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28.2.05

O Franco e a manteiga francesa

Há pouco tempo, antes do Lula fornecer a eles a magnífica (se perigosa) munição da gafe do BNDES (requentada, mas tudo bem), o PSDB andava tonto, sem saber do que reclamar. O Gustavo Franco inventou uma conta pela qual o populismo cambial dele, que reeelegeu o FH e quebrou o país, estaria de volta. E você poderia argumentar que isso não era verdade porque se fosse as exportações de tudo não estariam ao dobro do nível de 97, que falar em preço unicamente em dólar quando o dólar caiu 40% é falácia, etc...mas eu encontrei o melhor argumento fazendo as compras no supermercado.

A manteiga francesa président, que no auge do populismo cambial eu comprava (ela ou a dinamarquesa lurpak) porque era mais barata que as nacionais, estava 8R$. A itambé, 3R$.

O segredo da manteiga barata? Juros a 38%.

24.2.05

Os milicos vão amar

Afinal, eles não vinham passando aqueles spams-correntes alertando pra isso há anos? Pois bem,


A Amazônia e as outras florestas tropicais do planeta deveriam ser considerados "bens públicos mundiais" e submetidas à gestão coletiva - ou seja, gestão da comunidade internacional. Quem defende essa "grande questão controversa", como ele mesmo reconhece, é Pascal Lamy, ex-comissário de comércio da União Européia (UE) e candidato a diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), uma entidade-chave hoje na governança global.



A minha pergunta é uma só - e Paris, professor? Não é "bem público mundial"? Ah sim, e - a OMC já decidiu que vai substituir a ONU mesmo?

23.2.05

Falácias que dão certo

Alckmin reclamou da contradição entre o BNDES financiar o metrô de Caracas e não o de São Paulo. A reclamação é uma falácia - o BNDES é banco, e não empreiteira, então a natureza física das obras é irrelevante pra ele. E financeiramente, Caracas é incentivo à exportação, enquanto SP é financiamento a estado brasileiro. A falácia deu certo - a União vai soltar dinheiro antecipado para São Paulo fazer o Rodoanel. Aquele, que como boa mega-obra não teve discussão com a sociedade o bastante nos planos.

Aqui vai uma discussão (de 2001) sobre se ele devia ser feito em túnel ou em ponte :

Rodoanel, Túnel ou Ponte?

Números III

...os EUA têm 77% de suas matrículas em ensino superior em instituições públicas. Nos países europeus, o percentual de matrículas em instituições públicas é, em geral, superior a 90%.

No Brasil, desde os anos 70, a maior parte das matrículas no ensino superior está em instituições privadas. Em 2003, 70% dos quase 4 milhões de estudantes universitários estavam matriculados nessas instituições.
...


O Estado brasileiro investe aproximadamente (os dados oficiais disponíveis são muito desatualizados) 4,3% do PIB em educação. Destes, 3,4% -ou seja, 79% do investimento público em educação- são destinados ao ensino básico (infantil, fundamental e médio) e o restante 0,9% -ou seja, 21% do investimento total- é investido em educação superior, excluindo-se despesas ‘não-educacionais’, como previdência.

Nos países da OECD, o investimento em educação é, na média, 5,3% do PIB, dos quais 1,3% é destinado à educação superior, ou seja, 25% do total investido.

Patrimônio vs. Sem-Terra

É uma bela dança. O governo não só não dá dinheiro para a preservação do patrimônio - importante se um dia quisermos ter um turismo além do sexual, ou uma economia além da exportação de salários baixos - como quer assentar sem-terra no meio de um parque nacional. Com direito a acabar com uma das últimas áreas de caatinga remanescentes, detonar vestígios pré-históricos, e, agora, mentir. Que quando o Wellington diz que aquele povo estava lá há vinte anos, contradiz o que os próprios sem-terra, num maoísmo de fazer inveja a Pol Pot, declararam há pouco tempo, sobre a importância de se acabar com algo elitista como um museu estar entre os motivos do assentamento.

Império da Lei

Enquanto isso, no Rio, mais uma vez César Maia faz a prefeitura descumprir a lei. O que é muito pior do que a corrupção propriamente dita, ou do que o crime privado, porque é uma negação, um ataque frontal à própria noção de lei e ordem. Teoricamente, para um conservador civilizado, o império da lei está acima de tudo. César Maia prova que o significado dele de conservador é "retrógrado" mesmo, ao subverter a lei desse jeito.

Lapso

Elio Gaspari reclama de Lula associar os bandidos (conservadores) que são os fazendeiros e grileiros da Terra do Meio aos conservadores. Até aí tudo bem, mesmo que, pessoalmente, eu ache mais estranho a imprensa, que pulou em cima de uma alegação de que um petista estaria envolvido, não destacar as filiações partidárias dos mesmos.

O divertido é que, refutando a alegação de que conservadores são bandidos, ele calhou de citar três que foram bandidos. Reagan e Kohl estiveram envolvidos em inúmeras maracutaias, incluindo, no caso de Reagan, alta traição, e no caso de Kohl desvios de verbas bilionários. Churchill foi criminoso de guerra reincidente, tacando gás dos nervos nos curdos muito antes de Saddam Hussein, matando prisioneiros...fora atos mais discutíveis, como a incineração de Dresden. Sem contar as falhas de caráter não-criminosas dos três.

Tudo bem, é a mais pura verdade, conservador não é sinônimo de bandido. Em alguns casos, porém, os "conservadores" querem conservar uma ordem social injusta e assassina. Mesmo que sua moralidade pessoal seja impoluta. Um conservador decente não se associa a esses só porque dividem o mesmo nome, do mesmo jeito que um socialista decente não morre de amores por Stálin.

20.2.05

Vida Severina

Diálogo entre o atual presidente da câmara e um seu predecessor :
O Deputado Inocêncio Oliveira (PFL/PE) levou o plenário à loucura quando subitamente começou a esbravejar contra a aprovação do que chamava de “casamento gay”, declarando: “Este projeto é uma pouca-vergonha, um desrespeito à Casa, é uma aberração contra a natureza!” gritava, embalado pelos aplausos e urros dos deputados que ocupavam quase todo o plenário. Enquanto isto, o Deputado Severino Cavalcanti (PPB/PE), o mais ardoroso opositor à proposta, elogiava o Presidente do PFL: “Inocêncio, você é a glorificação do homem de bem e meu candidato ao Senado!”


O que não bate é a identificação das atitudes dos Severinos da vida com a religião. Ora, a religião cristã prega muita coisa anti-Severina. Exemplo :

Repercutiu em todo o Nordeste - e de certo em todo o país- as acusações de que um senador da República, um ex-deputado desta Casa, João Ribeiro (PFL-TO) - que vem se destacando com um trabalho sério em benefício do seu Estado e do povo de sua região - estaria mantendo “trabalhadores escravos” em uma fazenda no Norte do país. Quem lia ou ouvia os textos das reportagens veiculadas por toda a mídia, no entanto, se surpreendia com alguns detalhes dos chamados “escravos”: não havia banheiros, tomavam água de um rio da bacia amazônica, estavam há 15 dias em um serviço de roçagem de pasto de uma fazenda de 160 alqueires ( que em nosso país é considerada pequena), não contavam com carteira assinada e nem tinham cama para dormir.

Ora, Senhoras e Senhores Deputados, vamos parar de hipocrisia, de fingir que somos a França, os Estados Unidos ou a Alemanha e que podemos copiar as suas avançadas legislações trabalhistas.

...

Não vamos resolver os problemas do campo e do desemprego ameaçando produtores e fazendeiros com o confisco de terras no caso das muitas e controversas versões de “trabalho escravo”.
(do - site da câmra)

E quando eu digo que isso vai contra o catolicismo que, alegadamente, seria a origem das atitudes ultraconservadoras, não estou me referindo a uma leitura específica da bíblia (que, como todo mundo brinca, é comunista). Estou me referindo à própria Igreja Católica - boa parte das pessoas ameaçadas de morte por esse pessoal no sertão, ou simplesmente xingada em lugares mais civilizados, pertencem à hierarquia católica, dentro da qual existe a mesma clivagem que na sociedade "de fora." Ou melhor, a mesma clivagem, só um tanto mais radical. Apesar da influência conservadora do João Paulo II.

E existe até o exemplo, relativamente frequente, dos ultra-conservadores que prezam a religião por seus "valores morais," mesmo sendo ateus. E passam incontinenti a defender os tais "valores morais" - geralmente ligados ao preconceito - com base na religião, sem se incomodar com o raciocínio circular. A religião não está na origem dos preconceitos deles, é apenas um instrumento retórico. Doidices mais ligadas, na aparência, à religião, como o criacionismo, parecem ter sua origem no literalismo bíblico dos fundamentalistas. Et pourtant, o criacionismo não se apresenta como anticiência, mas como pseudociência. A distinção é importante : o criacionismo tenta se legitimar com um discurso que imita o discurso científico. Geralmente, a opinião dos que reparam nisso é que o discurso serve apenas como uma maneira sorrateira de introduzir o criacionismo nas escolas. Ora, numa sociedade democrática, eles podem, se conseguirem votos o bastante, simplesmente impor o ensino religioso. Ou mesmo prover sozinhos este.

O discurso pseudocientífico serve, na verdade, para legitimar o criacionismo - e portanto sua própria compreensão do mundo - aos olhos de quem vê com desconfiança a elite acadêmica. É uma forma de anular as marcações de status cultural, por gente que se vê ameaçada pela diferença, que se percebe impotente e frustrada pela falta de certezas no mundo. Ele é para consumo interno, não externo. E sua falta de coerência serve para justificar qualquer preconceito.

Encerrando com mais do nobre Severino Cavalcanti,



Severino Cavalcanti: Um dos maiores opositores de D. Hélder Câmara

Durante a ditadura, foi um dos maiores opositores do então arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, da ala progressista da Igreja Católica. Com mandato de deputado estadual, usava a tribuna para fazer críticas e para pregar o afastamento de Dom Hélder, a quem chamava na época de “bispo vermelho”. A informação é do jornal O Globo, 16-2-05.

Segundo o jornal, Severino foi mais longe e pediu a expulsão do padre italiano Vito Miracapillo. O sacerdote, que vivia no Brasil desde 1975, foi expulso porque, em setembro de 1980, recusou-se a celebrar uma missa pela Independência do Brasil, em Ribeirão (PE), alegando que não acreditava que o povo brasileiro fosse independente.

O padre foi denunciado por Severino ao ministro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel. Em 15 de outubro de 1980, o então presidente, o general João Baptista Figueiredo, assinou a expulsão, usando como fundamento legal o recém-aprovado Estatuto do Estrangeiro (a lei 6.815). Há cinco anos, em entrevista ao “Jornal do Commercio” (PE), Severino disse que não se arrependia de seu gesto: “Voltaria a fazer a mesma coisa porque ele estava desagregando a sociedade de Ribeirão. A prova disto é que eu tive a maior votação da história da cidade. O segundo deputado mais votado teve metade do que eu tive. Isto é uma consagração”.

Maiores detalhes da campanha barulhenta que o deputado Severino Cavalcanti promoveu para convencer o regime militar de João Figueiredo a expulsar o padre italiano Vito Miracapillo, que vivia no interior de Pernambuco, pode ser lida no jornal Valor, 16-2-05.

18.2.05

A derrota no congresso, by Genoíno

Eu me pergunto se ele se dá conta do que isso diz do povo com que está se aliando. Provavelmente sim.

Genoino: Uma Mesa forte, com muita credibilidade, não é bom para a alta burocracia da Câmara. Eu já sentia isso, mas, quando a campanha se acirrou, os funcionários manifestaram ojeriza e hostilidades a mim. Vi deputados falando "o Greenhalgh vai fazer limpeza na Casa, vai se aliar ao Ministério Público". Os deputados que estão sendo processados também temiam. Nesse cenário, veio também a crise dos partidos aliados.

E aqui, aponta para algo certíssimo, mas que não diz com todas as letras - o sistema político do Brasil, da "constituição cidadã," é ingovernável. FH conseguiu fazer o que queria porque tinha o "rolo compressor," porque era a velha estória de uma elite nacional andando unida, que a rigor nem precisa de sistema político pra funcionar.

Genoino: O mais profundo, que é algo que precisamos resolver na reforma política, é essa visão de que o mandato parlamentar virou uma instituição, em detrimento dos partidos. O sistema político-eleitoral no Brasil bateu no teto. Esgotou-se. Essa pulverização expressa nas mesas diretoras do Legislativo aconteceu em vários lugares. O fato mais grave foi aqui, mas ocorreu em São Paulo, Salvador, Goiânia.

O Globo de hoje, seção Rio

É despeito pela seção de Brasília ter o Severino, ou inveja da Míriam Leitão? Porque entre notícias de absurdos e noticiário absurdo, tá foda.

1- A Biblioteca Nacional, do querido ladrão de mapas Pedro Corrêa do Lago, pretende tacar os periódicos num galpão do Porto. Com janelas quebradas e o escambau (O Globo, claro, não mandou ninguém conferir o prédio, mas deve ser isso mesmo.)

2- César Maia, de novo, põe a culpa das mazelas do Rio no Grande Rio. A falácia dele à parte, o Globo noticia como "Rio não vai abrigar mendigos de outras cidades."

3- Nem mandar o lixo pra outras cidades, né? César mandou o lixo deixar de ir pra Caxias e virar em Bangu, por conta de uma picuinha. Agora se sabe que a porra do lixão de Bangu (desculpas, "Gericinó") já tá cheio.

4- "PM mata quatro que sequestraram ônibus na Dutra." Assim, normal.

Ah sim, pra não ficar no Rio, no Ancelmo Gois o Serra dá uma de Jânio Quadros.

17.2.05

O PT no Rio

Edson Santos - defendeu a comunidade de invasores de classe média que rouba terras do Jardim Botânico.

Gilberto Palmares - defende o direito ao estacionamento grátis em shopping centers, essencial para o povo sofrido do Estado do Rio.

16.2.05

Imperador do Sertão

Foi eleito Severino Cavalcanti. Às declarações de que o resultado prova a incompetência (ou fraqueza) política do governo Lula, que são acertadas em certa medida, somam-se declarações apocalípticas, de que ele representa a desmoralização final do congresso. Heim? O mesmo que já foi presidido pelo Inocêncio de Oliveira? Já passaram no Senado, pra ver quem foi eleito agora presidente de lá? A diferença é que, dessa vez, o estrupício da câmara não é apoiado pelo Executivo.

A votação, aliás, é mais um excelente argumento contra esse estrupício de voto secreto. Voto secreto é para o eleitor não ser coagido, não para o eleito escapar à coação daquele. Se não houvesse votos secretos, quem sabe nós pagássemos menos para manter os deputados.

3.2.05

Índice de sustentabilidade ambiental

Construído a partir de 76 variáveis fazendo 21 fatores divididos em 5 categorias de peso igual.

O Mercosul está entre os menos piores (ninguém está bem, quando a maior nota é 75), e, junto com o resto da América do Sul e alguns países africanos, na classificação 5-rosinha. "High systems, moderate everything else." É interessante como essas categorias, com a exceção parcial da laranjinha, se ajustam razoavelmente a categorias geopolíticas, e, mais especificamente, a formas de desenvolvimento econômico. Também é inusitado que o Mercosul, fora estar muito bem nos "estoques," não esteja tão mal nos "fluxos."

Os Lessas e outros "esquerdistas Geisel," aparentemente, querem levar o Brasil para a categoria da Rússia e companhia.

Estudo da CIA

Tem quatro cenários para o mundo de 2020, dos quais apenas um -"Mundo de Davos," em que a globalização dá certo e as potências emergentes emergem, foi noticiado. Os outros cenários são "Pax Americana," em que os EUA cimentam sua "liderança," "Um Novo Califado," em que o Islã seria um novo comunismo, e "Ciclo de Medo," que parece um projeto do Bush, com a paranóia ligada no volume máximo.

Nada de muito novo, e lembrando sempre da piada - "O atentado ao presidente Sukarno tem todas as marcas de uma ação da CIA. Todo mundo na sala morreu, menos Sukarno, que escapou ileso."

Números II

Investimento estatal em educação para a classe média e alta no Brasil : R$2.5bn (deduções do imposto de renda).
Dedução do imposto de renda auferida pela família Bush quando Dubya foi estudar em Andover : 0US$.
Gasto pelo MEC em universidades (que não são só "educação terciária") federais em 2003 : R$0.89bn
Previsão para 2005 : 1.7bn
Percentagem do ICMS paulista destinada às universidades : 9.57% (em 2004, algo como 1.5bn)
Queda no gasto federal com universidades no Brasil, desde 1994 : 81%

Roberto DaMatta

Quem leu a entrevista no Globo, na qual a "sociedade relacional" foi substituída por "é por isso que esse país não vai pra frente," e se descobria que todas as pesquisas sobre cultura de praia, funk e o caramba no Brasil dos últimos 20 anos, foram sonho meu, talvez não esperasse da coluna muito mais do que uma versão inferior da coluna do FH.

Pra não deixar ninguém esperando, Damatta se elogia - "
Fui um dos primeiros a remar contra a corrente, quando levei intelectual e politicamente a sério aquilo que a sabedoria popular e os interesses estabelecidos mandavam deixar de lado" - e, pelo menos pelo que está escrito na coluna, ignora não só que o carnaval de 2005 não é o mesmo que o de 1979, mas tudo o que foi escrito sobre carnaval (como rito, como política, ao longo da história, Brasil afora...) no último quarto de século.

Aproveitando...


A Assembléia Legislativa do Rio aprovou ontem uma emenda da deputada Jurema Batista que inclui no currículo das escolas estaduais o ensino da história e da cultura afro-brasileira.


Podiam aproveitar e ensinar o que é "pleonasmo."