muito (diretamente e via BNDES) para promover a industrialização, ele gasta mais ainda para incentivar o setor primário, seja ele o BlairoMaggi, a Vale, ou a Petrobrás. Afinal, cabe lembrar que, ao mesmo tempo que o patrimônio público e as verbas de custeio diretas (ie custeio da atividade-fim do estado, ie saúde e educação) diminuíam, ao longo dos anos 90, a carga tributária e a dívida pública subiam a níveis nunca vistos. Pra fingir que o neoliberalismo do estado do bem-estar corporativo era liberalismo, inventou-se, para maquiar essa subida, o superávit "primário" (que mascarou déficits nominais altíssimos em "responsabilidade fiscal") e a terceirização (pela qual a ideologia do corte de pessoal pode ser seguida muito além do pessoal mínimo para executar um serviço).
Pelo menos a Petrobrás está, agora, sendo usada em industrialização também (especificamente na construção naval). Ia ser interessante se a Vale também estivesse disponível pra fazer o mesmo. (Tanto com a indústria naval quanto com a ferroviária). Cue Steinbeck.
Falando na Petrobrax e na construção naval, é interessante ver como os estaleiros, que aqui disputam a foice e a justiça a licitação da Petrobras, na Venezuela se apresentam como corporação unificada. Por outro lado, a Venezuela não tem uma lei de licitações tão avançada quanto a nossa, nem um sistema judicial tão simples.
*Litel participações significa "os fundos de pensão das estatais."
Cabe lembrar que os únicos "investimentos," pelo critérios pelos quais se diz que "o governo não investe," feitos pela Vale privada foram a mina de cobre de Sossego e a compra de outras empresas. Se bem que, pelo acontecido em Guapimirim, parece que os gastos de custeio deles são realmente baixos... Aliás, é interessante ver como a Vale, depois de privatizada*, ficou mais próxima do monopólio (vertical e horizontal) do que antes. Interessante, mas previsível, haja visto o papel das instalações dela no escoamento de minérios brasileiros. (O maior porto do Brasil (Tubarão) é da Vale, assim como o segundo maior (Itaqui). O terceiro é público (Santos), o quarto (S. Sebastião) da Petrobras.)
Fora isso, é mais um capítulo da história do Brasil pós-varguista anunciado no discurso de despedida do senador FHC. Ao invés de o governo gastar muito (diretamente e via BNDES) para promover a industrialização, ele gasta mais ainda para incentivar o setor primário, seja ele o BlairoMaggi, a Vale, ou a Petrobrás. Afinal, cabe lembrar que, ao mesmo tempo que o patrimônio público e as verbas de custeio diretas (ie custeio da atividade-fim do estado, ie saúde e educação) diminuíam, ao longo dos anos 90, a carga tributária e a dívida pública subiam a níveis nunca vistos. Pra fingir que o neoliberalismo do estado do bem-estar corporativo era liberalismo, inventou-se, para maquiar essa subida, o superávit "primário" (que mascarou déficits nominais altíssimos em "responsabilidade fiscal") e a terceirização (pela qual a ideologia do corte de pessoal pode ser seguida muito além do pessoal mínimo para executar um serviço).
Pelo menos a Petrobrás está, agora, sendo usada em industrialização também (especificamente na construção naval). Ia ser interessante se a Vale também estivesse disponível pra fazer o mesmo. (Tanto com a indústria naval quanto com a ferroviária). Cue Steinbeck.
Falando na Petrobrax e na construção naval, é interessante ver como os estaleiros, que aqui disputam a foice e a justiça a licitação da Petrobras, na Venezuela se apresentam como corporação unificada. Por outro lado, a Venezuela não tem uma lei de licitações tão avançada quanto a nossa, nem um sistema judicial tão simples.
*Litel participações significa "os fundos de pensão das estatais."
10.5.05
E a tinta que nos tira?
Xico Graziano faz uma interessante redação de volta às aulas no Globo. Comentários em negrito. Nome tirado desta tira da Mafalda:
O boi é um bicho extraordinário. .Sua capacidade de elaborar proteína, a partir de gramínea, o diferencia entre os animais. Domesticado, sua carne foi fundamental para a evolução humana.
O boi compartilha essa extraordinariedade com pouquíssimas espécies animais - só umas 687.000
A evolução humana, surpreendentemente, ocorre antes da domesticação do gado. Mas talvez os índios tenham dado tanta dor de cabeça aos pobres latifundiários oprimidos que Xico apagou seu nome da família humana.
Na digestão está o segredo. Os herbívoros ruminantes, como se classifica o boi, possui duplo estômago, o que permite uma espécie de remastigação dos alimentos ingeridos. Nesse processo, a celulose acaba sintetizada em aminoácidos essenciais. O verde do capim vira carne vermelha.
Os herbívoros ruminantes possui(sic) quatro, ou um estômago. Sim, este é um comentário irrelevante e mesquinho. Mas pô, o cara é agrônomo.
Outros animais fornecem proteínas ao homem, destacando-se os suínos e as aves. Diferentemente dos bovinos, todavia, eles competem com as pessoas na alimentação, pois sintetizam seus aminoácidos a partir de rações, cujos componentes básicos são soja, milho ou trigo. Nesse caso, a proteína vegetal, que se transformará em carne, é a mesma servida na mesa da família.
Isso é a falácia da petição de princípio, já que grama ou ração não são componentes primários, e sim solo e água, e o gasto de recursos agrícolas pra sustentar um boi, por quilo, é muito maior que o de um porco ou galinha. Se os últimos são onívoro e granívoro é irrelevante, como pode ser comprovado pelo mercado (experimente, apesar de o Brasil consumir mais carne de gado do que de frango ou porco, pedir ao açougueiro que cobre menos pelo bife que pelo frango). Ah sim- boi também come ração. Na verdade, hoje em dia a maior parte da dieta bovina também é ração.
Quando surgiu a doença da vaca louca, na Europa, o mundo tomou consciência de que, nos trópicos brasileiros especialmente, o gado pastava ao sol. Lá, o inverno rigoroso exige o confinamento e o arraçoamento artificial. Aqui, a natureza privilegia o boi “verde”. A ecologia adorou essa história.
O fato de o boi brasileiro ainda ser herbívoro, ao contrário do calega euro-americano, é ignorado pelo resto do mundo. O que a ecologia sabe do boi brasileiro é que ele desmata a Amazônia. O que é uma injustiça - detona o cerrado e a caatinga também, e o pantanal já não está se sentindo muito bem.
Desde então, a carne nacional avançou no mundo. Ano passado, o país assumiu a liderança mundial nas exportações. Churrascarias do tipo rodízio, invenção brasileira, se inauguram aos montes nos EUA, no Japão, na China. O bife brasileiro virou campeão.
A carne brasileira, graças a técnicas inovadoras como o trabalho escravo, compete principalmente no preço. Só agora o ministério da agricultura está conseguindo convencer os amigos do Graziano de que controle fitossanitário é importante pra exportar carne cara. As churrascarias criadas pelo êxodo de mais de um milhão de emigrantes brasileiros, desde os anos 90, usam carne local ou vinda da Austrália.
O rebanho cresceu. Mais que gente, existe 196 milhões de bovinos no Brasil. De mamando a caducando, como se diz na roça. Trata-se do maior rebanho comercial do mundo. Fala-se “comercial” porque, na Índia, o rebanho é maior, mas a vaca é sagrada. Hindu não come carne bovina. Apenas ordenha o leite.
Ocorre, silenciosamente, uma revolução na pecuária nacional. É positiva a agenda da pecuária bovina. Existem, porém, ameaças negativas. Na mídia, muitos ainda raciocinam como nos velhos tempos. Volta e meia o pecuarista, na novela, faz papel de latifundiário, quando não de bandido.
Coitados. Só porque tentam se preservar de arruaceiros Ainda bem que o Xico Graziano e os colegas estão se opondo a esse pogrom . Mas que a agenda é positiva é inegável, principalmente se você acha que essa área de mato é um desperdício, e concorda com o Severino
Na reforma agrária, pastagens se confundem com terra ociosa. Influenciados pela época inflacionária, quando o boi servia à especulação fundiária, os do MST, agora conluiados com o Incra, teimam em invadir fazendas de criação de gado. Pensam, os justiceiros agrários, que capim serve ao mal.
Quiçá o visual da planície os incomode. Esses esquerdosos, ou desconhecem os avanços da pecuária, ou não gostam do boi. Talvez, vai saber, sejam vegetarianos enrustidos. Os trabalhadores em geral, sem-terra ou operários urbanos, adoram um bom bife ou um ensopado com batatas. Ora, os agraristas, pequenos burgueses, comem filé mignom.
A culpa é dos esquerdosos. Se a esquerda não estivesse no poder há 500 anos, o Brasil seria um país de primeiro mundo.
O governo também não tem ajudado a pecuária como poderia. O sistema de sanidade animal do país continua frágil. O conhecido SIF está caduco. Nas fronteiras, a fiscalização é deficiente. O Ministério da Agricultura teve 63% da verba para defesa sanitária cortada do orçamento de 2005. Na guerra comercial da globalização, configura uma temeridade.
Eu pensava que subsídios fossem coisa de esquerdoso?
Há atritos no próprio setor. Os frigoríficos se locupletam na exportação, ganhando rios de dinheiro, enquanto arrocham o preço do boi. Em 2004 houve um aumento de 67% no volume exportado, cujos preços valorizaram, em dólares, 37%. As divisas somaram R$ 2,6 bilhões, um recorde.
A concentração de mercado nos frigoríficos é menor do que na maioria dos outros setores no Brasil. Majors = 35%. A Ambev tem isso sozinha, por exemplo.
No mesmo período, a arroba do boi caiu 12% ao produtor. Um absurdo. Não é por outro motivo que os pecuaristas denunciaram os frigoríficos ao Cade. Claramente ocorre manipulação da margem de lucro. Fora o tradicional desconto na balança.
De novo, eu achava que reclamar do mercado fosse coisa de esquerdoso. Mas uma pergunta - a concentração só começou depois que o Xico deixou de ser ministro?
Por fim, certos ambientalistas inventaram de falar mal da boiada por conta do efeito estufa. Como assim? Explica-se: o processo da digestão dos ruminantes fabrica gás metano como subproduto. Os bichos, coitados, precisam expelir os vapores do estômago, duplo como se viu. Fizeram as contas e concluíram: o arroto do boi é antiecológico. Fora a flatulência!
O gás metano é o segundo causador do efeito estufa, atrás apenas do CO2. Por volume, é várias vezes pior, mas a emissão é menor. Não faz diferença se a indústria que o libera é mecânica ou biológica. No caso do Brasil, a indústria biológica (ie a pecuária) libera mais gases do efeito estufa do que a mecânica. Mesmo sem contar as queimadas. Graças ao arroto das vaquinhas. E só pra ser chato, quem já leu a bula do Luftal sabe que arrotos são eructações. Flatulência é o peido.
Osho, guru indiano, ensina que a tolice é o maior dos defeitos humanos. Para combatê-la, o caminho passa pelo conhecimento, fonte da sabedoria. Talvez assim, com informação, caia o preconceito contra o mundo rural.
Informação sobre Osho©: o guru prega o vegetarianismo.
O boi é um bicho extraordinário. .Sua capacidade de elaborar proteína, a partir de gramínea, o diferencia entre os animais. Domesticado, sua carne foi fundamental para a evolução humana.
O boi compartilha essa extraordinariedade com pouquíssimas espécies animais - só umas 687.000
A evolução humana, surpreendentemente, ocorre antes da domesticação do gado. Mas talvez os índios tenham dado tanta dor de cabeça aos pobres latifundiários oprimidos que Xico apagou seu nome da família humana.
Na digestão está o segredo. Os herbívoros ruminantes, como se classifica o boi, possui duplo estômago, o que permite uma espécie de remastigação dos alimentos ingeridos. Nesse processo, a celulose acaba sintetizada em aminoácidos essenciais. O verde do capim vira carne vermelha.
Os herbívoros ruminantes possui(sic) quatro, ou um estômago. Sim, este é um comentário irrelevante e mesquinho. Mas pô, o cara é agrônomo.
Outros animais fornecem proteínas ao homem, destacando-se os suínos e as aves. Diferentemente dos bovinos, todavia, eles competem com as pessoas na alimentação, pois sintetizam seus aminoácidos a partir de rações, cujos componentes básicos são soja, milho ou trigo. Nesse caso, a proteína vegetal, que se transformará em carne, é a mesma servida na mesa da família.
Isso é a falácia da petição de princípio, já que grama ou ração não são componentes primários, e sim solo e água, e o gasto de recursos agrícolas pra sustentar um boi, por quilo, é muito maior que o de um porco ou galinha. Se os últimos são onívoro e granívoro é irrelevante, como pode ser comprovado pelo mercado (experimente, apesar de o Brasil consumir mais carne de gado do que de frango ou porco, pedir ao açougueiro que cobre menos pelo bife que pelo frango). Ah sim- boi também come ração. Na verdade, hoje em dia a maior parte da dieta bovina também é ração.
Quando surgiu a doença da vaca louca, na Europa, o mundo tomou consciência de que, nos trópicos brasileiros especialmente, o gado pastava ao sol. Lá, o inverno rigoroso exige o confinamento e o arraçoamento artificial. Aqui, a natureza privilegia o boi “verde”. A ecologia adorou essa história.
O fato de o boi brasileiro ainda ser herbívoro, ao contrário do calega euro-americano, é ignorado pelo resto do mundo. O que a ecologia sabe do boi brasileiro é que ele desmata a Amazônia. O que é uma injustiça - detona o cerrado e a caatinga também, e o pantanal já não está se sentindo muito bem.
Desde então, a carne nacional avançou no mundo. Ano passado, o país assumiu a liderança mundial nas exportações. Churrascarias do tipo rodízio, invenção brasileira, se inauguram aos montes nos EUA, no Japão, na China. O bife brasileiro virou campeão.
A carne brasileira, graças a técnicas inovadoras como o trabalho escravo, compete principalmente no preço. Só agora o ministério da agricultura está conseguindo convencer os amigos do Graziano de que controle fitossanitário é importante pra exportar carne cara. As churrascarias criadas pelo êxodo de mais de um milhão de emigrantes brasileiros, desde os anos 90, usam carne local ou vinda da Austrália.
O rebanho cresceu. Mais que gente, existe 196 milhões de bovinos no Brasil. De mamando a caducando, como se diz na roça. Trata-se do maior rebanho comercial do mundo. Fala-se “comercial” porque, na Índia, o rebanho é maior, mas a vaca é sagrada. Hindu não come carne bovina. Apenas ordenha o leite.
Ocorre, silenciosamente, uma revolução na pecuária nacional. É positiva a agenda da pecuária bovina. Existem, porém, ameaças negativas. Na mídia, muitos ainda raciocinam como nos velhos tempos. Volta e meia o pecuarista, na novela, faz papel de latifundiário, quando não de bandido.
Coitados. Só porque tentam se preservar de arruaceiros Ainda bem que o Xico Graziano e os colegas estão se opondo a esse pogrom . Mas que a agenda é positiva é inegável, principalmente se você acha que essa área de mato é um desperdício, e concorda com o Severino
Na reforma agrária, pastagens se confundem com terra ociosa. Influenciados pela época inflacionária, quando o boi servia à especulação fundiária, os do MST, agora conluiados com o Incra, teimam em invadir fazendas de criação de gado. Pensam, os justiceiros agrários, que capim serve ao mal.
Quiçá o visual da planície os incomode. Esses esquerdosos, ou desconhecem os avanços da pecuária, ou não gostam do boi. Talvez, vai saber, sejam vegetarianos enrustidos. Os trabalhadores em geral, sem-terra ou operários urbanos, adoram um bom bife ou um ensopado com batatas. Ora, os agraristas, pequenos burgueses, comem filé mignom.
A culpa é dos esquerdosos. Se a esquerda não estivesse no poder há 500 anos, o Brasil seria um país de primeiro mundo.
O governo também não tem ajudado a pecuária como poderia. O sistema de sanidade animal do país continua frágil. O conhecido SIF está caduco. Nas fronteiras, a fiscalização é deficiente. O Ministério da Agricultura teve 63% da verba para defesa sanitária cortada do orçamento de 2005. Na guerra comercial da globalização, configura uma temeridade.
Eu pensava que subsídios fossem coisa de esquerdoso?
Há atritos no próprio setor. Os frigoríficos se locupletam na exportação, ganhando rios de dinheiro, enquanto arrocham o preço do boi. Em 2004 houve um aumento de 67% no volume exportado, cujos preços valorizaram, em dólares, 37%. As divisas somaram R$ 2,6 bilhões, um recorde.
A concentração de mercado nos frigoríficos é menor do que na maioria dos outros setores no Brasil. Majors = 35%. A Ambev tem isso sozinha, por exemplo.
No mesmo período, a arroba do boi caiu 12% ao produtor. Um absurdo. Não é por outro motivo que os pecuaristas denunciaram os frigoríficos ao Cade. Claramente ocorre manipulação da margem de lucro. Fora o tradicional desconto na balança.
De novo, eu achava que reclamar do mercado fosse coisa de esquerdoso. Mas uma pergunta - a concentração só começou depois que o Xico deixou de ser ministro?
Por fim, certos ambientalistas inventaram de falar mal da boiada por conta do efeito estufa. Como assim? Explica-se: o processo da digestão dos ruminantes fabrica gás metano como subproduto. Os bichos, coitados, precisam expelir os vapores do estômago, duplo como se viu. Fizeram as contas e concluíram: o arroto do boi é antiecológico. Fora a flatulência!
O gás metano é o segundo causador do efeito estufa, atrás apenas do CO2. Por volume, é várias vezes pior, mas a emissão é menor. Não faz diferença se a indústria que o libera é mecânica ou biológica. No caso do Brasil, a indústria biológica (ie a pecuária) libera mais gases do efeito estufa do que a mecânica. Mesmo sem contar as queimadas. Graças ao arroto das vaquinhas. E só pra ser chato, quem já leu a bula do Luftal sabe que arrotos são eructações. Flatulência é o peido.
Osho, guru indiano, ensina que a tolice é o maior dos defeitos humanos. Para combatê-la, o caminho passa pelo conhecimento, fonte da sabedoria. Talvez assim, com informação, caia o preconceito contra o mundo rural.
Informação sobre Osho©: o guru prega o vegetarianismo.
9.5.05
As voltas que a vida dá
No Smart shade of blue, a afinidade entre a Primeira Leitura e o Mídia sem Máscara.
Situando as coisas - Primeira Leitura é, mais ou menos, o órgão oficial do PSDB, enquanto Mídia sem Máscara é o site do Olavo de Carvalho - versão adaptada pro Brasil do Ftontpage Magazine, que entre outras coisas avisou, em 2002, que o Brazil estava prestes a se tornar parte de um eixo do mal. No MSM, podemos ler sobre "as origens satânicas do comunismo," o "esquerdismo notório de Benedito XVI" e "a ditadura comunista em que vivemos," além da possibilidade de se viver normalmente sem dispôr de cérebro e do "darwinismo."
Seguindo a mesma onda, o Roberto da Matta, que já foi antropólogo, e o Roberto Freire, que já foi comunista, estão no Fórum da Liberdade, que entre outras coisas submete os sem-máscara a uma peça da Ayn Rand, e também inclui o governador da FEBEM, digo, de São Paulo, o prefeito que deu origem a este blog e, claro, a mulher do patrocinador.
Situando as coisas - Primeira Leitura é, mais ou menos, o órgão oficial do PSDB, enquanto Mídia sem Máscara é o site do Olavo de Carvalho - versão adaptada pro Brasil do Ftontpage Magazine, que entre outras coisas avisou, em 2002, que o Brazil estava prestes a se tornar parte de um eixo do mal. No MSM, podemos ler sobre "as origens satânicas do comunismo," o "esquerdismo notório de Benedito XVI" e "a ditadura comunista em que vivemos," além da possibilidade de se viver normalmente sem dispôr de cérebro e do "darwinismo."
Seguindo a mesma onda, o Roberto da Matta, que já foi antropólogo, e o Roberto Freire, que já foi comunista, estão no Fórum da Liberdade, que entre outras coisas submete os sem-máscara a uma peça da Ayn Rand, e também inclui o governador da FEBEM, digo, de São Paulo, o prefeito que deu origem a este blog e, claro, a mulher do patrocinador.
6.5.05
Museu da dívida
Quem sabe não inventam um desses no Brasil? De preferência com um busto do FH e outro do Geisel ladeando a entrada.
(AméricaEconomía.com) Los argentinos tienen su propio holocausto financiero: la deuda externa. Y para que los ciudadanos recuerden y comprendan este flagelo nacional crearon el primer museo del mundo especializado en el tema. Se trata de espacio que presenta con lujo de detalles cómo ha evolucionado la monstruosa deuda, que hoy alcanza los US$125.283 millones.
El museo que funciona desde la semana pasada en el Centro Cultural de la Facultad de Ciencias Económicas de la Universidad de Buenos Aires, pretende convertirse una muestra itinerante por todo el país "con el objetivo de que los argentinos tomen conciencia sobre el problema de la deuda", dijo el coordinador del Centro, José Tussi.
“La deuda externa es uno de los principales factores que han contribuido a nuestra crisis, provocando hambre y pobreza”, dijo al diario El Clarín Simón Pristupín, director e ideólogo del proyecto. “Como la gente no lee, entonces la universidad tiene que salir de su torre de marfil para ayudar a los ciudadanos a comprender cómo se fue dando el proceso del endeudamiento”.
El museo presenta dos momentos históricos en el derrotero del endeudamiento. El primero se refiere a la última dictadura militar (1976-1983), cuando los militares recibieron el país con un pasivo externo de US$ 8,3 mil millones y se lo entregaron al ex presidente Raúl Alfonsín (seis años en los que se sumaron otros US$ 20.000 millones) con US$ 44.000 millones. El otro hito es la década menemista en los que la deuda trepó a US$ 147.000 millones.
En la muestra está presente reiterademante Domingo Cavallo, quien en 1982, como presidente del Banco Central estatizó la deuda privada y luego reapareció en los gobiernos de Carlos Menem y Fernando de la Rúa, en ambos casos como ministro de Economía.
Para graficar y hacer más compresible este complejo tema sobresalen las portadas de los periódicos que muestran que los argentinos no nacieron con la deuda externa debajo del brazo.
(AméricaEconomía.com) Los argentinos tienen su propio holocausto financiero: la deuda externa. Y para que los ciudadanos recuerden y comprendan este flagelo nacional crearon el primer museo del mundo especializado en el tema. Se trata de espacio que presenta con lujo de detalles cómo ha evolucionado la monstruosa deuda, que hoy alcanza los US$125.283 millones.
El museo que funciona desde la semana pasada en el Centro Cultural de la Facultad de Ciencias Económicas de la Universidad de Buenos Aires, pretende convertirse una muestra itinerante por todo el país "con el objetivo de que los argentinos tomen conciencia sobre el problema de la deuda", dijo el coordinador del Centro, José Tussi.
“La deuda externa es uno de los principales factores que han contribuido a nuestra crisis, provocando hambre y pobreza”, dijo al diario El Clarín Simón Pristupín, director e ideólogo del proyecto. “Como la gente no lee, entonces la universidad tiene que salir de su torre de marfil para ayudar a los ciudadanos a comprender cómo se fue dando el proceso del endeudamiento”.
El museo presenta dos momentos históricos en el derrotero del endeudamiento. El primero se refiere a la última dictadura militar (1976-1983), cuando los militares recibieron el país con un pasivo externo de US$ 8,3 mil millones y se lo entregaron al ex presidente Raúl Alfonsín (seis años en los que se sumaron otros US$ 20.000 millones) con US$ 44.000 millones. El otro hito es la década menemista en los que la deuda trepó a US$ 147.000 millones.
En la muestra está presente reiterademante Domingo Cavallo, quien en 1982, como presidente del Banco Central estatizó la deuda privada y luego reapareció en los gobiernos de Carlos Menem y Fernando de la Rúa, en ambos casos como ministro de Economía.
Para graficar y hacer más compresible este complejo tema sobresalen las portadas de los periódicos que muestran que los argentinos no nacieron con la deuda externa debajo del brazo.
5.5.05
Lula conquista o mundo
Não o metalúrgico paraíba, esteja bem claro, mas a lula propriamente dita, que, graças a nós - através da pesca de seus competidores e do aquecimento global, representa hoje mais de 2% da biosfera. Isso é, de cada 50 quilos de matéria viva no planeta - incluindo árvores, bezerros, grama, caubóis do Texas, animais que podem ser desenhados com um pincel de pelo de camelo e chinchilas pendurados pelos rabos, 1Kg é de lulas, que variam em tamanho do comestível ao Architeutis dux, que é de assustar o tubarão do Spielberg.
In his house at R'lyeh, dead Cthulhu waits dreaming
In his house at R'lyeh, dead Cthulhu waits dreaming
Power falácias
Inspirada no artigo da Carta Maior, que de tantas falácias por parágrafo parece um artigo da Veja, aqui vão algumas falácias associadas à geração de energia.* O próprio artigo tem outras, mas argumentar com cretinismos é foda.
A associação entre armas nucleares e energia nuclear. Alguém aí associa a sua escova de dentes de plástico à indústria armamentista? Vai deixar de andar de avião? (Já que a Boeing faz aviões de guerra)
"A energia termonuclear é perigosa." O risco é catastrófico, mas baixíssimo. Nesses 50 anos, só um acidente grave em uma usina com manutenção razoável aconteceu, em Three Mile Island, e 12 na mixórdia que é o parque nuclear russo.
"A energia nuclear é barata." Com as medidas de segurança necessárias para que a parte do risco aí em cima seja verdadeira, ela é mais cara do que a energia eólica.
"As pequenas usinas hidrelétricas são "ecológicas." Se você inunda 1Km2 para gerar um MW, está inundando muito mais área, somando tudo, do que Itaipú (13.000MW, 1000Km2). Para uma demonstração prática do que isso quer dizer, pegue uma máquina do tempo e experimente o pea-soup fog gerado pelos braseiros da Londres vitoriana.
"As usinas hidrelétricas são baratas." Seriam, se os rios aproveitáveis das regiões industrializadas não estivessem todos já em utilização, ou se existissem cabos supercondutores. Uma usina na Amazônia mandando energia pro Sudeste perde metade pelo caminho.
"A Amazônia não é um bom local para hidroelétricas." Balbina foi só burrice pura. A descida do planalto central, no Xingu e no Tocantins, é excelente para hidroelétricas. Mesmo sem regular o fluxo do Xingu com outras hidrelétricas, Belo Monte geraria 12MW/Km2
"Falar só na área do lago de uma hidroelétrica como "área afetada." Na Amazônia, abrir estradas e concentrar peões tem uma dinâmica própria, e extremamente destrutiva.
"Os equipamentos já foram comprados, e outra usina no mesmo lugar não tem problemas a mais." Mas as obras de engenharia civil, a parte mais cara, ainda estão por fazer. E o sítio é uma meeeerda. Angra II saiu cara por conta disso.
"Biocombustíveis são ecológicos." A não ser que você restrinja "ecológico" a "efeito estufa," a afirmação é discutível. A monocultura de alto rendimento é extremamente nociva, ambiental e socialmente. O proálcool gerou milhões de sem-terra. Melhor seria ter usado a sobra de energia elétrica para eletrificar as estradas de ferro.
"O Brasil pode ganhar a energia de uma Itaipú diminuindo as perdas na transmissão." Boa parte da explicação pelas perdas na transmissão dentro do sistema elétrico brasileiro está simplesmente na concentração em hidrelétricas. Quanto maior a distância a ser percorrida pelo cabo, mais se perde. Isso não pode ser eliminado, a não ser que se carregue o parque industrial brasileiro para Itaipú.
*Como qualquer coisa altamente politizada, os que politizam a questão técnica são sempre os outros...
A associação entre armas nucleares e energia nuclear. Alguém aí associa a sua escova de dentes de plástico à indústria armamentista? Vai deixar de andar de avião? (Já que a Boeing faz aviões de guerra)
"A energia termonuclear é perigosa." O risco é catastrófico, mas baixíssimo. Nesses 50 anos, só um acidente grave em uma usina com manutenção razoável aconteceu, em Three Mile Island, e 12 na mixórdia que é o parque nuclear russo.
"A energia nuclear é barata." Com as medidas de segurança necessárias para que a parte do risco aí em cima seja verdadeira, ela é mais cara do que a energia eólica.
"As pequenas usinas hidrelétricas são "ecológicas." Se você inunda 1Km2 para gerar um MW, está inundando muito mais área, somando tudo, do que Itaipú (13.000MW, 1000Km2). Para uma demonstração prática do que isso quer dizer, pegue uma máquina do tempo e experimente o pea-soup fog gerado pelos braseiros da Londres vitoriana.
"As usinas hidrelétricas são baratas." Seriam, se os rios aproveitáveis das regiões industrializadas não estivessem todos já em utilização, ou se existissem cabos supercondutores. Uma usina na Amazônia mandando energia pro Sudeste perde metade pelo caminho.
"A Amazônia não é um bom local para hidroelétricas." Balbina foi só burrice pura. A descida do planalto central, no Xingu e no Tocantins, é excelente para hidroelétricas. Mesmo sem regular o fluxo do Xingu com outras hidrelétricas, Belo Monte geraria 12MW/Km2
"Falar só na área do lago de uma hidroelétrica como "área afetada." Na Amazônia, abrir estradas e concentrar peões tem uma dinâmica própria, e extremamente destrutiva.
"Os equipamentos já foram comprados, e outra usina no mesmo lugar não tem problemas a mais." Mas as obras de engenharia civil, a parte mais cara, ainda estão por fazer. E o sítio é uma meeeerda. Angra II saiu cara por conta disso.
"Biocombustíveis são ecológicos." A não ser que você restrinja "ecológico" a "efeito estufa," a afirmação é discutível. A monocultura de alto rendimento é extremamente nociva, ambiental e socialmente. O proálcool gerou milhões de sem-terra. Melhor seria ter usado a sobra de energia elétrica para eletrificar as estradas de ferro.
"O Brasil pode ganhar a energia de uma Itaipú diminuindo as perdas na transmissão." Boa parte da explicação pelas perdas na transmissão dentro do sistema elétrico brasileiro está simplesmente na concentração em hidrelétricas. Quanto maior a distância a ser percorrida pelo cabo, mais se perde. Isso não pode ser eliminado, a não ser que se carregue o parque industrial brasileiro para Itaipú.
*Como qualquer coisa altamente politizada, os que politizam a questão técnica são sempre os outros...
4.5.05
Melhor negócio do que uma refinaria
...e mais barato. Se a comparação for empregos, ou geração local de renda, por capital investido, então, nem se fala.
Brazil, the land of beaches, bikinis and carnival, is not exploiting its tourism potential and could miss the chance to become a major travel destination, tourism industry officials said.
Participants at the Destination Brazil 2005 international tourism conference in Rio de Janeiro said the government and the private sector must spend aggressively on new hotels, better service and advertising to lure tourists.
"It is a popular belief that Brazil is a touristic country, but it isn't, if you look at the numbers," said Pedro Fortes, Brazilian Hotel Industry Association director.
The country accounted for less than 1 percent of international tourism flow, he said.
Indeed, the 4.6 million people visiting Brazil, a country with over 8,000 km of beaches, rich culture and biodiversity, are vastly outnumbered by the 51 million going annually to Spain or 42 million to the United States.
"With the war on terror going on in the world, traditional tourism routes have changed and this is an opportunity of a lifetime for Brazil. The time to act is now," said Liberal Lopes, president of US-based Skyline tourism company and head of the Brazil Tour Operators Association.
The government wants to double the annual number of tourists to nine million by 2007, but officials were skeptical.
"I don't see any specific plans to boost investment. Without that and without bringing direct flights from the United States to northeastern Brazil, it is physically impossible to reach that goal," Lopes told Reuters.
Brazil's poor Northeast is enjoying a boom in hotel development, with some European companies taking charter planes full of tourists from Scandinavian countries, Britain and Spain there and even investing in property.
"But to make it a trend we have to promote Brazil a lot and for a long term, for those who are building hotels now to be sure that it is not just a wave that rolls back very soon," said Carlos Barros, director of EI Destination Management Company that works with European tourists.
Officials said Brazil had to invest at least 1 percent of its estimated annual $3.2 billion in revenues from tourism for normal sustainable development of the sector, but if it wanted to double the visitors' flow that share had to be much higher.
Brazil, the land of beaches, bikinis and carnival, is not exploiting its tourism potential and could miss the chance to become a major travel destination, tourism industry officials said.
Participants at the Destination Brazil 2005 international tourism conference in Rio de Janeiro said the government and the private sector must spend aggressively on new hotels, better service and advertising to lure tourists.
"It is a popular belief that Brazil is a touristic country, but it isn't, if you look at the numbers," said Pedro Fortes, Brazilian Hotel Industry Association director.
The country accounted for less than 1 percent of international tourism flow, he said.
Indeed, the 4.6 million people visiting Brazil, a country with over 8,000 km of beaches, rich culture and biodiversity, are vastly outnumbered by the 51 million going annually to Spain or 42 million to the United States.
"With the war on terror going on in the world, traditional tourism routes have changed and this is an opportunity of a lifetime for Brazil. The time to act is now," said Liberal Lopes, president of US-based Skyline tourism company and head of the Brazil Tour Operators Association.
The government wants to double the annual number of tourists to nine million by 2007, but officials were skeptical.
"I don't see any specific plans to boost investment. Without that and without bringing direct flights from the United States to northeastern Brazil, it is physically impossible to reach that goal," Lopes told Reuters.
Brazil's poor Northeast is enjoying a boom in hotel development, with some European companies taking charter planes full of tourists from Scandinavian countries, Britain and Spain there and even investing in property.
"But to make it a trend we have to promote Brazil a lot and for a long term, for those who are building hotels now to be sure that it is not just a wave that rolls back very soon," said Carlos Barros, director of EI Destination Management Company that works with European tourists.
Officials said Brazil had to invest at least 1 percent of its estimated annual $3.2 billion in revenues from tourism for normal sustainable development of the sector, but if it wanted to double the visitors' flow that share had to be much higher.
Muita saúva e pouca saúde
Desenvolvendo algo comentado no ex-una pequena parte del mundo, hoje Contra o Consenso, e me valendo do sacrosanto direito que cabe ao cidadão privado de falar merda na internet, aqui vai uma lista pessoal, à high fidelity, dos verdadeiros problemas que travam o desenvolvimento do Brasil. Os juros altos, apesar da popularidade e de representarem um problema real, não estão na lista.
1 - Virando de ponta-cabeça a metáfora delfiniana do bolo, a distribuição de renda. O Brasil é um dos maiores mercados consumidores do mundo, com 44 milhões dos bichinhos. Mas esse número representa menos de um quarto da população nacional. O resultado é que o crescimento é condicionado por essa classe consumidora restrita, não pela população total, o que gera várias distorções, da violência ao achatamento dos perfis de consumidores (quem pode pagar por um produto diferenciado paga logo pelo importado).
2 - O alto nível de arbítrio na operação do estado. Também pode chamar de "estado semifeudal," ou do que quiser. A imprensa reclama dos juízes que dizem se preocupar com o social, alegando que juíz é para fazer cumprir a lei. É uma meia-verdade que vira falácia : A) É verdade, juízes têm que cumprir a lei, não sua opinião pessoal, mas B) a lei admite mais de uma interpretação, senão não haveria necessidade de juízes, e C) embora seja verdade que juízes no Brasil muitas vezes decidam à revelia da lei, ou apliquem-na de maneira arbitrária, isso quase sempre opera a favor dos mais ricos e poderosos, não "do social."
3 - A escassez e/ou deformação das informações usadas para a condução de políticas públicas. O caso mais flagrante é o da "proporção urbana da população." Segundo o IBGE, toda sede de município é cidade, toda sede de distrito vila, e quem nelas mora é urbanóide. Graças a isso, procura-se saber "como dotar todas as cidades brasileiras de bibliotecas," quando a pergunta seria "como facilitar o acesso da população rural à leitura." Artifício estatístico derivado disso é o índice de saneamento urbano da américa latina, num dos gráficos abaixo. Outros não faltam, do "pardo" do IBGE (alguém aí é pardo, fora o papel?) à proliferação de taxas de inflação.
4 - A distorção na noção do que é educação. A universidade ainda é extremamente restrita, mesmo comparada ao resto da américa latina; a universidade pública representa um terço da oferta de vagas, enquanto nos EUA são dois terços; a universidade não está acompanhada de um sistema condizente de escolas técnicas nem de um sistema de universidades de segunda, "community colleges." (Que a idéia de que toda universidade deva ser o melhor possível é linda, mas esbarra na falta de recursos.) E a educação nas mãos dos milhares de municípios sem recursos próprios é uma porcaria, como o é a dos estados igualmente sem recursos. O que leva ao quinto problema.
5 - A constituição de 88. Comecemos pela divisão de poderes : completamente misturada: o que está sendo demonstrado agora (quando, pela primeira vez desde 89, pode-se falar em um grupo diferente no controle de um dos poderes) é que os "checks and balances" da estrutura brasileira são mal feitos : permitem aos poderes impedir que os outros executem seu trabalho, mas não rechaçãr intromissões uns nos outros. E o pacto federativo foi feito, não para proteger os poderes das oligarquias locais frente ao poder central, como em outras federações, mas para sujeitar o poder central às ditas oligarquias. Que o digam o Amapá e Roraima. E tem a figura esdrúxula do município como ente federativo.
6 - Dessa vez quem virou a idéia econômica da ditadura de ponta-cabeça não fui eu. Com a política econômica da última década - dos juros altos às privatizações à estrutura tributária a leis específicas, a reserva de mercado (uma péssima idéia) foi substituída por um sistema em que a protegida e privilegiada é a multinacional, ou a exportadora de produtos primários, em detrimento da empresa nacional e tecnológica.
PS Com a saúva, o Brasil acabou. Graças ao estado (encarnado na Embrapa, que tropicalizou a soja e industrializou o zebu) e aos socialistas (o MST, que fez os latifundiários investir em suas fazendas ou vendê-as), o Brasil deixou de ser exportador de produtos tropicais para se tornar (tudo bem, graças também à quebra da indústria) agroexportador. A saúde carece de todos os problemas listados acima.
1 - Virando de ponta-cabeça a metáfora delfiniana do bolo, a distribuição de renda. O Brasil é um dos maiores mercados consumidores do mundo, com 44 milhões dos bichinhos. Mas esse número representa menos de um quarto da população nacional. O resultado é que o crescimento é condicionado por essa classe consumidora restrita, não pela população total, o que gera várias distorções, da violência ao achatamento dos perfis de consumidores (quem pode pagar por um produto diferenciado paga logo pelo importado).
2 - O alto nível de arbítrio na operação do estado. Também pode chamar de "estado semifeudal," ou do que quiser. A imprensa reclama dos juízes que dizem se preocupar com o social, alegando que juíz é para fazer cumprir a lei. É uma meia-verdade que vira falácia : A) É verdade, juízes têm que cumprir a lei, não sua opinião pessoal, mas B) a lei admite mais de uma interpretação, senão não haveria necessidade de juízes, e C) embora seja verdade que juízes no Brasil muitas vezes decidam à revelia da lei, ou apliquem-na de maneira arbitrária, isso quase sempre opera a favor dos mais ricos e poderosos, não "do social."
3 - A escassez e/ou deformação das informações usadas para a condução de políticas públicas. O caso mais flagrante é o da "proporção urbana da população." Segundo o IBGE, toda sede de município é cidade, toda sede de distrito vila, e quem nelas mora é urbanóide. Graças a isso, procura-se saber "como dotar todas as cidades brasileiras de bibliotecas," quando a pergunta seria "como facilitar o acesso da população rural à leitura." Artifício estatístico derivado disso é o índice de saneamento urbano da américa latina, num dos gráficos abaixo. Outros não faltam, do "pardo" do IBGE (alguém aí é pardo, fora o papel?) à proliferação de taxas de inflação.
4 - A distorção na noção do que é educação. A universidade ainda é extremamente restrita, mesmo comparada ao resto da américa latina; a universidade pública representa um terço da oferta de vagas, enquanto nos EUA são dois terços; a universidade não está acompanhada de um sistema condizente de escolas técnicas nem de um sistema de universidades de segunda, "community colleges." (Que a idéia de que toda universidade deva ser o melhor possível é linda, mas esbarra na falta de recursos.) E a educação nas mãos dos milhares de municípios sem recursos próprios é uma porcaria, como o é a dos estados igualmente sem recursos. O que leva ao quinto problema.
5 - A constituição de 88. Comecemos pela divisão de poderes : completamente misturada: o que está sendo demonstrado agora (quando, pela primeira vez desde 89, pode-se falar em um grupo diferente no controle de um dos poderes) é que os "checks and balances" da estrutura brasileira são mal feitos : permitem aos poderes impedir que os outros executem seu trabalho, mas não rechaçãr intromissões uns nos outros. E o pacto federativo foi feito, não para proteger os poderes das oligarquias locais frente ao poder central, como em outras federações, mas para sujeitar o poder central às ditas oligarquias. Que o digam o Amapá e Roraima. E tem a figura esdrúxula do município como ente federativo.
6 - Dessa vez quem virou a idéia econômica da ditadura de ponta-cabeça não fui eu. Com a política econômica da última década - dos juros altos às privatizações à estrutura tributária a leis específicas, a reserva de mercado (uma péssima idéia) foi substituída por um sistema em que a protegida e privilegiada é a multinacional, ou a exportadora de produtos primários, em detrimento da empresa nacional e tecnológica.
PS Com a saúva, o Brasil acabou. Graças ao estado (encarnado na Embrapa, que tropicalizou a soja e industrializou o zebu) e aos socialistas (o MST, que fez os latifundiários investir em suas fazendas ou vendê-as), o Brasil deixou de ser exportador de produtos tropicais para se tornar (tudo bem, graças também à quebra da indústria) agroexportador. A saúde carece de todos os problemas listados acima.
2.5.05
Coisas que fazem todo o sentido
A cidade de São Sebastião da Ría de Janeiro (também chamada Ría da Guanabara) tem esse nome em homenagem a D. Sebastião,
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Duas grandes cidades compartilham o nome de cidade dos anjos : Bangkok, ou Krung Thep, na Tailândia, e Los Angeles, na Califórnia. As duas também compartilham, além de uma poluição altíssima, uma reputação algo mais próxima de Lúcifer do que de São Miguel, sendo famosas pelas gangues, drogas, e tráfico humano. E o nome comprido - LA é La Ciudad de Nuestra Señora de Los Ángeles de Porciúncula, enquanto Bangkok (o nome é como se chamássemos Istanbul de Bizâncio, é o nome do vilarejo pré-capital) é
Krungthep mahanakhon amonratanakosin mahintara ayuthaya mahadilok popnopparat ratchathani burirom udomratchaniwet mahasathan amonpiman avatansathit sakkathattiya witsanukamprasit.
Em Londres e no Rio, é possível, sem sair da cidade, ir e voltar da Cidade. Na maioria das cidades americanas, sair do Centro é sair da cidade.
Se você acredita que 80% do Brasil é urbano, acredita que o Brasil tem 6300 cidades. Logicamente, o Brasil tem 12 bilhões de habitantes, já que a China só tem 600 cidades.
Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Duas grandes cidades compartilham o nome de cidade dos anjos : Bangkok, ou Krung Thep, na Tailândia, e Los Angeles, na Califórnia. As duas também compartilham, além de uma poluição altíssima, uma reputação algo mais próxima de Lúcifer do que de São Miguel, sendo famosas pelas gangues, drogas, e tráfico humano. E o nome comprido - LA é La Ciudad de Nuestra Señora de Los Ángeles de Porciúncula, enquanto Bangkok (o nome é como se chamássemos Istanbul de Bizâncio, é o nome do vilarejo pré-capital) é
Krungthep mahanakhon amonratanakosin mahintara ayuthaya mahadilok popnopparat ratchathani burirom udomratchaniwet mahasathan amonpiman avatansathit sakkathattiya witsanukamprasit.
Em Londres e no Rio, é possível, sem sair da cidade, ir e voltar da Cidade. Na maioria das cidades americanas, sair do Centro é sair da cidade.
Se você acredita que 80% do Brasil é urbano, acredita que o Brasil tem 6300 cidades. Logicamente, o Brasil tem 12 bilhões de habitantes, já que a China só tem 600 cidades.
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