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31.1.06

Animação de discurso

2006 State of the Union Drinking Game
Make it a night to remember!

Will Durst
January 30 , 2006

What you need:

*A group of four taxpayers: including 1 white guy wearing a Suit. 2 people wearing jeans, one in a Work Shirt, the other in a Dark Shirt, and 1 person wearing Rags. Stitched together wash cloths are nice. Four are grouped around cocktail table within sight of television. Newspapers on floor in front of television.

*A shot glass per person. Everyone brings their own and places on table. Suit picks one first. Then Work Shirt. Then Dark Shirt. Suit takes last one as well, and Rags gets a Dixie Cup with the top scissored off.

*5 bucks apiece. Everybody antes.

*Fondue pot with 2 packages of Li’l Smokies stewing in barbecue sauce on table. Preferably a sauce from Texas. Surrounded by:

*100 cocktail toothpicks. The kind with the little American flags wrapped around the top.

*A large stash of beer. Rags gets the cheapest stuff you can find, like Old Milwaukee Light; Suit gets to drink whatever import he asks for; while the jeans get to pick their favorite domestic brand, but they are required to pay for all the beer and the Li’l Smokies.

Rules of the Game

1. Whenever George W uses the phrases: national security, tax relief, activist judges or affordable health care, drink two shots of beer.

2. Whenever George W mentions the tragic events of 911, last person to grab a toothpick, stand and salute must drink three shots of beer. If you stab yourself in forehead with the toothpick, drink two more shots.

3. If George W actually says, “If Al Qaeda is calling you, we want to know why.” first person to finish a whole beer gets to toss Li’l Smokies at any of the others until they finish their beer. Use the toothpicks.

4. If George W makes up a word like “strategerie” or “deteriorize” drink four shots of beer.

5. If George W speaks of Hamas and repeats his earlier statement that “its good to see people are demanding honest leadership,” the first person to stop laughing gets to drink one shot of beer then pummel Suit with empty shot glass. No head shots.

6. Whenever George W talks about bi- partisanship, the last person to grab his throat in a choking motion has to eat 4 Li’l Smokies.

7. If either the Vice President Dick Cheney or First Lady Laura Bush are caught napping, last person to sing “Wake Up Little Susie, Wake Up,” has to drink three shots of beer.

8. Predict the number of applause breaks. Person closest to correct number may then force the other three to drink that number of shots of beer in whatever ratio they wish.

9. Three shots of beer if he mentions New Orleans. Five shots of beer if he mentions Brownie. Two full beers if he mentions Abramoff.

10. Every time Tom DeLay is shown in the audience, take turns throwing Li’l Smokies at the tv. Suit sits out. First face hit doesn’t have to drink two shots of beer. Every time Hillary Clinton is shown in the audience, Suit throws Li’l Smokies at the tv. If he hits her face, everyone else drinks two shots of beer. Use the toothpicks.

11. Whenever George W quotes the Bible, last person to fall to their knees and cry “Hallelujah!” drinks two shots of beer.

12. Whenever George W smirks during a standing ovation, take turns drinking shots of beer until the audience sits down. Do it double time if his shoulders shake with silent laughter.

Political comic Will Durst needs a volunteer to wear the suit.

Não custa lembrar...

No dia em que o lucro recorde de 36bn (100 milhões de dólares por dia) da Exxon foi notícia de jornal, que, sozinha, a empresa polui mais do que a Indonésia e seus 230 milhões de habitantes pra lucrar essa grana toda. Além disso, se destaca entre suas rivais mega-multi-ultra-super-duper empresas de petróleo por nem fingir que liga pra bobagens como aquecimento global ou poluição maciça da área de operação. (A BP finge particularmente bem; a Shell parece o Serra, porque fala muito mas não tenta disfarçar na prática, com direito a uns defuntinhos volta e meia)

Claro que, pra complicar as coisas, se a lista das 122 companhias responsáveis por 80% do efeito estufa é composta, principalmente, de empresas privadas americanas e de outros países desenvolvidos, a lista mais exclusiva das que têm cada uma mais de 1% é basicamente de empresas estatais de países em desenvolvimento.

E sim, são todas mineradoras de hidrocarbonetos.

30.1.06

A outra carga tributária

Fala-se muito da carga tributária, que entre 1994 e 2004 passou de um para dois quintos da economia brasileira, e de como ela inviabiliza investimentos, etc etc etc. Mas, durante o mesmo período, outro gasto tão inevitável e "morto" quanto os impostos aumentou mais ainda do que a carga tributária: as altas tarifas públicas oriundas das privatizações são comentadas no jornal como um problema para os consumidores, mas se esquecem de que indústria também paga conta de luz. No sistema privatizado em que a faca e o queijo ficaram na mão das distribuidoras de luz (e telefone, e pedágio, e até - via vale transporte - de trem ou ônibus), e pelo visto nem cultivar seu próprio pé de eletricidade adianta mais:


A tarifa paga pela indústria às concessionárias pelo uso de suas linhas para o transporte de energia, uma espécie de pedágio, subiu 549% nos últimos seis anos, já descontada a inflação do período. Esse aumento explosivo está levando grandes consumidores das áreas de mineração e alumínio a suspender investimentos e a rever estratégias.

Os preços do transporte de energia explodiram após a separação da tarifa: agora, parte da tarifa paga a energia e outra, o aluguel da infra-estrutura. Esse pedágio inclui dez encargos setoriais, além de impostos, tributos e a remuneração dos donos da linha. No ano passado, só os encargos custaram R$ 13 bilhões aos consumidores de energia, mais que o dobro dos R$ 5,4 bilhões de 2002.

A fábrica de alumínio da Novelis (ex-Alcan), em Minas, usa a linha da Cemig para levar a Ouro Preto energia da hidrelétrica Risoleta Neves, da qual detém 50% do capital. Nesse pequeno trajeto, de 100 quilômetros, o custo da energia aumenta 100%. "As regras mudaram e nossa vantagem competitiva, o baixo preço da energia, não existe mais", lamenta o diretor da Novelis, Cláudio Campos. A empresa estuda comprar alumínio primário de terceiros e congelar um investimento de US$ 120 milhões em Goiás.

O preço do transporte de energia força a Vale do Rio Doce a rever sua estratégia. A empresa sairá da hidrelétrica de Foz do Chapecó (SC), um investimento de R$ 2 bilhões. Roger Agnelli, presidente da Vale, disse que pretende investir na produção de energia a carvão, em usinas próximas de suas unidades industriais. Outro grande autoprodutor de energia, a mineradora BHP Billiton Metais, planeja se desfazer da fatia de 16,48% que detém na hidrelétrica de Estreito, projeto de R$ 2,5 bilhões. O especialista em energia Rafael Herzberg estima que em média a transmissão representa 50% dos custos de energia no país.

25.1.06

Nazis distribuem sopa aos pobres

...mais ou menos. Extremistas de direita na França estão distribuindo sopa com porco entre os ingredientes; a sopa, apelidada por eles de "sopa identitária," é provavelmente a primeira comida racista do mundo. (Já que é feita expressamente para discriminar contra os pobres que sejam muçulmanos - um quarto da população indigente francesa). Sinceramente, é gente que levou muita porrada da obstetra quando nasceu.


Pra mostrar que a "extrema direita" não é mais tão marginal quanto costumava ser, um trecho da reportagem sobre os cozinheiros racistas no Libération:

Les Identitaires se prévalent aussi de la paternité du terme de «racaille» bien avant son apparition dans l'actualité lors de la visite controversée de Sarkozy à Argenteuil, ou des concepts de «racisme antiblanc» ou de «fracture ethnique» qui ont récemment traversé certaines polémiques. «Ce qui nous intéresse, ce n'est pas de revendiquer la paternité d'un mot ou d'un slogan. Mais de voir qu'ils pénètrent l'enceinte parlementaire, les milieux médiatiques et intellectuels», affirme sans détour Fabrice Robert.

24.1.06

O maior orçamento do mundo

In glorious CINEMASCOPE!

Uma representação gráfica da parte discrecionária do orçamento americano em 2004- o de 2005 aumentou em 80bn, destinados principalmente ao DoD. Aviso: o fatiamento do DoD não se aplica à mudança de nível, isto é, o fato de uma bolinha sair de uma seção da "pizza" não significa que dependa daquela seção. Traduções para o vernáculo de alguns itens seguem abaixo:


Economic Support Fund - 2,535bn : FMI.
IDEA Part B State Grants - 9,259bn : Pinimba com a Denise Frossard.
Global AIDS initiative - 0,45bn : Não usem camisinha!
Missle(sic) Defense - 9,088bn : Reativação do programa nuclear chinês.
Aircraft Carrier Replacement Program - 1,525bn : Construção do USS George H Bush.
Higher Education - 15,019bn, Pell Grants - 12,715bn, Historically Black Colleges - 0,277bn : Dinheiro que o Paulo Renato acha que não existe.
Federal Prison System - 4,492bn : a parte federal da maior população carcerária do mundo.
Joint Strike Fighter - 4,365bn, Super Hornet - 3,21bn, F22 Raptor - 5,17bn : Três projetos pra fazer a mesma coisa. Pelo menos é baratinho, pouco dinheiro...

23.1.06

Centro com carro

Enquanto todo urbanista e prefeito decente pensa em como controlar os carros pra deixar que os seres humanos possam usar o centro, amenizar a poluição, etc etc etc, São Paulo faz o contrário. Não tem xingamento forte o suficiente pra dizer o que eu penso disso, então vou ter que recorrer a "xingamentos" à Asterix. @!3!#@#!#@!#!@##@@##!

Para tornar o ato apropriadamente simbólico, o prefeito sem-pressão escolheu o aniversário da cidade para libertar o centro dos pedestres. No terreno do simbolismo-com-efeitos-práticos-também, o candidato-prefeito está acumulando, em pouco mais de um ano, um currículo impressionante. Quis transformar crianças em outdoors para engordar os cofres da prefeitura (não parece ter ouvido a sugestão para que ele mesmo use um macacão de F1), aplicou o método Susanita para resolver o problema dos sem-teto,* distribuiu propaganda eleitoral - ainda por cima mentirosa - nos carnês do IPTU, e deixou claro que a única função de um posto de saúde era a imagem, com o "finge que funciona" (que significa que ninguém na prefeitura quer saber se funciona).





*"dói-me a alma quando vejo os pobres"
"a mim também" "
"deviam dar educação, comida e trabalho aos pobres!"
"pra quê? Bastava escondê-los"

22.1.06

Legislação do futuro

O cartel mundial da indústria cultural não sabe o que vai ser do futuro, mas já tem uma idéia do que fazer com ele - jogar na ilegalidade.

The EFF's Deeplinks section has a pretty alarming post about the RIAA and MPAA's attempts to freeze the progress of consumer electronics technology and then start turning back the clock on all of us. Fair use, meet your successor: "customary historic use."

The post points to broadcast flag draft legislation sponsored by Senator Gordon Smith (R-Ore.) that contains provisions which appear to limit digital broadcast media reception devices to "customary historic use of broadcast content by consumers to the extent such use is consistent with applicable law and that prevents redistribution of copyrighted content over digital networks." In other words, if it does anything heretofore unheard of with the digital content that it receives, then it's illegal. And if it does anything "customary" that could also possibly lead to unauthorized redistribution, then it's also illegal. So all the bases are covered!



Dez mangos que leis parecidas vão passar, nos EUA e no mundo inteiro. Alguém aceita a aposta?

20.1.06

Strange fruit

Numa homenagem um pouco atrasada ao dia de Martin Luther King, uma letra de música denunciada pela Time como propaganda do NAACP:



Southern trees bear a strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black body swinging in the Southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant South,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolia sweet and fresh,
And the sudden smell of burning flesh!

Here is a fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for a tree to drop,
Here is a strange and bitter crop.


A letra foi escrita por Lewis Allen, pseudônimo de Abel Meeropol, judeu novaiorquino e membro do partido comunista (adotou os filhos do casal Rosenberg depois que estes foram mortos pelo Estado), pra Billie Holiday.

Finanziamento Público de Campanha

Não, não é reprise. É que o Berlusconi também gostou da idéia.


ROMA - Em mais uma manobra eleitoral polêmica, o premier italiano Silvio Berlusconi vai enviar cartas a 600 mil bebês recém-nascidos, dando-lhes as boas-vindas ao mundo e oferecendo-lhes um bônus de mil euros por seu nascimento. "Felicidades por sua chegada. Você sabia que o Orçamento separou 1.000 euros para você?", escreve Berlusconi na carta, enviada a todas as crianças nascidas em 2005. A carta termina com: "Um beijão. Silvio Berlusconi".

17.1.06

Privacidade? Sei o qué isso não senhor.

O governo paulista inova em termos de cybercrime: o anonimato entrou pra lista.

A dificuldade de se identificar usuários de internet que abusam do anonimato oferecido por lan houses, cibercafés ou similares para cometer crimes virtuais ou atos ilícitos pode estar com os dias contados. A primeira lei brasileira que obriga os estabelecimentos comerciais a identificarem detalhadamente os usuários foi publicada na semana passada no Diário Oficial e passar a valer a partir de fevereiro para todo o Estado de São Paulo.

Trata-se da Lei estadual nº 12.228/2006 que obriga os estabelecimentos que alugam computadores para uso do público em geral a não só identificarem, por meio de carteira de identidade, telefone e endereço, todos os seus usuários como também o equipamento utilizado e a hora inicial e final de uso, além de manter essas informações em seus registros por no mínimo 60 meses. A lei foi publicada no dia 12 de janeiro e passa a valer em 30 dias, contados a partir da data de sua publicação.

O advogado especialista em direito digital, Renato Opice Blum, diz que a lei prevê também uma pena de R$ 3 mil a R$ 10 mil no caso de descumprimento. "Bem como possibilidade de suspensão ou fechamento do estabelecimento - no caso de reincidência e conforme a gravidade da infração -, além da aplicação em dobro da multa", diz Opice Blum. Outra especialista no assunto, a advogada Patrícia Peck, diz que hoje os estabelecimentos já podem ser responsabilizados civilmente em caso de crimes virtuais cometidos por seus freqüentadores, mas era muito difícil encontrar os verdadeiros infratores para então se aplicar a lei penal.

16.1.06

Congelamento salarial já!

Pros executivos, esteja bem entendido:

(E só pra constar que isso não é declaração de comunista, o JP Morgan achava que o limite máximo da diferença entre o que ganhava um CEO e um operário devia ser de quinze vezes.)

O Brasil é o país das diferenças salariais

Os presidentes de empresas no Brasil receberam salários 38,8 vezes maiores que o de seus operários em 2005. Uma das maiores diferenças salariais registradas, contando que a média mundial foi de 18, 5 vezes. Os líderes brasileiros também se destacaram no cenário internacional por terem recebido uma remuneração total no período de US$ 848.946, valor que ficou 2% acima da média global.

Esses dados fazem parte de uma pesquisa realizada pela consultoria Towers Perrin, cedida com exclusividade ao Valor , que mostra como as empresas estão remunerando globalmente seus quadros, do presidente ao operário. Ela contou com a participação de companhias com faturamento de US$ 500 milhões, instaladas em 26 países.

Se por um lado a remuneração total dos presidentes no Brasil ficou acima da média mundial, a dos operários ficou 57% abaixo. Eles receberam US$ 32.865 em 2005. "Essa diferença é um problema que enfrentamos ao longo dos anos", lembra Gabor Faluhelyi, consultor sênior da Towers Perrin no Brasil.

O estudo mostrou também que os Estados Unidos foram os que melhor remuneraram os CEOs, de forma total, incluindo a parte variável e benefícios. Em 2005, eles receberam US$ 2.164.952. Segundo Faluhelyi, o salário base dos presidentes americanos foi 15, 8 vezes maior que o dos operários. Já a melhor distribuição de renda aconteceu no Japão, onde um CEO recebeu um salário 8,4 vezes maior do que os trabalhadores do chão de fábrica.

Já a Suíça se destacou por ter oferecido a melhor remuneração total para os operários no ano passado, que ficou em torno de US$ 72.194. O pior nível de remuneração total, em todos os cargos, foi registrado na China (Xangai). "Uma das vantagens competitivas dessa região é justamente o baixo custo da mão-de-obra, isso pode explicar o fato desses níveis terem se mantidos baixos, apesar do crescimento nos negócios locais", diz Faluhelyi.

Mesmo oferecendo um nível de remuneração ruim para todos os postos nas companhias, o salário base de um presidente em Xangai apareceu como sendo 23,6 vezes maior do que o de um operário. O pior desnível salarial da pesquisa, entretanto, foi notado no México. Um CEO mexicano chegou a ganhar um salário 44,4 vezes maior do que o recebido por um trabalhador da área de manufatura. Na segunda colocação está o Brasil.

Financiamento público de campanha

Cesar quer saber o que pensam de seu governo

Luiz Ernesto Magalhães

Às voltas com problemas como a morosidade das obras dos Jogos Pan-Americanos de 2007 e o impasse na conclusão do emissário submarino da Barra (o município não permite que a Cedae interdite trechos de uma pista da Avenida das Américas durante o dia), o prefeito Cesar Maia parece também preocupado com que o carioca pensa de tudo isso. A prefeitura vai contratar o Instituto GPP, que também faz pesquisas eleitorais para vários partidos, incluindo o PFL de Cesar, para aplicar questionários nos quais a população responderá a perguntas sobre temas escolhidos pela administração municipal.

O GPP foi o vencedor de uma licitação realizada no último dia 29, mas o contrato ainda não foi assinado por questões burocráticas. A empresa receberá R$ 66 mil por três meses de trabalho, mas um dispositivo permite a renovação por mais 90 dias. Cesar explica que o instituto poderá aferir a qualidade dos serviços que a prefeitura presta ao morador do Rio.

— O objetivo é saber como o carioca avalia o governo e os seus serviços. E a partir daí se auto-avaliar — acrescentou o prefeito.

Os questionários terão até 40 perguntas, elaboradas em conjunto com a Secretaria Especial de Publicidade, Propaganda e Pesquisa. A idéia é que a cada rodada sejam aplicados pelo menos 800 questionários — sempre nos fins de semana, na casa dos entrevistados. Esta não é a primeira vez que o GPP ganha licitação na prefeitura para pesquisas, cujos resultados nem sempre são divulgados. Uma das exceções ocorreu no ano passado: Cesar publicou no Diário Oficial dados estatísticos sobre o hábito da população de ler jornais e sobre as crenças religiosas dos cariocas.

15.1.06

Xará

Não é bem uma jabuticaba, mas é algo relativamente raro em cidades grandes: ao voltar pra casa ontem, num bairro de altíssima densidade populacional a menos de dois quilômetros do centro geográfico de uma megalópole, passei por uma árvore na qual pelo menos umas cinco espécies de passarinho cantavam - incluindo meu xará.

Da raridade de jabuticabas

Elio Gaspari, em sua coluna de hoje, termina uma boa descrição do "relatório" anual feito pelo Itamaraty com uma nota infeliz dizendo que os EUA não fazem isso. Ora, fazem, e muito - cada secretaria (ministério) americana lança mais relatórios impressos do que alguns países, e boa parte deles no mesmo tom. Fora órgãos inteiros dedicados ao imbecilismo de propaganda. Assim como o capitalismo virtuoso que ele compara com o capitalismo vicioso brasileiro não anda lá muito bem há décadas (a renda mediana real americana tem caído desde que Nixon estava na casa branca). No segundo caso, a jabuticaba ainda está mais próxima de existir - o capitalismo brasileiro e latino-americano em geral é, realmente, particularmente iníquo, como o demonstram os índices de Gini da região. Mesmo assim, a generalização disso pra "os ricos malvados brasileiros" já entra no campo da jabuticaba - afinal, os ricos e estado brasileiros, com toda a sua violência, permitem a existência de favelas em áreas hipervalorizadas - vai ver se isso é possível na África do Sul ou mesmo na Europa.

Elio Gaspari é especialista em inventar jabuticabas, mas o sentido da jabuticaba, a alegação de que "essas coisas só acontecem no Brasil" podia ser mais raro. Ainda mais porque, com uma ou duas exceções, ele se foca nas coisas ruins, o que, mais do que um insulto ao Brasil, é um insulto aos cidadãos de outros países que têm que conviver com os mesmos problemas. Coisas em que o Brasil é mesmo único, ou quase único, são raríssimas, tanto pra bem quanto pra mal. Aliás, são dificilmente coisas que dê pra chamar de boas ou ruins - por definição, se é único não é comparável.

14.1.06

Será o Walt Disney?

Não. São as sementes do mundo, que a Noruega quer preservar numa ilha no Oceano Ártico. A vantagem é que o lugar já tem geladeira própria.

Só pra lembrar: o empobrecimento da variedade de produtos alimentícios vem acontecendo a taxas quase exponenciais. Há cinquenta anos, você não comia a mesma variedade de milho, feijão ou o que fosse, fora da América do Norte, se se movimentasse uns 500Km. O feijão no Brasil ainda sobreviveu um pouco mais, mas fora isso, variedades locais só têm sobrevivido caso conseguissem se transformar em itens de luxo - até porque agricultores de todos os tamanhos têm sido incluídos nos negócios de multinacionais como a Bunge e a Cargill, e pra elas não faz sentido administrar centenas de milhares de cultivares sem vantagens diretas. O banco de espécies se tornou necessário nos últimos anos por conta dessa "extinção em massa" que é também humana.

9.1.06

Serendipity

Graças ao "view next blog," um texto da Susan Sontag, de um ano antes dela morrer.


So, then, is the real issue not the photographs themselves but what the photographs reveal to have happened to ''suspects'' in American custody? No: the horror of what is shown in the photographs cannot be separated from the horror that the photographs were taken -- with the perpetrators posing, gloating, over their helpless captives. German soldiers in the Second World War took photographs of the atrocities they were committing in Poland and Russia, but snapshots in which the executioners placed themselves among their victims are exceedingly rare, as may be seen in a book just published, ''Photographing the Holocaust,'' by Janina Struk. If there is something comparable to what these pictures show it would be some of the photographs of black victims of lynching taken between the 1880's and 1930's, which show Americans grinning beneath the naked mutilated body of a black man or woman hanging behind them from a tree. The lynching photographs were souvenirs of a collective action whose participants felt perfectly justified in what they had done. So are the pictures from Abu Ghraib.

The lynching pictures were in the nature of photographs as trophies -- taken by a photographer in order to be collected, stored in albums, displayed. The pictures taken by American soldiers in Abu Ghraib, however, reflect a shift in the use made of pictures -- less objects to be saved than messages to be disseminated, circulated. A digital camera is a common possession among soldiers. Where once photographing war was the province of photojournalists, now the soldiers themselves are all photographers -- recording their war, their fun, their observations of what they find picturesque, their atrocities -- and swapping images among themselves and e-mailing them around the globe.

There is more and more recording of what people do, by themselves. At least or especially in America, Andy Warhol's ideal of filming real events in real time -- life isn't edited, why should its record be edited? -- has become a norm for countless Webcasts, in which people record their day, each in his or her own reality show. Here I am -- waking and yawning and stretching, brushing my teeth, making breakfast, getting the kids off to school. People record all aspects of their lives, store them in computer files and send the files around. Family life goes with the recording of family life -- even when, or especially when, the family is in the throes of crisis and disgrace. Surely the dedicated, incessant home-videoing of one another, in conversation and monologue, over many years was the most astonishing material in ''Capturing the Friedmans,'' the recent documentary by Andrew Jarecki about a Long Island family embroiled in pedophilia charges.

An erotic life is, for more and more people, that which can be captured in digital photographs and on video. And perhaps the torture is more attractive, as something to record, when it has a sexual component. It is surely revealing, as more Abu Ghraib photographs enter public view, that torture photographs are interleaved with pornographic images of American soldiers having sex with one another. In fact, most of the torture photographs have a sexual theme, as in those showing the coercing of prisoners to perform, or simulate, sexual acts among themselves. One exception, already canonical, is the photograph of the man made to stand on a box, hooded and sprouting wires, reportedly told he would be electrocuted if he fell off. Yet pictures of prisoners bound in painful positions, or made to stand with outstretched arms, are infrequent. That they count as torture cannot be doubted. You have only to look at the terror on the victim's face, although such ''stress'' fell within the Pentagon's limits of the acceptable. But most of the pictures seem part of a larger confluence of torture and pornography: a young woman leading a naked man around on a leash is classic dominatrix imagery.

Telencéfalo desenvolvido

Quem foi à escola durante os anos 90, pelo menos a escola privada no Rio, provavelmente assistiu "Ilha das Flores." Talvez isso explique porque o documentário é o mais assistido no portal de curtas da Petrobras.

Outro dos mais baixados, "Deus é Pai," passava na Matriz pouco tempo depois.

8.1.06

Troféu que descobrida você fazeu

Entendendo tudo errado, o Washington Post confunde reflorestamento com monocultura de árvore, e transforma um estudo numa obviedade.

Problems With Planting Forests


Many policymakers have embraced planting forests as one way to combat the buildup of carbon dioxide in the atmosphere, but a new study suggests this may be a poor strategy for minimizing greenhouse gases because fast-growing trees such as evergreens take a high toll on water and soil resources.

The international team of researchers, who examined more than two dozen plantations in Brazil, Belgium, South Africa, the United States and elsewhere, concluded that planting forests sometimes harmed local streams and damaged the soil. Thirteen percent of the streams they examined dried up completely for at least one year after plantations, many of which featured evergreens, had grown five to 10 years in the area.

"Trees use more water than just about anything else -- grasslands, croplands, shrub lands," said Robert B. Johnson, a Duke University biology professor at the Nicholas School of the Environment, one of the authors of the paper in Friday's issue of journal Science.

The trees they studied -- especially pine and eucalyptus -- also changed the acidity and salinity of the soil by soaking up calcium, nitrogen and potassium while releasing sodium, Johnson said in an interview last week.

The findings raise questions about the wisdom of planting trees to soak up carbon dioxide emissions from cars, power plants and other industrial sources, he said: "It's not a single good-bad story. We have policies that focus strictly on carbon. That's something we should reconsider, the other effects on the environment that putting on these carbon binders have."

-- Juliet Eilperin



Aqui o release original

5.1.06

Tava demorando...

O problema de decisões salomônicas, hoje em dia, é que Salomão não precisava enfrentar grupo de lobby depois. Além disso, é meio difícil colar de volta um menino cortado em dois. Se bem que pra Salomão, com todos os djinns a seu comando, talvez fosse até fácil. Por outro lado, os djinns e ifrits, marids e shaytans provavelmente serviam pra dissuadir lobistas em potencial.

Deu no Valor:

Um conjunto de 11 instituições que representam indústrias de alimentos, produtores de aves e entidades pró-transgênicos enviou ontem à Casa Civil e ao Congresso Nacional pedido de revisão na legislação sobre rotulagem de alimentos que contêm organismos geneticamente modificados (OGMs). As entidades pedem a revogação do Decreto 4.680/03 e a criação de um novo decreto para regulamentar a Lei de Biossegurança (11.105/05).

Patrícia Fukuma, do escritório Fukuma Advogados (que representa as entidades na ação), ressalta que, entre os principais pedidos estão o acabar com a obrigatoriedade da rotulagem de carne proveniente de animais alimentados com ração que contenha transgênicos. "O frango que come ração transgênica não é alimento transgênico e nem contém OGM. O decreto não pode obrigar a sua rotulagem".

As entidades também pedem mudanças nas informações que devem ser incluídas nos rótulos e substituição do símbolo (a famosa letra T impressa em um triângulo amarelo) por outro mais "amigável". A idéia é excluir informações sobre o tipo de bactéria transgênica e só colocar a informação "contém soja transgênica".

Transparência

O Estadão faz um editorial sobre como a Embrapa recebe pouco dinheiro, reproduzido no Jornal da Ciência. Depois de dizer que o gasto de hoje é menor do que há uma década (o que é verdade, assim como é verdade pras universidades federais, apesar de um crescimento de 80% desde 2003), o jornal fala o tempo todo como se a falta de grana fosse um desenvolvimento novo, imputável ao atual governo - o orçamento da Embrapa caiu no período 1997-2001, 30% só em 99. O Estadão também compara o orçamento da Embrapa ao orçamento total de pesquisas (não-agrícolas incluídas) de outros emergentes.

Ah sim - o grosso do orçamento da Embrapa faz parte das tão vilipendiadas, pelo Estadão e pelo resto dos jornais, "verbas de custeio." Aparentemente, pro agronegócio pode.

À audácia, a fortuna ajuda

E não é que no jacaré do Sharon no JB ele é chamado de "político audaz"? E eu que achava que a última pessoa a usar "audaz" tinha sido o Barbosa Lima Sobrinho.

4.1.06

Google de começo de ano

Caríssimos leitores que entraram aqui através do Google

AS NINJAS GOSTOSAS não devem existir. Sério. Admitindo-se que ninjas existissem, seriam um bando de gente que passa o dia batendo em pedra e não toma banho.

Peitudas Gostosas até existem, mas eu não sou muito de Playboy americana.

Caixa Preta de Avião é uma caixa laranja que grava tudo que se conversa na cabine, o que já causou sérios problemas com algumas viúvas de pilotos.

Fotos porno braseiros é uma tara que me deixa sem palavras. Isso não dói?

2.1.06

Unanimidades

Todo mundo (mesmo) que não está no Banco Central é contra os juros altos. Até os banqueiros associados com eles, já se manifestaram contra, na pessoa dos "economistas-chefes" dos grandes bancos. Todos os candidatos, no governo e fora dele, defendem a sua redução, mesmo os que já defenderam como razoável uma taxa SELIC de 40% ao ano.

Mas será que tem alguém que se beneficia das taxas altíssimas? Os bancos, geralmente apontados como vilões da história, pelo visto não. Com o menor juro real em muito tempo, 2004 foi um ano de lucros recordes. A Febraban é um cartel, e um cartel de bancos (sem ser um cartel bancário paraestatal, como no Japão e na Alemanha) vai ter lucros horrorosos, não importa o que aconteça. Se baixarem os juros, eles aumentam o crédito. Se houver um holocausto nuclear, desconfio da possibilidade de os bancos brasileiros continuarem a ter lucros recorde.

Então, quem realmente tem interesse nos juros altos? Deixando de lado a classe média-alta rentista, com a renda fixa ou a "multiconta" rendendo 13% ao ano, as empresas de grande porte - principalmente as privatizadas e/ou multinacionais. Têm grandes dívidas em dólar (é o caso da própria Globo, que no ano que passou deu um calote, curiosamente menos criticado como falha moral do que o calote argentino), e a valorização do real aumenta os lucros em dólar. Até as exportadoras - que teoricamente têm a perder com aumento de custos - vêem, na maioria dos casos, um número suficiente de "compensações," fora a original. A Vale do Rio Doce lucra mais cobrando frete em reais do que vendendo ferro em dólar. A Bunge e a Cargill lucram mais vendendo fertilizante do que soja. As montadoras vendem ainda primariamente pro mercado interno. Etc etc etc.




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Todo mundo reclama de que o brasileiro paga imposto demais. Eu já desconfio de que não pague imposto demais, pague impostos demais, mas isso não vem ao caso. O caso é que os impostos não vêm do nada. Foram aumentados em 10% durante o governo FH para cobrir uma expansão do gasto público que todo mundo acha imprescindível - aliás, que todo mundo quer aumentar. Mesmo cortando os juros, o gasto público brasileiro para sustentar cositas como SUS, com uma renda per capita baixa, é esse mesmo. E a falácia de "eu pago que nem na Escandinávia, devia ter serviços de qualidade escandinava" faz todo o sentido. Por exemplo, se eu gastar 0.1% do dinheiro que tenho numa casa, que nem o Bill Gates fez, devia ter uma mansão que nem a dele. Ou vão começar a comparar alhos com alhos, e falar do gasto público brasileiro em dólares comparado ao escandinavo?


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O IBGE finalmente anuncia que vai começar a levar a sério o setor de turismo. Mas a meta "ambiciosa" do governo é chegar a um patamar de turismo comparável ao da Tunísia. E enquanto isso, com o incentivo do ministério da agricultura, algumas das principais "reservas" de turismo a ser exploradas vão desaparecendo. Taí um belo motivo pra defender a "reserva de mercado" de 35 dias para filmes nacionais - quem sabe assim brasileiros (e outros, mas principalmente brasileiros) se interessam mais em viajar no Brasil que na Route 66.


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Falando na dita produção cinematográfica, concentrada nos estados mais ricos como tudo no Brasil, pesquisas de opinião confirmam que o discurso dos governantes cariocofluminenses de que o governo federal persegue o Rio colou. Imagina se o Brasil tivesse, regionalmente, uma estrutura de distribuição de fundos federais progressiva. Mesmo com os bancos de desenvolvimento (do NE e da Amazônia), em termos regionais como pessoais, o estado brasileiro é dos menos distributivistas do mundo, apesar do poder das oligarquias de estados menores. Os efeitos? Enquanto nos EUA a diferença de renda entre os estados pobres do Sul (menos Virgínia, inflada pelos subúrbios da capital federal) e a Nova Inglaterra é de 75% sobre a renda dos primeiros, e na França a diferença entre a Córsega e as regiões industriais em torno de Lyon e Ruão é de 31% da renda da primeira, no Brasil a diferença entre os estados do Nordeste e São Paulo (que é grande o bastante pra ser uma "região" sozinho) é de 254%.

PS - Nos EUA, a comparação é por mediana de renda famliar, no Brasil e na França por renda per capita. Em nenhum dos três foi contado o distrito federal, no qual as rendas são muito mais altas, o que atrapalha a situação francesa, por conta do peso de Paris para além do Estado - a diferença de renda entre a Île de France e a Córsega é de 100%. O Maranhão (Brasil) e as colônias americanas e francesas foram deixados de lado porque tão muito abaixo da curva e têm peso populacional relativamente desprezível.