tag:blogger.com,1999:blog-73318792024-03-13T07:31:22.991-03:00samba do aviãoAuferre, trucidare, rapere, falsis nominibus imperium; atque, ubi solitudinem faciunt, pacem appellant.thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.comBlogger1057125tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-40365505514028303662021-08-19T14:28:00.003-03:002021-08-20T12:47:01.908-03:00Are we the virus?No começo da década da Covid, quando começaram os trancaços para conter a epidemia, na China e, pouco depois, na Europa, a redução da poluição e os animais silvestres passeando pelas cidades levaram a análises fáceis, que diziam que "nós somos o vírus." Com a humanidade confinada, ou até, nas versões mais radicais, exterminada, a natureza poderia renascer. Não muito tempo depois, a resposta, igualmente simplista, mas sem o ecofascismo da tese original: o vírus não é a humanidade, mas o capitalismo, que está acabando com o planeta. As duas teses são versões radicais de um pensamento em torno da ecologia mais amplo, levadas a essa radicalização pela enormidade da epidemia e dos seus efeitos sobre a economia mundial. Obviamente, eu sou mais simpático à segunda, mas não dá pra deixar de usar o bordão "na real a coisa não é tão simples assim."<br /><br />Primeiro de mais nada, o "fato" explicado pelas teses merece uma ressalvazinha: 90% dos eventos observados, que são principalmente a vida selvagem em subúrbios e cidades pequenas, são absolutamente banais, e aconteciam muito antes dos trancaços. <a href="https://www.deccanherald.com/specials/insight/living-with-leopards-in-mumbai-809401.html" target="_blank">Leopardos matavam cães dentro de prédios em Mumbai, uma das maiores metrópoles da Terra.</a> Os veados de Nara já moravam num parque dentro da cidade, e já saíam à noite -<a href="https://www.japantimes.co.jp/news/2019/02/19/national/80-hurt-wild-deer-nara-park-foreign-tourists-injuries-hit-record-high/" target="_blank"> inclusive, o governo estava preocupado com turistas sendo atacados por eles</a>. Javalis e ursos são parte da fauna suburbana comum em todo o domínio holártico. O que aconteceu é que pessoas entediadas em casa, e já dispostas a crer na narrativa do retorno da natureza, passaram a reparar mais, na imensa maioria dos casos.<br /><br />Mas OK, a queda na produção de fumaça, principalmente pelos carros (fábricas não tiveram uma queda de produção tão grande) foi mesmo enorme. E essa fumaça tem impactos locais (no caso de Europa e Leste Asiático, "local" é continental) enormes, sem falar no aquecimento global (que infelizmente não foi reduzido pelo trancaço, só parou de crescer). Então, quem será o vírus que deve ser cortado, humanidade ou capitalismo?<div><br /></div><div>Pra início de conversa: a ideia de que, como diria o Agente Smith, o ser humano e o câncer são as únicas formas de vida que se espalham de forma ilimitada está 100% errada. Se espalhar até os próprios limites, e inclusive consumir os recursos locais e morrer, é próprio da vida. Todo ser vivo faz isso. A especificidade da célula do câncer, nesse sentido, é que ela funciona como um ser vivo independente, ao invés de como parte do organismo humano. Não fosse assim, não falaríamos da importância de grandes predadores para o meio ambiente: o exemplo clássico dos bancos escolares, o da floresta em que tirados os lobos os veados comem tudo e morrem de fome, é um pouco forçado, mas claro. Nem humanos nem veados se autorregulam. </div><div><br /></div><div>E não, as culturas pré-capitalistas, ou não-ocidentais, também não se autorregulavam. O holocausto da invasão e da varíola nas Américas alterou o clima do planeta, que esfriou devido ao reflorestamento; ora, se as pessoas morrerem levou ao reflorestamento, é que não estava todo mundo numa harmonia edênica. No Oriente Médio, o crescente fértil, berço das primeiras cidades humanas, sofre com desertificação e salinização antropogênicas há mais de três mil anos. Existem leis da <a href="https://romanlegaltradition.org/contents/2002/RLT-WACKE1.PDF">Roma republicana</a> e da<a href="https://www.jstor.org/stable/25764489"> dinastia Han na China</a> coibindo desmatamento - ou seja, tem lei porque já era um problema. Mais longe ainda no tempo, o aquecimento global antropogênico começa com a cultura do <a href="https://www.highnorthnews.com/en/arctic-cooling-never-was-ancient-farming-prevents-glacial-period" target="_blank">arroz de inundação no sudeste asiático, ainda no neolítico, que inclusive impediu uma era do gelo.</a> Mais longe ainda, seres humanos contribuíram - o quão decisivamente ainda é motivo de debate - para a <a href="https://www.semanticscholar.org/paper/Late-Quaternary-Extinctions%3A-State-of-the-Debate-Koch-Barnosky/f5a18f2561bb19e6b40d7008f782ee6c59a6e0e9" target="_blank">extinção da megafauna holártica e neotropical (do norte global e da América do Sul). </a></div><div><br /></div><div>O problema entrou em outro nível com a revolução industrial, essa gêmea xifópaga do capitalismo? Sem dúvida. O que define a revolução industrial, afinal de contas, é o uso dos combustíveis fósseis para multiplicar a energia disponível para o trabalho, e com isso o carbono sequestrado pelas plantas e algas por milhões de anos começou a ser liberado em escala maciça. Pior: na segunda revolução industrial, a do automóvel, isso passou a ser feito menos para solucionar problemas práticos do que para alimentar uma engrenagem de status e poder cada vez mais bizantina e cada vez mais faminta de recursos, do próprio automóvel ao eletrônico com "obsolescência programada" à compra na Amazon como terapia, ao bitcoin, cuja melhor descrição é "imagina se você deixar o carro ligado o dia inteiro pudesse gerar sudokus completos pra trocar por cocaína." </div><div><br /></div><div>A situação é claramente inviável. O mais próximo que se pode chegar de um consenso científico hoje é que <a href="https://www.theguardian.com/environment/2021/jun/23/climate-change-dangerous-thresholds-un-report" target="_blank">temos anos, e não décadas, para frear a catástrofe climática</a>, e o capitalismo em sua espiral centrífuga é um obstáculo. Mas o que quero pontuar é que ele não é uma queda do paraíso. Não houve o mundo edênico pré-capitalista, não houve a sociedade autorregulada, e nem a natureza não-humana é autorregulada. O que precisamos não é voltar ao passado, é criar algo novo. </div>thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-49101306022009660702021-05-04T13:07:00.001-03:002021-05-04T13:07:34.506-03:00El más grande del mundo III : a universidade mais antiga do mundo.Qual a universidade mais antiga do mundo? E do Brasil?<div><br /></div><div><br /></div><div>Por muito tempo, a UFRJ se reinvindicou a Universidade mais antiga deste imenso Portugal. Outras universidades, mais modestamente, se referiam a suas datas de fundação oficiais, na segunda metade do século XX, ou falavam da antiguidade de uma ou outra unidade por elas absorvida. Por volta de 2006 isso mudou; começando com a Universidade Federal do Paraná, elas começaram a usar a data de fundação dessas unidades como a da universidade, sendo o estatuto com nome "universidade" apenas um passo nessa trajetória. </div><div><br /></div><div>Mesmo com esse recuo, ainda é comum ver gente falar, em tons de reprovação, de como o Brasil só foi ter universidade tardiamente; o discurso permanece inalterado seja com a primeira universidade em 1920 (quando a Universidade do Brasil, hoje UFRJ, é fundada para poder conceder um honoris causa à Rainha Elizabeth da Bélgica, segundo a tradição) ou em 1792 (quando a ancestral do centro de tecnologia da mesma UFRJ, a Real Academia de Fortificação, Engenharia, e Desenho, foi fundada). Afinal, Harvard é de 1636, e a Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, é de 1551. Estamos séculos atrasados! Atraso, inclusive, que é muitas vezes invocado como causa ou reflexo do atraso nacional. </div><div><br /></div><div>Pois bem, este post, ao contrário dos dois primeiros na série do más grande del mundo que riem de bravatas brasileiras, é pra mostrar como quem prestou atenção no 1o parágrafo pode perceber que o 2o não faz sentido nenhum, e é a legenda nigra brasileira dessa vez que sofre de ingenuidade ante a grandiloquência alheia. </div><div><br /></div><div>A corrida pela universidade mais antiga no Brasil é reflexo de uma corrida semelhante mundo afora. Assim, a Universidade de Bolonha, por muito tempo chamada de universidade mais antiga, ganhou concorrentes na África do Norte e na Ásia. A corrida inclusive ganhou traços de feminismo, quando se revelou ao mundo que a universidade mais antiga que existe, a Qarauin em Fez, foi fundada por uma mulher. Que edificante! </div><div><br /></div><div>A verdade é que "universidade" é um conceito bem menos óbvio do que possa parecer, ou a própria realidade de uma instituição. Pra azar dos mantenedores de listas e recordes, mesmo os prédios materiais só vão continuar a existir por muito tempo se forem constantemente renovados igual o navio de Teseu; imagine uma instituição de ensino. Alguém realmente acha que há algum sentido além da bravata da tradição em falar de uma universidade moderna como "existindo" de alguma forma que faça sentido na alta idade média? (Ou mais além, na dinastia Tang, como tem quem queira fazer retroceder a Universidade de Nanquim.) </div><div><br /></div><div>Então cabe a pergunta, se queremos comparar maçãs com maçãs: o que foi fundado em tal data? Se a Qarauin é a universidade mais antiga do mundo porque é descendente de uma madrassa, isso é, da escola religiosa ligada à mesquita de mesmo nome, fundada em 859, então a dúzia de universidades públicas de Paris criada nos anos 1960 poderia disputar o posto de decano com a ex-colônia avisando que a escola catedral de São Estêvão (Nossa Senhora só foi ganhar o bispado de Paris mais tarde) talvez date do século VIII. </div><div><br /></div><div>O sentido moderno de universidade, o de uma instituição que soma e mistura ensino e pesquisa acadêmicos em diversos campos, dentro de um paradigma científico, é do século XIX e centro-europeu; se você restringir universidade a esse sentido, a universidade mais antiga do mundo vai ficar na Mitteleuropa - é a Universidade de Berlim, fundada em 1810. Por outro lado, o sentido de instituição formal dedicada ao ensino avançado e/ou ao avanço do conhecimento é muito mais antigo - a Akademia platônica é de 340aC, o Taixue é de 3AD (e durou quase dois mil anos). E, finalmente, há a explicação mais banal, mas que foi ignorada nessa corrida, a de que universidade é algo que se autodenomina universidade - e essa, novamente, vai restringir o universo à Europa, já que a palavra, que queria dizer outra coisa, é latina e da idade média européia. </div><div><br /></div><div>Nenhum desses conceitos é melhor do que o outro. Só diferentes. A questão é saber perceber essa diferença, até para ver melhor a corrida de propaganda. E para a propaganda, muitas vezes se inclui instituições descontínuas, isso é, que ocupam espaços, ou tomam nomes, de instituições que acabaram. Mal comparando, seria como se a biblioteca alexandrina de hoje, criada em 2010, dissesse que é uma instituição com 30 séculos de história, encampando a biblioteca ptolemaica e o sistema de bibliotecas de templo faraônico.</div><div><br /></div><div>Para falar do "el más pequeño del mundo" brasileiro, o que foi fundado em 1636 em Massachussetts não foi uma universidade. Foi um colégio. A universidade mais rica do mundo de hoje descende linearmente desse colégio (mais do que nos casos da Qarauin e das Paris XX), mas o que havia naquela época não era uma universidade nem pretendia ser uma universidade - nem no sentido de universidade daquela época, que não era o sentido moderno. O Harvard College de 1636, dedicado à formação de pastores, tem seu equivalente no Colégio dos Meninos de Jesus de Salvador, fundado pela Companhia de Jesus em 1553 - apenas dois anos depois da universidade de Lima, e mais de oitenta anos antes da colônia inglesa na América do Norte ter o seu. </div><div><br /></div><div> Comparando curso por curso, o primeiro curso de engenharia do Brasil é de 1792, o dos EUA de 1817, ambos militares. Hoje o brasileiro se integrou como escola de engenharia de uma universidade civil, o americano segue parte da academia militar. O primeiro curso de medicina dos EUA é de 1765 (hoje parte da Universidade da Pensilvânia), o do Brasil é de 1808 (hoje parte da UFBA). Direito, 1779 e 1827. Da tríade de profissionais burguesa, está tudo mais ou menos na mesma época, trinta anos de vantagem para o Brasil em engenharia, cinquenta de desvantagem nos outros. </div><div><br /></div><div> </div><div><br /></div>thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-47754064549163262732018-02-19T18:50:00.001-03:002018-02-19T19:07:20.771-03:00Preto no brancoNeste carnaval, a questão da adequação moral de se usar fantasias foi uma das que mais ocuparam as classes tagarelantes das redes sociais brasileiras; dentro dessa questão, muito se falou sobre apropriação cultural, falando sobre as fantasias de índios (com direito a índios propriamente ditos se manifestando pró e contra; não vi ninguém do Cacique de Ramos se pronunciando ou sendo perguntado). O curioso dessa discussão, ao menos pra mim, foi que o grosso dela, entre as classes tagarelantes - ou melhor, entre o que eu vejo das classes tagarelantes - se deu de um ponto de vista branco e ocidental. Tanto as pessoas que denunciavam a apropriação cultural quanto aquelas que rejeitavam a noção o faziam a partir do ponto de vista de fazer parte de uma cultura branca e ocidental e majoritariamente como, eles mesmos, brancos.<br />
<br />
Essa discussão já estava morrendo quando vi um chilro no twitter que comentava que "pelo visto só aqui no twitter reparamos e condenamos o blackface," condenando o fato de o<a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_dos_vencedores_do_Estandarte_de_Ouro#2018" target="_blank">s jurados do Estandarte de Ouro</a> terem entregue um estandarte ao Salgueiro, apesar da escola ter incorrido naquela prática condenável. O curioso dessa declaração é que, bem, presumivelmente os jurados do estandarte de ouro têm mais intimidade com a cultura popular brasileira, e especificamente a negra, do que a média das redes sociais. O chilro condenando, então, então é um caso particularmente explícito de um movimento antiracista que tem os EUA como norte, vide o próprio uso do termo em inglês blackface, que tem uma história específica naquele país associada aos minstrel shows, o que não elimina o valor negativo das caricaturas de negros perpetradas por atores brancos em outras plagas, mas faz uma diferença na tradução que é muitas vezes ignorada; não que, por sua vez, como nada disso é imutável, blackface, sendo ou não um problema genérico dentro do racismo brasileiro antes da influência americana, seja hoje aceitável, porque o problema é a ofensa presente, e não a verdade histórica (que por sua vez é sempre contingente). Só do que estou falando é que as visões do racismo e de seu enfrentamento, tanto por companheiro de viagem quanto pelos próprios negros, são mutáveis, e dependem tanto de vivências diretas quanto de influências culturais e intelectuais, históricas e internacionais. E, no Brasil, a maior dessas influências é a americana. <br />
<br />
Não estou falando disso, bem entendido, para entrar na discussão como mais um dos "nacionalistas do racismo" que rejeitam as noções americanas sobre o tema, seja para pregar uma visão única nacional, seja pra propalar as balelas da democracia racial pseudo-freyreana (nem Freyre acreditava numa democracia racial efetiva). Pelo contrário, o que acho curioso da assimilação dessas noções no Brasil é que essa influência é, quando se pensa na demografia brasileira, extremamente conveniente para os brancos. Afinal, o Brasil, que recebeu mais de treze vezes mais africanos cativos do que os EUA, e menos da quinta parte de imigrantes livres, não é, demograficamente, um país em que os negros, descendentes de escravos ou não, são uma minoria entre outras que convivem com uma maioria privilegiada branca. Pelo contrário, é um país em que negros e mestiços (de negro e índio) constituem a maioria da população. Por pouco, segundo o IBGE, mas há mais de um estudo demonstrando o quanto a autoidentificação para o IBGE embranquece o sujeito em relação a como ele é visto por seus pares e, mais ainda, pela minoria branca que domina o país.<br />
<br />
É uma diferença bem grande de horizonte programático que sai dessa diferença demográfica. Uma minoria entre outras almeja, junto com as outras no melhor dos casos e junto com a maioria opressora no pior, representatividade, ser reconhecida, integrar-se. Uma maioria oprimida por uma minoria violenta almeja uma revolução em que tome o poder. O modelo, ao invés de ser o do extermínio indígena no século XX, é o do Apartheid; passamos dos EUA à África do Sul. Não se tem cotas para ter representação em caminhos de busca pessoal da felicidade, mas para dar acesso da maioria ao controle dos recursos nacionais; não se fala em aplainamento, mas em reparação. (A ação afirmativa americana, imitada aqui, como antes dela as dos grandes países da Eurásia, se direciona a minorias.) Se você conseguisse fazer no Brasil, não uma setorial negra dos partidos tradicionais ou grupo de discussão negro no parlamento, mas um partido de libertação negra e mestiça, que fosse visto como o legítimo representante de um anseio legítimo ao protagonismo, os partidos tradicionais é que seriam, todos, secundários - como ocorre na África do Sul.<br />
<br />
Não estou dizendo, pra deixar claro, que os brancos antiracistas brasileiros, e muito menos o movimento negro, fazem isso de caso pensado, no interesse dos blankes. Simplesmente, o que acontece é que essa visão é privilegiada pelas disparidades de poder, prestígio, e geração e transmissão de conhecimento acadêmico, tanto a nível nacional quanto global. Global, porque é tanto mais fácil quanto mais prestigioso seguir os ícones culturais, políticos, e acadêmicos americanos do que africanos. Mais fácil porque conhecimento e ativismo, como tudo mais numa sociedade hierarquizada, se movem mais facilmente em linhas verticais do que horizontais. Mais prestigioso porque, igualmente, o prestígio está muito mais associado, salvo casos excepcionais, ao que acontece nas áreas centrais.<br />
<br />
A nível nacional, é curioso notar que o centro de poder econômico e acadêmico do país é justamente o lugar em que o modelo de sociedade americano, com diversas minorias dentro de uma sociedade de maioria branca, está mais próximo de se aproximar da verdade. São Paulo tem menos de um terço da sua população de pretos e pardos, e uma proporção de imigrantes de todo canto, mas especialmente da Ásia oriental, literalmente dezenas de vezes maior do que as da maior parte do país. Assim, adaptar a visão americana ao que se passa em SP gera menos dissonância do que geraria mais ao norte, e mesmo do que ao Sul, que também tem uma maioria branca. E as redes sociais, longe de eliminar a importância dos centros, parecem pelo contrário maximizar essa influência.<br />
<br />
Não deixa de ser interessante a ideia de um Brasil onde fosse impensável um presidente branco-branco (já que os campesinos dos sertões nortistas, apesar de serem classificados como brancos, são um problema de racismo e preconceito étnico à parte).thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-89524337811379544922017-08-30T18:47:00.002-03:002017-08-30T18:47:27.195-03:00Estupro não é crime<div style="background-color: white; color: #1d2129; margin-bottom: 6px;">
<span style="font-family: inherit;">Por que estupro não é crime?</span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: inherit;">Digo, no concreto, quando acontece mesmo, quando uma mulher abusada sexualmente o denuncia. Nunca é crime, sempre é questionado. Pergunta-se em que circunstâncias ocorreu. Se a vítima estaria pedindo. Se fez BO. Se gravou com câmera. Estupro, em termos abstratos, é coisa pior até que assassinato, é pra ser punido com torturas bárbaras, com castração química, o escambau. Mas estupros concretos nunca sequer aconteceram, quanto mais serem crimes. Por quê? Parece esquisito, né?</span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: inherit;">Eu diria que a resposta é uma questão de semântica, em que o significado que o cidadão de bem empresta às palavras é um tanto diferente daquele que o dicionário dá.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: inherit;">A primeira palavra: "estupro." Estupro, para o cidadão de bem, não é um violência de cunho sexual exercida contra uma pessoa. É uma violação da honra da vítima, especialmente da vítima mulher. Até há nem tanto tempo, isso era inclusive a concepção legal, tanto que não havia estupro de homem mas "atentado violento ao pudor," e era considerado impossível o estupro dentro de um relacionamento (que, aliás, é dos mais comuns). De certa forma, somos nós, que pensamos o estupro como violência sexual, os revisionistas, porque a noção dele como crime contra a honra familiar (e a mulher como basicamente propriedade violada da família, em última instância) é a mais antiga; não é à toa que a palavra "rapto" já foi sinônimo de estupro. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: inherit;">A segunda: "bandido." Não, bandido não é uma pessoa que comete um crime. Nesse sentido, o cidadão de bem é até esclarecido, e considera que quem cometeu um crime cometeu um erro, mas tem direito ao arrependimento e ao perdão. Não se torna um criminoso por conta do crime, não tem sua natureza alterada. "Bandido" nesse dicionário é um subversivo. É alguém, preto, puta, pobre, ou petista, que saia do seu galho, que questione de alguma forma relevante seu lugar na hierarquia. E contra esses bandidos, por sua vez, é punição justa qualquer ação que de outro modo poderia ser crime. Não adianta falar de hipocrisia, porque é menos hipocrisia do que uma outra visão de mundo, em que os crimes dispostos nos estatutos da lei são menos importantes do que uma atitude subversiva, especialmente quando esta sai de classes perigosas, subalternas. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="font-family: inherit;">E a terceira, "puta," porque qualquer mulher que saia do molde de virgem submissa entra automaticamente para a categoria de "puta." Teve gente xingando irmã Dorothy, freira e sexagenária, de puta comunista, e assim achando justificável seu assassinato. É por isso que o ato de ter bebido tem efeitos opostos sobre o julgamento moral quando se fala da vítima de estupro que bebeu e do estuprador que fez o mesmo; o estuprador (que não é subversivo, portanto não é bandido) cometeu um erro, e isso é tanto mais compreensível quanto ele não estava em pleno controle de si mesmo. A vítima, por ter bebido, se definiu como puta - e, portanto, mais indigna de qualquer solidariedade da parte do cidadão de bem. Quer dizer, não que seja necessário, porque ela já é suspeita de ser puta pelo próprio fato de ter sido estuprada. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; margin-top: 6px;">
</div>
<span style="font-family: inherit;">Nessa visão de mundo, o estupro é impossível. É um silogismo: qualquer mulher, pelo ato de ter sido sexualmente abusada, passa automaticamente a ser menos do que honrada e, portanto, puta e, portanto, abusar sexualmente dela não será estupro. O estupro, para o cidadão de bem, não existe, não pode existir.</span><br />
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-28088073113989866082017-07-19T18:04:00.001-03:002017-07-21T10:35:20.256-03:00Novos heterossexuais na ilha de Caras Eu não queria, mas depois de uma semana sem o assunto ir embora, a ânsia de dar pitaco subiu demais. O CASO RODRIGO HILBERT não me parecia interessante, desde o começo, porque, bem, pra mim as pessoas falando do que o moço "é" a partir de programa de TV, revista Caras, e press release... é meio surreal. Dá vontade de perguntar se as pessoas também acreditam naquelas fotos que representam os herdeiros reais britânicos como uma simpática família de classe média cuidando do rebento; ora, não tem por que achar que a <a href="https://www.geledes.org.br/apos-vetar-lazaro-ramos-e-camila-pitanga-fifa-escolhe-casal-para-copa-fernanda-lima-e-rodrigo-hilbert/" target="_blank">família real branca da Copa</a> seria menos um produto de mídia do que a britânica. Inclusive com as hordas de babás, faxineiras, e seguranças que ficam de fora das fotos de família feliz.<br />
<br />
Então, ok, eu vou comentar essa porcaria, JÁ QUE VOCÊS INSISTIRAM TANTO, até pra não ser demitido da escola da vida, que nem a recepcionista que não tinha opinião sobre o Lula, mas não é pra falar do que o moço é, ou do que os homens não são, mas justamente pra falar do produto de mídia que se chama "homem ideal." O novo homem ideal vendido pela rede Globo, em contraste aos galãs de antigamente. E bem, por mais que seja um produto de mídia feito pra vender, não dá pra reclamar de que o novo, ao invés de ser um principezinho paparicado, é um sujeito que paparica sua família, né.<br />
<br />
Sim, ao invés de principezinho paparicado; o modelo Hilbert substitui o modelo, sei lá, Fábio Assunção, não os cafajestes e machões, cujos públicos são outros; a Globo, ou qualquer outra emissora, não vai ser burra de achar que um único produto vai agradar a todos os tipos de clientes. Então, nisso, o que você tem não é tanto um novo ideal de masculinidade quanto um novo padrão do que seria um tipo específico, o "homem atencioso." E aí entende-se também o beicinho (que chamar de frustração e choro, ou enfiar metaproblematizações mis, é grandiloquência facebookiana) dos homens; pra ser atencioso agora, ao invés de só levar umas flores e não gritar, precisa saber cozinhar e cuidar dos filhos, dá muito mais trabalho. Mas não, não é uma revolução no sistema. No máximo, um aumento da dificuldade em corresponder a um dos estereótipos disponíveis no mercado. Bem vinda, sem dúvida, que tava muito fácil pros homens com preguiça de ir na cadimia e tomar bomba pra virar "macho alfa."<br />
<br />
O mais curioso, nesse produto e para alguém dado a pessimismos, é como a Globo desistiu de vender um casal perfeito mais parecido com a população brasileira, pra voltar à Islândia de sempre. No episódio da Copa, lembremos, quem decidiu que um casal maravilha negro não servia foi a Fifa, e não a emissora do Jardim Botânico, e em geral a emissora parecia que ia, por mais que a passo glacial, aumentando a representação negra em seus quadros. Nesses três anos (sim, só se passaram três anos desde a Copa do Mundo, por mais que pareça que estamos em outro século), seria o caso de se questionar se algo mudou no pensamento globoso ou é só uma infeliz coincidência. Eu, fico com a impressão de que sim, vendo capa de revista no supermercado, mas revista no supermercado não é sequer uma visão anedótica razoável...<br />
<br />
E sim, acho que isso faz diferença, porque o ideal de domesticidade burguês tem, por trás dele, um rosto proletário, feminino, e, no mais das vezes, negro. A stepford wife só pode ser assim perfeita, fazendo jantares elaborados e cuidando afetuosa e criativamente dos filhos, porque não precisa lavar a louça nem varrer o chão. Ao comemorar que o ideal de domesticidade agora é menos machista, quase unissex, não se pode ignorar que ele continua sendo um ideal tornado possível por proletárias que, por sua vez, não têm a possibilidade de ser assim ideais. A virtude, nesse caso como em tantos outros, não é igualmente acessível a todos. E é uma virtude burguesa e branca tornada possível com a mais valia negra.<br />
<br />
<br />thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-356423600495391662017-05-02T17:57:00.000-03:002017-05-02T17:57:15.611-03:00O gestor é, antes de tudo, um líderDesde que foi eleito, em São Paulo, o candidato que utilizava o bordão "não sou político, sou um gestor," os críticos têm notado que seu estilo de governar é exatamente o contrário da gestão tecnocrática que se esperaria da ideia de "ser um gestor." As evidências se acumulam, principalmente na área de trânsito, em que o slogan da campanha ("acelera São Paulo") era um desafio aberto ao que pregam urbanistas e engenheiros de transporte mundo afora, isso é, um desafio aberto à técnica e à gestão técnica. Nesse sentido, muito mais próximo da ideia de "gestor" estaria o prefeito anterior.<br />
<br />
Ou seja, a ideia do que seria um gestor - de quem acha que o prefeito não é um- está errada. Melhor dizendo: a ideia que o prefeito, e aqueles que votaram nele, já que esse desafio à administração técnica já vem desde a campanha, fazem do que seja um gestor não passa pela gestão eficiente ou científica; pelo contrário, tanto em São Paulo quanto no Rio, à esquerda e à direita, a ideia da gestão tecnocrática foi a grande derrotada das eleições municipais de 2016, sendo incapaz - mesmo com um rol de realizações bastante amplo, dentro dos seus respectivos termos - de sequer chegar ao segundo turno. Gestor, portanto, pra quem se elegeu e pra quem votou, quer dizer outra coisa. O que seria essa coisa, então?<br />
<br />
A explicação parece estar no único livro citado por Dória em sua cerimônia de posse, que é exatamente o tipo de livro que também alcança grande popularidade entre os bispos da Universal, um livro de autoajuda para "empreendedores." Nele, como em boa parte da ideologia que se ensina para aspirantes a administradores nestes tempos pós-tayloristas, não se fala tanto da administração técnica, como aplicação de esquemas organizacionais em resposta a dados empíricos coletados, mas sim das qualidades pessoais, cultivadas e inatas, de um "verdadeiro líder." A ênfase é na capacidade de liderança e na força de personalidade individuais. O gestor, na política do século XXI, do Banespinha à Casa Branca, não é um técnico, mas sim um Líder. Assim, com maíúsculas. Um grande homem, um Ubermensch que lidera os verdadeiros patriotas e atropela os Untermenschen; algo parecido com o que aconteceu nos anos 30 e 40, com a diferença principal sendo a mudança do locus de poder, real e simbólico, das forças armadas para as grandes corporações, o que fez os Líderes trocarem a farda pelo terno.<br />
<br />
Assim como na versão original, o desprezo público pela estrutura técnico-científica não significa rejeição, mas antes subordinação, com o big data e as redes virtuais se substituindo ao rádio e à imprensa escrita, Cambridge Analytica no lugar de Der Angriff. O Líder está acima das "opiniões" de reles cientistas, mas usa sem problemas o poder que pode ser conferido pelos mesmos, e inclusive recorre a eles, lhes demanda, fórmulas miraculosas que lhe permitam entregar o que promete - porque o que ele promete, apesar da frequente linguagem de sacrifício, é o famoso almoço grátis, em que a ciência mais a eliminação dos inimigos políticos levará o povo a uma feliz Cocanha.<br />
<br />
É a história se repetindo como farsa, como no caso de Luiz Napoleão Bonaparte? Só se você ignorar que já era farsa da primeira vez.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-2812673145522158062017-04-06T16:19:00.001-03:002017-04-06T22:27:04.903-03:00Nabucos in love<p dir="ltr">"Nabucos" são aquelas pessoas que acham que tudo fora sempre será melhor que no Brasil, que tal ou qual coisa ruim "só podia ser no Brasil mesmo." O nome é homenagem, via Mário de Andrade, a Joaquim Nabuco, famoso pelo abolicionismo, mas que também perpetrou o texto abaixo:</p>
<p dir="ltr"><i>Nós, brasileiros - o mesmo pode-se dizer dos outros povos americanos - pertencemos à América pelo sedimento novo, flutuante, do nosso espírito, e à Europa, por suas camadas estratificadas. Desde que temos a menor cultura, começa o predomínio destas sobre aquele. A nossa imaginação não pode deixar de ser europeia, isto é, de ser humana; ela não para na Primeira Missa no Brasil [...].</i></p>
<p dir="ltr"><i>Estamos assim condenados à mais terrível das instabilidades, e é isto o que explica o fato de tantos sul-americanos preferirem viver na Europa... Não são os prazeres do rastaquerismo, como se crismou em Paris a vida elegante dos milionários da Sul-América; a explicação é mais delicada e mais profunda: é a atração das afinidades esquecidas, mas não apagadas, que estão em todos nós, da nossa comum origem europeia. A instabilidade a que me refiro provém de que na América falta à paisagem, à vida, ao horizonte, à arquitetura, a tudo o que nos cerca, o fundo histórico, a perspectiva humana; que na Europa nos falta a pátria, isto é, a forma em que cada um foi vazado ao nascer. De um lado do mar sente-se a ausência do mundo; do outro, a ausência do país. O sentimento em nós é brasileiro, a imaginação europeia. As paisagens todas do Novo Mundo, a floresta amazônica ou os pampas argentinos, não valem para mim um trecho da Via Appia, uma volta da estrada de Salerno a Amalfi, um pedaço do cais do Sena à sombra do velho Louvre</i></p>
<p dir="ltr">Claro está que a maioria das pessoas que sofre da <a href="http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702015000200201">moléstia de Nabuco</a>, como a chamou Mário de Andrade (espicaçando Drummond, aliás), não é tão "européia" quanto o original. Aliás, hoje, a "verdadeira pátria" de quem sofre desse mal já se espalhou, e pode estar também na América do Norte, ou mesmo na Ásia. E ele não é exatamente raro. Quem não <u>o</u>uve, pelo menos uma vez por dia, algo na base do "esse país é uma merda," "só podia ser no Brasil," ou "só podia ser brasileiro"?Desapreço, ódio, rejeição ao país natal, que estranhamente coabitam na mesma personalidade com a invocação de símbolos nacionalistas como a bandeira ou a camisa da seleção. E fica a pergunta: como explicar essa dualidade tão aparentemente contraditória?</p>
<p dir="ltr">Pois bem, a resposta é que, na verdade, o nabuco é um <a href="http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Main/Tsundere">tsundere</a>, que fica negando a própria afeição e xingando seu objeto. E ele ama o Brasil. Não os brasileiros, não o Brasil como ideia, como algo que poderia um dia existir, mas o Brasil real, as relações sociais reais do Brasil. OK, não todos os nabucos. Mas boa parte deles vai dizer frases que expressam o desejo de que o Brasil seja, ainda mais intensamente, aquilo que já é, seja mais ainda "Brasil" como diferença em relação a outras nações. Coisas como:</p>
<p dir="ltr"><i>"O problema do Brasil são todos esses direitos dos manos." </i>(A polícia brasileira é a que mais mata no mundo. São seis vezes os mortos da polícia americana, ou seiscentas vezes os da alemã, e mesmo três vezes mais do que a de países violentos como Colômbia, Venezuela, ou México.)</p>
<p dir="ltr"><i>"O Brasil é ruim por causa do custo trabalhista." </i>(Já temos a menor proporção de salários sobre renda nacional e a maior desigualdade de salários, de qualquer nação grande do mundo; a jornada de trabalho média é das mais altas; a terceirização é ampla e, agora, irrestrita.)</p>
<p dir="ltr"><i>"As cadeias no Brasil são muito boazinhas com os criminosos"</i> (São das piores cadeias do mundo, se não as piores; a superlotação é, de longe, a pior.)</p>
<p dir="ltr"><i>"Falta religião e moral neste país." </i>(O país é dos mais religiosos e afetos a temas morais em todas as pesquisas comparativas. O caso mais alucinado que já ouvi nesse sentido foi quando um moço me dava de exemplo de país ideal o Japão e dizia isso - só que o Japão é o país mais ateu fora da Escandinávia...)</p>
<p dir="ltr"><i>"Os ecoxiítas que impedem o desenvolvimento nacional"</i> (O Brasil é o país em que mais morrem ativistas ligados à terra e ao meio ambiente; muitas empresas de países ricos elegeram o país como centro de processos poluentes.)</p>
<p dir="ltr">E assim por diante. Cada vez que uma pessoa dessas diz que acha o Brasil ruim, está dizendo que gostaria que o país fosse, ainda mais intensamente, o que já é.</p>
<p dir="ltr">Devem estar bem satisfeitos.</p>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-44667822802854790642016-11-14T11:47:00.001-02:002017-05-02T18:31:10.854-03:00Impostos, e o que eles compram. Sim, eu sei que falar desse jeito, de um ramerrame tão chato quanto impostos, e sem ser diretamente dentro de uma grande narrativa - pró ou contra- parece estranho, nestes tempos que correm sob o signo da emoção. Mas acho que é importante, considerando-se a importância de questões relacionadas a déficits e impostos nos dias que correm, ter a percepção correta do que impostos e carga tributária são. Afinal, fala-se muito em "aumento da carga tributária" - e vai se ver, e os impostos não aumentaram, aumentou a formalização. Mas a impressão que ficou foi do aumento do imposto...<br />
<br />
Não é problema só de impostos e carga tributária, claro. Um dos problemas mais comuns da nossa época é a reificação das estatísticas. Traduzindo o palavrão: é a tendência de pessoas a lerem estatísticas como dados da realidade bruta, mesmo quando essas estatísticas na verdade refletem todo um sistema de dados amealhados, interpretados, selecionados, e processados. Isso vale para a maioria das pessoas, pouco à vontade com números em geral, mas é um mal do século, comum a todo mundo, inclusive aos estudiosos de ciências sociais. Pode ser, inclusive, resultado da necessidade do discurso: é preciso falar alguma coisa, as estatísticas não são realmente confiáveis para serem comparadas, mas são o que temos, então falamos delas como se fossem reais. E aí alguém vem e pega o que foi falado, e usa por sua vez, e o "assumindo-se que assim seja" se perde pelo caminho, e uma comparação tortuosa vira um fato, às vezes com resmas de explicações complexas em cima. As coisas mais simples e aparentemente óbvias não são tanto assim. Por exemplo: o dia de trabalho no Brasil e nos EUA é de oito horas. Nos EUA, isso é chamado de "9 to 5." Aqui, geralmente é de 8 às 5. A diferença é que no Brasil temos uma hora de almoço obrigatória - que não é contada dentro do horário de trabalho. Mas americanos - dizem - também almoçam. E então, o que seria "certo" nessa comparação? Dizer que o brasileiro empregado formalmente tem um dia de trabalho de nove horas, descontar do tempo do americano o tempo de almoço... o mais simples, é claro, é simplesmente utilizar o tempo formal. De novo: o brasileiro tem direito a trinta dias <i>corridos </i>de férias. Na maioria dos países da Europa, as férias obrigatórias são de vinte e cinco dias <i>úteis</i>. E por aí vai...<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Um desses números que parecem simples mas encerram em si todo um discurso é o da carga tributária. Gente bem melhor que eu já falou da carga tributária líquida, a diferença entre o custo efetivamente gasto pelo governo e aquele dinheiro que é só redistribuído, na forma de transferências diretas, por ele, mas o que quero falar é de outra coisa: o gasto do governo propriamente dito que é pago com "carga tributária" em cada país <i>não é, nem remotamente, comparável.</i> Não estou falando da qualidade do serviço, a clássica reclamação da classe média brasileira, mas de que as estruturas pelas quais as nações oferecem diferentes serviços a seus cidadãos são diferentes; a definição do que é e não é Estado é mais complexa do que à primeira feita parece. Mas diferentes de tal modo que é difícil, mesmo, reduzir essa diferença a um número. Um dos exemplos mais flagrantes: a carga tributária japonesa é bem menor do que a da França. Eficiência do modelo japonês... ou porque universidades e saúde são pagos do bolso do cidadão no Japão, ao invés de majoritariamente pelos cofres públicos, e os subsídios ao transporte são muito menores (o Estado dá, ao invés disso, às companhias de trem vastas áreas urbanas para desenvolver como imobiliária, e empréstimos a juro baixo via bancos e parabancos estatais). </div>
<div>
<br /></div>
<div>
E essa comparação entre o Japão e a França nem é tão estranha quanto a comparação que se faz entre a carga tributária brasileira e a de países ricos para reclamar que o retorno "não é semelhante." Primeiro porque, como já disse na <a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2016/02/o-problema-do-brasil-nao-existe.html" target="_blank">resposta ao gringo picareta</a>, renda não é riqueza, e serviços públicos também são riqueza. Segundo porque a comparação entre percentuais não faz sentido; tente exigir comprar uma casa igual à do Bill Gates pela mesma porcentagem das suas economias que ele gastou. Terceiro pela diferença entre carga tributária líquida (que não deixa de ser um serviço público, mas para a qual não cabe falar de eficiência do estado, já que quem recebe sabe muito bem o quanto recebe). E quarto, finalmente, pela diferença de "pacotes de serviços" oferecidos pelos diferentes governos. Ah sim, um quinto: pela existência de receitas extraordinárias, não-tributárias, como são o petróleo e outros hidrocarbonetos nos países exportadores. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Não é uma diferença pequena, circunstancial. Mesmo para empresas sofisticadas é difícil julgar entre preços de pacotes de serviços diferentes para tomar uma decisão; é por isso que muitas agências reguladoras mundo afora, e em especial os bancos centrais, exigem algum tipo de estandardização de pacotes de serviços por seus regulados, até, em alguns casos, a nível internacional. E entre os "pacotes de serviços" dos governos não há estandardização nenhuma, a tal ponto que fica difícil até julgar a diferença, de tal modo as estruturas são diferentes. Uma obra que tentasse fazer um esboço do esboço de um estudo comparativo real entre essas estruturas, sopesando cada particularidade e transformando-a num número, ou em meia dúzia, seria tão grossa (assim de deixar os calhamaços do Braudel ou do Osterhammel parecendo panfletos) quanto cheia de "assumindo-se-que." </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Longe de tentar atacar essa cavalariça de Áugias, tentei só fazer uma conta bem mais grosseira, que resumo na tabela abaixo. A conta começa na parte fácil (PIB do país per capita multiplicado pela carga tributária - o que ignora inteiramente a questão da progressividade do gasto e de quanto efetivamente um dado cidadão paga), e junta uma das coisas mais simples de se definir à parte entre os grandes gastos públicos, que é o financiamento da saúde. Porque, se vários países têm sistemas de saúde universal, como esse sistema de saúde é universal está bem longe de ser uniforme. Basicamente, se tem os sistemas como o SUS, chamados de "pagador único," em que o Estado mantém, via impostos, um sistema de saúde que é inteiramente grátis pra quem chegar e aparecer, e modelos de planos de saúde regulados e subsidiados, mas que têm, obrigatoriamente, que ser pagos pelo cidadão além dos impostos. Na prática, portanto, poder-se-ia chamar esse pagamento de imposto também - e um imposto bastante regressivo, já que não guarda relação nenhuma com a renda de quem paga. Mas o Obamacare, ou a Krankenversicherung, ou o Kokuminkenkoohoken, não entram pra estatística de carga tributária. Faz sentido: não são impostos entregues ao Estado, mas pagamento a empresas privadas. Por outro lado, são pagamentos que o Estado obriga que se faça a essas empresas privadas, que são pesadamente reguladas e imbricadas na estrutura do Estado.<br />
<br />
A tabela abaixo, então, longe de tentar sistematizar e conceitualizar essas diferenças importantes, tem apenas uma ideia modesta de, imaginando bem ao gosto neoliberal o Estado como um "pacote de serviços," mostrar o que está incluído nesse pacote, e quanto ele custa aos cidadãos. (Em dólares, não em % do PIB - cf. "construir uma mansão que nem a do Bill Gates com a mesma proporção da minha renda.) (Os números pra PIB e carga tributária foram conseguidos na wikipédia.)<br />
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="margin-left: 0pt;">
<table style="border-collapse: collapse; border: none;"><colgroup><col width="105"></col><col width="75"></col><col width="99"></col><col width="225"></col><col width="136"></col></colgroup><tbody>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">País</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Carga tributária em % do PIB</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Carga tributária per capita, em dólares PPP</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O que é pago com impostos</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O que é pago pelo cidadão médio, obrigatoriamente, hors imposto</span></div>
</td></tr>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Brasil</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">35,7</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">5.265</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Universidade pública</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Educação (todos os níveis; terciária restrita) </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Previdência</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
</td></tr>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">EUA</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">26,9</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">14.458</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Previdência</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Subsídio a combustíveis</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Educação (até média)</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde (restrita)</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde - 3552</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
</td></tr>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Alemanha</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">40,6</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">18.521</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Educação (todos os níveis)</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Subsídio a transportes</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde - 4460</span></div>
</td></tr>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Japão</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">29.5</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">11.148</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Previdência</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Subsídio à saúde</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde - 1500</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Educação (todos os níveis) - 3750+</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span></div>
</td></tr>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">China</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
28,1</div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
2.226</div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
Educação (até média)<br />
Subsídio a educação superior<br />
Saúde (parcialmente)<br />
Subsídios ao transporte<br />
Saneamento e energia subsidiados</div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
Saúde - 200</div>
</td></tr>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">França</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">44,6</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">17.184</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Previdência</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Subsídio à saúde</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Educação (todos os níveis)</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Subsídios pesados ao transporte</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br class="kix-line-break" /></span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde - 1600</span></div>
</td></tr>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Reino Unido</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">34,4</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">14374</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Previdência</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Educação (até média)</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Subsídios à educação superior</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
</td></tr>
<tr style="height: 0px;"><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Argentina</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">37,2</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">7625</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Previdência</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Educação (todos os níveis) </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde (restrita)</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Subsídios ao transporte</span></div>
</td><td style="border-bottom: solid #000000 1px; border-left: solid #000000 1px; border-right: solid #000000 1px; border-top: solid #000000 1px; padding: 7px 7px 7px 7px; vertical-align: top;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.2; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Saúde - 1200</span></div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<span id="docs-internal-guid-380c3e1e-6316-de23-8e16-80e2a92bbd8e"></span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<br /></div>
<br />
<br /></div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-65979340420369558152016-10-04T11:53:00.001-03:002016-10-04T11:53:24.447-03:00Museu da África e da Escravidão no cais do Valongo<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quando a prefeitura lançou o site Visão Rio 500 anos, lancei essa proposta lá. Foi a mais votada do site. Não passou pela peneira dos "técnicos" da prefeitura. Então repito aqui, a proposta e o programa expositivo, na esperança de que alguém lhe dê atenção.
</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Carta aberta às autoridades públicas e empresários do Rio de Janeiro: pela construção de um museu da Escravidão e da África no cais do Valongo.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b id="docs-internal-guid-eb4f5bda-902e-dcaa-7d27-4a61839e1c21" style="font-weight: normal;"><br /><br /><br /></b></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por que no Valongo? Porque tanto simbolismo quanto conveniência ali convergem. O cais do Valongo, recentemente escavado, foi a instalação única pela qual passaram mais pés de escravos no planeta (mais de meio milhão de pessoas, entre 1811 e 1850). E o armazém defronte, um dos primeiros armazéns “modernos” do porto do Rio, foi projetado por André Rebouças, ele mesmo negro, neto de escravos, e abolicionista, um dos maiores engenheiros do Império, que proibiu a utilização de escravos como mão de obra na sua execução (em 1871, quase vinte anos antes da escravidão ser abolida no Brasil), homenageado junto com seu irmão no maior túnel da cidade (mas quantos por ali passam saberão ligar o nome à pessoa?). Não é uma instalação qualquer, em um lugar qualquer: é um memorial de importãncia, sem falsa modéstia, planetária. Instalação que, aliás, foi ela mesma uma tentativa, por estranho que pareça a nossos ouvidos ouvir isso, de apagar o passado colonial e andrajoso fazendo instalações científicas e higiênicas para o tráfico de ePor que um Museu da Escravidão e da Africa no Valongo? </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Em primeiro lugar, por causa da importância simbólica daquele lugar. Lá desembarcou o maior número de africanos escravizados em toda a história. A importância da escravidão atlântica para formação da sociedade brasileira e para a construção do mundo moderno exige que se preserve aquele lugar. Nessa história de muita dor e sofrimento, o Rio de Janeiro desempenhou papel fundamental. Além de ter o maior porto receptor de escravos do mundo, nesta cidade funcionava toda a complexa cadeia de tráfico humano, que ia desde a construção e contratação de navios à contratação e repasse de seguros. Aqui, também, na condição de capital imperial, foram tomadas decisões importantes que mudaram a história do tráfico e da escravidão no Brasil, como por exemplo, a proibição do tráfico negreiro e a definitiva abolição da escravidão em 13 de Maio de 1888, quando nos tornamos o último pais das américas a fazê-lo. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">É uma nódoa na história nacional, portanto algo melhor esquecido? Não. Nódoas são para serem lembradas, e a cultura que saiu da escravidão deve ser celebrada. Nem é uma idéia tão original - existem museus da Escravidão em outras cidades, ligadas mais ou menos ao tráfico, como em Liverpool e Nova Iorque. Existem museus do Holocausto, outra grande tragédia da humanidade, como em Berlim ou Washington. Este, aliás, atrai 17 milhões de visitantes por ano, muito mais que qualquer atração turística brasileira. Hoje, o Brasil retoma ligações com a África que em parte se perderam ao longo do Século XX, e um museu que registre o maior laço entre os dois países é também importante. E, finalmente, na parte “África,” sem falar da escravidão, o Rio de Janeiro, com uma população negra bem maior que a de São Paulo, não tem algo da importância do Museu Afro-Brasil, do Ibirapuera.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Acervo não falta - as próprias escavações do porto, por óbvio, retiraram inúmeras peças relevantes à história da escravidão no Brasil, e os arquivos em mãos de diversas instituições públicas na cidade também não são pequenos. Não que a idéia seja um museu “sótão,” à moda antiga. Pelo contrário, o ensino, a celebração e a mem´ da tragédia que foi a escravidão e da riqueza que dela se extraiu, devem incluir seções interativas, devem incluir fac-símile, toda a tecnologia necessária pra que o Museu da África e da Escravidão não seja “mais um museu,” visitado principalmente por colegiais entediados, e sim o que tem potencial para ser - uma atração internacional carioca, no nível do Cristo ou do Pão de Açúcar. (E um centro de pesquisas, igualmente de importância internacional.) Tem, também, o potencial para reforçar e reforjar as relações brasileiras com a África, continente que é hoje o que mais rápido cresce no mundo, e com a diáspora negra em toda a orla do Oceano Atlântico. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">scravos, numa prefiguração do genocídio “científico” e industrial que foi o Holocausto.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Recentemente, fomos surpreendidos pela notícia de que as autoridades públicas pretendem entregar o galpão construído por André Rebouças e hoje utilizado pela ONG Ação da Cidadania a um grupo de empresários para que lá seja feito um empório gastronômico, como parte do projeto de requalificação do Porto, que por sua vez é parte de um projeto de inserção do Rio de Janeiro na rede de cidades globais de negócios. Defendemos, ao invés disso, a alocação desse empório gastronômico em outro espaço (há os armazéns da beira do cais, com sua vista para o mar, há a possibilidade já aventada de reconstruir o Mercado Municipal da Misericórdia, há os galpões da antiga estação Marítima, junto à Cidade do Samba) e a criação no armazém do museu da África e da Escravidão</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Mesmo pensando-se apenas na inserção do Rio como cidade de negócios e turismo global, um empório gastronômico sem ligações locais mais fortes não terá a mesma capacidade de atração global que um memorial de importância mundial. Atrações assim desencarnadas dependem de dinheiro e redes de status consolidadas, o que não é o caso do Rio, não numa competição global. Se Tóquio, com PIB comparável ao do Brasil inteiro e suas 200 estrelas Michelin, não virou destino corriqueiro de gastrônomos europeus e americanos, não será um empório no Rio (que não tem 10 das tais estrelas) que o será. E não é como se o galpão de Rebouças fosse a melhor opção para um tal empreendimento; qualquer um dos 18 galpões do cais do porto, no qual a operação comercial está sendo desativada, serviria melhor a um tal propósito, proporcionando aos visitantes as largas vistas da baía da Guanabara. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><b style="font-weight: normal;"><br /></b></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Reiteramos, portanto: o Rio de Janeiro, o Brasil precisam de um museu e memorial da Escravidão e da África no Valongo, no armazém projetado por André Rebouças, defronte ao cais por onde pisaram milhares de vidas escravizadas. Um resgate da história da cidade, do país, e do mundo, que fará o Porto Maravilha merecer de forma plena seu nome.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">
</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Museu da África e da Escravidão no cais do Valongo - programa expositivo</span></div>
<b id="docs-internal-guid-4906615e-902c-04a8-abbc-66738fa6a95c" style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Este programa foi feito apenas como um exemplo do que poderia ser feito, sem ter a ambição de ser uma proposta de curadoria, precisaria da contribuição de diversos especialistas de instituições, no Rio, no Brasil, e no mundo, que lidem com as temáticas da África, do Negro, e da Escravidão, no âmbito de museus históricos e de arte. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Áreas disponíveis apenas no galpão da Ação da Cidadania:</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Térreo - 6000m2</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">2 galerias de 1500m2 cada</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">(Possibilidade de cavar um subsolo de 1500m2?)</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Área disponível no resto do quarteirão: ProMatre: 3300m2. Edifício Importadora Mercantil: 700m2x10 andares Total: (assumindo-se edificação de 2 andares no terreno da Promatre): 13.300m2 ; </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Total com quarteirão e subsolo:23.800m2</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Cabe ressaltar que há, no local, equipamentos essenciais a serem relocados: a própria Ação da Cidadania, para a qual o armazém de Rebouças é não apenas instalação de uso como também fonte de renda, na forma de aluguel para eventos, e o hospital ProMatre. Além disso, também existe a questão da “relocação” da proposta do governo do estado de empório gastronômico. Felizmente, no atual estado da Região Portuária, boa parte dos terrenos e edificações ainda pertencem à União Federal ou à Caixa, podendo assim ser utilizados na solução.</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Uma solução possível é a da utilização dos galpões da antiga estação marítima, recentemente restaurados. Os galpões estão inseridos na vila olímpica da Gamboa, defronte à cidade do Samba, sem que haja uso definido. Cada um deles tem 4500m2, somando uma área equivalente à do armazém de Rebouças, com uma área entre eles de outros 6000m2. A área interna dos galpões tem plano aberto e pé direito alto, se prestando a diversas soluções que preservariam, como nas instalações atuais, o uso duplo pela ong. Um pouco mais longe, mas com acesso fácil pelas redes de metrô e ônibus, há o terreno da expansão nunca realizada da Estação Barão de Mauá, hoje ocupado pela fábrica de aduelas das obras de expansão do metrô; o terreno tem mais de 30.000m2. Outra possibilidade é a utilização de armazéns do cais do porto; nenhum dos armazéns do cais de 1910, todos tombados, se presta à movimentação portuária moderna, e diversos deles tendem a ficar sem uso no futuro próximo, e cada um tem 4.000m2, com características similares aos já citados galpões da Marítima. Os armazéns do Porto também serviriam para as instalações do pretendido empório gastronômico, com direito a mesas no cais - o oceano certamente é uma vista mais agradável do que uma praça com algumas pedras, e definitivamente do que comer bem lembrando da tragédia humana que aquelas pedras testemunharam. Finalmente, a ProMatre pode ser instalada em algum terreno próximo, tendo requerimentos de espaço mais flexíveis; logo ao lado, há o estacionamento das Lojas Americanas. Também há uma área de estacionamento grande do Hospital dos Servidores, o que levaria inclusive a uma sinergia entre os dois hospitais. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Plano expositivo do próprio museu: </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Temas:</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A escravidão atlântica e o tráfico negreiro, dividido em 2 </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">1 - o tráfico: </span></div>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Origens nas ilhas atlânticas </span></div>
</li>
</ul>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os principais fluxos (telão interativo com mapas de origens e destinos em cada século)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A experiência dos escravos no tráfico - do Sudão às Minas Gerais. Os comedores de gente. ( reconstituição de porão negreiro)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A importância da acumulação de capital na Europa - comerciantes e estaleiros no Rio colonial (as primeiras naus em Salvador e no Rio, a expedição a Angola, o açúcar e as minas)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A formação dos estados caçadores de gente na África (mapas, armas e correntes) </span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O cais do Valongo e seus antecessores no Rio de Janeiro; outros portos de escravos mundo afora.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O panfleto do Brooks, abolicionismo, e abolição do tráfico. Os esquadrões ingleses. </span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">2 - A escravidão nas Américas</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A experiência dos escravos, de eito e de casa</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A importância econômica da escravidão</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Pretos livres e não tão livres. Reapresamento.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Resistência individual e quilombola; mistura com índios</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A escravidão indígena; as bandeiras e as missões</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A abolição nas américas. Haiti e repúblicas hispânicas. Guerra civil americana.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A abolição no Brasil e os quilombos urbanos</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O legado da escravidão - desigualdade e racismo. Decreto de 98. “Embranquecimento”</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quilombos hoje</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O Rio dos escravos (maquete(s? uma por século?) interativa(s) com localização de pontos relevantes - atracadouros de navios tumbeiros, casas de leilão, irmandades religiosas de pretos, clubes, quilombos urbanos)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Resultados ligados à escravidão de escavações arqueológicas no Porto - conexão com o cemitério dos pretos.</span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">3 - A escravidão mundo afora</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Tipos de escravidão. Escravidão familiar, estamental, de mercado</span></div>
</li>
</ul>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Escravidão antiga; as minas helênicas e persas. Os latifundia romanos.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Relação de sociedades escravistas vs. sociedades com escravidão. (galeria de horrores - escravos russos com rosto marcado a ferro, chapéus costurados coreanos, galés mediterrâneas, </span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os fluxos de escravos radanitas na Europa da alta idade média e a palavra escravo.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Diferentes escravidões (de mercado, da gleba, pessoal)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Depois da abolição: os cules asiáticos</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A escravidão árabe nos séculos XIX-XX. </span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A escravidão ilegal hoje</span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">4 - A África ocidental</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Origem dos imigrantes forçados no Brasil e no Rio. </span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">História das sociedades das áreas emissoras. Fluxos bidirecionais Brasil-África.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arte e cultura clássica idem (bronzes do Benin, panos da costa, objetos de culto fon e iorubá, a influência islâmica)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Contemporâneas ibidem (mostras temporárias de artistas convidados)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Religiões de matriz africana no Brasil (umbanda criada em São Gonçalo, relação de terreiros, diferenças entre as religiões, perseguição oficial e extraoficial)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Imigrantes negros de hoje no Brasil (Haiti, Nigéria, Angola, Senegal, Cabo Verde) </span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">5 - Áreas não expositivas</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Administração, pesquisa, e reserva (áreas restritas)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Biblioteca</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Lojinha</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Café/restaurante </span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Por que o subsolo? Pra conseguir mais área, e para fazer uma “experiência de navio negreiro,” como no Imperial War Museum de Londres se tem uma experiência de trincheira da Grande Guerra. Com um subsolo de 1500m2, poder-se-ia dar igual área para cada uma das grandes seções, talvez um pouco mais para a escravidão americana - 2000m2. Assim, sobrariam 4000m2 para as áreas não-expositivas. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Caso além do galpão seja possível incorporar o quarteirão a norte, poderia-se deixar todas as áreas não-expositivas nessa área, e usar o galpão apenas para as exposições. Nesse caso, pode ser feita uma dança das cadeiras de subtemas, para deslocar mais deles para o piso térreo. </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">1 - Subsolo - o tráfico: </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A experiência dos escravos no tráfico - do Sudão às Minas Gerais. Os comedores de gente.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A importância da acumulação de capital na Europa - comerciantes e estaleiros no Rio colonial</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A formação dos estados caçadores de gente na África</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O cais do Valongo e seus antecessores no Rio de Janeiro; outros portos de escravos mundo afora.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O panfleto do Brooks, abolicionismo, e abolição do tráfico. Os esquadrões ingleses. </span></div>
</li>
</ul>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A escravidão árabe nos séculos XIX-XX. </span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">2 - Térreo - A escravidão na América</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os principais fluxos</span></div>
</li>
</ul>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A experiência dos escravos, de eito e de casa</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A importância econômica da escravidão</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Pretos livres e não tão livres. Reapresamento.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Resistência individual e quilombola; mistura com índios</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A escravidão indígena; as bandeiras e as missões</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A abolição nas américas. Haiti e repúblicas hispânicas. Guerra civil americana.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A abolição no Brasil e os quilombos urbanos</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O legado da escravidão - desigualdade e racismo. Decreto de 98. “Embranquecimento.” Jim Crow. Direitos civis e movimentos negros.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Quilombos hoje</span></div>
</li>
</ul>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Origem dos imigrantes forçados no Brasil e no Rio. </span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">3 - Galeria - A escravidão mundo afora</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Escravidão antiga; as minas helênicas e persas. Os latifundia romanos.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Relação de sociedades escravistas vs. sociedades com escravidão.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Os fluxos de escravos radanitas na Europa da alta idade média e a palavra escravo.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Diferentes escravidões (de mercado, da gleba, pessoal)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Depois da abolição: os cules asiáticos</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">A escravidão ilegal hoje</span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">4 - Galeria - A África ocidental</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b><br />
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">História das sociedades das áreas emissoras.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arte e cultura clássica idem</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Religiões de matriz africana no Brasil</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Imigrantes africanos de hoje no Brasil</span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">5 - Edifício importadora Mercantil (retrofit e adaptação)</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Administração, ensino, e divulgação.</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Reserva </span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Biblioteca</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Lojinha</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Café/restaurante </span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Auditórios</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Exposição (último andar) sobre a história do porto do Rio de Janeiro</span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">6 - Pro Matre (destruída e feito novo edifício, que articulasse os edifícios do armazém de Rebouças e da Importadora Mercantil)</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<ul style="margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Pesquisa</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Reserva</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Exposições contemporâneas? (Obras de arte contemporâneas tendem a ser grandotas.)</span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Estacionamentos subterrâneos? (com 3 andares, teria-se 10.000m2, o bastante para 400 carros) </span></div>
</li>
<li dir="ltr" style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; list-style-type: disc; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Grande auditório?</span></div>
</li>
</ul>
<b style="font-weight: normal;"><br /><br /><br /><br /></b><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Fontes de acervo/instituições a cooperar:</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Memorial dos Pretos Novos http://www.museusdorio.com.br/joomla/index.php?option=com_k2&view=item&id=83:memorial-dos-pretos-novos</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Centro Cultural José Bonifácio </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Museu histórico nacional</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Museu nacional</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Museu afro-brasil</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Biblioteca nacional</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arquivo histórico nacional</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Banco do Brasil</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<a href="http://www.slavevoyages.org/" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: transparent; color: #1155cc; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: underline; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">www.slavevoyages.org</span></a><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"> (The Transatlantic Slave Trade Database)</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arquivo nacional do Reino Unido</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arquivos municipais da cidade de Marselha</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arquivo nacional da torre do Tombo</span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Bibliografia </span></div>
<b style="font-weight: normal;"><br /></b>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Slavery and Social Death</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O Trato dos Viventes</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Visões da Liberdade</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O Rio de Janeiro do Século XVIII</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Coroas de Glória, Lágrimas de Sangue</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">O Navio Negreiro (Rediker)</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: Arial; font-size: 14.666666666666666px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">The Many-Headed Hydra</span></div>
<br />thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-53092519696706912222016-09-06T16:05:00.001-03:002016-09-24T14:37:10.451-03:00Bicicleta, transporte alternativo ou alternativa de transporteA idéia da bicicleta como meio de transporte é algo que ganha cada vez mais corpo mundo afora. Em São Paulo, tornou-se controversa com a construção, pelo atual prefeito, de centenas de quilômetros de ciclofaixas e algumas dezenas de quilômetros de ciclovias; a discussão se orientou por linhas político-partidárias, mas também entre aqueles que acharam absurda a redução do espaço dedicado ao automóvel e os defensores da bicicleta como transporte alternativo. Estes elencam benefícios incontestáveis: além do impacto sobre o meio ambiente ser infinitamente menor do que o de um carro, quem anda de bicicleta vê melhoras na sua saúde física e mental; numa mesma área de rua cabem muito mais bicicletas do que carros; bicicletas podem ser guardadas dentro de casa mesmo.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Se esses benefícios são tão incontestáveis, por que não vemos a bicicleta se massificar? Para além do poder de publicidade das grandes montadoras, acho que boa parte da resposta está na própria ideia de transporte alternativo. "Alternativo" remete a algo que se faz porque é melhor, porque é virtuoso, é certo. Mas bem, sinceramente, ninguém faz o que é certo. Não passamos fio dental todo dia, não fazemos o exercício nem comemos a comida que deveríamos. Alguns fazem, e parabéns - mas isso não altera o transporte em massa. Não estou aqui desmerecendo o ciclismo como movimento, nem achando que não tem para onde crescer. É muito legal, e deve crescer - mas não vai virar uma coisa de massa só pelo convencimento. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Uma das críticas dos oponentes das bicicletas, e das mais válidas, é que realmente a bicicleta, pelo menos sozinha, não é um meio de transporte adequado para uma metrópole de 20 milhões de pessoas, em que deslocamentos ordinários estão na casa das dezenas de quilômetros, muito menos para uma metrópole construída sobre morros, em que boa parte dos percursos é um sobe-e-desce sem fim, cansativo até para quem está a pé. De novo: não podemos pensar num "ciclista," numa pessoa que curte e anda de bicicleta já. Pra que a bicicleta faça diferença, ela deve ser conveniente e útil para o cidadão comum. Ela deve servir para quem está acima do peso, fora de forma, sem dinheiro, sem tempo. E sim, é verdade aquilo que os ciclistas dizem, que "entra-se em forma" muito mais rápido do que as pessoas pensam; mas quem esperou a maioria da população se convencer de algo que é verdade está esperando Godot até hoje. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
A chave para considerar a bicicleta uma alternativa de transporte de massa, e não apenas um transporte alternativo, cremos, está na última perna, ou última milha, combinada com os grandes troncos de transporte ferroviário (e, em menor escala busãoviário). A bicicleta não vai conduzir muita gente de Itaquera à Paulista, mas ela pode fazer com que muito mais gente esteja "ao lado" das estações de metrô respectivas, ampliando a área coberta por esses troncos e aliviando a lotação dos ônibus alimentadores. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
O efeito não é pouca coisa. Vamos supor que o raio em que se está a uma distância conveniente de andar até uma estação é de uns 600m, o equivalente a fazer com que pessoas andem até um quilômetro para pegar o metrô. E vamos imaginar que o raio equivalente, de bicicleta, seja de uns 3km. Parecem suposições razoáveis; uma pessoa normal pedala umas quatro ou cinco vezes mais rápido do que anda, com o mesmo esforço.Em ambos os casos, você está falando de menos de vinte minutos. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
No primeiro raio, em volta da estação Itaquera, moram 12.025 pessoas. No segundo, 313.801 cidadãos. Pensar nas pessoas chegando ao trem de bicicleta, ao invés de a pé, aumentou em 25x a quantidade de gente que pode chegar na estação, convenientemente e sem depender de uma rede de ônibus. Para todo o metrô (sem contar a CPTM) , passamos de 1,3 milhões de pessoas a menos de 600m de uma estação para 5 milhões de pessoas que podem alcançá-lo de bicicleta - e na CPTM, em que a distância entre as estações é maior e não há sobreposição, essa conta é ainda maior. Ao todo, a menos de 3km de uma estação ferroviária moram 12,4 milhões de pessoas, mais da metade de todos os habitantes. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
E não é só o trajeto casa-estação que seria afetado pela massificação da bicicleta como extensão dos trilhos. Olhemos os dois maiores parques da cidade, o Ibirapuera e o Parque do Carmo. O segundo está a pouco menos de quatro quilômetros do metrô, o primeiro a pouco mais de três. Meia hora, quarenta minutos, talvez até uma hora para um pedestre um pouco mais lento ir até o Carmo. Mas dez, quinze, talvez vinte minutos de bicicleta. Dentro do centro expandido, não há lugar nenhum em que não se possa chegar ao metrô pedalando. E a bicicleta é o jeito mais barato de conseguir essa penetração, tanto diretamente quanto em termos de impactos; os impactos da bicicleta na vida das pessoas são positivos ao invés de negativos, e o custo de cosntrução da infraestrutura é bem menor do que aquele para implantar corredores de ônibus (e muito menor ainda do que o de construir metrô, especialmente subterrâneo). </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Menor, mas nem de longe barato. Não na escala metropolitana. Uma das diferenças entre algo ser encarado como transporte alternativo, da paz, legal, e alternativa de transporte real é a escala dos gastos e ações envolvidas. É muito mais barato fazer ciclovia do que metrô, mas para fazer a infraestrutura cicloviária ser alternativa de transporte, ainda temos que falar em gastos vultosos, sim. Os gastos atuais, apesar de toda a controvérsia, ainda são periféricos, ainda são uma coisinha que a prefeitura toca de lado. Um hobby, e não trabalho. (Não é de se espantar que a ciclovia viva cheia de gente correndo para ficar com o cooper feito.) </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Teriam que ser reformulados, por exemplo, os sistemas de bicicleta pública. Os dois sistemas (incompatíveis entre si) usados em São Paulo, juntos, não chegam a ter 250 estações, com menos de duas mil bicicletas entre elas. Imaginando uma rotatividade perfeita, com as bicicletas sendo usadas o dia inteiro por quinze minutos de cada vez, isso dá pra transportar 150.000 pessoas. Menos de um terço da quantidade de gente que mora entre 0,6 e 3 quilômetros da estação Consolação. A título de comparação, em Bruxelas, que tem três milhões de habitantes, são 5000 bicicletas em 346 estações. Em Paris, com metade da população de São Paulo, são 18.000 bicicletas em 1230 estações. Em Hangzhou, com mais ou menos a mesma população que a terra da Garoa, são 78000 bicicletas em 2950 estações. E nenhuma dessas cidades está saturada. Em todas elas há planos de expansão. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
O sistema de bicicletas públicas não tem que ser apenas expandido. Tem que ser reformulado; além das estações espalhadas pelos bairros mais ricos de maneira quase aleatória (respondendo ao interesse do patrocinador em ter sua marca anunciada), deveria haver grandes estações, com centenas de pontos, junto às estações do metrô e CPTM nos bairros centrais, de modo que você já pudesse sair do metrô e pegar sua bicicleta. E estações médias, com pelo menos 20-70 bicicletas, em locais de grande atração - shoppings, grandes prédios de escritório, faculdades, etc. Sim, ao contrário do modelo atual, financiado inteiramente por anúncios, isso exigiria investimento da prefeitura e do estado - mas é continua sendo uma opção barata de transporte. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Além das bicicletas públicas, seria necessária a construção de grandes bicicletários, em todas as estações possíveis, especialmente na outra ponta, na periferia, em que as bicicletas públicas veriam menos uso e mais gente está saindo de casa para a estação. De novo, não estamos falando de meia dúzia de postes, e sim de centenas, talvez milhares de pontos de estacionamento. De novo, isso é dinheiro de verdade para ser investido pelo poder público, se mais barato do que outros modos. Nem é trivial falar em adicionar ainda mais gente para os troncos, muitos dos quais já estão bastante cheios. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
A topografia da cidade é um problema, verdade (lembrando: não estamos falando de gente que "anda de bicicleta," que dirá que rápido você se acostuma), e puxa soluções que vão das óbvias e caras (bicicletas elétricas, como as que já estão sendo testadas em sistemas de bicicleta pública aqui e acolá, inclusive em Lima, no Peru) às radicais e baratas, talvez quixóticas, como patinetes públicos, úteis para as pessoas descerem das muitas estações situadas no topo de morros e serras, mais baratos e ocupando menos espaço do que uma bicicleta. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Toda essa infraestrutura é, talvez, mais importante do que as próprias ciclovias, na medida em que ajuda a gerar massa crítica. Quando o número de bicicletas é grande o bastante, o trânsito se acostuma a elas de tal modo que elas podem ocupar as ruas sem problemas (aliás, ajudando a reduzir velocidades máximas e acidentes no trânsito em geral), e a própria ciclovia se torna quase desnecessária. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
De novo: a bicicleta pode ser uma das alternativas de transporte mais baratas de se implantar numa cidade. Mas para tal, é preciso que ela abandone as vestes de transporte alternativo. Não é a bicicleta hyper plus mega do ciclista que tem potencial pra retomar (sim, retomar; bicicletas são mais antigas que o automóvel, afinal) as ruas, mas sim a bicicletinha de vó, a caloi ceci, a mama-chan. E para que ela seja alternativa de transporte, tem que ser tratada como tal pelos governos, não como hobby, não como algo virtuoso a se fazer também, enquanto o grosso das verbas vai para os transportes motorizados. </div>
<div>
<br /></div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-56273817492229138832016-08-03T16:48:00.001-03:002016-08-03T16:48:22.036-03:00A cera do lacre<div>
Ou, por que não gosto do lacradorismo, e por que ele veio pra ficar. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Antes de mais nada, confesso que tenho problema com a própria palavra, ou melhor, por seu uso nas redes sociais. Tô aguardando pra ouvir que o broto lacrou, bicho. "Lacrar" é uma gíria jovem e gay. Se espalhou entre jovens em geral a partir de um par de vídeos de um youtuber falando sobre divas pop, em fins de 2013. Apropriação cultural é um treco horroroso quando feito por grandes corporações cheias de poder; quando é feito por outros, é só ridículo. Luciana Genro, uma senhora de meia idade, imitando isso, é uma pérola do tiosukitismo. Soa tão autêntico e natural quanto se o Maluf falasse que era gamer. O ápice da vergonha alheia foi Babá postando um discurso de Babá e escrevendo, em maiúsculas, LACROU!!!!!!!!!!</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Mas para além disso, e falando não só da palavra, mas de toda a atitude que a orbita. Lacrar é pôr aquelazinha no seu lugar. É um discurso de autoridade, de cima pra baixo. É só reparar como os verbos que vão junto estão, geralmente, no imperativo (feita a conjugação no português castiço ou não). Seje menas. Apenas pare. Se desconstrua. Faça. Obedeça. É um discurso que se dedica a combater opressões de todo tipo, especialmente as de gênero e sexualidade, mas se você pensar apenas na forma do discurso, ele não é muito diferente do das senhoras de Santana. São pessoas sérias, olhando de cima pra baixo e vaticinando sobre a imoralidade daquela criatura inferior. Tut tut. E disso faz parte, também, o escracho, o bullying, virtual ou não. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Pra além de qualquer problema psicológico pessoal meu com bullying ou discursos de autoridade, ou de qualquer resistência conceitual, de princípios, contra discursos de autoridade, isso é problemático, e não é por alguma questão ideológica de que discursos opressivos não podem gerar liberdade. É mais simples: o discurso de autoridade só funciona se você tem autoridade. Não adianta de nada falar pro Bolsonaro SEJE MENAS. Imagine-se falando pro delegado machista enquanto faz um BO "apenas pare." Não funciona. Não é que discurso de autoridade não funcione pra combater autoridade por alguma questão espiritual, não funciona porque, a princípio, ele só funciona pra reforçar autoridade existente, não pra derrubá-la. Não é à toa que boa parte das "lacrações" narradas na internet são fanfics, são wishful thinking. "Ah se eu falasse poucas e boas eles se humilhariam a meus pés." Porque na realidade o Outro - não só o outro opressor mas qualquer diferente - não costuma ser prostrado pela Verdade quando ela é Falada na Cara. Pelo contrário, o resultado costumeiro de boa parte das fanfics que se vê por aí seria um caso de agressão.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Digo a princípio, e não por definição, porque sendo a humanidade um bicho esquisito, um discurso de autoridade convincente o bastante pode ser tomado como autoridade mesmo que não a tivesse antes. Que o digam todos os falsos Dimitris, Stroheins, e Castañedas da história. Mas não creio que seja esse o caso de "seje menas." É um pouco pior do que nada, na verdade: o discurso de autoridade só é realmente aceito se ele vier de uma autoridade vista como legítima. Se essa autoridade for vista como ilegítima, vai causar ressentimento, mesmo que obedecido. (E se não for nenhum dos dois, não vai ser obedecido E vai causar repulsa e ressentimento.) </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Ah, mas não estou aqui pra dar biscoito pra macho opressor. Só que não é só "macho opressor" que não aceita o discurso de autoridade progressista. Sarah Winter está bem longe de ser a única mulher que rejeita o feminismo, e situações semelhantes podem ser vistas em todas as causas progressistas. Convencer aqueles que pensam diferentes de nós é uma necessidade real, pra pessoas que querem ver triunfar ideais que, hoje, convencem uma minoria da população. Especialmente se não têm a força das armas, da mídia, ou do capital por trás de si - e, se alguns dos discursos progressistas, os identitários, podem trazer pra si algumas dessas forças, isso não é verdade pra outros. E mesmo praqueles que podem ter o capital do seu lado, <a href="http://www.slate.com/articles/arts/culturebox/2016/04/a_hamilton_critic_on_why_the_musical_isn_t_so_revolutionary.html" target="_blank">isso pode dar numa situação meio faustiana</a>. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
O outro lado, é claro, é que se discursos de autoridade não funcionam muito bem contra o poder, eles funcionam muito bem para solidificar o poder num espaço em que se tem, sim, autoridade. Isso significa que a mesma característica que torna o lacradorismo inócuo contra o Bolsonaro torna ele muito forte contra alguém que discorde dele dentro dos espaços de esquerda - do mesmo modo como uma Senhora de Santana teria poder pra "pôr no seu lugar" uma sobrinha que falasse palavrão, mas seria só uma velha ridícula se tentasse admoestar um grande empresário. O bully é mau guerreiro, mas é ótimo capataz. </div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-51277394139751761892016-06-23T17:11:00.002-03:002016-08-23T00:55:43.510-03:00La trahison des clercs<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d9/LordEllenboroughColour.jpg/220px-LordEllenboroughColour.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d9/LordEllenboroughColour.jpg/220px-LordEllenboroughColour.jpg" /></a></div>
Não, esta não é a "traição" do PMDB ao PT. Não se pode falar em traição duma relação de confiança que nunca existiu; o condomínio PT-PMDB no poder sempre foi uma coabitação tensa e guardada. As piadas de que Suplicy, nas inúmeras audiências negadas, queria alertar Dilma sobre Temer são só isso: piada, e tanto Dilma quanto Lula sabiam que Temer era um risco quando o aceitaram como vice-presidente. Fala-se da fábula do sapo e do escorpião de Orwell, mas o sapo tinha sido convencido de que o escorpião não o picaria, e não é o caso do PT, que aceitou o escorpião apenas por falta de opções. A analogia mais próxima seria com os Aliados da Segunda Grande Guerra: ninguém acha que o início quase imediato da guerra fria tenha sido "traição" por Truman ou Stalin. Ninguém - pelo menos não ninguém com ouvidos abertos - pensava que a velha oligarquia, da qual o PMDB é parte, tinha virado amiga do PT só porque fazia negócios com ele. <a href="http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Dilemas/noticia/2015/10/whatsapp-de-cupula-da-andrade-gutierrez-revela-torcida-por-aecio-nas-eleicoes.html" target="_blank">A Andrade Gutierrez que o diga. </a><br />
<br />
Mas houve, sim, um ator do qual se pode falar em traição, no sentido de quebra de expectativa, em relação ao PT, e esse ator é o judiciário (incluindo ministério público e polícia federal), no qual o partido via um aliado e que foi seu principal algoz. (Sim, mais ainda que imprensa ou a velha oligarquia.) Traição, mais ainda, porque, ao contrário da velha oligarquia cujo poder já estava lá, foi o PT que elevou a um real Poder da República a Procuradoria-Geral, cujo chefe em tempos idos era chamado de Engavetador-Geral da República. Foi o PT quem deu dinheiro e independência reais à PF, que antes era ferramenta a ser usada por figurões. E foi o PT quem nomeou um Supremo Tribunal independente. Alguém imagina Gilmar Mendes ou Ellen Northfleet condenando José Serra, mesmo com provas, quanto mais "porque a literatura jurídica assim o permite"?<br />
<br />
Por que o PT fez isso, e por que isso se voltou contra o partido, é, acho uma questão simples: o partido que tem "dos Trabalhadores" no nome fez uma leitura liberal clássica das instituições públicas, esquecendo de questões de classe. Primeiro, acho que deve ser descartada a idéia de que a hipertrofia e independência concedidas ao aparato judicial foram resultado de "republicanismo" ou "boas intenções" genéricas do PT. Se o partido fosse essa virgem de Vesta, não teria cometido nada que permitisse à justiça se voltar contra ele.<br />
<br />
Antes, arriscando um chute, o que o partido fez foi, ao prover de independência o judiciário (e cia. ltda.), trabalhar para construir essa independência de forma firme no funcionamento e nas mentalidades, evitando com isso que, uma vez perdendo nas urnas, o sucessor pudesse usá-lo contra ele. E fez isso desde sempre porque as repetidas vitórias do PT nas urnas estavam longe de ser favas contadas; só foram garantidas pela desconfiança popular de que o programa apresentado pelos adversários na propaganda eleitoral não era o verdadeiro, confirmada agora com o governo interino PMDB-PSDB. Acreditou que, sendo criada uma verdadeira noblesse d'état, essa aristocracia seria, se não amistosa, pelo menos neutra.<br />
<br />
O que se viu é bem o contrário. Antes mesmo que o partido deixasse o poder foi caçado sem trégua pelo sistema judicial. Teorias de conspiração à parte (e mesmo como teorias de conspiração a maior parte delas peca por considerar a Lava-Jato um corpo com diretriz única e ordem unida), o que se pode ver é antes uma antipatia genérica contra o PT pela classe dos agentes da Justiça como um todo. (E por parte de uma fração surpreendente dos funcionários públicos, especialmente os mais bem pagos.) Isso ficou abundantemente evidente quando da nomeação de Lula como ministro da Casa Civil, momento em que choveram injunções de juízes afogueados, que só faltavam denunciar o comunismo lulopetralha nos autos.<br />
<br />
E sinceramente, isso é perfeitamente natural. A classe média e alta, como um corpo, por mais que não sejam raras exceções individuais, não é simpática à classe trabalhadora, ou a partidos que se intitulem seus representantes, com exceção de pontos específicos na ideologia ou no tempo. Quando partidos de esquerda têm grandes votações de classe média, isso muito mais raramente deriva de simpatia a causas de esquerda do que de identificação desses partidos como "puros," dentro de uma oposição à sujeira percebida como a política atual. De novo: estou falando de maioria, de em geral. Claro que exceções são numerosíssimas. Mas não mudam o quadro geral. A política de aumento de salário, e portanto posição social, de funcionários públicos ter resultado num funcionalismo antipetista, longe de ser falta de gratidão ou traição, era inteiramente previsível. O Partido dos Trabalhadores caiu (o mais provável é que vá todo mundo pra cadeia, e só talvez acompanhados por Cunha e Aécio, e mais ninguém dos partidos oligárquicos) porque esqueceu de seu próprio nome. Não esqueceu "traiu," mas esqueceu na hora de pensar no que aconteceria.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
PS Problema um pouco parecido aconteceu com a propaganda política de "nova classe média" ao invés de falar em "ascensão da classe trabalhadora." A velha classe média desdenhou da definição da Unctad usada, dizendo que era maquiagem petista e chocada com o valor baixo da renda da "nova classe média" (geralmente, sem se dar conta do quanto isso dizia que sua própria renda era um quinhão desproporcional da renda nacional), e a nova, bem, por que diabos classe média votaria em partido de pobre.<br />
<br />
PPS La trahison des clercs é um livro da década de 20, de Julien Benda, que não tem muito a ver com o assunto aqui, mas que vale a leitura.thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-58770519061668024212016-06-14T11:51:00.001-03:002016-06-14T11:51:11.340-03:00Beleza e sofrimento das montanhas brasileirasComentei, no post sobre a busca de um Problema para o Brasil, sobre como a topografia brasileira pode ser bonita de se ver, mas é ruim para o desenvolvimento econômico. Pois bem, acho que essa declaração merece um pouco de qualificação.<br />
<br />
Primeiro, o que já disse lá: a topografia do Brasil - ou melhor, do Brasil da costa sudeste e seu interior até a Serra do Espinhaço e o Rio Paraná, no qual se encontra a maior parte da população - é extremamente acidentada, mais do que o de quase qualquer região com população parecida. Deixa eu tentar desenhar (ou melhor, roubar uma imagem sobre o assunto da internet):<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-yJ9QVkTFIx0/Vt3mK8lfgKI/AAAAAAAAWLU/vp2LvRz4dRw/s1600/Orografia%2Bbrasil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="616" src="https://3.bp.blogspot.com/-yJ9QVkTFIx0/Vt3mK8lfgKI/AAAAAAAAWLU/vp2LvRz4dRw/s640/Orografia%2Bbrasil.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
Não são apenas montanhas, são montanhas particularmente íngremes e altas, em termos de áreas habitadas. Há montanhas bem mais altas mundo afora, mas elas não são, em geral, objeto de ocupação humana densa - e, por coincidência (coincidência mesmo não é retórica), essas áreas de ocupação densa e altas estão quase todas em países pós-coloniais. São o altiplano andino e os planaltos de África e do México. Nem o Japão nem a Suíça, apesar das imagens de montanhas associadas a esses países, ocupam assim os morros; a Suíça (como a Baviera) não fica exatamente nos alpes, mas nos contrafortes deles, a metade da altura de São Paulo ou Curitiba. O Japão, então, se aperta quase todo nas pequenas planícies costeiras; a maior cidade de montanha não chega a meio milhão de habitantes. (E fica, de novo, a metade da altura de São Paulo.) E além de serem áreas de morro íngreme, são áreas de morro íngreme extensas. O que isso quer dizer, em termos econômicos, é que o Brasil é um lugar horrível de se fazer soluções logísticas modernas.<br />
<br />
Sim, especificamente modernas. Porque a natureza, aí, sempre vai interagir com a tecnologia e as convenções e escolhas da sociedade pra dizer o que funciona pra quê. Uma topografia horrivelmente acidentada vai ser sempre menos prática de se usar pra transporte do que os terrenos ultraplanos da Argentina, EUA, ou Rússia, mas o quanto ela vai ser um estorvo vai depender da tecnologia. Para quem está andando a pé, o morro dificulta, mas não tão terrivelmente assim, e outros problemas podem ser piores; o calor ou frio inclementes, a floresta cerrada. Pra quem anda de carroça puxada por bichos, os problemas são em geral parecidos com os dos pedestres, mas os alagadiços e lamaçais se tornam piores - tanto a taiga russa quanto a pampa argentina, tão perfeitamente planos, estão cheinhas de brejos, que nos mares de morros brasileiros só se concentram em alguns pontos, todos próximos aos rios.<br />
<br />
Rios esses, aliás, que foram desde sempre a principal artéria de transporte e comunicação (nos tempos em que as duas coisas eram sinônimas). E aqui já temos um problema de transporte em relação a outras regiões: os mares de morros significam rios encaichoeirados, em que volta e meia se tinha que descer a pé e carregar o barco, mas isso não é o pior: os morros mais altos, as serras do Mar e da Mantiqueira, estão justamente próximos e paralelos ao mar, no sudeste. Isso significa que, pra toda a área da bacia do Paraná, o desvio que se teria que fazer para chegar ao mar de rio é gigantesco. Isso não seria um problema hoje, para chatas (se fizessem canal e eclusa contornando Sete Quedas e transpondo Itaipu), empurradas por rebocadores diesel, mas para barcos empurrados com varas ou velas, em território ainda mal conquistado, significa que o Tietê e o Paraná no começo foram rios de bandeiras, de expedições guerreiras de caça de escravos, mais do que artérias de transporte.<br />
<br />
Quando se introduz a locomotiva, os mares de morros significam um grande obstáculo a ela. Com a morraria toda, e muitas vezes com cidades localizadas em elevações bem distintas, o traçado da estrada de ferro ficou muito sinuoso. Trem não vence, sem esforços extraordinários, o mesmo tipo de gradiente, de ladeira, que um carro vence, o que significa que ele tem que ou fazer túnel-ponte-talude-viaduto ou contornar os morros. E quando a elevação é muito distinta entre a origem e o destino, nem o túnel-ponte é sempre viável, já que encurtar o caminho significaria aumentar o gradiente. Isso se reflete também na bitola, o espaço entre os trilhos; quanto maior, maiores e mais estáveis e rápidos podem ser os trens, mas também menos curvilíneo pode ser o traçado, e no Brasil, a maior parte das ferrovias é de bitola estreita. (O único grande país com situação parecida é justamente o Japão, com uma bitola de 1067mm contra o metro exato da brasileira, e com a exceção do trem-bala, que tem uma rede separada com bitola padrão internacional, de 1435mm.)<br />
<br />
O resultado é que as estradas de ferro brasileiras, longe de terem sido maravilhas que ainda poderiam ser utilizadas e foram boicotadas, de forma voluntariosa, por JK ou FH, eram estradas cheias de curvas, pelas quais dificilmente um trem faria mais de 50km numa hora. Sim, havia uma idealização do automóvel, como no resto do mundo, no século XX, e uma visão dele como o sucessor natural do trem de ferro do século anterior. Mas além disso, a diferença de custo para se construir uma ferrovia em relação a uma rodovia com a mesma velocidade de projeto é muito maior no Brasil do que na maior parte dos países. Rodovias podem corcovear sobre os morros, porque os pneus agarram no asfalto com muito mais força do que aço sobre aço, e porque os veículos são bem mais leves (mesmo uma carreta bitrem é atirada longe quando tenta furar a passagem de nível e é atropelada por um trem); é o outro lado da moeda do trem gastar muito menos energia. E mesmo com esses entraves adicionais, houve sim tentativas, e até algumas construções reais, de expansão e melhoria da malha ferroviária bem depois do "momento pivotal" de JK. Sob a ditadura, se construiu a ferrovia do aço (que tem o maior túnel do Brasil, e era pra ser eletrificada) e a nova ferrovia de SP a Campinas, além da expansão das ferrovias de minério em geral (todas de bitola larga, ao contrário da maior parte das ferrovias antigas brasileiras).<br />
<br />
Claro que topografia não é destino. Há milhares de outros fatores que influenciam no desenvolvimento dos transportes. Juros altos, por exemplo: ferrovias demandam mais investimento, mas têm menos custos correntes, o que significa que quanto mais juros, mais a balança pende pro lado da rodovia. A organização do território, que no Brasil ainda é um tanto arquipelágico, com cada região indo dar num porto, orientado pra fora e não pra dentro. E são muitos etceteras. Mas as montanhas belíssimas da serra do Mar, os mares de morros (que seriam ainda mais encantadores se não estivessem desnudos da mata atlântica), também cobram seu preço. O mito do Brasil com "infinitos recursos naturais, desperdiçados por um povo inferior," é, nisso como em tantas outras coisas, só um mito.thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-51558184793523242022016-05-17T22:08:00.000-03:002016-05-18T09:29:40.702-03:00Bem vindos a Asa Branca<div data-contents="true">
<div class="" data-block="true" data-editor="2t68q" data-offset-key="4qhna-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4qhna-0-0">
<span data-offset-key="4qhna-0-0"><span data-text="true">Comentaristas da verve do presidente interino (nudge nuge wink wink) do Brasil se dividem, parece, entre povo horrorizado com o ataque sistemático a tudo que há de progressista, com misoginia altos teores e demofobia explícita, e aqueles que, embevecidos, comentam que Temer <a href="http://paralosrumberos.blogspot.com.br/2016/05/sata-imperioso.html" target="_blank">"usa até mesóclise.</a>" Não se sabe se o segundo é amor encomendado ou aquela admiração criticada pelo Chesterton quando explica que Quinta-Feira "era, como todos os homens, capaz de temer uma força desmesurada, mas não era covarde o bastante para admirá-la." Mas o primeiro também é, acho, um problema de leitura. </span></span><br />
<span data-offset-key="4qhna-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4qhna-0-0">
</div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4qhna-0-0">
<span data-offset-key="4qhna-0-0"><span data-text="true">Um rábula de quinta que dá um golpe e vira presidente do Brasil, se comportando como se tivesse virado prefeito de cidadezinha.</span></span><br />
<span data-offset-key="4qhna-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="2t68q" data-offset-key="96lnr-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="9p83k-0-0">
<span data-offset-key="9p83k-0-0"><span data-text="true">É
isso o "vou pôr a Marcela na área social," pra fazer chá das senhoras. O
Michelzinho escolhendo a marca tosca com bandeira velha. É
isso, e não alguma misoginia alucinada, o "mundo feminino." É a
linguagem empolada (e geralmente cheia de erros) de advogado de 5a. Não estou negando que Temer seja misógino e machista, só dizendo que o que falou é baseado na mediocridade e numa tentativa de usar uma linguagem não tão bem compreendida, não em alguma agenda positiva antifeminista. </span></span><span data-offset-key="s9iv-0-0"><span data-text="true">Olhaê mais uma do Baixo Advogadês "queremos fazer um governo fundado num critério de alta religiosidade." É ou não é digno de político de novela ou advogado de porta de cadeia?</span></span><br />
<span data-offset-key="s9iv-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span></div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="9p83k-0-0">
</div>
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="cheek-0-0">
<span data-offset-key="cheek-0-0"><span data-text="true">E idem a maior parte do que fala o
povo em volta: nada do que propõem é novidade - a diferença é que agora
não têm, no governo, quem se lhes oponha. Repetem,
sem nem entender muito bem o que é, o ideário neoliberal porque acham,
confusamente, que isso é coisa séria, que os fará grandes. Isso quando
não simplesmente vêem nele a conveniência, própria ou dos que lhes
compraram. E por que esse povo não inclui nenhuma mulher, por que Temer não chamou nenhuma? Ué, porque ele não chamou ninguém, exceto talvez o Meirelles, talvez o Moraes. O resto tudo foi "loteado," foram outros que indicaram, e como esses outros são um dos Congressos mais machos do mundo, e mais ainda excluídas as parlamentares de esquerda, deu nisso. </span></span><br />
<span data-offset-key="cheek-0-0"><span data-text="true"><br /></span></span>
<span data-offset-key="cheek-0-0"><span data-text="true">E, de novo, a mediocridade, a tacanhice: fosse inteligente, Temer teria mantido algum ministério irrelevante (poderia ser o da cultura mesmo, exsanguinado, poderia ser, sei lá, ministério da beleza recatada) e poria uma mulher nele. Só pra evitar a manchete que correu mundo, que o pôs como retrocesso em relação, não apenas a todos os presidentes da Nova República, como até àquele ditador que gostava mais do cheiro de cavalo que do cheiro de povo. </span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="2t68q" data-offset-key="8esii-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="8esii-0-0">
<span data-offset-key="8esii-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="2t68q" data-offset-key="7823a-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7823a-0-0">
<span data-offset-key="7823a-0-0"><span data-text="true">(Mézanfã,
o fascismo, transformado em apoteose do Mal no imaginário coletivo
(justificável pelo ideário e pelos crimes cometidos) não era muito mais
que isso. Um bando de bufões corruptos. Os velhos oficiais do exército
alemão ficavam horrorizados quase continuamente com a incompetência e corrupção dos nazistas que lhes davam ordens.) </span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="2t68q" data-offset-key="8qmr1-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="8qmr1-0-0">
<span data-offset-key="8qmr1-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="2t68q" data-offset-key="9cnk3-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="m1br-0-0">
<span data-offset-key="m1br-0-0"><span data-text="true">O mais curioso é essa porcaria pernóstica, hipercorreta, e semiletrada ser confundida
com uma fala de elite pelos jornalistas nacionais. Tipo, os correspondentes estrangeiros têm desculpa pra fazer essa confusão. Os nacionais, cacete.</span></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="2t68q" data-offset-key="b6qj7-0-0">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="b6qj7-0-0">
<span data-offset-key="b6qj7-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
</div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-52713165106003286932016-05-17T01:13:00.000-03:002020-06-23T13:01:42.434-03:00Ajuste sinistroConvencionou-se, no Brasil, que responsabilidade fiscal é um tema "de direita." Soluciona-se todos os problemas do Brasil seja com a eliminação da <a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2012/07/corrupto-e-incompetente.html">corrupção e incompetência (tema que irmana todos que não são, naquele momento, governo),</a> seja com a "auditoria da dívida," que depende de não entender como funciona uma dívida pública e achar que foi um contrato de dívida emitido lá atrás pelo FH ou pelo JK que ainda está sendo pago.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
E no entanto, dá pra fazer o ajuste fiscal tão sonhado pelos economistas de direita de uma forma bastante diferente da normalmente assumida. O Brasil - já é quase consenso - é um país em que os impostos indiretos, que pesam mais sobre os mais pobres e atrapalham a economia, são os principais, enquanto os diretos, que pesam sobre renda e patrimônio e portanto sobre os mais ricos, são acessórios. Para inverter essa lógica E fazer o ajuste nas contas públicas, é só</div>
<div>
<br /></div>
<div>
1) Aumentar impostos diretos (<a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2010/03/rabeira.html">IRPF</a>, <a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2010/09/impostos-ii-o-imposto-territorial-rural.html">ITR</a>, <a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2012/06/impostos-iv-heranca.html">ITD</a>, <a href="http://sambadoaviao.blogspot.com/2011/04/impostos-iii-o-iptu.html">IPTU </a>(estes últimos subnacionais)). O ITR hoje não morde nem um bilhãozinho; é menor do que o IPTU arrecadado por São Paulo ou pelo Rio. O IRPF para alguém entre os 5% mais ricos não vale 17% (contra 34% nos EUA, que não são exatamente comunistas). O ITD tem alíquota máxima de 8%, vs., de novo nos EUA, 40%. O IGF, que ainda não existe fora da constituição, renderia mais uns trocados. Aumentar o preço da gasolina, sim, que transporte individual motorizado não precisa de subsídio público. Transformar a CIDE numa taxa de carbono, e razoavelmente pesada. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
2) Quando o ajuste tiver sido feito desse jeito, e a necessidade de segurar as pontas tiver passado, cortar os impostos indiretos federais o máximo possível, e incentivar que estados e municípios façam o mesmo. Com sorte, extinguir o IPI, pelo menos, quiçá o ISS, diminuir bastante o ICMS (e unificá-lo num IVA nacional, sempre cobrado no destino). Pode-se até estabelecer a regra de redução dos impostos indiretos já na legislação que aumenta os progressivos. Coisa do tipo "a cada ano, deverão ser feitas desonerações permanentes em tais e tais impostos, equivalente à média do aumento real de arrecadação dos últimos três anos."</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Presto: Ajuste nas contas públicas feito com bônus estrutural. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
O bônus não é pequeno. Noves fora a diminuição dos indiretos aumentar a competitividade da economia brasileira, a desigualdade, que se reduziu com a implantação dos benefícios sociais e o crescimento maior de regiões mais pobres (boa parte da desigualdade brasileira é a desigualdade regional), parou de descer nos últimos anos, devido aos limites dessa política. Ora,<a href="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/82/GiniPlots_USA.png" target="_blank"> nos EUA a diferença entre a desigualdade pré e pós impostos é de 0,11 Gini.</a> Isso é 0,11 de diferença a mais do que no Brasil. Sim, os impostos brasileiros não fazem diferença alguma na desigualdade. <a href="http://www.oecd.org/media/oecdorg/satellitesites/newsroom/41628934gini%20bis.GIF">Admita-se que é um mal continental</a>... reparem no gráfico: a desigualdade latinoamericanaé maior "no mercado" realmente, mas ela fica muito maior depois que os impostos progressivos e benefícios idem fizeram a sua parte na Europa.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.oecd.org/media/oecdorg/satellitesites/newsroom/41628934gini%20bis.GIF" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://www.oecd.org/media/oecdorg/satellitesites/newsroom/41628934gini%20bis.GIF" height="356" width="640"></a></div>
<br /></div>
<div>
<a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2014/07/mais-medicos-mais-caros-ou-de-como.html"><br /></a></div>
<div>
<a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2014/07/mais-medicos-mais-caros-ou-de-como.html">A longo prazo, aliás, a redução da desigualdade também é um projeto de responsabilidade fiscal. </a> E o aumento do ITR pode servir como instrumento de reforma agrária.<br />
<br />
É claro, pode ser perguntado, como faz o Ciro Gomes, se isso "dá bilhão." E a resposta é, muito claramente, sim. Vamos fazer umas continhas:<br />
<br />
<a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2010/09/impostos-ii-o-imposto-territorial-rural.html" target="_blank">O ITR, hoje, não dá nem um mísero bilhão, cobrado sobre propriedades que valem um trilhão de reais.</a> Se aumentarmos a alíquota média pra 1,5%, estamos falando de 15 bilhões de reais. Para 3% (em linha com o fato da maioria das terras estarem hoje com latifúndios), 30bn.<br />
<br />
A alíquota média do IRPF para os 5% mais ricos está abaixo de 20%. Se aumentarmos para 30%, em linha com o IRPF cobrado pelo governo federal americano (muitos estados americanos também dão sua mordida), a arrecadação adicional pode ser de 60bn. <a href="http://www.cartacapital.com.br/economia/uma-fortuna-de-200-bi-protegida-do-ir-da-pessoa-fisica-3229.html" target="_blank">Se além disso acabarmos com a isenção sobre dividendos, coisa em que o Brasil é quase único no mundo, são outros 60bn</a>.<br />
<br />
Comparado a esses números, o imposto sobre grandes fortunas é até modesto -<a href="http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1633608-levy-barrou-taxacao-de-grandes-fortunas-projetada-por-mantega.shtml" target="_blank"> seriam por volta de 6bn</a>.<br />
<br />
Para resolver a penúria estadual, ao invés de enfiar bizarros juros simples retroativos na União, a <a href="http://www.cnf.org.br/noticia/-/blogs/imposto-sobre-heranca-poderia-quintuplicar-arrecadacao-atual" target="_blank">proposta (até modesta, comparada com a maioria dos países) de aumento do ITCMD renderia 20bn</a>.<br />
<br />
Estamos falando de um ajuste de no mínimo, dando um desconto de 30% em todas as previsões acima, 120bn. Bem mais do que o ajuste proposto pelo governo interino, e sem afetar a imensa maioria da população.<br />
<br />
"E não vai cortar nada?" Bem, primeiro acho uma falácia falar em cortar gastos (assim, de baciada; aumentar a eficiência do gasto público sempre é bom) "pelo ajuste." Um gasto público deve ser cortado se for desnecessário, com ou sem ajuste, e se é necessário não pode ser cortado, com ou sem ajuste; usar o ajuste de desculpa para cortar os gastos que você queria cortar de qualquer jeito é hipocrisia. Mas pode deixar que tem uns gastoszinhos que, bem, eu cortaria com a desculpa do ajuste:<br />
<br />
O ministério da Defesa gasta 81bn; é um dos maiores orçamentos de defesa do mundo, maior que o de Israel. E em troca temos forças armadas er... não tão boas quanto as de Israel, digamos. O principal dos problemas é o enorme gasto de pessoal, inchado pelas pensões e pelo oficialato, e portanto difícil de resolver de chofre - mas o fim do alistamento obrigatório e a redução do contingente grande de recrutas pra metade dessa quantidade de militares profissionais já ajudaria. Uma revisão do oficialato também - o Brasil tem 29 generais e almirantes, contra 39 dos Estados Unidos. Nos EUA, um vice-almirante comanda uma esquadra; aqui, há 18 vice-almirantes, e não há 18 navios de combate principais na marinha brasileira. (São oito fragatas mais o porta-aviões que mal sai do cais.) E o problema do muito cacique pra pouco índio continua quando se desce a escada. É difícil dizer quanto seria poupado pela revisão, mas 20bn (deixando dez para o aumento do investimento e custeio) tá de bom tamanho. Além disso, para o ajuste emergencial, daria para vender as vastas áreas militares já inúteis para a defesa nacional e encravadas em áreas caras das capitais. Só o campo de futebol do forte de Copacabana ou o forte da Urca já dariam bilhão. Cada. Isso tudo, claro, assumindo que as forças armadas são mesmo necessárias, num nível melhor que o de hoje. Se você considerar que não há nenhum cenário de invasão plausível, e mal há possível, pode cortar logo 60bn, mantendo só uma força de autodefesa básica, com princípios baseados em defesa antiaérea, bateria de costeira, e treinamento de guerrilha, ao invés de tanques e porta aviões que ninguém sabe pra que serviriam. E ainda diminui o golpismo.<br />
<br />
O governo também segue subsidiando hidrocarbonetos, sob a desculpa do estímulo à atividade econômica e aos transportes. Ora, é um subsídio pra lá de mal focado: se queremos subsidiar atividade econômica, subsidie-se aquela área específica. São outros 30bn por ano...<br />
<br />
Ok, temos 210bn de ajuste, à sinistra. Nada disso é indiscutível, claro - mas seria interessante se fosse mais discutido pela esquerda, ao invés desta defender que responsabilidade fiscal é besteira. Até porque tudo isso é, ou talvez devesse ser, para a esquerda bem-em-si. </div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-31068284605016351392016-05-12T12:35:00.001-03:002016-05-12T12:36:46.033-03:00Primeira visada sobre o ministério do presidente interino<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="c3a37-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="c3a37-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="c3a37-0-0">Bizoiando os ministérios que foram extintos ou upgradeados, e sua distribuição, bem rapidinho (depois, à medida que for aparecendo mais coisa, atualizo) : </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="bvmdd-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="bvmdd-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="bvmdd-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="afb60-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="afb60-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="afb60-0-0">Cultura e Ciência sumiram, além dos ministérios sociais (que todo mundo já sabia que rodariam). Não tá claro se mudança de nome da CGU, órgão responsável por fiscalizar internamente o governo, quer dizer algo.</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="5ovhi-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="5ovhi-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="5ovhi-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="c81c1-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="c81c1-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="c81c1-0-0">Núcleo duro (aqueles ministérios que não são loteados para o Congresso mas ficam sob controle direto de aliados próximos ou com quadros técnicos) por PT era Saúde (até este ano), Educação, Meio Ambiente, sociais e econômicos, além dos que são centrais pela própria natureza como Casa Civil. Sob Temer parece ser constituído só dos centrais e econômicos, mais, curiosamente, Turismo. Claro que com o PMDB sendo o partido do vice fica mais difícil fazer essa distinção.</span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="fkvp5-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="fkvp5-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="fkvp5-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="e1eeq-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="e1eeq-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="e1eeq-0-0">O loteamento mais amplo num ministério por outro lado mais apertado, aliás, dá uma explicação bem prosaica pro "clube do bolinha," apesar do peso simbólico enorme do primeiro ministério sem mulheres desde que Figueiredo nomeou Esther Figueiredo ministra da Educação. O Congresso é quase um clube do bolinha, e mais ainda retiradas as congressistas dos partidos proscr- er, de esquerda. Foi o Congresso, mais que Temer (apesar da campanha de capitalização do machismo movida por ele através da imprensa) que indicou o clube do bolinha. </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="4os60-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="4os60-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="4os60-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="1j66k-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="1j66k-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="1j66k-0-0">Justiça fica com Alexandre Moraes, que parece ser o único "quadro técnico" do ministério inteiro. E um quadro técnico que aponta pra linha dura - a nota da fenapefe avisando que estrangeiros serão presos se se envolverem com política não deve ser renegada pelo MJ... </span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="eg82r-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="eg82r-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="eg82r-0-0"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
<div class="" data-block="true" data-editor="etmo" data-offset-key="7q55i-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="7q55i-0-0" style="direction: ltr; position: relative;">
<span data-offset-key="7q55i-0-0">Falta ver a nomeação do segundo escalão, inclusive daqueles pedacinhos do segundo escalão com mais poder que muito primeiro, como Petrobras e BNDES. Imagino que esteja à cata de varões de Plutarco para sanear esses lugares em que o PT instaurou a corrupção. </span></div>
</div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-30349416556382633662016-05-02T16:54:00.003-03:002016-05-03T09:28:01.874-03:00Os milhões da Paulista. Uma das brincadeiras mais comuns em manifestações (fora o tobogã, a ciranda, e o pula-pirata-no-taser) é a contagem de cabeças. A polícia, costumávamos dizer, invariavelmente dá desconto; hoje sabemos que o desconto ou ágio varia segundo o gosto do freguês. Os números são feéricos, muitas vezes francamente impossíveis - a capacidade máxima do metrô, meio de transporte com mais capacidade de muito longe, significaria umas 80 horas para levar todo o povo alegado no réveillon de Copacabana; as três linhas do metrô de SP que chegam na Paulista demorariam mais de 10 horas para levar o público alegado pela polícia na maior marcha pró-impeachment. O DataFolha tenta chegar a uma medida mais razoável, mas também parece querer agradar o freguês - e mesmo seus números, vistos como ridiculamente baixos por gente acostumada com milhões e milhões, são na verdade contas chutadas bastante pra cima, principalmente quando se trata de clientes agradáveis. Fazendo uma conta mais realista, podemos simplesmente usar os números duma boatchy lotada até a tampa - 2 pessoas por metro quadrado - mais que o dum sistema de transporte público lotado até o nível máximo de conforto - 6 pessoas por metro quadrado - e multiplicar pelo número de metros quadrados dos, chamemo-los assim, palcos da democracia.<br />
<br />
Lembrando que o número real sempre estará, mesmo que digamos que tal ou qual manifestação estava lotada, quando muito próximo ou pouco acima do primeiro. Num metrô ninguém se mexe, tem barras e pegadores pra se apoiar. Praças e avenidas têm ruas laterais, mas também tem árvores, bancas, meios-fios, barraquinhas de churrasquinho, postes... e uma pessoa em movimento, que é o que acontece mesmo numa manifestação estática, ocupa mais espaço que uma parada. Perto ou acima de 6 pessoas por metro quadrado, você já está falando duma lotação que só é possível se temos paredes para nos escorar. O metrô de Tóquio, infame pela hiperlotação, chega a 11 pessoas por metro quadrado, e isso já deu em portas com vidros blindados trincados e aço reforçado amassado, para ter ideia da pressão que significa.<br />
<br />
E qual é o tamanho, medido diretamente pelo Google Earth e sendo bastante generoso na definição do que é cada área, incluindo praças comunicantes conforme seja o caso, desses tais palcos? <br />
<br />
São Paulo:<br />
<br />
Av. Paulista, 110.000m2<br />
Anhangabaú, 81.000m2<br />
Praça da Sé, 54.000m2<br />
Largo da Batata, 44.000m2<br />
<br />
Rio de Janeiro:<br />
<br />
Presidente Vargas, 350.000m2<br />
Av. Atlântica (sem contar a faixa de areia), 330.000m3 <br />
Lapa, 39.000m2 <br />
Praça XV, 34.000m2<br />
<br />
Brasília <br />
<br />
Esplanada dos Ministérios, 615.000m2<br />
Praça dos Três Poderes, 62.000m2<br />
<br />
Em outras palavras: estando absurdamente lotada, nível parada gay pra cima, a Paulista admite quando muito 350.000 pessoas em seu perímetro, bem longe não apenas dos milhões feéricos anunciados como até do "modesto" total anunciado pelo DataFolha para a passeata antipetista deste março. Para atingir os números alegados pela polícia de São Paulo para a mesma, seria necessário um nível de lotação que não é atingido nem numa orgia ou scrum de rúgbi, no metrô de Tóquio ou numa pirâmide humana. O que se pode concluir daí é que as manifestações desta crise política, importantes como são, mobilizam uma fração muito pequena da população total das metrópoles - e nem há infraestrutura pra manifestações que ultrapassassem essa ordem de coisas, com a exceção flagrante de Brasília, criada para ser Côrte. Comparando a capacidade (falando em 3 pessoas por metro quadrado) dos principais palcos de cada metrópole com sua população total, e arredondando pra cima:<br />
<br />
São Paulo: 330.000 pessoas vs 20 milhões - 2%<br />
Rio de Janeiro: 1 milhão vs. 14 milhões - 7%<br />
Brasília: 2 milhões vs. 4 milhões - 50%<br />
<br />
O curioso dessa comparação é que Brasília seria mais típica, na proporção de sua população que cabe num palco, das cidades antigas do que o Rio de Janeiro ou (principalmente) São Paulo. As grandes metrópoles de hoje se metastatizaram, não apenas muito além da escala humana como muito além mesmo da escala da multidão. Imaginemos um palco onde coubesse metade da população de São Paulo: ele seria um descampado muito maior do que o parque do Ibirapuera (que tem 1,3km2). O século XX que foi o século das massas foi o começo do século XX; o século XX tardio e o XXI são os séculos de simulacros de massas. Mesmo que fosse possível mobilizar uma parcela significativa da população, não haveria aonde essa parcela se apresentar, ser um corpo ativo e presente. Talvez, quem sabe, de forma atomizada, distribuída em diversas áreas - mas aí já não é exatamente a multidão singular, já é alguma coisa de outra.<br />
<br />
<br />thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-50002677367302320792016-04-20T10:27:00.003-03:002016-04-20T12:30:28.068-03:00O estupro e o estupro de Jair Messias A fala do deputado Jair Messias Bolsonaro chocou um pouco uma ou outra pessoa Brasil afora. Entendendo por uma ou outra pessoa praticamente todo mundo, incluídos até alguns de seus admiradores, e por "um pouco," muito. Mas - correndo o risco de ser desde já classificado como histérico, talvez, diria o diretor da Época, "doce," vou dizer aqui que ela é pior ainda do que parece. E idem a reação dos congressistas a ela, por tabela.<br />
<br />
Vamos lá. A declaração:<br />
<i><br /></i>
<i>“Perderam em 64, perderam agora em 2016. Pela família, pela inocência das crianças em sala de aula, que o PT nunca teve, contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do Coronel Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim”</i><br />
<i><br /></i>
Sim, ele elogia o golpe de 64. Sim, ele faz referência à esparrela da "escola ideológica comunista" (e nem foi o único, naquele circo domingueiro). Sim, ele fala do "foro de São Paulo," um bicho-papão de teorias de conspiração de anticomunistas histéricos. Sim, ele, enfim, elogia Brilhante Ustra, o torturador que enfiava ratos na boceta (não cabe eufemismo aqui. RATO NA BOCETA.) de adolescentes. Mas tem um detalhe que faz ser tudo muito pior: ao falar que está votando <i>contra Dilma Rousseff, por Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff,</i> Bolsonaro faz a mesma operação que na abertura de sua declaração: ele equivale a ação anterior à atual.<br />
<br />
Ora, se na primeira declaração ele está, com isso, dizendo que o que se passa hoje é um golpe, na segunda está dizendo que é uma tortura, um estupro. Ele está dizendo "estou aqui, junto com meus companheiros, simbolicamente, <i>estuprando Dilma Rousseff de novo." </i>Talvez não se deva dar grande importância ao aplauso entusiástico; era um ambiente de torcida de futebol, em que todo voto pelo Sim seria aplaudido, ainda que fosse lançado "em homenagem a Baalzebub, Senhor das Moscas, e a todas as Hostes do Qlippoth." Talvez fosse o caso de perguntar aos que aplaudiram se realmente curtiram a ideia de que o que estavam fazendo era um estupro ou só se empolgaram.<br />
<br />
Que Bolsonaro, que já foi terrorista literal, se torne um estuprador simbólico não é muito de se admirar. Mas vem, junto com a reportagem da Veja que apresenta "nossa Grace Kelly," reforçar um quadro de violência simbólica contra a mulher, em que o machismo da sociedade é instrumentalizado para colaborar nos ataques à figura da presidenta - e, com isso, é de novo reforçado. Isso não é pouca coisa, e que vá até o elogio de um estuprador é preocupante. Inclusive é preocupante porque, ao contrário do que é imaginado e vendido, estuprador não é, na maioria dos casos, um louco saindo das sombras para atacar uma transeunte, mas alguém do próprio círculo, "ensinando uma lição." Boa parte nem considera o que faz estupro. Não é, como aquele outro egresso da ditadura, Paulo Maluf, pensava, questão de "desejo sexual," mas um jeito de pôr uma mulher no seu lugar. Vamos estuprar essa histérica até que ela se torne uma mulher recatada e do lar. (E nem é coincidência que, num Congresso esmagadoramente masculino, a proporção de "Sim" entre as poucas mulheres tenha sido menor, e mais ainda se descontadas as da bancada evangélica.)<br />
<br />
Essa narrativa, machista e francamente misógina, não é, creio, fruto de convicção ideológica por parte de políticos (excetuados alguns) nem da mídia (quando do "doces histéricas," Escosteguy alegou que "não o tinham entendido direito," não encampou a misoginia). A mesma Veja que publicou a brincadeira da "nossa Grace Kelly" volta e meia fala de libertação sexual; outras revistas da Abril falam disso quase o tempo todo. É uma narrativa instrumentalizada contra a presidenta Dilma, porque vale tudo contra ela (o que não deixa de fechar o círculo; mulheres podem se libertar, mas talvez não ao ponto de ser presidenta). Só que não é tão fácil pôr de volta os monstros que tiramos da caixa. Bolsonaro tem, hoje, mais de um quinto dos votos da classe média e alta. Se isso não assusta um oposicionista (de Brasília ou do Jardim Botânico), deveria.<br />
<br />
Aqui vai uma escarrada virtual, então, à memória do coronel Ustra, e de todos os outros torturadores que elegiam as mulheres como seu alvo preferencial, para puni-las não apenas pelo comunismo como pela insolência de saírem do lar.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-uAyfWmvVxJ8/VT2PCcZrNqI/AAAAAAAAJ-Q/nkG7w-NFWo0/Bob%252520Cuspe%25255B5%25255D.jpg?imgmax=800" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="564" src="https://1.bp.blogspot.com/-uAyfWmvVxJ8/VT2PCcZrNqI/AAAAAAAAJ-Q/nkG7w-NFWo0/Bob%252520Cuspe%25255B5%25255D.jpg?imgmax=800" width="640" /></a></div>
<br />
<i><br /></i>thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-71452756445071809982016-04-15T20:18:00.002-03:002016-04-20T12:13:53.449-03:00A semântica e a matemática do impeachment<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://gavroche60.files.wordpress.com/2014/06/capture70.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="328" src="https://gavroche60.files.wordpress.com/2014/06/capture70.png" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Morte em duelo do matemático Evariste Galois</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
Um dos muitos cabos de guerra em curso no Brasil refere-se à nomenclatura do processo de impeachment. É golpe, dizem os contrários; não é golpe, dizem os favoráveis ao impeachment. É uma batalha, claro, semântica. Nada "é" algo assim, naturalmente, como se numa língua adâmica pré-torre de Babel. E o processo de impeachment ora em curso no Brasil tem bons motivos para se utilizar como para não se utilizar a palavra "golpe" - mas esses motivos são secundários à utilização política das conotações associadas. Ninguém quer ser chamado de golpista. Para além dessa resistência pelos agentes ativos do impeachment, as (muitas) pessoas entre os que resistem em se associar a qualquer dos lados (ou que preferem apenas torcer, ficando de fora do embate direto) poderiam ser influenciados por uma nomenclatura mais inequívoca; ninguém pode ficar indiferente a um golpe, como a uma revolução.<br />
<br />
Os que dizem que não é golpe, primeiro: alegam que todas (ou pelo menos a maioria) das formas da lei estão sendo cumpridas; que o Congresso tem a legitimidade democrática para tal; e que não será instaurada uma ditadura ou qualquer outra forma de governo distinta da de hoje; em suma, que o processo é similar ao do impeachment de Fernando Collor, que ninguém chamou de golpe. Os que dizem que é golpe questionam esses argumentos; alegam que seguir as formas da lei, deturpando-a para seus próprios fins conspiratórios, é golpe.<br />
<br />
Não é um debate que vá se resolver de jeito ou de outro; como boa parte dos debates semânticos, no fundo argumentos classificatórios são irrelevantes, e é a posição-afinidade preexistente de cada pessoa que definirá a escolha de palavra. Pode-se fazer referência aos processos semelhantes que ocorreram no Paraguai e em Honduras, com debates semânticos semelhantes, divididos por linhas ideológicas semelhantes, e que restam insolúveis. Pode-se verificar se os "condicionantes" oferecidos pelos que dizem que não é golpe porque não atende algum critério - digamos, a tomada do poder por militares sem chancela jurídica - estavam presentes em todos, ou na maioria, dos eventos políticos que chamamos de "golpe" na história. Pra nos mirarmos num só, que é mais simples: o golpe de 64 foi chancelado pelo Congresso, e o primeiro presidente após Jango não foi Castello Branco mas, como previa a Constituição, o presidente da Câmara, Ranieri Mazzili; foi, também, alvo de silêncio sepulcral da parte do STF. Por outro lado, editou em uma semana o Ato Institucional, que basicamente era uma reforma constitucional por decreto, removendo várias liberdades civis e políticas.<br />
<br />
Mas o que acho que pode ser dito, entretanto, é que, sendo chamado de golpe ou não, o que está em curso é um abuso da justiça; o uso seletivo e parcial da justiça e das leis para obter seus próprios fins. E a justiça pela metade, longe de ser meio caminho andado, é uma injustiça por inteiro. Uma pequena digressão para ajudar a entender por quê: em <i><a href="http://www.slaverybyanothername.com/" target="_blank">Slavery by Another Name,</a> </i>Douglas Blackmon explica como, através de leis severas contra atos banais, como "indecência" e "vagabundagem," o Sul dos Estados Unidos reimplantou gradualmente, no fim do século XIX, a escravidão. Apenas negros eram condenados por essas leis, e eles eram condenados a trabalhos forçados; o Estado, então, alugava prisioneiros para quem quisesse usá-los. Na prática, uma proporção enorme dos homens negros trabalhava de graça e podia ser comprado e vendido nos EUA do começo do século XX.<br />
<br />
Esse é o caso reductio ad absurdum de como justiça seletiva não é justiça, acho. Ninguém vai dizer que "pelo menos parte dos vagabundos e indecentes foram presas, melhor seria prender todos, mas isso é melhor do que não prender nenhum." Porque fica patentemente óbvio que o que estava sendo punido não era a vagabundagem e indecência, mas ser preto. Do mesmo modo, Henrique Alves, por exemplo, parece ter a convicção de que o que se pune no Brasil de hoje não é ser corrupto, mas estar ao lado do PT (e desmente, de uma tacada, a ideia de que foro privilegiado, por sua vez, possa ser algo que torne o detentor particularmente imune à condenação). Falando da Justiça como didática: não se está ensinando a não roubar, e sim a não ser, ou se aliar com, nada que pareça de esquerda. Se aplica à Lava-Jato, se aplica às pedaladas fiscais; se pedaladas são ou não condenáveis como crime de responsabilidade é uma discussão jurídica complexa, creio que definitivamente pedaladas sejam uma conduta reprovável. Mas o importante é que <i>o mesmo Congresso que pretende impedir Dilma pelas pedaladas, na mesma sessão, aliás com o expresso fim de iniciar o processo, aprovou as pedaladas de FHC e Lula. </i>Deixando muito claro, mais uma vez, que o que se está punindo não são as pedaladas. Voltando à didática: deixando claro que roubar e pedalar são OK, para quem não é de esquerda; o efeito é o contrário da justiça.<br />
<br />
Essa, a semântica que explica por que acho que o impeachment é um erro. Agora a matemática, para explicar por que ele é certo:<br />
<br />
As précondições do impedimento exigem que ele seja aprovado por dois terços da Câmera. Não é pouca coisa, o que faria supor que a defesa começasse em vantagem. Mas essa vantagem some rapidamente, quando se compara o que pode ser oferecido pelos dois lados aos deputados, e em que condições.<br />
<br />
As condições importam, porque o valor de uma promessa é resultado duma equação, em que o valor original daquela promessa é multiplicado A) pela probabilidade daquele lado vencer, e B) pelas chances de, vencendo, honrar a promessa. E tanto para A) quanto para B) Dilma está em maus bocados. A maioria dos congressistas acredita que ela será impichada. E todo esse furdunço começou justamente por conta da tentativa de Dilma de emplacar quadros técnicos no lugar de apaniguados políticos pela administração afora, inclusive em áreas "dadas" a aliados, que descobriram que só as teriam nominalmente. Dilma não é digna de confiança, no olhar de quem procura um cargo.<br />
<br />
Outras considerações, menores talvez, mas que também pesam: C) as chances do vencedor se vingar contra quem apoiar o derrotado, e D) a quantidade de cargos que podem ser distribuídos. Aqui, de novo, Temer tem a vantagem. O PT não poderá se dar ao luxo de se vingar contra ninguém (não, nem Cunha. Aliás Pansera continua no ministério), e sacada Dilma ficam liberados os cargos ocupados hoje tanto pelos apaniguados petistas quanto pelos técnicos; isso faz com que o estoque de cargos à disposição de Temer seja quase o dobro do que pode ser oferecido por Dilma. Mais cargos, e o valor corrente de cada um mais valioso pelas razões expostas acima. O resultado final (que assume, é verdade, um Congresso cúpido e assustado) dá no terceiro presidente peemedebista pela via indireta em 30 anos.<br />
<br />
PS a conta toda ignorou as chances de alguém - digamos, o Pactual, <a href="http://www.brazusc.org/" target="_blank">que bancou palestra com Moro, Marina, e Levy recentemente</a>, ou a Fiesp do exército dos patos, tentar interferir nela. Afinal, ninguém imagina que uma coisa dessas seja possível. Ignorou, também, a outra impossibilidade de a Lava-Jato ser usada como peça de negociação, já que ninguém imagina que ela seja influenciável ou dirigida.<br />
<br />
PPS a conta também ignora a possibilidade de deputados votarem segundo seu julgamento objetivo e consciente acerca da existência de crime de responsabilidade a ser punido.<br />
<br />
AM1PS tudo vale em igual medida, obviamente, para o Senado.thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-90911842429518100532016-03-17T10:07:00.001-03:002016-03-17T10:07:13.429-03:00Saindo do fogo pra cair na frigideiraA imprensa, e boa parte da opinião pública, parece convencida de que "foro privilegiado" é alguma versão de inimputabilidade. A ideia é curiosa; o foro "privilegiado" é, na verdade, a renúncia ao duplo grau de jurisdição. Fosse Lula julgado por Moro, poderia recorrer à segunda instância, depois à terceira, depois à quarta. Agora, já vai direto para a quarta (assumindo-se que vire réu; apesar da espetacular condução sob o fio das armas no aeroporto de Congonhas, Moro não o acusou formalmente de nada, ainda, nem naquele depoimento havia indício de que promotoria e juiz de instrução tinham algo concreto para acusar - há indícios, principalmente nas delações de Delcídio).<br />
<br />
Fazia sentido achar que foro privilegiado é privilégio nos bons tempos do Engavetador-Geral da República, como era apelidado Geraldo Brindeiro, em que o Procurador-Geral era escolhido por afinidade ideológica com o presidente. Já há algum tempo, entretanto, o Procurador-Geral é votado por seus pares, e a presidência apenas chancela essa escolha. Tanto é que foram presos ministros petistas, já. E sinceramente, se estivesse com medo de "me pegarem pelos meus crimes," preferiria muito mais ser preso pelos aloprados de São Paulo e Curitiba, cujos atropelos espetaculosos do devido processo legal praticamente garantiriam que a prisão fosse, depois, anulada pela segunda instância, do que por Janot, que come quieto e amarra direitinho. Fugir de Dallagnol e Conserino para cair no Janot é como encarar Voldemort pra fugir de Draco Malfoy.<br />
<br />
O motivo da indignação da mídia, então, não é a possibilidade de que um criminoso escape do devido processo de investigação legal, e Moro escancarou isso ontem, ao escancarar à mídia o grampo - que ele mesmo disse não conter evidência nenhuma, que teria sido feito depois de fechada a autorização e portanto ilegal, devendo ser destruido, que envolvia a presidente, então mesmo que fosse legal deveria ter sido remetido incontinente ao STF. A indignação é estritamente política: o ditador comunista Lula saiu da alçada do "paladino" Moro, que iria restaurar o Brasil à normalidade democrática e capitalista. Se há alguma prova ou não contra ele, se seria preso dentro do processo legal ou à sua revelia, é irrelevante. O importante é ir preso. Na verdade, os gritos na Paulista, ainda insuflados pela imprensa nesta manhã mas sem que a imprensa os repita ela mesma, são mesmo por outra coisa: morte.<br />
<br />
Sim, insuflados. Não tem outro motivo pra se dar atenção à "gravação," pra esmiuçar como relevante uma conversa que, de novo, o próprio Moro, que acha que falta de prova é prova de falta, já declarou não ter nada demais. Não tem outro motivo pra uma abertura de sigilo do processo que põe em questão o processo inteiro - e pode inclusive resultar na anulação da condenação de gente que tá na cadeia. E esse animus belicoso inclusive justifica o que é difícil de justificar - a nomeação de Lula como ministro para trocar de foro. Porque, a partir do momento que fica claro que a ideia de Moro é a perseguição política a Lula, escapar do juiz deixa de ser sinônimo de escapar da Justiça.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
PS Sobre a nomeação, aliás, é curioso observar que são contraditórias as ideias de que Dilma agora será "rainha da Inglaterra" e Lula governará em seu lugar e de que a nomeação é apenas para escapar de Moro. Se a primeira alegação é verdadeira, a segunda só o será trocando "apenas" por "também." Ministério apenas para escapar de Moro seria algo como pesca, assuntos estratégicos, ou que-valhas.thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-12919120175838836002016-03-07T11:51:00.001-03:002016-03-11T10:33:31.203-03:00O poder longe do tronoUma curiosidade dos acontecimentos desta sexta feira foi que eles, inegavelmente parte central do drama do poder no Brasil, se desenrolaram bem longe dos salões do poder institucional central, em Brasília. Os envolvidos principais: um juiz de província e um cidadão privado, que da presidência guarda apenas alguns privilégios meio ridículos de ex-mandatário. (Cujo absurdo, aliás, numa nota particularmente surrealista, o Instituto Lula denuncia, acertadamente atribuindo sua criação a Fernando Henrique, mas não explicando por que, se são absurdos, Lula não os renega.) <br />
<br />
E no entanto, a cena foi vista por muitos como um golpe, como uma reviravolta no próprio núcleo do poder, por mais que seja absurda a noção de golpe num ex-presidente. Não apenas pelos petistas que gritaram a palavra "golpe" com todas as forças. O gáudio com que a notícia foi recebida pela oposição de direita, desde antes até da operação se iniciar, com a nota de felicidade no twitter do diretor da Época Diego Escosteguy, Mais: a operação toda realizada pela Justiça, com um destacamento de homens trajados em camuflagem e armados de fuzis se deslocando antes da aurora para conduzir um homem para o aeroporto, parece mais típica de golpe do que de uma tomada de depoimento; nem são lá muito convincentes as explicações dadas pelo juiz Moro, que ora fala que era para proteger o próprio intimado (de quem, não diz), ora que seria para evitar tumultos causados pelo gênio agitador do PT (seria o primeiro caso de repressão de tumultos com fuzis de assalto, capazes de varar dez ou doze corpos de uma vez, na história recente). E também não faz muito sentido a ideia de que o aparato militar se tratava de uma operação em conjunto com a mídia, para apresentar Lula como prisioneiro. Porque, a não ser que os "conspiradores" da Lava-Jato fossem muito idiotas, seria óbvio que a desproporção do fato angariaria antes simpatia. Não conferem, portanto, nem as explicações de um lado nem de outro.<br />
<br />
Lavro aqui uma suposição que podem chamar de fantasiosa, então: os agentes da Lava-Jato agiram assim porque tinham a convicção, mesmo que inconsciente, de estarem sim se acercando do núcleo do poder, de estarem levando a cabo uma revolução, de certa forma. Para eles, estavam chegando perto do real mandatário, não apenas de um ex-presidente. A convicção de que ainda é Lula quem governa e Dilma é dele só uma marionete não é restrita a eles, aliás: há denúncias repetidas quanto a essa situação, reclamando dos pronomes de tratamento que Dilma e Lula usam ou de seus encontros em geral.<br />
<br />
No outro lado do proscênio, o juiz Moro também é, no mínimo, uma personagem mais poderosa do que o título de juiz federal de primeira instância poderia supor. Não julga ações que se lhe apresentam, mas julga, investiga, prende, mobiliza as massas para apoiar a Justiça, angaria apoio de empresários à sua cruzada, em todo o território nacional. Ao contrário de outros juízes Elliot Ness no passado, suas muitas ações margeando ou mesmo saltando pra fora do devido processo legal não são controladas pelas instâncias superiores do poder judiciário. Quando algum questionamento sobre elas chega ao Supremo Tribunal Federal, a impressão que se tem é de que antes o STF tem medo de suscitar a ira de Moro que o contrário.<br />
<br />
Não seria a primeira vez na história, do Brasil ou do mundo, em que o poder real não se avizinhava do trono oficial. Essa é, afinal, a pré-condição básica de todo golpe, e de boa parte das revoluções. Mais, há casos aos montes mundo afora de situações como essa se perpetuando, não apenas em momentos de crise em que uma ordem institucional se dissolvia para aparecer outra como por décadas. O Japão talvez seja o país mais pródigo em poderes por detrás do trono; seja no Antigo Regime, em que o xogunato Kamakura via, em ordem crescente de poder e decrescente de importância oficial, coexistirem alguns ou todos da escadinha (imperador, imperador aposentado, regente imperial, xogum, xogum aposentado, regente, regente aposentado, e pai ou mãe do regente aposentado); seja em tempos mais modernos, em que o mando depois da revolução Meiji foi exercido, durante cinco décadas em que paulatinamente se criou um poder parlamentar, por uma pequena camarilha de funcionários sem grandes títulos ou inserção explícita nas hierarquias oficiais (a maioria da pequena nobreza e dos domínios, no sul, de onde saíra a revolução).<br />
<br />
Mesmo no Brasil, foram frequentes as ocasiões em que se obedecia antes ao Ministro da Guerra que ao presidente. Hoje, a distância entre a forma da lei escrita e a realidade da lei aplicada pode ser vista em qualquer favela: não há, no Brasil, pena de morte em tempos de paz nem tribunais de campo em qualquer situação, mas as polícias militares aplicam, após julgamento em tribunais de campo, pena de morte em grande escala, provavelmente sendo o país em que (em tempos de paz) as forças do Estado mais matam no mundo: 5000 mortos por ano, mais que Arábia Saudita, EUA, e China. E não dá pra chamar isso de atividade criminosa de policiais mal preparados; se fosse, não seria apoiada e aplaudida seja pela população, seja pelos próprios órgãos oficiais, que inventam "medalhas por bravura" e alardeiam massacres na propaganda eleitoral.<br />
<br />
Assim, a suposição de que as formas do poder constituído e as realidades brutas do poder (que, no fundo, é apenas a construção bastante efêmera de "a quem as pessoas, especialmente aquelas armadas, escolhem obedecer"), não deveria ser particularmente estranha pra nenhum brasileiro. Mas a pergunta é: é o que vemos? Lula é um genrô, dirigindo o país desde seu apartamento de classe média em São Bernardo, em quem Moro, junto com uma pouco clara oligarquia midiática, quase deu um golpe naquela manhã de fim de verão? Estamos em estado de fluxo institucional, no ocaso de uma ordem e geração de uma nova (oficial ou não)?<br />
<br />
Acho que são boas perguntas. Mas, pra ser sincero, não acho que nada disso seja verdade. Moro não desafiou diretamente nenhum poder oficial, e Dilma consultar seu mentor político não significa obedecer-lhe; aliás, para que se falasse em poder distante do trono, seria necessário que Lula nem precisasse de passar pela corrente de transmissão de Dilma, e suas ordens fossem obedecidas em si. Os jornalistas que sonham com a intervenção militar ("constitucional," diriam os apalermados dos panelaços) estão apenas sonhando e praticando seu jornalismo à moda do Tennessee de sempre. O que temos é menos uma crise do que a fantasmagoria de uma crise.<br />
<br />
Acho.thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-40849810343745578712016-02-18T11:10:00.001-02:002016-02-18T11:10:10.459-02:00O complexo do vira-latas orgânicoNão deixa de guardar relação com o texto de ontem: ontem e antes de ontem, encarei duas versões do que já acho que dá pra chamar de um complexo (em mais de um sentido) do vira-lata orgânico. São as pessoas que expressam a convicção íntima da ruindade brasileira pela ótica da ecologia e outras causas mais alinhadas com o espectro de esquerda do que com riqueza e opulência. De novo: não se trata de constatar problemas do Brasil, que são muitos e candentes, mas de contrastar esses problemas com uma visão idealizada de outros países, geralmente localizados no Primeiro Mundo (space stereo), mas dependendo das veleidades políticas pode ser algum vizinho latinoamericano, ou talvez alguma nação asiática ou africana "pobre segundo a ótica da civilização ocidental, mas rica em sabedoria." Os diálogos, via face:<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
(Notícia: <a href="http://ciclovivo.com.br/noticia/bairro_solar_na_alemanha_produz_quatro_vezes_mais_energia_do_que_consome/" target="_blank">bairro solar na Alemanha produz quatro vezes mais energia do que consome</a>.)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Comentário: "Quem dera aqui no Brasil também se fizesse iniciativas como essa, mas não as veremos nunca!"</div>
<div>
Eu: "Ahn, tem. Só que é seis vezes. Do Minha Casa Minha Vida." </div>
<div>
"Fonte?"</div>
<div>
"Fonte"</div>
<div>
"Ah, mas a Dilma vetou prioridade a renováveis. Infelizmente o Brasil vai continuar sem investir em energias renováveis."</div>
<div>
"A) Isso é outro assunto, B) o Brasil é o país que mais cresce em energia eólica do mundo."</div>
<div>
"Quem dera os conjuntos do Minha Casa Minha Vida tivessem o capricho e a beleza desse condomínio alemão. Odeio falar mal do Brasil, MAS..." </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Só pra esclarecer: o condomínio alemão é um condomínio de luxo, com<a href="http://www.pvupscale.org/IMG/pdf/Schlierberg.pdf" target="_blank"> preço de venda entre 2700 e 3300 euros por metro quadrado, ou aluguel em torno de 11 euros o metro quadrado</a>, no limite superior dos preços em Friburgo. Um tico mais do que os preços do Minha Casa Minha Vida. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
A outra ocasião: </div>
<div>
<br /></div>
<div>
"Uruguai promulga lei do software livre."</div>
<div>
"Quem dera o Brasil seguisse o exemplo, ao invés de continuar enchendo os cofres da Micro$oft."</div>
<div>
(O Uruguai se inspirou no, e teve ajuda do, Brasil na questão.)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Ainda outra, esta ontem: </div>
<div>
<br /></div>
<div>
"Peru vai isentar livros de impostos por três anos. Aquele momento em que você tem inveja do Peru."</div>
<div>
"No Brasil já é isento desde o tempo do Sarney. Tá na constituição federal, inclusive."</div>
<div>
"Achei este artigo de tributarista que fala que o livro no Brasil paga imposto sim, porque as editoras e seus donos pagam imposto de renda, Cofins, e PIS."</div>
<div>
"Ahn, no Peru não isentaram editores de pagar impostos e <i>contribuições trabalhistas</i>. Só o livro." </div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
Ainda noutra ocasião, há tempos atrás, comentei que o Brasil tinha reduzido o desmatamento neste século (pruma pessoa que lamentava que enquanto a Venezuela se preocupava com ecologia, o Brasil só desmatava cada vez mais), e a resposta foi um texto indignado dizendo que eu me informava em sites neoliberais ao invés de no imazon. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Aqui o gráfico do desmatamento na Amazônia segundo o Imazon: </div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://site1378233601.provisorio.ws/wp/wp-content/uploads/2014/08/Grafico-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://site1378233601.provisorio.ws/wp/wp-content/uploads/2014/08/Grafico-1.jpg" height="416" width="640" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
(Peguei link direto, aliás. Pode olhar a fonte da imagem.) </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Só pra deixar claro, a Venezuela no mesmo período</div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://mongabay-images.s3.amazonaws.com/13/venezuela-deforestation.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://mongabay-images.s3.amazonaws.com/13/venezuela-deforestation.jpg" height="271" width="400" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
De novo: o Brasil tem problemas sérios, e enormes. O desmatamento na Amazônia parou de cair, e quatro a cinco mil quilômetros por ano é coisa pra burro - e a Amazônia ainda é o bioma menos degradado. <a href="https://www.globalwitness.org/en/campaigns/environmental-activists/deadly-environment/" target="_blank">Militantes pelo meio ambiente, pelos sem terra ou pelos índios são assassinados literalmente às centenas</a>. <a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2013/05/mauricio-gernsback-tolmasquim-ferro-e.html" target="_blank">E o governo pretende mesmo fazer as fantasias gernsbackianas na selva que são o complexo hidrelétrico do Tapajós</a>. Numa nota menor, a área plantada com orgânicos recuou, e o consumo de agrotóxicos aumentou (e já era enorme). </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Mas uma lenda negra do próprio país não é uma forma de denunciar e melhorar esse país. É só uma forma de autoconforto na convição fatalista duma merda absoluta. O Brasil também tem - e isso não é benesse de governo, mas conquista coletiva - bastante coisa boa acontecendo. <a href="http://news.nationalgeographic.com/news/2014/06/140605-brazil-deforestation-carbon-emissions-environment/" target="_blank">É o país que mais diminuiu emissões de gases de efeito estufa no mund</a>o, e isso porque já emitia <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_ratio_of_GDP_to_carbon_dioxide_emissions" target="_blank">pouco em comparação com o PIB</a>; o saneamento continua vergonhoso, mas cresceu mais na última década que no século anterior; o país é, repetindo, aquele no qual a energia eólica mais cresceu no mundo nos últimos anos, e deve continuar a ser nos próximos; <a href="https://innovationhouserio.wordpress.com/2016/01/06/outlook-of-the-growing-wind-energy-sector-in-brazil/" target="_blank">em 2014 o crescimento foi de 122%.</a> </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Custa não cair nem no ufanismo raso nem no seu oposto, pelo visto. Viramos torcida do circo romano, pronta pro vaticínio total sobre a essência de algo, ao invés de gente tentando ver o que acontece. </div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-51964390447714784082016-02-17T15:03:00.001-02:002016-02-19T17:17:52.973-02:00O Problema do Brasil não existe<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Veja bem, não estou falando que não existem problemas no Brasil. Longe de mim ser Pangloss, e se fosse enumerar os problemas do Brasil, no plural, poderia ficar aqui o dia inteiro. O problema é com esse "O." Artigo definido singular. Tem circulado pela internet recentemente <a href="http://markmanson.net/brazil_pt" target="_blank">o texto</a> do americano (a nacionalidade é importante porque ela é invariavelmente especificada por quem repassa) Mark Manson que explica que</span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: left;">
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"Não é só culpa da Dilma ou do PT. Não é só culpa dos bancos, da iniciativa privada, do escândalo da Petrobras, do aumento do dólar ou da desvalorização do Real.</span></i></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: left;">
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O problema é a cultura. São as crenças e a mentalidade que fazem parte da fundação do país e são responsáveis pela forma com que os brasileiros escolhem viver as suas vidas e construir uma sociedade.</span></i></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: left;">
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O problema é tudo aquilo que você e todo mundo a sua volta decidiu aceitar como parte de 'ser brasileiro' mesmo que isso não esteja certo."</span></i></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></i></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Noves fora os lustros de autoridade dados a um texto bastante primário apenas porque o autor vem dos EUA, ele se inscreve numa tradição comprida, bem anterior às redes sociais, de busca pelO Problema do Brasil. Por uma única explicação simples que explique por que fomos barrados do paraíso. De preferência tão simples que caiba numa frase, por mais que a frase venha com uns textos em volta (este do "americano" é até curto; foram escritos livros de centenas de páginas com O Problema.) E bem, essa busca vai render infinitamente pelas redes sociais, simplesmente porque ela se baseia numa falácia e a responde com outra. Pra usar um jargão, ela é não-falseável. Não dá pra provar que seja mentira essa declaração - e, por falta desse teste, o valor de verdade também é nulo. </span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O problema desse tipo de texto começa pela petição de princípios que é a pergunta "por que o Brasil não deu certo." Essa pergunta, pra início de conversa, precisaria definir o que é "dar certo." Geralmente, é "atingir o nível de riqueza dos países centrais." Não digo de "civilização," porque a "civilização" dos países centrais é frequentemente idealizada. Exemplo de hoje mesmo: </span></div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-YpQSqh7d3i0/VsSKv5UmhFI/AAAAAAAAU0I/YU5ALMh0Ocw/s1600/Chupa%2BT%25C3%25B3quio.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><img border="0" height="320" src="https://4.bp.blogspot.com/-YpQSqh7d3i0/VsSKv5UmhFI/AAAAAAAAU0I/YU5ALMh0Ocw/s320/Chupa%2BT%25C3%25B3quio.jpg" width="213" /></span></a></div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ora, em Tóquio metrô também inunda. E em Nagóia. E em Osaca. E em Nova Iorque, Toronto... isso foi o resultado de uma busca no google de dois segundos. Em Nova Iorque e Nagóia, inclusive, com não apenas os trilhos inundados, como metros de água cobrindo a própria plataforma, evacuada às pressas - e em na maioria dessas cidades não chove como chove no Rio de Janeiro. E esse é um dos componentes da petição de princípios, frequente se não inevitável: a glosa dos problemas do Primeiro Mundo, a imaginação da utopia terrenal como existente alhures, do mundo do país X como representando seja o ideal, seja o padrão da humanidade. Mas não é necessário: O Problema pode se resumir à diferença de riqueza entre o Brasil e os países mais ricos, sem precisar necessariamente de dizer que esses países ricos são a Terra Sem Medos. </span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ora, O Problema é uma falácia completa, que depende duma espécie de inversão do Destino Manifesto americano, que poria os EUA e sua hegemonia sobre o mundo como culminação natural dos planos da Providência. O Brasil seria, por outro lado, a Cidade Obscura no Buraco, uma cloaca fétida que por conta dos próprios pecados não logrou chegar ao brilho do resto do mundo. Não é muito difícil ver o problema com essa imaginação, e é essencialmente o mesmo do Destino Manifesto original: não resiste a uma alargada de vistas, seja ela sincrônica ou diacrônica, pelo espaço ou pelo tempo. A trajetória do Brasil, longe de ser uma trajetória única de fracassos, é mais ou menos a trajetória do espaço no qual se encontra inserido, a interseção entre o Cone Sul e a América dos Escravos. Numa escala mais vasta, tem similaridades com a trajetória de toda a periferia do sistema-mundo que se desenha, centrado na Europa, desde que esta conquista a América dizimada pelas doenças eurasiáticas e implanta, seguidamente, o tráfico negreiro atlântico, a revolução industrial, e o imperialismo também sobre África e Ásia. Hora da figurinha de novo: estes mapas mostram a evolução dos PIBs mundiais.</span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-1DO3zyXT83Y/VsSTLP9GADI/AAAAAAAAU0U/HadUDGyD5T8/s1600/PIB%2Bmundial%2B1950.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><img border="0" height="640" src="https://4.bp.blogspot.com/-1DO3zyXT83Y/VsSTLP9GADI/AAAAAAAAU0U/HadUDGyD5T8/s640/PIB%2Bmundial%2B1950.jpg" width="241" /></span></a></div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Deu pra reparar num padrão, né. O Brasil não começa igual e depois fica pobre, mas já começa bastante abaixo dos países da Europa (e sua extensão transatlântica), e mantém-se mais ou menos na mesma "categoria" desde então. Até melhora um pouco, dentro desse campo; era colega da Bolívia e hoje é do México. Os países que, fora desse núcleo do Atlântico norte, conseguiram se ombrear a ele são pouquíssimos: são eles a exceção, e não o Brasil. A situação deste não é excepcional, trágica, horripilante; é banal. E mesmo os países que escaparam à regra comum são exceções bastante contingentes, que dependeram de condições geopolíticas complexas, e não de algum tipo de recompensa divina pelas virtudes de seus cidadãos. Os dominions brancos do Reino Unido, com acesso direto ao maior mercado do mundo e uma proporção cidadão-território enorme (às custas do genocídio da população aborígene, e sem a população de descendentes de escravos junto). A tigrada asiática, Japão à frente, com a combinação pós-guerra de carradas de dinheiro americano com sociedades e territórios feitos quase tabula rasa. O Japão um pouco antes disso, na era Meiji - que ainda é um milagre econômico à busca de causas, ou Uma Causa.</span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Sim, Uma Causa. Porque explicações reducionistas dessa diferença - mais bem situada entre o Atlântico Norte e o Resto - também são comuns, desde a banalização de Max Weber (sendo um pouco menos camarada, desde o próprio). Max Weber esse que situava a China confucianista, que atravessava quase um século de anomia e crise quando ele escreveu, como quase antítese do virtuoso espírito capitalista protestante. Ora, um século depois com a ascensão da tigrada asiática, neoweberianos explicaram como na verdade o confucianismo é uma forma ainda superior de virtude capitalista do que o protestantismo... E disso podemos falar duas coisas: primeiro, do nível temporal que falei. A busca por uma explicação para O Problema situa, sempre, esse problema num presente sobredeterminado, que não poderia ter saído de outro jeito. E sim, poderia. A história do mundo não é composta de Essências Puras de países e civilizações, como se fôssemos parte de um jogo de Civilization. Para ser, teríamos que ter as mesmas sociedades através das eras, que nem no jogo do Sid Meier. Sociedades se transformam, e profundamente, tanto pelas tais questões geopolíticas quanto pelo mero acaso. E segundo, que via de regra a falha social que se observa é principalmente a projeção dos próprios conceitos de certo e errado (claro que o tal Mark Manson é infinitamente menos sofisticado que Weber). Assim como o confucianismo pode ser causa do atraso e do progresso, o individualismo criticado por Manson também já foi identificado como causa do progresso americano, contraposto a um coletivismo latino. </span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Disse que são comuns as explicações para a diferença entre the West e the Rest, mas cabe aqui uma ressalva: são comuns no Ocidente, nos países ricos, que se percebem como coletivo à parte. Nos países periféricos, mais uma vez se pode ver como o Brasil não é excepcional: não é excepcional nem em procurar explicações particulares para o "seu" fracasso e se contrapor ao Ocidente, seja em termos dO Que Deu Errado, desse destino manifestamente ruim, quanto numa reação a ele nativista, que exalta as virtudes simples do povo não-ocidental. Pode-se ver muita coisa parecida na Rússia, no resto da América Latina, no Japão de antes do milagre, na Índia, no Oriente Médio, na Indonésia, na Europa do Sul antes da União Européia... em suma, em toda a periferia global, cada país se relaciona, no imaginário, antes com o centro do que com o resto da periferia, e no limite se vê apenas em contraste com esse centro. E busca O Motivo no caráter nacional, em algum evento histórico fatídico, <a href="http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/01/1727369-a-quem-serve-a-classe-media-indignada.shtml" target="_blank">em alguma instituição terrível,</a> sabe-se lá no quê. O Brasil não é excepcional nem na doença de Nabuco; o complexo de vira-lata poderia ser doença de Nabucovsky, Nabukko, N'abuk, ou Nabucón. </span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Cabe, também, um esclarecimento que deveria parecer óbvio, mas parece que não é: renda e riqueza são coisas diferentes. Riqueza é renda acumulada, e gera mais renda. Países que são ricos há mais tempo têm já uma riqueza acumulada enorme, e não estou falando de ouro e pedrarias, ou números numa conta bancária, mas de infraestrutura e capital humano. Digamos que por um milagre o Brasil conseguisse elevar seu gasto público por habitante ao mesmo nível da Alemanha amanhã (isso representaria quintuplicar o atual nível, e ter um gasto público maior do que a renda per capita total do Brasil de hoje). Ainda demoraria muito tempo até esse gasto se traduzir em gares e viadutos de trem, em pessoal formado em universidades, em laboratórios de pesquisa, em edificações de qualidade, ou no que mais fosse, do mesmo jeito que se você amanhã ganhar o dobro do que ganha não vai poder construir uma casa duas vezes maior no mesmo dia. E quando se observa as diferenças entre o Brasil e os países centrais, o que está sendo observado não é a diferença de renda apenas, mas uma combinação dela com a diferença de riqueza. </span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">De novo: não que não haja problemas no Brasil, e mesmo aspectos da cultura nacional que me desagradem; os há muitos, alguns mais antigos outros mais recentes, alguns mais simples outros mais complexos, simples de diagnosticar e difíceis de prognosticar... problemas mis, de todo tipo. Mas nenhum desses problemas, e muito menos uma característica moral nebulosa (com direito, no texto de Manson, a um No True Scotsman de cara), pode ser considerada responsável pelo país não ser uma exceção à regra que escapou do lugar aonde está inserido no sistema-mundo capitalista. E que esses problemas muito raramente são "do Brasil, e mesmo quando são têm antes explicações históricas complexas do que simplesmente representam qualidades morais emergentes. Para pegar um exemplo que me incomoda particularmente: a altíssima legitimidade conferida à violência, desde que esta seja considerada justa, e a tendência a considerar justa a violência cometida pelo aparato de Estado, é característica comum nas Américas, e especialmente nas áreas do antigo complexo de latifúndios escravocratas. Idem a desigualdade (e sim, a desigualdade é uma característica cultural, e não só econômica: no Brasil, mesmo pessoas de esquerda consideram normal uma diferença de renda grande entre professor universitário, professor primário, e faxineiro, eg)... melhor parar por aqui; como disse, se for falar de cada problema do Brasil este textaum vira um Oxford English Dictionary. </span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">PS: parte da construção desse tipo de texto fala dos "recursos naturais infinitos" do Brasil. Ora, a grande grana com exploração natural no começo da revolução industrial se dá à base da explosão da demanda por produtos de clima temperado, não cultiváveis na maior parte do país. E os solos tropicais, leves, ácidos, e cheios de ferro, são pobres, e piores ainda pra tentativa que se fez por muito tempo de simplesmente reproduzir a agricultura do norte da Europa (de solos fundos, pesados, e básicos, com chuva fraca e constante e pouco sol) nele. O minério brasileiro é relativamente abundante, mas nisso o Brasil (pop. 200 milhões) está no mesmo patamar da Austrália (pop. 20 milhões). As cidades brasileiras, longe de não verem desastres naturais como reza a mitologia, estão sujeitas a tempestades tropicais bem mais intensas do que qualquer evento climático de zonas temperadas, e entre o Mato Grosso e o Rio Grande do Sul a tornados; e isso combinado com os tais solos rasos e leves significa deslizamentos a dar com pau. O controle de endemias tropicais é complicado (e determinou a sorte de impérios, <a href="http://www.amazon.com/Mosquito-Empires-Caribbean-1620-1914-Approaches/dp/0521459109" target="_blank">como narra o excelente Mosquito Empires</a>). </span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Além disso, a topografia brasileira é linda de se ver, mas pra transportar cargas é simplesmente horrorosa. Enquanto nos EUA se tem a dupla hidrovia do Misssissippi-Missouri e dos Grandes Lagos-São Lourenço drenando as grandes planícies e o meio-oeste, enquanto a Argentina e a Rússia têm rios preguiçosos e amplos drenando planícies quase talhadas a plaina pelos deuses, no Brasil cisamazônico é quase literalmente tudo morro, com uma muralha escarpada separando a estreita (ou inexistente, em alguns trechos) planície costeira do planalto. Não é à toa que <a href="http://sambadoaviao.blogspot.com.br/2015/06/o-imperio-colonial-suico.html" target="_blank">São Paulo fica a duas vezes a altitude das grandes cidades suíças</a> (e Curitiba e Brasília ainda mais alto). E não, não dá pra falar do Japão como contraponto, porque o Japão não depende do transporte terrestre desde antes da revolução Meiji; as grandes cidades estão todas em planícies costeiras, o país é um arquipélago de povoamento dentro do arquipélago de pedra. </span></div>
</div>
<div style="border: 0px; box-sizing: border-box; color: #222222; direction: ltr; font-size: 15px; font-stretch: normal; line-height: 21px; margin-bottom: 15px; margin-top: 8px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-26569265783140379912016-01-22T00:30:00.000-02:002016-01-22T08:54:16.131-02:00Impostos IV - HerançaO imposto sobre heranças é uma das maiores conquistas liberais, apesar de em geral se associar liberais apenas ao corte de impostos. Isso porque uma das premissas básicas do liberalismo - a de que haja algum nível de, se não igualdade, paridade de oportunidades - é minada pela transmissão intergeneracional de riqueza. Em algum momento, o acúmulo intergeneracional significa, de facto, uma diferença intransponível, mesmo depois de abolidos os privilégios hereditários de jure que faziam com que só alguém que fosse um fidalgo (um filho de alguém, literalmente) pudesse carregar uma arma de fogo ou espada, usar roupas vermelhas, ou sapatos ridículos. O imposto sobre as heranças serve de freio a essa trasmissão intergeneracional. Claro que o Thor Batista vai continuar sendo bilionário herdando qualquer proporção maior do que 3% da fortuna paterna, mas para a grande massa das classes média e alta, o imposto aumenta notavelmente a mobilidade social.<br />
<br />
É um ponto em que acho que não fui claro o suficiente nas outras defesas de aumento de impostos sobre patrimônio e renda: esses impostos são bens em si, e não um jeito de o Estado aumentar sua arrecadação (e com isso cortar impostos que são prejudiciais à economia, como IPI e quejandos). Um imposto que diminua a vantagem de um fidalgo moderno significa mais mobilidade social, o que imagino que seja universalmente considerado uma coisa boa. Entre o imposto sobre herança e o ITR, a reforma agrária se daria pela lógica tributária, sem precisar de desapropriação do INCRA. O IRPF alto gera incentivos à doação e à poupança. Um imposto sobre dividendos alto incentiva o reinvestimento de lucros na própria empresa. (No Brasil, ao contrário, dividendos são obrigatórios.)<br />
<br />
Então, vamos comparar o imposto sobre a herança no mundo e aquele no Brasil?<br />
<br />
Brasil: Federal 0%, estaduais de 0 a 8% - mais comum sendo por volta de 4.<br />
EUA: Federal até 55%, estaduais entre 0 e 10% - mais comum sendo uns 6<br />
França: até 60%<br />
Alemanha: até 50%<br />
Reino Unido: até 40%<br />
Rússia: até 13% <br />
China: não há. (Outro ponto importante: é o Estado que garante a transmissão de bens e direitos; a taxa cobrada sobre essa transmissão é mais legítima que qualquer outra por causa disso. Na China, essa transmissão não é tão segura assim...)thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7331879.post-81223038007791145562016-01-19T20:13:00.000-02:002016-01-19T21:26:19.565-02:00Desenhando o racismoA essa altura, acho que nem o Ali Kamel deveria acreditar de verdade que não existe racismo no Brasil. É uma noção que já foi mais popular, tanto que a ONU um dia mandou fazer estudo para reproduzir essa falta de racismo pelo mundo, mas hoje em dia largamente desacreditada. O problema é que a discussão sobre isso geralmente descamba para o lado anedotal, para o lado do "troféu Ali Kamel" cada vez que rola um ato mais flagrante de racismo. E bem, esse não é um assunto subjetivo apenas. Há dados, e eles mostram que há sim racismo no Brasil, e permitem até comparar o racismo brasileiro com outros - e o que esses dados mostram é mais complexo do que a negação ou afirmação do racismo, ou de que ele seja melhor do que alhures. (Ou pior, como quer a tradição inspirada no Abdias do Nascimento, que via nos EUA um modelo.) Então este artigo tenta transformar alguns desses dados em imagens, pra tentar tornar a compreensão deles mais fácil<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Primeiro de mais nada: quem é negro, quem sofre racismo, no Brasil e alhures. O critério do IBGE, da autodeclaração, é o único possível tanto ética quanto estatisticamente pra isso. Eticamente, porque algum tipo de "olheiro racial" seria algo que remexeria bastante o lodo nazista. Estatisticamente, porque esses olheiros raciais, em larga escala, não seriam mais confiáveis do que os autodeclarantes. Até menos. (E sim, apesar do critério ser a autodeclaração, de facto existem entre os agentes do censo aqueles que tacam o que acham que viram ao invés da autodeclaração.) É possível, sim, averiguar o quanto de ascendência africana uma pessoa tem - mas isso não é necessariamente uma boa medida, já que o preconceito que atinge as pessoas depende mais da aparência externa do que da genética. Isso não apenas aqui, país em que sempre se falou do "preconceito de cor," em contraposição ao "preconceito de raça ou etnia" americano. Nos próprios EUA e África do Sul, mais de um estudo já verificou que sim, entre pessoas igualmente classificadas como negras, aquelas com pele mais escura sofrem mais os efeitos do racismo. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Note que o mesmo processo acontecer mundo afora não significa que acontece da mesma maneira. Inclusive, quantos são os negros de cada país vai variar de acordo com o critério, se genético ou autodeclaratório - e essa variação vai indicar o quanto houve, no passado, uma mistura mais ou menos livre entre pretos e brancos pra ter filhos. O gráfico abaixo tenta mostrar essa diferença, com o tamanho da população afrodescendente versus o tamanho da população que se autodefine como negra em cada país: </div>
<div>
<br /></div>
<iframe frameborder="0" height="902" scrolling="no" seamless="" src="https://docs.google.com/spreadsheets/d/1rzy4-eoYaZyRQCvE8a-alH6ik8TIsuY4CddplXOBupk/pubchart?oid=957575795&format=interactive" width="1229"></iframe>
<div>
<br /></div>
<div>
Na escala horizontal, a proporção da população do país que descende em boa parte (pelo menos 15% da ascendência) de africanos. Na vertical, a proporção que se autodefine como negra. A bola indica o tamanho da população descendente de africanos. Pode-se ver no gráfico, por exemplo, a diferença entre uma proporção e outra - ou seja, o quanto alguém vai ser considerado descendente de africanos por ser descendente de africanos. Reparem que não existe absolutamente nenhum país acima da linha do 1 pra 1... e que o Brasil é aquele em que a desproporção é maior. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Também é interessante fazer essa distinção por outro motivo. É que se você reparar na posição do Brasil na escala horizontal (perto da África do Sul), o Brasil é basicamente um país negro e mulato, em termos de ascendência. Acontece que na escala nativa brasileira boa parte desses mulatos é branco. Não "se considera," já que branco e mulato são características sociais, que dependem da ordem social, mas é branco - no Brasil. Muitos deles descobrem, chocados, que não são tão brancos assim no Atlântico Norte. Ou seja, de certa forma, o Brasil, que se considera branco amestiçado com negro - nas famosas palavras de Gilberto Freyre, o brasileiro se misturou <i>com </i>o negro e <i>com </i>o índio (ie, é diferente deles) pode ser considerado, como um todo, como um país negro. Não sei se ajuda a entender essa distinção entre afrodescendente e negro, mas vá lá: no Haiti, como em todos os países do Atlântico, o racismo pós-escravidão é um problema real e palpável. Lá, os mulatos dominam a vida econômica e social do país - a ponto do termo ser sinônimo com burguesia, sendo entretanto em geral excluídos dos cargos principais políticos, pela resistência dos negros. Ora, a olhos brasileiros, é bem difícil distinguir esses dois grupos perfeitamente distintos aos olhos haitianos. A mesma coisa acontece com os pretos, pardos, e brancos brasileiros. Gradações raciais são inventadas e peculiares a cada sociedade, mas por isso mesmo incrivelmente sutis. De acordo com essas sutilezas, o Brasil pode ser considerado um país heterogêneo, em que negros são uma minoria discriminada (o modelo americano) ou, o que raramente vejo, <i>um país negro, dominado por uma elite branca e mestiça clara</i>. Como na África do Sul do Apartheid, isso não significa que todo branco é rico e influente. Mas admita-se que é um modo de enxergar um pouco diferente...<br />
<br />
Primeiro parêntese de cautela ao ler gráficos: a proporção de 15% para chamar alguém de "afrodescendente" é, obviamente, arbitrária. Não foi tirada do nada; é a utilizada por muitos desses estudos genéticos, e corresponde mais ou menos, no Code Noire francês, à última categoria de mulato, o "oitrão." Mas o gráfico acima poderia ficar muito diferente se se utilizasse dez, cinco, ou cinquenta como "nota de corte." Isso não quer dizer, por outro lado, que pode-se dizer qualquer coisa com gráficos; as proporções podem mudar, mas as posições relativas dos países - quem está acima ou abaixo de quem - mudam bem menos. Outro caveat é que estamos comparando um número atingido por um censo nacional que, com todas as falhas, é uma tentativa de recolher a totalidade da população, com pesquisas feitas com voluntários que, por mais que tenham usado técnicas até sofisticadas para tentar se adequar ao que sabemos via os censos, têm um fator variável muito maior envolvido. Então tomem este gráfico, como qualquer outro gráfico ou número, com uma pitada de sal. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Talvez não inteiramente por coincidência, o Brasil também se aproxima da África do sul no quão tardio o sistema de ação afirmativa é por aqui. Vamos ao gráfico: </div>
<div>
<br /></div>
<div>
<iframe frameborder="0" height="743" scrolling="no" seamless="" src="https://docs.google.com/spreadsheets/d/1S1WolROqzf6ava8QSUA0qE0b1jcfbN9NucXlml9jfhI/pubchart?oid=364958291&format=interactive" width="1201"></iframe>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
Como pode se ver, ação afirmativa, conceito novo no Brasil, é algo que data do começo do século XX, e se espalhou pelo mundo no pós-guerra, dos dois lados da Cortina de Ferro. Pode-se ver também que, enquanto a ação afirmativa no Brasil atinge basicamente um campo (universidade), e muito parcialmente outro (emprego público), em outros países ela atinge uma variedade enorme de campos. Podem reparar também que a proporção de gente da etnia atingida beneficiada é muito menor no Brasil...<br />
<br />
Pegadinha. Todas as afirmações acima são verdadeiras, mas todas elas dependem, muito mais do que no primeiro gráfico, de uma série de pressupostos diferentes no contexto de cada país. Até porque enquanto os países do gráfico anterior dividem uma iteração específica do preconceito entre si (o racismo nascido da lida de seres humanos através do oceano Atlântico para as colônias européias na América, nas suas versões metropolitana, colonial, e (pós-escravidão de jure) imperial), as situações de que trata este são bastante díspares. São todas elas redutíveis à existência de minorias étnicas em desvantagem social, mas em contextos muito diferentes. Nas sociedades asiáticas (e euroasiática) deste gráfico, essas minorias são antes comparáveis aos indígenas brasileiros, e essas medidas de ação afirmativa são inclusive parte de estratégias de assimilação no corpo nacional - não necessariamente, e às vezes inclusive de maneira digna de aplausos, necessariamente no corpo étnico dominante. E mesmo assim há diferenças, como pode ser visto na proporção de gente afetada; enquanto na China é corretíssimo falar de uma minoria quase residual (se enorme em números absolutos), na Índia é o grosso da população do país que pertence às "castas atrasadas."<br />
<br />
Comparando apenas com os países mais parelhos, o que se vê é que a ação afirmativa no âmbito do racismo contra negros nos países atlânticos é algo que nasce nos EUA no contexto dos direitos civis do pós-guerra, como reação a uma legislação e uma atitude sociais particularmente virulentos (comparáveis ou até piores do que o Apartheid sul-africano) implantados logo após a guerra de secessão e o fim da escravidão. O mesmo se pode dizer do contexto do pós-apartheid. Só no Brasil é que ela nasce sem esse processo de reparação de feridas étnicas - até porque, inclusive não sem um quinhão de razão, nunca foi reconhecida a existência de uma <i>etnia</i> negra no Brasil, um povo separado, com cultura e tradições separadas. Assim, é graças justamente a ativistas de inspiração americana, que denunciam a propaganda da falta de racismo, que se começa a fazer, alguns anos depois do fim da ditadura militar, o reconhecimento oficial do racismo - e o sistema de ação afirmativa, ainda imperfeito.<br />
<br />
Então, com esse atraso todo na ação afirmativa, com essa dominação branca sequer reconhecida, o Brasil pode ser considerado particularmente racista, ou mesmo, como tem gente que afirma, invertendo a inexistência do racismo, o mais racista do mundo? Bem, não exatamente. E sim, dá pra quantificar o racismo. Não perfeitamente - digamos que dê pra ver a sombra na parede da caverna. Já é mais que nada. O último gráfico deste primeiro post, assim, olha pra duas dimensões do racismo; vamos chamá-las de vertical e horizontal. Racismo horizontal é o quanto as pessoas se misturam ou não. Aqui pegamos a segregação residencial, mas ela serve razoavelmente como indicador pra outras segregações que, como essa, se baseiem em negros e brancos (ou quaisquer outros grupos) sendo grupos diferentes, separados. E vertical seria o quanto existem diferenças de renda, que aqui serve como indicador imperfeito de status em geral, entre os grupos.<br />
<br />
<br />
<iframe frameborder="0" height="1002" scrolling="no" seamless="" src="https://docs.google.com/spreadsheets/d/1yrh-WMoFdLrkA2Q4RmMa3wIkZ2uRmgoFCH8CtuSXGZE/pubchart?oid=1541139613&format=interactive" width="1620"></iframe>
Como dá pra ver, a diferença salarial entre negros e brancos no Brasil é muito maior do que nos EUA; em compensação, a segregação racial é muito menor. Em outras palavras, o brasileiro negro tem mais chance de ter um vizinho branco, mas menos chance de ser chefe de um branco. Na África do Sul, medo. Só que - ok, este é um post de como gráficos podem ter várias interpretações e dados não são "fatos" autoevidentes tanto quanto sobre racismo - essa diferença não foi "calibrada" pela alta propensão da sociedade brasileira à diferença salarial, de modo geral. Vejamos a diferença entre salários de juízes e guardas de trânsito, duas funções estatais, e dentro mais ou menos da mesma função do Estado, determinados em bloco, ou seja teoricamente sem a influência do racismo:<br />
<br />
<iframe frameborder="0" height="371" scrolling="no" seamless="" src="https://docs.google.com/spreadsheets/d/1asGmYLt9aQUwtRuhmfPWAgm8icc3Vwsod2n5Xx9usYc/pubchart?oid=681104553&format=interactive" width="600"></iframe>
Feita essa correção, ainda dá pra falar em racismo vertical mais intenso no Brasil que nos EUA? Como nem eu nem ninguém fez essa conta, que seria bastante complexa de fazer (deflacionar pelo índice de gini, comparar com outras diferenças de renda por grupo social, são várias opções possíveis) vamos ter que voltar pro achismo: eu diria que sim, de olhada, simplesmente porque a diferença é muito grande para atribuir apenas à propensão de diferença, e porque a diferença entre a renda de um homem negro e de uma mulher branca é maior. Mas inda precisa cavoucar mais. Quando conseguir, faço o segundo post. </div>
</div>
thuinhttp://www.blogger.com/profile/07840941978767284719noreply@blogger.com0