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10.11.04

De quem é a conta

Artigo do Villas Boas Corrêa fala da "vergonhosa" colocação brasileira no índice de educação do IDH, e do desmatamento "recorde," como motivos para o governo federal se envergonhar.

Deixemos de lado o fato de que a colocação brasileira no IDH se refere ao governo passado, nem nunca foi melhor do que isso, a incompetência quase homérica dos dois petistas que ocuparam a cadeira da educação (Cristóvam Buarque escrevia artigos conclamando o governo federal a fazer alguma coisa, como se o ministro não fosse ele; Tarso Genro só chegou perto do assunto "educação" para defender as cotas raciais), e a força da corrente "desenvolvimentista" no governo Lula (desenvolvimentismo significa "taca a escavadeira"), ou a falta de aparelhamento, não só do Ibama, mas de todas as agências do ramo no governo federal (INPI, Receita, a parte de fiscalização da PF, até a àrea de meteorologia), ou que "não ter resolvido um problema" seja uma acusação meio de chefe do Dilbert.

Vamos à obsessão com Brasília da imprensa brasileira, estimulada pelo próprio governo federal (aí incluído em "governo," como deveria, não apenas o executivo, mas também o congresso), nessa nossa federação Doutor Ulysses.

O governo federal não pode, pela constituição de 88, se vangloriar nem ser criticado tanto assim pela educação. Que a educação brasileira é municipal, depois estadual, e só então federal. Apesar da hecatombe sofrida no governo FH (queda de 87% no orçamento do MEC), as universidades federais brasileiras estão, relativo ao resto, até bem, mesmo hoje. Produzem bem mais do que os "rivais" latinoamericanos. Um professor universitário ganha, em média, 13 vezes o salário de um primário. A educação brasileira que é uma merda é a primária e secundária. Nem tem como um "município" sem receita própria se dispôr a melhorar a educação, a não ser por capricho bondoso dos vereadores (pagos com dinheiro de fora). E os estados ainda seguem o mote de Washington Luís.

Quanto ao desmatamento, mais uma vez, em princípio o IBAMA só age em terras federais, reservas indígenas, ou fronteiras entre estados. O que até faz sentido, dentro de uma federação feita para preservar o poder das oligarquias locais (como toda federação é, de certa forma; a diferença é que, nesta, o poder delas depende do governo central, não é orgânico). E 80% do desmatamento brasileiro se concentra em dez municípios, 90% em três estados. Os governadores dos três estados já declararam pra quem quiser ouvir que são, eles mesmos, desmatadores contumazes. Imagino que os prefeitos dos dez municípios também o tenham feito.

Pro mal ou pro bem - principalmente pro mal - o BRasil é uma federação. Às vezes eu até penso que seria melhor não ser. Pra muita gente, já não é, pelo visto.

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