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30.7.04

O mais-que-perfeitamente-ferrado

Agora o Nominimo faz uma enquete sobre o perdão da dívida dos africanos, depois que muita gente já criticou as forças de paz mandadas pro Haiti.

Até aí é normal, chauvinismo, etc. Não concordo, mas realmente, se você for um nacionalista, não tem porque ajudar os outros se tem gente passando fome no seu país. E no caso da ocupação do Haiti, a estória toda do golpe e desgolpe está meio mal contada, com todas as versões possíveis, da invasão à liberação passando pela rebelião e pela quartelada.

O que é estranho é que eu apostaria uma quantia razoavelmente alta (que eu não tenho, mas deixa pra lá) que nenhuma figura escrevente e tagarelante brasileira, exceção feita ao Olavo de Carvalho, deixa de achar o Bush o fim da picada. Et pourtant, os artigos criticando a ajuda externa são iguaizinhos aos que você vai encontrar no Cato Institute, na New Republic, e mesmo, às vezes, na Fox News e no Newsmax. Enfim, no país em que ACM é de esquerda, faz sentido. Vai ver só odeia-se o Bushinho ou a Rosinha porque eles são evangélicos e popularescos, não há o mesmo preconceito contra o Bushão ou o César Maia, apesar da semelhança.

Antes que alguém fale que a diferença é que os EUA são ricos, cabe lembrar que eles têm 40 milhões de pessoas no fome zero deles, e outros oito milhões passando fome. Não têm SUS, têm um déficit externo de 5% do PIB, e enfrentam crises de infraestrutura. Lugar pra gastar a ajuda externa que eles deixariam de gastar com pobre americano tem e sobra. Em certos estados, mais de 10% da população mora em trailers. St Louis é mais ou menos tão violenta quanto São Paulo. (O Rio, depois da escalada da estratégia de guerra da polícia, está chegando em Johannesburgo)

27.7.04

Jornalzinho de Bairro do Globo

AKA coluna do Ancelmo Gois, se esmerou. Transmitiu notícia plantada do Garotinho, sem nem se preocupar em averiguar lendo no arquivo do Globo, não precisava checar com fonte, nem nada dessas coisas que dão trabalho.

Pô, do Garotinho? Depois ele reclama que a imprensa calunia ele. Imagine se a imprensa desse um pouco menos de mole.

Eureka!

Descobri porque, afinal, o César Maia manda a guarda municipal iniciar batalhas campais pelo Centro (afinal, prefeitos normais têm mais horror a isso que a qualquer coisa no mundo). Do Globo de hoje, falando sobre empresas que se mudaram do Centro para a Barra da Tijuca:

"Nos centros comerciais da Barra, vigiados pela segurança privada, não há conflitos entre guardas municipais e camelôs."

É isso! Não acredito em teoria de conspiração, pero que las hay... - e o digníssimo imperador quer mesmo é detonar o Rio para bem da Barra.

Nada contra o povo que mora por lá, mas cada vez mais acho que se eles tivessem conseguido a emancipação lá no comecinho dos anos 90, o Rio tava melhor. Por exemplo, essa notícia da migração de empresas. Garanto que se tivesse ameaçado com perda de imposto, César mandava ajeitar o Centro rapidim rapidim. E não é como se a Barra não fosse auto-sustentável. Podia não ter grana pra fazer uma Cidade da Música, mas abaixo disso era tranquilíssimo. Melhor que o próprio Rio, relativamente falando.

25.7.04

Queda do muro

Boa notícia é tão raro que tem que apreciar, mesmo pequenininha. O Jóquei - que roubou metade da área do Jardim Botânico pra ser construído, reclamar não custa - vai trocar boa parte de seus muros por grades. A idéia é ver se as pessoas que não são sócios passam a ir lá pra assistir corrida de cavalo, coisa que aqui no Rio se faz muito menos que na maioria dos lugares. Nem é caro - o ingresso é 1R$, e a aposta mínima é igual.

Por enquanto, a única subida no faturamento do turfe foi quando fecharam os bingos. A sério, se é pra velhinho e viciado jogar dinheiro fora, ou pra bandido fazer uma lavagem monetariazinha básica, cavalos são muito mais charmosos do que aqueles bingos.

Agora se aparecesse um movimento de transformar muros em grades, e arrancar grades de prédios, ia ser perfeito.

23.7.04

Pescoços vermelhos

Ia falr sobre os rednecks, os caipira incestuosos favelados americanos, e sobre como eles substituíram os pretos nas linhas de frente, mas ninguém lê essa merda, mesmo.

:p

22.7.04

Sex in the Soçáite

Vi com a minha irmã o (penúltimo?) capítulo de Sex and the City. Um dos temas era o horror de uma delas ir morar no subúrbio.

É engraçado que logo num país como os EUA, que se orgulham de ser de classe média, e criticam o elitismo francês ou o classismo inglês, ou, como todo mundo, a elite brasileira*, possa ser feito um elogio tão rasgado ao elitismo geográfico. E o que é mais estranho, sem nenhum protesto - e olha que haja neguinho pra gostar de protesto como americano. Protesta-se de tudo, mas esse tipo de elitismo** - que não se restringe ao Sex and the City - pelo visto não indigna muita gente. Imagine um grupo de protagonistas (boazinhas) de uma novela falando sobre como a Zona Sul é mesmo o único lugar que vale a pena do Rio? Viram as vilãs peruas na hora. (Me corrijam se eu estiver errado, por favor. Não vejo novela há tempos.)

Continuando a filosofia de botequim***, isso acontece porque os EUA sublimaram a luta de classes na idéia da democracia como um grande tribunal, onde grupos distintos disputam entre si. Simbolicamente, não existe hierarquia, e portanto uns não gostarem de outros é normal, mesmo que não seja simpático - e não importa aí que sejam ricos contra pobres, multibultimegacorporações contra imigrantes - todo mundo é, nesse ponto de vista, igual. De modo que a igualdade simbólica serve até pra preservar as desigualdades.

*Isso é, quando alguém lembra desta birosca.
** Falando em elitismo, é impressão minha ou aquelas socialites novaiorquinas do S&tC se vestem que nem o estereótipo da empregadinha do Méier?
***Que, pelamordedeus, observação antropológica de alguém sentado no sofá assistindo seriado não vale nada. Ainda por cima baseada em "dados" desse tipo. Sem nem a desculpa da cervejinha, vergonha...

(A próxima filosofia de buteco também é sobre o Tio Sam)

20.7.04

Dança das cadeiras

Ué, eu achava que evangélico não gostava de dança. Mas pelo visto a Rosinha gosta, já que a solução dela pra os presídios está em trocar partes das populações de uns pelos outros.

Aposto que a gente bate o Carandiru antes do Reino do Diminutivo terminar. (Falar no próprio, virou parque : http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/arquitetura492.asp ) Afinal, a polícia "está proibida de morrer" - matar pode, à vontade. Mata mais que o exército de Israel - e depois tem gente que reclama quando a imprensa internacional "fala mal" do Rio. Se fosse assim, Ari Sharon tinha que processar todos eles. Mata mais que o quádruplo dos Carandirueiros de São Paulo, ou o triplo que a polícia de Johannesburgo, cidade que tem uma vez e meia a taxa total de assassinatos do Rio. Ou melhor, tinha, já que a poliça do coroné Bolinha tá conseguindo piorar bastante as coisas.

Pra não dizer que a culpa é só dele, um estudo feito na Grã-Bretanha, primeiro país a adotar com gosto o estilo Big Brother de policiamento, concluiu que boa iluminação e limpeza nas ruas evitam mais assaltos que as famigeradas câmeras. E hoje em dia as pedras portuguesas do Rio (assim como os ladrilhos hidráulicos, concreto quebrado e tijolinhos, do Rio Cidade) não são mais vermelhas, pretas e brancas, são todas cinza. E você pode andar por ruas de milionário como a Rui Barbosa, e entre as 6 PM e umas oito, nove da noite ver sacos de lixo amontoados, escorrendo chorume - aquela baba roxo-preta indizível que escorre de lixo acumulado e cheira meio adocicado.

18.7.04

Pretensão extra

OK, isso são umas paradas que eu escrevi faz um tempo. Como desculpa furada pr'elas serem em inglês, tenho a declarar que li Sandman demais. Se bem que pra essa desculpa valer, podia ter sido escrito em castelhano.

Amanhã voltamos à programação habitual.

Imaginary libraries

A library of slaves. Each slave has tattoos indicating what book they hold, and has to teach it to a new slave.

A library of burnished steel sheets. The sheets make noises as the wind rattles through them, and by this noise a patron has to find his, as no one with sight is allowed inside. The words are embossed upon the steel.
Why only the blind are allowed is unknown. Some think the glow of the steel would blind men; others that the get of the God of War stalk the library, padding soundless after men.

Orc libraries made of carved bones - and by ancient custom, each subject for a book needs the bones of a specific beast. Refutations must be carved into jaws, bestiaries in shoulderblades, original books in skulls.

Elf-libraries, with codexes made of spider silk, beautifully calligraphed, but never illustrated, with hoops around the spine so they can be hung on tree trunks.

Libraries made out of carefully trained and bred songbirds, who pass the songs to their offspring; each clutch holds a chapter, each book is a cage.




Titanobibliotheke - A vast, fallen building of marble and basalt. The shelves, taller than a tower, are made of ebanon. The books are scrolls, eight times the height of a man, closed in cases of whalebone and dragon's ivory. They are made of papyri and written in gold. A community of scavengers stripes the gold letters away from the papyrii. Sometimes, they will trigger one of the titanic spells - this has made them deformed, and the land around blasted, so that they have no other choice at making their livelihood than keeping to their mining.




The library of the Gods. - Downwind from the library of the Titans, sits the library of the Gods.

It's a small library. The gods don't read much. They only have uses for practical texts - for spells curing godly ills, for recipes to filters of godly love, for exorcisms and texts which teach how to turn gold into lightining. The crown of the collection are the texts stolen from the library of the Titans. Those are set in the middle, in a great pillar of levinglass. (The gods have forgotten how to read the Titanolingua. They adore the books with superstitious dread. Some fear their owners will come back from Tartarus to claim them.)

Beyond the pillar, broad avenues of marble, with many trees on their sides, radiate outwards. Pegged to the trunk of each oak tree is a bronze tablet. Those are the books, written in a close script. Longer books have oak copses to them.

The gods do not lack for space.





The library beneath the sands. -They say Genghis Khan dreamt of a world devoid of cities; where barbarian children would not perceive any boundaries, riding through the emptiness. Some say Temujin, Lord Absolute, dreamt of destroying the very mountains, of turning the world into a vast Steppe.

What they do not know is that Temujin's lover, Farrukhnaz, a Persian princess, extracted a vow from him. That if someday the children of the steppe ever wanted to return to civilization, and buld anew cities more glorious than those he razed, they would have a library ready.

This was a solemn oath. It was made by Genghis Khan at the Boundary of Heaven, and over the tomb of Khan Kaigalak. All his descendants were bound by it, world without end, even to after the Doors of Felt were forever closed and the vault of the stars fell. It forced them to build, under the sands of the Gobi desert, a great vault, vaster than any treasure-trove ever described in the thousand and one nights, and to it add everything ever written by men, and more.

The books flowed in, quick and thick as the arrow-storm of a Mongol invasion. In the first years, the cavernous walls were filled with precious ornamentation. Books inlaid with ivory and diamonds, written in fine Byzantine porphyrovellinum, comissioned from the finest calligraphers of Baghdad and Hangzhou. As the Yuan dinasty, the Golden Horde, Chagatai, all met their fates, the descendants of the Throne Absolute got poor, but they kept their vow - all books that were written were added, and more. Now common print editions were added, now note paper scribbled copies. Organization was not forgotten - the order of librarians Farruknaz created laboured on, eating of subterranean carp, drinking the waters of a still lake, serene morlocks.

A tenth of the library's shelves, steel between diorite vaults, have been filled so far.


The best hidden library. - An old beggar pushes a supermarket cart around. The beggar is Auberon, the cart holds the fine vellum scrolls wherein the souls of the fair folk are kept. Thus is Hell fooled.


The traveler's library

No one knows who the librarians are, or how they move. But a few people, those to whom travel is a mode of life, will find a library card to their name, be it on the floor of a cargo wagon on which they've hopped or next to the glass of Mumm the stewardess brought them.
Afterwards, they will start finding books. These books are most useful, or completely useless. They have one thing in common, though - they are all books about places. Travel guides, atlases, itineraries - some of them have been published by people who don't exist. These books will appear as mysteriously as the membership card, and the travelers know they can be returned by leaving them at the counter of an airport bookstore, or that of a diner off the expressway, or at the feet of the railroad guard.
Sometimes, the books will feature places that don't exist. You can travel to these, too. The price for a Lufthansa ticket to Ruritania (from Frankfurt) is 567.€.



Vagina Dentata

In an old temple to ninhursag, there is a cuneiform library. I do not know what is there, for any man who steps in the entrance has the sides of the temple close about him, crushing him to death. I have seen the librarian; she is a tall woman, her skin is white as alabaster by moonlight and the colour of burnished gold by day. One of her breasts has been cut off, and she put out my eyes.

16.7.04

Linha 4, cá e lá

Rio e São Paulo vão iniciar, daqui a pouco, as obras nas suas respectivas linhas de metrô, ambas de número 4. As duas serão subterrâneas (leia-se caras), e a diferença de comprimento não é tão grande - 9,9 cá contra 12,8 lá quilômetros. A diferença de custo é um pouco maior - cá 1,3 bn, lá 1,9 bn de reais

Mas em utilidade...a linha 4 de Sampa se conectará a três outras linhas de metrô, com um fluxo estimado em 960 mil passageiros por dia por suas cinco estações iniciais, que passam (além da integração) por algumas das áreas mais densas da cidade. A linha 4 Barra-Rio tem um fluxo estimado de 40 mil passageiros por dia, e mesmo este assume que as pessoas que hoje cruzam a auto-estrada Lagoa-Barra de carro vão passar a pegar o metrô numa das pontas e de lá pegar um ônibus (já que a maioria deles não está se dirigindo ao Barra Point ou, à PUC). Nem explica como será feita essa distribuição a partir das pontas, já que estas não se integram a nenhum metrô por enquanto. O que é pergunta também para a desculpa que César Maia e companhia dão para o mini-metrô - como ele vai ajudar no transporte durante o Pan? Vão pôr os atletas e turistas pra fazer duas baldeações?

Pra comparar, furando essa quantidade de túneis nas linhas 1 e 2 do metrô-Rio, dava pra completar as duas. Tráfego estimado diário a mais, algo como 500 mil passageiros.

15.7.04

Apresuntados e fogueiras

Spam já é foda. E eu recebi um que, além de atravancar a caixa de mensagens, era racista. Ou melhor, era "eu não sou racista, mas..."

Eu, pessoalmente, não sou violento, mas acho que todo racista nojento que começa o discursinho sobre a superioridade da raça branca com essas palavras tinha que tomar eletrochoque no olho, um baita bastão de beisebol (com pregos) nos dentes, e uma noite a sós com um gorila tarado.

Lindos números inúteis

Saiu agora o ranking internacional do Índice de Desenvolvimento Humano. Orgulho para uns, vergonha para outros, os índices mostram quão bem está o povo de um lugar. Mostram? Hoje em dia, temos uma profusão de índices para praticamente qualquer coisa. Temos índices de corrupção, machismo, liberdade de imprensa, militarismo... Só de "primos" do IDH, são uns 13. O PNUD, então, ama usá-los para análises comparativas.

Tudo besteira. Primeiro porque, apesar dos esforços do PNUD e outros no sentido de homogeneizar a metodologia, os países são quem colhe essa informação, e com métodos diferentes. Pior: com métodos que mudam com o tempo, e a idéia de manter a série antiga junto com a nova seria ótima, se não fosse que a série antiga muitas vezes é ridícula (como por exemplo o atual índice de desemprego do Brasil, a ser trocado até 2006). Isso quando não são números completamente despropositados, como o índice de urbanização brasileiro, mencionado num post abaixo. Mas mesmo quando a mudança de números reflete uma melhora na quantidade e qualidade de informação, ela invalida uma análise comparativa. E tem os números que mudam pra melhor sem uma realidade equivalente. Boa parte da melhora do IDH brasileiro de educação na década de 90 deve-se a mudanças nas contas, não nas escolas.

Não estou falando apenas dos rankings, estilo campeonato por pontos corridos. Esses servem só pra encher jornal e conversar no boteco (ou, internacionalmente, num webforum à orkut). Mas a utilização desses índices que reduzem realidades complexas a conjuntos numéricos faz pensar que são comparáveis os tais números. E muitas vezes eles falam de coisas completamente distintas. Mesmo dentro da OCDE, que faz há décadas um esforço para estabelecer números realmente comparáveis.

O mais próximo de números comparáveis mundo afora que existe são os indicadores econômicos - e mesmo esses, tratados como se fossem realidade bruta, não são lá tão confiáveis assim. Il Sorpasso foi alcançado quando a Itália aumentou a conta do mercado negro no cálculo do PIB.

Não que eu não continue gostando de olhar pras tabelinhas e gráficos e mapas, mas afinal eu gostava de jogar RPG, e eles também têm um monte de tabelas, gráficos e números representando fantasias.

14.7.04

A única idéia boa do Bush

No meio de tanto debate sobre a questão das cotas, a profusão de burrices (dos dois lados) trouxe à mente a Única Idéia Boa do Bush.

Pra situar, lembremos que A) A Ação Afirmativa nos EUA não é quota, e B) os Republicanos em geral são radicalmente contra, já há décadas. E nos EUA, ao contrário daqui, realmente existe uma cultura separada, nada de "quase brancos quase pretos de tão pobres."

Pois bem, lá como cá, a observação de que não é a "raça" o que determina as chances de uma pessoa na vida, por si mesma. É claro que influencia, através do preconceito, mas para enfrentar um mal ativo e identificado, o que vale são educação e, quando necessário, punição. Distorcer a sociedade para acomodar um preconceito é algo como tentar raspar uma quelóide para ver se ela vai embora. Os problemas que as cotas tentam resolver são outros, de condições sociais hereditárias que condenam as pessoas à pobreza e, pior, a uma educação e socialização inferiores.

Ora, lá como cá a observação vale de que estes outros problemas não são enfrentados por um garoto preto de classe média alta, mesmo que ele possa ser hostilizad num bar no Sul dos EUA ou confundido com o garçom no Brasil*. E eis a única idéia boa de Bush (ainda como governador do Texas)- estabelecer um programa de ação afirmativa, não para pretos ou hispânicos (nuestros hermanos estão, no Tejas, abaixo dos pretos na escala social), mas para os habitantes das áreas degradadas, dos guetos urbanos e rurais.

Note-se que essa "cota" continua abrindo a universidade àquelas mesmas minorias de antes, já que não creio que uma maioria dos estudantes da Maré a entrar na UFRJ vá ser loura...


PS - Só pra lembrar, o sistema da Universidade Estadual do Texas, com quinze universidades (chamadas de campi), rende mais ao estado que o petróleo, e forma mais de 350.000 pessoas por ano, da elite na UofTexas at Austin a pouco mais que escolas técnicas.

13.7.04

Demiurgos neo-xenófobos

O Jornal do Commercio cita uma palestra do presidente do BNDES em que até o abuso de uma pobre palavra como "demiurgo" foi usado, em um comovente discurso sobre a atitude do banco (maior, como repete Lessa, que o Banco Mundial, o Banco Inter-americano de Desenvolvimento, ou a CAF, e só perdendo em termos de volume de grana movimentados por "bancos de fomento" pro JBIC e pros Fundos Estruturais).

Podia ter sido mais sucinto, e falado "AmBev."

10.7.04

21 mil

Tadinho do Crivella.

Também, não deve ter o talento pra pechinchar dos outros que compraram apartamentos na Barra e casas no Itanhangá por preços de apartamento no Andaraí.

Se bem que pela lógica da Igreja dele, que diz que Deus ajuda, com dinheiro, quem lhe é devoto, isso quer dizer que o Crivella não é uma pessoa temente a Nosso Senhor Jesus Cristo, ALELUIA. Afinal, pra ter tão pouca grana, depois daquele sucesso todo com os discos, só a ira divina mesmo. Ou seja, Crivella é o candidato daqueles que não foram salvos por Jesus.

Deus está vivo, falei com ele hoje.

Update - Crivella explicou que vendeu suas ações de emissoras, mas não se lembra pra quem. Pelo menos divertido ele é. Bom, pelo menos enquanto não for prefeito.

Falando de diversão, o Estado do Rio vai multar a Barcas SA por não ter aprontado a linha Praça XV-Charitas a tempo. O detalhe é que a Barcas vem pedindo autorização ao governo para tirar as sucatas que impedem seus novos catamarãs de sair do estaleiro, sem sucesso...

Favela não é pobre

O discurso sobre as favelas continua a agir como se quem mora nelas fosse só pobre-coitado, excluído, "sem."

Bom, fora o fato de que hoje em dia, no Brasil, sem-dinheiro e sem-governo são muitos (todos aqueles que não são amigos de Marco Aurélio de Mello), o Vidigal e a Maré têm muitos indicadores sociais bem melhores que a média do município. A renda média é bem menor, mas a mediana nem tanto*. A maré tem banda larga de internet. 30% dos moradores do Cantagalo caem nas classes C1 e B.

Qual é a diferença, então, se a definição inclusive do IBGE (que ainda ressalta algo parecido com "habitação precária de taipa, alambrado ou adobe") não serve? A diferença é que a favela é "sem" estado. Enquanto do lado de fora dela vive-se nessa cidade moderna, pós-indivíduo**, numa comunidade apenas imaginária, a favela vive numa comunidade efetiva, dando razão ao eufemismo.

O que justifica, logicamente se não moralmente, a estratégia de guerra adotada pelo governo. Não se trata de combater o tráfico, mas de ocupar território inimigo. O problema dessa estratégia é, além do número estúpido de mortes que causa, ainda mais vergonhoso porque é un número racista e classista, que eu já assisti a muito filme de Vietnã, e em nenhum deles os EUA ganham. Se a idéia é acabar com as favelas, nesse sentido de corpo à parte, não será radicalizando a oposição que se conseguirá nada. Por outro lado, integrá-las numa comunidade imaginária, ausente o conflito, é algo relativamente fácil. Afinal, todos os estados modernos vêm fazendo isso há séculos. Tudo bem que alguns têm abandonado a idéia ultimamente - a favela é o sonho do multiculturalismo pregado pela política oficial canadense, por exemplo.

Por enquanto, ainda não há, que se saiba, um forte nacionalismo favelado, ou uma "consciência racial" (que acaba sendo quase a mesma coisa)***. Mas alguns anos mais tomando paulada da PM cuidam disso.


* Média - soma tudo e divide por todo mundo. Mediana - metade das pessoas está acima desse ponto, a outra metade abaixo.

** Tudo bem, no Brasil nem tanto quanto em outros países, principamente quanto no "Primeiro Mundo" ou "Ocidente."

***Apesar dos esforços daqueles que acreditam que, trocando o racismo à brasileira pela variante ianque, tudo se resolveria. Alguém um pouco mais pessimista imaginaria que a introdução mais acentuada da variante americana só faria criar um híbrido do que há de pior nas duas, e não que um racismo eliminaria o outro.

Pra variar um pouco

Lula falando pras pessoas não se endividarem no cartão de crédito.

NÃO DIGA.

Vem cá, se a declaração fosse acompanhada do anúncio da criação de aulas de Home Economics 101 nas escolas públicas nacionais, ainda fazia um pouco de sentido. Isso porque as pessoas tendem a achar que administrar a própria casa é uma questão de bom senso e vagamente relacionado à moral. P... nenhuma. Sem nem entrar no quanto de construído que tem na noção de moral, saber poupar é algo que se aprende, sim. Se não em casa - e, graças à explosão populacional ou a vir de uma cultura que não enfatiza os mesmos valores que esta cultura monetarista-puritana-burguesa que domina o mundo, muitos, talvez a maioria, não aprende em casa - que seja na escola.

Por falar nisso, podia ter um pouco mais ênfase em educação rural nesse país. Inclusive ensinar a plantar, que o vivente nñao aprende a plantar só porque a família é de lavradores desde antes do Cabral, técnicas de plantio, mesmo sem máquinas, também são tecnologia, conhecimento transmitido, e fazem uma diferença enorme. Afinal, o "Brasil Urbano" é uma ficção do Estado Novo, que declarou urbano quem morasse em sede de município (cidade) ou sede de distrito (vila). Se fosse contar por um critério mais razoável, de 6.000 cidades e 18 mil vilas, passaríamos a umas 600 e 1800, respectivamente. Se bem que o número ainda parece grande, mesmo contando municípios dentro de áreas metropolitanas (eg Nova Iguaçú) como "cidades." 70 milhões de brasileiros vivem no campo.

O que leva a outra crítica ao governo federal - falaram em equipar "todas as cidades do Brasil" com biblioteca, criticando o número restrito de municípios providos delas. Nada contra bibliotecas aos montes, mas gastavam melhor o dinheiro se soubessem que a maior parte das "cidades" onde pretendem construir bilbiotecas são lugarejos, e não se serve a uma área rural do mesmo jeito que à cidade.

Falando de bibliotecas em cidades, dói o coração ver a Biblioteca do Estado na Presidente Vargas. Tem cara de biblioteca escolar, e de escola pobre, não de biblioteca central e oficial de um estado do tamanho de Portugal. Taí algo pro César Maia pôr no Píer Mauá, já que pretende por força fazer algo dos croquis de Jean Nouvel para o lugar.

Por outro lado, um píer é tão pouco indicado para livros quanto para obras de arte. Melhor a Presidente Vargas, mesmo. Espaço é que não falta.

5.7.04

Turismo no Rio

Rio, cidade turística...mómenos, já que a razão primária de visitas ao Rio é para negócios, incluindo convenções, feiras e afins. Uns 75% dos visitantes.

Também, não só os governantes mas também a indústria turística brasileira acham que o grande museu da cidade é a casa do papai Vargas (coisa que, a rigor, nem museu é, além de ser cafona pra cacete), enquanto se esquecem do Museu Nacional - que é o único museu do Brasil, com a possível exceção do MASP, que em termos de acervo não faz feio numa comparação internacional. E quem quer praia vai prum ecoresort, e pra ser balneário urbano não dá, enquanto o Rio for uma cidade perigosa à noite. Que balneário urbano quer dizer vida noturna, coisa que tanto César quanto Garotinho pelo visto odeiam.

Vai fazer turismo de quê? Viajar 32 horas pra subir no Pão de Açúcar? Tem doido que faz isso, mas não tanto assim. Sobra o turismo sexual propriamente dito. Esse parece que vai de vento em popa, com direito a propaganda paga pela prefeitura.

Estados da Guanabara

Eu quase queria que o Crivella ganhasse no primeiro turno, só pra ver se assim as pessoas paravam de dizer que a culpa da Rosinha é do interior, e que se fosse Estado da Guanabara, nós, ricos esclarecidos e inteligentes votaríamos em candidatos probos, esclarecidos e seculares.

Arrã. Como o demonstram nossos prefeitos, imagino. Ou a Gaiola de Ouro.

O pior dos "movimentos guanabarinos" é um que ainda exige uma Guanabara feita do Rio, Niterói, Itaguaí e Angra dos Reis. Pelo menos é escancarado no elitismo, que nem o túnel Rebouças, que abriu sendo proibido aos ônibus.