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31.5.06

Dúvida cruel

Apresento este estudo do Banco Mundial no papel de lambreta, como se o Bird e a ONU estivessem só repetindo o que eu disse há um tempo atrás neste blog, ou no de anarquista medieval, como um exemplo confesso de hipocrisia perigosa, já que sacraliza o direito que o dólar, não o indivíduo, tem a um certo nível de poluição - e, portanto, a superioridade dos com-dólares em termos de direitos ao patrimônio comum da humanidade (a capacidade planetária de absorção de impactos ambientais).

30.5.06

Cantando o hino

A notícia só me lembrou daquela música que cantávamos quando crianças, "Japonêees tem quatro fiiilhos!" O interessante é que quando comecei a ler, naquele otimismo moderno que situa no passado o "reacionarismo," juro que achei que o hino fosse um resquício. A produção mundial de resquícios tá em alta...



Japanese who object to being forced to sing their country's national anthem have a secret weapon: the English language. Kiss Me, an English parody of the Kimigayo, has spread through the internet and was sung by teachers and pupils at recent school entrance and graduation ceremonies, local media reported yesterday.

The song, whose composer remains a mystery, takes the syllables of each word of the Japanese original and turns them into phonetically similar English words, allowing non-conformist singers to escape detection. For example, "Kimigayo wa" becomes "Kiss me girl, your old one".

Leftwing teachers unions regard Kimigayo, which is based on an ancient poem wishing the emperor a "thousand years of happy reign", as a symbol of Japan's militarist past. The controversial anthem was not legally recognised until 1999, and in 2003 the Tokyo metropolitan government, led by the rightwing governor Shintaro Ishihara, ordered teachers to stand and sing it at school ceremonies. Hundreds of teachers have been punished for refusing to follow the order.

The English lyrics have a serious political twist: they apparently refer to the tens of thousands of Asian "comfort women" who were forced to work in Japanese military brothels during the second world war.



Japoneses forçados a cantar o hino nacional, o Kimigayo, têm uma arma secreta: a paródia em inglês "Kiss Me," que usa palavras inglesas cuja pronúncia (pelos japoneses) se assemelha à das sílabas originais. "Kimigayo wa" vira "Kiss me, you old one," num expediente que permite aos não-conformistas escapar da detecção.

A paródia se espalhou pela Internet e pelas salas de aulas, e é uma reação à imposição da prefeitura de Tóqui, desde 2003, de que o hino, considerado um símbolo do passado imperialista por professores de esquerda, seja cantado em cerimônias escolares. Centenas de professores já foram punidos por se recusar a cumprir a ordem. "Kiss me," além da gozação, tem um lado político sério: a letra aparentemente se refere aos bordéis militares japoneses da II Guerra, onde trabalhavam escravas de diversos países asiáticos.

23.5.06

Da janela vê-se o redentooor

Um pouco como a situação das penitenciárias paulistas, onde presos têm negados direitos humanos básicos e permitidos privilégios inaceitáveis, sem que isso seja contraditório:

A prefeitura do Rio de Janeiro tenta engessar bairros inteiros através do tombamento, incluindo o seu "ambiente cultural" - como se isso fosse possível, e no mais das vezes tentando engessar um "ambiente cultural" que nem está mais lá, que era da década de 60, 50, 40. O efeito do processo, que faz com que quase 5% das construções na área central (ZS, Grande Tijuca e Centro amplo) sejam tombadas, é só criar uma camada adicional de burocracia e dificultar a mudança orgânica da cidade. Enquanto isso, em áreas que são realmente merecedoras do tombamento que ostentam, a prefeitura intervém sem medo de ser feliz, e sem nenhuma consideração para com o entorno. Até o final do governo César Maia, lá pelo ano de 2048, acho que não vai ter sobrado uma única árvore com mais de 2 anos de idade nos parques cariocas. Isso é, nos que ainda forem parques, não estacionamentos ou shopping centers.

Primeiro foi o Passeio Público, agora é o Aterro do Flamengo. Quando estive em Brasília, das coisas que mais me chocaram foi como a cidade é privatizada, em especial a orla do lago Paranoá, que é quase toda dividida entre clubes e casas particulares; um contraste com a orla pública (feitas todas as ressalvas de praxe) do mar carioca. Lá, os espaços públicos são conseguidos meio que nas frestas do planejamento, à revelia do "público" estatal, como é o caso do Eixo Monumental, cujo gramado, bem, monumental virou campo de futebol. Dá pra imaginar, exagerando um pouco que até o dito ano de 2048 a orla marítima vai ser de shopping centers.

22.5.06

Governo financia máfia

Há um tempo atrás, mencionei a possibilidade de se cortar o consumo brasileiro de diesel e a poluição urbana (atmosférica e sonora) através do financiamento de ônibus diesel-elétricos, em substituição aos diesel-mecânicos usados atualmente. Pois bem, o governo vai instituir o moderbus, que ao invés disso financia qualquer ônibus, inclusive a aquisição no mercado secundário, que é a maior fonte de renda da máfia que são as empresas de ônibus metropolitanas. Sem incentivos especiais pra transmissão elétrica.


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A premissa, quando alguém é contra os direitos humanos, é de que o Estado não se viraria contra ele mesmo. É o poeminha do pastor Niemöller. Direitos humanos não são uma questão de caridade cristã, de ser "bonzinho," mas de se pôr um freio no monstro-estado. Ao mesmo tempo, o estado que segue as regras é reforçado, porque a ação discricionária tem que ter uma intensidade muitas vezes maior pra atingir um efeito inferior ao da ação regular. Em outras palavras: quem é contra os direitos humanos porque quer se ver livre dos bandidos está dando um tiro no próprio pé. Além do pastor Niemöller, estão esquecendo do aforisma de lorde Acton, e do experimento de Stanford.

Claro que as ações da polícia paulista recentemente fazem supor que não seja apenas à sociedade que a polícia não se considere subordinada, mas também a seus comandantes. Nada fez supor que, se quisessem, Lembo, Castro e Furukawa poderiam parar o massacre. E agora, o que se faz? Chama o bandido? Pelo menos o PCC tem comando...

17.5.06

Ainda não é o apocalipse II

A violência nas ruas e nas cadeias é algo infinitamente pior do que a possível diminuição no lucro da indústria paulista, mas de novo não é o fim do mundo. A violência brasileira é uma catástrofe cotidiana: são mais de 30.000 mortos todos os anos, dos quais pelo menos 4.000 são mortos pelo Estado. E rebeliões em presídios em SP (norte do Paraná e leste do MS fazem parte de SP, pô) são frequentes há pelo menos duas décadas. Lembro de quando eu era criança e lia Cric e Chiclete com Banana, e volta e meia tinha alguma referência às rebeliões. A histeria dos últimos dias foi parcialmente justificada pelo negócio ter finalmente atingido o Brasil asfáltico, mas teve muito a ver com o fato de a mídia estar trabalhando em clima de histeria pelo menos desde o Roberto Jefferson. Passar um mesmo ônibus queimando de novo e de novo, sem tirar o "ao vivo" da imagem, é no mínimo irresponsável, e sinceramente imoral.

Agora olha que coisa: o PCC "está tocando o terror em SP" (com a conivência das autoridades, que bloquear celular é a coisa mais fácil do mundo). Matou 24. Enquanto isso, a "reação" policial, aplaudida pelos "homens de bem," caminha rapidamente rumo aos três dígitos.

Não adianta dizer que foi "confronto." Em confronto, morrem quantidades parecidas de gente dos dois lados. Com a desculpa do combate ao crime, pessoas ("suspeitos," mas a polícia não avisa quem, vai que se prova, como é o caso metade das vezes, que não eram suspeitos de nada, ou como é o caso em 2?3 das vezes, que não estavam armados) estão sendo assassinadas. Isso não é estado de direito, e é muito pior do que o PCC. Mesmo contando o medo que este causou, com muitas mãozinhas da imprensa que repetia os mesmos episódios sem avisar do fato, multiplicando a força do PCC na visão que apresentava. Pior porque o PCC, por pior que seja, é uma gangue criminosa. A polícia, teoricamente, age em nosso nome, com nosso dinheiro, a mando dos governadores que nós elegemos. E mata mais do que (diretamente) os americanos mataram no Afeganistão. Eu brincava que precisava, caso o Alckmin se elegesse e seguisse a recomendação da Veja de levar a democracia à Bolícia, de aprender a tradução correta de "no blood for gas," pra botar no cartaz. Mas precisa não. A guerra travada pelo governo brasileiro, em sua encarnação estadual, é a ocupação por uma polícia militarizada a partir do nome do próprio Brasil. O resultado dela não é segurança para a classe média que se sente mais segura a cada "bandido" morto, mas mais insegurança. Claro. A polícia que viola os direitos humanos não está sendo dura com bandidos, está desrespeitando a lei, e quem desrespeita uma porque o poder é dele, não da lei, pode aplicar a mesma escolha a outra. A ética dos heróis de filme de ação, que são implacáveis com os maus (têm detectores pra saber quem é o mau) mas escoteiros com os bons, é tão inverossímil quanto a física que lhes permite sobreviver a balas de canhão.

Em tempos: antes que venha a ladainha da "polícia corrupta e violenta," o buraco é mais em cima. Polícia é parcialmente corrupta e violenta em qualquer lugar do mundo. Por definição, ou vício de ofício, e assim como não creio que o bandido brasileiro seja uma besta-fera cuja eliminação física resolva o problema, não creio que a polícia brasileira tenha atraído pra si quadros piores do que em outros países. O problema não é esse, é que não temos polícia mesmo. Achamos que um exército de ocupação seria mais reconfortante. Deu no que deu - a reação ao exército de ocupação é a guerrilha.

13.5.06

Uma pirâmide grande e uma barriga maior ainda

Bateram o boimate do Elio Gaspari.


Semir (Sam) Osmanagic, a Houston-based Bosnian-American contractor first saw the hills he believes to be pyramids last spring. He is now digging the largest of them and plans to continue the work through November, promoting it as the largest archaeological project underway in Europe. (His call for volunteers even slipped into the Archaeological Institute of America's online listing of excavation opportunities briefly before being yanked.) He claims it is one of five pyramids in the area (along with what he calls the pyramids of the Moon, Earth, and Dragon, plus another that hasn't been named in any account I've seen). These, he says, resemble the 1,800-year-old pyramids at Teotihuacan, just north of Mexico City. Osmanagic maintains that the largest is bigger than the pyramid of Khufu at Giza, and that the Bosnian pyramids date to 12,000 B.C.

Construction of massive pyramids in Bosnia at that period is not believable. Curtis Runnels, a specialist in the prehistory of Greece and the Balkans at Boston University, notes that "Between 27,000 and 12,000 years ago, the Balkans were locked in the last Glacial maximum, a period of very cold and dry climate with glaciers in some of the mountain ranges. The only occupants were Upper Paleolithic hunters and gatherers who left behind open-air camp sites and traces of occupation in caves. These remains consist of simple stone tools, hearths, and remains of animals and plants that were consumed for food. These people did not have the tools or skills to engage in the construction of monumental architecture."

But time and again the media reports say that Osmanagic has spent 15 years studying the pyramids of Latin America. What is not included in the reports is how Osmanagic interprets those structures and the cultures that built them. Had anyone bothered to investigate, they would have found rather bizarre notions in Osmanagic's book The World of the Maya (Gorgias Press, Euphrates imprint, 2005; $29.95). I had a look at the online edition of it (accessible on Osmanagic's "Alternative History" website at www.alternativnahistorija.com).

A couple of brief passages will convey the gist of Osmanagic's beliefs:

Ordinary watchmakers repair our watches and put them into accordance with Earthly time. It is my theory that the Maya should be considered watchmakers of the cosmos whose mission it is to adjust the Earthly frequency and bring it into accordance with the vibrations of our Sun. Once the Earth begins to vibrate in harmony with the Sun, information will be able to travel in both directions without limitation. And then we will be able to understand why all ancient peoples worshipped the Sun and dedicated their rituals to this. The Sun is the source of all life on this planet and the source of all information and knowledge. ...And with a frequency in harmony, the Earth will, via the Sun, be connected with the center of our Galaxy. These facts become exceptionally important when we realize that we are rapidly approaching December 2012, a date which the Maya have marked as the time of arrival of the Galactic Energy Cluster which will enlighten us.

12.5.06

Perguntar não ofende

1 - Quem fez o EIA-RIMA da EBX? O Eike Batista, expulso da Bolívia, diz que a siderúrgica dele vai afetar uma área, em Corumbá, de 33.600ha "fora da planície pantaneira." Até agora não consegui achar essa área no mapa...

2 - Quer dizer que os EUA "protegendo seus interesses" na porrada é errado, mas a gente podemos de ser imperialísticos?

3 - Aliás, por que o Estado brasileiro proteger os interesses da Petrobrás no Brasil é errado, mas na Bolívia é certo?

4 - O Chávez vai ajudar a Bolívia no mesmo dia em que a PDVSA Marina vai fazer a encomenda de navios ao Brasil, a Citgo cobrar preços venezuelanos aos americanos que tiverem food coupons, e os países centroamericanos receber a carne argentina bancada pela Venezuela?

5 - O povo que chorou pela pesquisa científica perdida quando as sem-terra vandalizaram um laboratório da Aracruz Celulose, o que acha de a CEB ter interrompido as negociações com a UnB e cortado a luz da universidade, pondo a perigo mais de 30 anos de pesquisas em diversas áreas do conhecimento?

6 - O gás boliviano é inarguivelmente deles e ninguém tasca, certo. Mas e o gás hagiocrucenho? E se a província quiser dar o mesmo dedo pra Bolívia que esta deu pras múltis?

7 - Por que a Folha tem a mania de apresentar como suas as reportagens dos outros? Não tô nem falando de reproduzir informações de outros meios de comunicação sem atribuição, tô falando de pôr "folha" como entrevistador em entrevista dada aO Monde, ou dizer que "o repórter da folha" (digo, dO Globo) averiguou tal coisa?

7.5.06

And behold, I saw a pale horse...

O apocalipse, no Brasil, parece iminente. A culpa é do Lula, claro, porque...bem, não sei, mas que é, é.

Afinal, em lugar nenhum do mundo o fornecimento de energia está sujeito a alterações de preços e condições. Vide o álcool e o petróleo no Brasil, que não mudam de preço nem disponibilidade há séculos. E a Petrobras não tem nenhuma condição de absorver um prejuízo de um bilhão, vide como ela quebrou, quando o faturamento era mais de metade do atual, quando o prejuízo equivalente da P36 ocorreu.

Além disso, graves denúncias de corrupção - todas provadas pela palavra de quem se reconhece desonesto, quer prova maior - afetam o executivo (só ele). Nunca isso aconteceu antes, e que aconteça agora ameaça a estabilidade nacional.

Fazendo meu mea culpa, tenho que admitir que às vezes falo como se a eleição do Alckmin fosse um apocalipse também. Não é. As universidades públicas provavelmente sobreviverão à privatização, como sobreviveram ao corte orçamentário de 85% sob o FH, e a reforma agrária, sem ministério, não deve correr muito pior do que agora.

Então, se você acha que o Brasil, ou o mundo, está à beira do abismo, relaxe. Já demos o passo resoluto para a frente há muito tempo.

3.5.06

Horário eleitoral

Chuchu à Doré: Vem cá, pelo menos aqui na Ilha da Fantasia, o Alckmin apareceu 15 vezes no horário mais nobre da TV nacional, o intervalo da novela das oito-jornal nacional. Isso em 30 de abril. Que caixa é esse, o dois, o três, ou o vinte e cinco?



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Lula em molho de sépia: Auto-suficiência de quem, cara-pálida? O Brasil zerou a conta-petróleo, o que é muito bom (significa bilhões de dólares de economia, com reflexos até no risco-brasil e na Selic), mas não tem nada a ver com auto-suficiência. Esta seria dizer que, acabando-se o mundo, o Brasil anda sozinho, o que não é o caso. Pelo contrário, a zerada na conta foi feita aumentando as exportações (porque as refinarias não dão conta do óleo de Campos), o que significa o dobro, por exemplo, do tráfego de petroleiros. Auto-suficiência era se os petroleiros de longo curso da Petrobrax estivessem se aposentando.


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Não é horário eleitoral, mas pqp, vai querer ser americano assim no inferno, com essa estória de "endurecer" com a Bolívia.

Prometo fazer greve de fome, e voltar a postar assim que voltar pro Balneário decadente.