Pesquisar este blog

27.7.09

Obama vs. the space cowboys

E o Obama pelo visto roubou os holofotes dos astronautas...

Do Pew Center



Mais a sério, o Obama sozinho respondeu por mais ou menos metade do baque sofrido pela ciência; o timing da pesquisa, afinal de contas, foi meio infeliz nesse sentido, já que ela foi feita menos de um ano depois do evento épico* em questão. Mais interessante é que subiu em nove pontos o "não sei/nenhum." O americano hiperorgulhoso de seu país e/ou tecnófilo vai virar coisa do passado?

*Em cinco cânticos:

Obama e Ron Paul
McCain e Palin
Condoleeza e Petraeus
Johnny Depp
Os quatro cavaleiros do apocalipse

24.7.09

Foi Malufe quem fez!

Pouco após sair o dado de que a poluição em São Paulo é pior ainda do que se pensava, a dupla Serra-Kassab, que já havia encampado a freeway proposta pelo Maluf durante a campanha, só que pior ainda, anuncia um par de projetos viários meio inúteis, ligando trechos do da Zona Oeste entre si (entre Corifeu e Eliseu de Almeida viaduto, entre Vila Andrade e Marginal Pinheiros túnel), ao módico custo de concretar dois parques e gastar R$1,3bn.

O melhor da piada? A obra é parte de uma "operação de revitalização urbana."

23.7.09

Top Secret

A mais nova alegação do Nelson Jobim pra compra sem licitação e superfaturada de submarinos franceses é que a Odebrecht e a estatal francesa DCN é que a falta de licitação se deveu à necessidade de sigilo do projeto. Sigilo. O hômi só faltou bater bumbo. Aliás, tem um mapa razoavelmente detalhado da futura base de submarinos de Sepetiba no número de Julho da revista Portos e Navios. Que, diga-se de passagem, ficaria na mesma área da expansão prevista para o Porto de Itaguaí, e muito mais próxima de olhares curiosos.

Não sou engenheiro naval, muito menos especialista em submarinos. Mas alguns dos outros argumentos (noves fora a própria profusão deles) alegados pela Marinha parecem suspeitos. Um deles é de que o Arsenal de Marinha não comportaria uma obra do porte de um submarino nuclear. Ora, o dique seco do Arsenal de Marinha tem 230x38x14m. O submarino francês nuclear de ataque Barracuda (que não tem nada a ver com o Scorpène, projeto franco-espanhol destinado à exportação para o terceiro mundo) tem 100x8x7m. O Schuka russo, o maior submarino de ataque nuclear do mundo, tem 112x13,5x9,6m. O maior submarino do mundo, o SSBN* Akula, tem 175x23x12m.

A Marinha também alega que a base de Sepetiba é prevista desde 93, e portanto não foi uma inflação de custos do consórcio DCN-Odebrecht. Ora, quem tinha alegado que a base (e o custo dela) eram imposição dos franceses foi o Nelson Jobim. Nas suas palavras, Nós não temos nada a ver com isso. Compramos um pacote pronto. O fato de a França colocar as obras em mãos da Odebrecht tem a ver com um acordo de parceria realizado entre eles

Outro argumento é de que os alemães concorrentes não estariam dispostos a transferir tecnologia. O problema é que eles já fazem isso; só o primeiro dos submarinos vendidos pela HDW ao Brasil foi construído na Alemanha, e eles são orgulhosamente apresentados como exemplo de uma estratégia de "atingir o domínio completo da tríade PROJETO, CONSTRUÇÃO e REPARAÇÃO."

Ah sim. A DCN pelo visto é useira e vezeira.

L'affaire DCN concerne la mise en cause des pratiques de corruption, d'atteintes à la vie privée et d'espionnage, de déstabilisation de ses concurrents mis en place par cette entreprise (possédée à 75 pour cent par l'État) pour obtenir des marchés à l'extérieur[1].

Como o Nelson Jobim, aliás.

Pelo menos no caso da Força Aérea a licitação já está aí há tempos. Mas o Sarkozy não deixou de encher de mimos os parlamentares brasileiros que possam ter alguma influência. Milton Temer, sem nenhuma vergonha, disse que se deixar paparicar no Lutetia por uma empresa interessada numa licitação é um "lobby saudável."

*SSBN quer dizer "perdeu preibói." São os submarinos de mísseis balísticos que ficam passeando por aí, esperando a ordem pra acabar com o mundo. (Um Akula, que é o Outubro Vermelho do filme, carrega 200 ogivas cada uma 10 vezes maior do que a bomba de hiroshima.) Aliás, a única função de um submarino nuclear de ataque como o que o Brasil quer fazer é caçar os SSBNs; pra qualquer outra coisa um submarino convencional é melhor.


PS só eu acho esquisito um desfile militar imperialesco no 14 de Julho? Ainda se fosse no 18 de Brumário...

17.7.09

Mais gringos do que os gringos

Já começaram a espalhar fofocas sobre a secretária da receita Lina Vieira. Meio surreais as "acusações," visto que os próprios auditores foram quem reclamou da destituição dela, mas...

De verdade, de verdade mesmo, Lina Vieira caiu por dois motivos. Um por ter incomodado a Petrobrás, ainda por cima no momento em que a empresa virou campo de batalha entre o governo Lula e a oposição. O outro, por ter anunciado em alto e bom som - e posto em prática - o foco nos grandes sonegadores ao invés dos bagrinhos.

Falar mal dos altos impostos virou moda no Brasil. Eu por mim queria era que eles aumentassem. Especificamente, o IPTU, IRPF, e um imposto sobre entrada de capital.

Enquanto isso, a câmara dos deputados dos EUA propõe aumentar o IRPF dos pobrezinhos que ganham mais de 350.000USD por ano em 5,4%. Só pra situar, atualmente a alíquota máxima de IRPF federal nos EUA é de 35%, e estados cobram até 12%. No Brasil, a alíquota máxima é de 27.5%, e estados não cobram nada separado. (O IRPF cobrado pela receita federal é dividido com eles.)


*********************

Vai virar estupro transar - consensualmente - com menores de 18 anos.

16.7.09

Gambling in this establishment

Grandes mineradoras estão mandando jagunços intimidarem e matarem ativistas indígenas e ambientalistas, segundo os próprios. E não é supresa nenhuma que empresas profundamente ligadas ao "novo ambientalismo pragmático" (tucano em mais de um sentido) estejam metidas até o pescoço nesse lodaçal. Afinal, é exatamente pra isso que serve o novo ambientalismo pragmático:

A) O greenwashing, apontado (mas como se fosse uma possibilidade marginal, e não a própria essência da coisa) pela reportagem dO Eco.

B) Tornar algumas organizações ambientais dependentes do dinheiro e facilidades oriundos dos recursos MUITO maiores à mão das corporações, e simultaneamente fazer com que essas ONGs, com mais dinheiro, tomem "mercado" das outras mais ativistas, neutralizando parte do ativismo ambiental.

E o ativismo que não pode ser cooptado e pelegado? Bem, esse sempre se pode mandar matar. Como sempre. Chamem os Pinkerton.

15.7.09

Descascando o PAC III - Energia

Se tem um ponto em que o establishment da mídia e dos negócios elogia o governo Lula, é a política energética. O que por si só já deveria soar o alarme, e não é só pra ser do contra que eu digo que a política energética Lula é uma tragédia. Conseguiu combinar os problemas dos dois modelos anteriores, o tucano e o desenvolvimentista (milicos e Sarney), tanto pelo lado econômico quanto pelo ambiental. O modelo milico era baseado em grandes obras hidrelétricas, necessariamente cada vez mais distantes à medida que iam acabando os rios próximos dos pólos de consumo, enquanto o tucano era baseado em usinas termelétricas.

O modelo milico era problemático porque, com as obras financiadas pelo governo, o custo real era uma caixa-preta digna de um witticism do Churchill sobre a União Soviética. Somas enormes de dinheiro e incontáveis vidas humanas (literalmente) foram gastas em grandes barragens em regiões remotas. Pra fingir que continuava saindo barato, se omitia ou subfaturava os custos de capital e oportunidade, e esquecia-se inteiramente da transmissão - tanto do preço das linhas quanto da quantidade de energia desperdiçada pelo caminho, já que estas não são supercondutoras. E, enquanto milhares de pessoas se mudavam para o local por conta dos rumores de "desenvolvimento," na prática o investimento, intensivo em capital e precisando de pouca gente, se convertia num enclave de extração de recursos naturais digno da África.

Nem estou falando tanto assim das famosas usinas do Rio Madeira. Estas são menos problemáticas do que a maioria das grandes usinas da Amazônia; estão rio acima e nem tão distantes de Porto Velho, numa área já bastante degradada e povoada. Mas acaba de sair o EIA-RIMA das linhas de transmissão ligando Manaus e Macapá ao resto do país, e elas convenientemente passam pelo Xingu, pra conectar Belo Monte, uma usina gigante e pouco eficiente a ser construída no meio de um parque nacional. E tanto Belo Monte quanto Jirau e Santo Antônio são reflexos da mesma atitude: a salvação está nas grandes obras públicas, em conjunto com o incentivo a obras médias privadas. E são piores do que as dos milicos porque num ambiente em que empresas privadas lucram com a energia "barata" cedida pelo governo, enquanto os consumidores pagam tarifas européias.

As termelétricas (o lado tucano do modelo) são piores do que o original, também. Isso porque se mantém um incentivo à produção fóssil maior até do que o concedido à energia limpa (a subutilização de energia eólica e solar no Brasil é simplesmente criminosa, e contrasta não apenas com os países ricos mas até com nossos companheiros BRICs), com um agravante: o custo previsto pelo modelo de leilão feito finge que a usina ficará funcionando ao longo do contrato. Ora, no modelo brasileiro, em que as hidrelétricas fornecem a carga-base do sistema, as térmicas só são ligadas pelo Operador Nacional do Sistema quando necessário, para atender a demanda de pico ou quando os reservatórios estão vazios, então essa premissa é falsa. E a diferença entre a premissa e a realidade incentiva que se faça uma térmica com o combustível mais barato possível - motivo pelo qual o Brasil é o único importador de carvão do mundo que está construindo uma grande quantidade de térmicas a carvão, que sói ser o pior combustível possível em termos de impacto ambiental.