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30.9.06

Só pra confirmar

Volta e meia, um representante de entidades empresariais ou político de "não-direita" (PSDB-PFL-ETC, incluindo o Palófi) fala de como foi um erro deixar em ponto morto a ALCA, que deveríamos abandonar essas idéias esquerdistas de diplomacia Sul-Sul e nos espelhar no exemplo mexicano, da experiência bem sucedida deles com o NAFTA.

Só pra esclarecer, o exemplo é esse aqui?

(Original aqui)


El tratado de libre comercio entre Estados Unidos, México y Canadá ha tenido un "impacto adverso" en la distribución del ingreso, la riqueza y el poder político, según un estudio difundido ayer.

El acuerdo conocido como TLCan o Nafta, entró en vigencia en 1994 con la promesa de generar buenos empleos y rápido crecimiento para sus socios.

Pero en el estudio, tres economistas independientes de México, Estados Unidos y Canadá dicen que ha promovido más bien una economía integrada "con reglas impuestas por y para el beneficio de la elite política y económica".

El estudio, difundido por el Instituto de Política Económica (EPI), un grupo independiente de investigación de tendencias económicas en Washington, detalla los efectos del tratado en las economías, los trabajadores y mercados laborales de las tres naciones y propone abrir debate sobre su propio futuro.

"Las reglas del Nafta protegen los intereses de los grandes grupos de inversionistas y socavan los derechos de los trabajadores", afirma Jeff Faux, economista de EPI en la introducción de la investigación.

Carlos Salas, profesor de El Colegio de Tlaxcala, a cargo del capítulo de México en el estudio de EPI, sostiene que el Nafta ha convertido "el empleo en más precario y ha reducido los salarios" en ese país.

"Los ingresos corporativos han crecido mientras la desigualdad en la distribución del ingreso se ha mantenido volátil", agrega Salas, quien sostiene que, de las nuevas plazas asalariadas en México entre el segundo trimestre del 2000 y el segundo trimestre del 2004, sólo el 37% tiene beneficios totales y el 23% no tiene beneficio alguno.

El Nafta ha incrementado el empleo en la industria maquiladora mexicana donde los salarios son bajos y los beneficios "fluyen mayormente a las grandes compañías, el sector financiero y a un pequeño estrato de trabajadores administrativos y profesionales que ganan altos salarios", afirma Salas.

27.9.06

Venessuela es acá

O Estadão fala da gonorância (de pretos, pobres e paraíbas, evidentemente) que astravanca o progréssio.

O Marco Aurélio de Mello, presidente do TSE, escancara sua atividade eleitoral ao reclamar da PF não ter achado os grampos que ele alegava existirem. Praticamente acusando na cara dura, e sem evidência, outro poder de fraude.

FH diz que Lula é o demônio. Divertido deve ser ouvir o que dizem agora os tucanos que riam do Chávez fazendo o mesmo com o Bush.

E uma prisão preventiva nula de direito foi decretada para os envolvidos na compra do dossiê contra o Serra.

Não sei vocês, mas eu pelo menos não vou me surpreender nem um pouco se amanhã descobrir que o Skaf é o novo presidente do Brasil, e a Condi apóia esse movimento democrático.

25.9.06

Dragões brasileiros

Não, não aqueles pobres coitados de calça branca que acompanham o desfile da independência. Esses são de verdade - os pterodátilos do Ceará, que formam provavelmente a maior coleção mundial do bicho (que não é um dinossauro, apesar de ser velho e meio lagarto). E digo coleção porque eles agora ganharam um "geoparque" pra eles, no Araripe.

Pronto, agora você não pode mais dizer que não tem nada pra fazer no Ceará.

Em geral, aliás, Brasil e Argentina são a nova fronteira da paleontologia. Ainda tem muita coisa a explorar por aqui, ao contrário das camadas da Europa, norte da África e América do Norte que, fuçadas e esquadrinhadas desde o começo do século XIX, nos deram quase todos os dinossauros e criaturas pré-históricas "clássicas" como o T-Rex e o Brontosauro (gringos), o arqueoptérix (alemão), ou o iguanodonte (inglês).

23.9.06

A questão de Tanger

Tá, de Teerã. Tudo a mesma coisa. As Grandes Pot- digo, a comunidade internacional debate o que fazer com o ato de rebeldia do Irã, que busca... bem, não se sabe ao certo. Não há evidências sólidas de que procure armas atômicas, mas a questão é que a diferença estabelecida no tratado de não-proliferação é fundamentalmente falha. Uma máquina de enriquecimento para fins pacíficos eficiente é a mesma que pode criar uma bomba atômica. A rigor, a única tecnologia diferente (e portanto fundamentalmente fiscalizável) é a da criação de bombas termonucleares.

A BBC resolveu averiguar as opiniões das pessoas mundo afora sobre a questão. O resultado, pra mim, é um tanto curioso. Isso porque as pessoas no Brasil, Canadá e Coréia do Sul, por exemplo, acham que a ONU devia impedir os países de enriquecer combustível nuclear. E todos esses países praticam o enriquecimento de urânio - alguns fizeram disso até bandeira.

Fora isso, a maior curiosidade das respostas é que elas evidenciam muito obviamente a polarização das opiniões sobre o Irã no Iraque.

22.9.06

Assumindo II

Pro senado, vou votar no Jandirão. Porque falta macho naquela budega. Desculpas. A sério, Jandirão não compartilha de 100% das minhas opiniões. Mas a porcentagem é alta o bastante pra ter minha simpatia. É a favor da descriminalização do aborto, da legalização do casamento gay, e de submeter as Magnitogorsks do BNDES às decisões locais. E do outro lado tem o Dornelles, que era certamente em quem uma ONG anti-corrupção italiana tava pensando quando disse que existia uma relação direta entre consumo de cimento e corrupção.

Pro governo do estado, vou anular. Não tem nenhuma figura minimamente razoável no meio. Sérgio Cabral é um ACM, uma pessoa pra quem violência e corrupção são a política. O Bispo Crivella é bispo da Universal, o que já é uma longa explicação em si. Denisse Frossard é nazi (se for pro segundo turno, sou capaz de votar, refreando a ânsia de vômito, no Cabral contra ela). Volodya Coqueiro é o líder estudantil mais velho do mundo. Etc.

Pra deputado federal, tô na dúvida. Acho que, cada vez mais, fico pensando que no sistema político brasileiro o correto seria votar no partido do presidente em que se vota, não num deputado. Mas o Álvaro Motta promete criar parques nacionais. E o LE Soares, apesar de estar na bosta indizível que é o PPS, é uma figura que eu respeito.

Pra deputado estadual, vou votar no Minc. Ao contrário do Gabeira, em quem votei na última eleição pra federal, ele não me decepcionou. E a pauta dele de reinvindicações é bem parecida com a minha. Fora isso, gosto daquela estrelinha do mar.

19.9.06

Assumindo I

Bueno, assumindo e decidindo os votos, de cima pra baixo.

Vou votar pela reeleição do Lula. Tenho inúmeras ressalvas a fazer ao dito-cujo. Acho a arrogância dele insuportável, tenho certeza de que ele sabia do caixa 2, ou pelo menos dizia "façam e não me contem." Acho a aliança com Jader Barbalho e Newtão vergonhosa. Queria que os processos de privatização fossem revistos, não porque sou contra concessões e privatizações em geral, mas porque eles foram das coisas mais danosas que já se fez contra o Brasil, sendo inclusive parcialmente culpados pelos tais dos juros altos. Se visse o Roberto Rodrigues, o Márcio Fortes, o Humberto Costa e a Bené numa sala, não ia pensar que era ministério, mas um aparelho do narcotráfico. Mas Lula é dos males o menor, comparando com os outros candidatos. Além disso, "nunca antef na hiftória defte paíf," como ele diria,

-Houve crescimento da renda per capita com ou diminuição no índice de Gini (desigualdade) ou diminuição da dívida externa. Quanto mais os dois.

- Houve um aumento de 100% num único mandato presidencial do orçamento de investimento e custeio do MEC. Bem, minto. Houve, no mandato de quinze anos do Getúlio. No do FH, diminuição de 85%.

- Houve uma diminuição sistemática do desmatamento na Amazônia.

- A polícia federal investigou o partido do governo. Mais de uma vez. O procurador-geral da república também deixou de ser engavetador-geral da república.

- O Brasil está, com os percalços óbvios, seguindo uma rota latitudinal na diplomacia. Eu gosto disso. O que a galera denuncia como "subserviência" aos ditames da poderosíssima Bolívia é exatamente o que eu queria ver.

Etc.

Last but not least - pode ser simbólico. Mas acho que é um símbolo que importa, sim. Tem um paraíba, um baiano sem anel de dotô, na presidência da república. E ele nomeou os primeiros ministros negros de 184 anos de história independente. (Pelé como ministro de uma pasta-fantasia não conta), e o primeiro ministro do STF negro.

E quando digo dos males o menor, tô falando muito sério. As duas cornas ressentidas ex-petistas são podres na prática, apesar do discurso de nariz empinado. HH tentou processar uma rival política por ser lésbica, e é um poço de hipocrisia de deixar o FH, que reclamava por mais LAcerdas, orgulhoso. Além de só estar à esquerda do Lula pra quem acha que esquerda é grito. Cristóvam paga de sério e de focado na educação, mas não fez porcaria nenhuma pela educação como ministro da mesma nem como governador do DF. Ele presidente, continuando a falar como se não fosse (como fazia quando era ministro) ia ser divertido.

Quanto a Alckmin, além de razões pessoais que me fazem votar em Lúcifer Satanás (se for o caso) contra ele, não consigo deixar de achar curioso essa porcaria desse discurso de "competência," de "gestão" pseudoempresarial do PSDB. Os liberais que votam neles devem ter que fazer alguma ginástica mental pra esquecer que o PSDB conseguiu fazer todas as cagadas de gestão possíveis e imagináveis, que sem contrapartida social econômica ou de qualquer outra coisa foram eles quem explodiu a dívida pública e a carga tributária. Além deles terem encampado legal o discurso fascista representado pelo secretário de segurança pública paulista. Imagina se eu vou querer um cara que manda a polícia matar 400 em três dias como ministro da justiça? E como ministro do meio ambiente, no lugar da Marina Silva vai ser o Graziano? No lugar do Manteiga-sem-sal, o Mendonça de Barros, que já disse que o crescimento da desigualdade é indissociável do crescimento econômico?

16.9.06

Reduce, reuse, recycle

Tá, eu tô ficando especialista em repetição. Dessa vez, tô repetindo as idéias que já foram pisadas neste e neste posts, mas eu tenho uma desculpa. É que a Unicamp e o WWF acabaram de publicar um estudo (otimista demais, na minha opinião) sobre políticas energéticas alternativas, que bate de frente com a opção fóssil-hidrelétrica da Empresa de Pesquisa eEnergética, órgão federal responsável por fazer o planejamento a longo prazo, pra ser usado pelo governo.

O interessante é a reação imediata e indignada a ele do presidente da EPE, que chamou de "utópica" e "ideológica" a idéia de aumentar a eficiência energética do país, além de atacar um boneco de palha ao fingir que o estudo da Unicamp previa uma expansão zero da oferta de energia. Ou seja, encampou-se, ideologicamente, no campo dos hidros (carbonetos e elétricos).

O que é engraçado, porque é uma bela demonstração de captura do regulador. Bem, no caso do planejador. Geralmente, quando alguém fala em captura, se pensa em algo próximo da prevaricação, no Hélio Costa agindo como lobista da Globo junto a si mesmo. Mas captura, a rigor, não é isso, é algo do gênero do Tolmasquin, ou de incontáveis banqueiros centrais - é quando o sujeito encarregado de manter um setor na linha encampa, honestamente, a ideologia daquele setor, e acredita sinceramente que os seus interesses equivalem aos da nação.

E só pra registrar - as hidrelétricas do Madeira ou do Xingu, ao mandar sua energia pro Sudeste ou Nordeste, teriam, com as melhores condições possíveis (cabos de corrente contínua ABB), mais de 30% de perda na transmissão. Isso é, sempre que ler sobre a geração delas, dê um desconto de 35% em termos práticos (e aumente proporcionalmente o preço por kW). Fora imaginar, além da obra da própria usina, os milhares de quilômetros de cabos e torres de transmissão gigantes. Que teriam que ser mantidos...

15.9.06

O que vale é a tendência

Seguindo a idéia do "Geraldo," registro aqui alguns contrastes entre a situação e a tendência ainda mais preocupantes do que o crescimento dele nas pesquisas eleitorais.


1 - O índice de dissimilaridade espacial por raça, que mede a segregação residencial, é muito menor no Brasil do que em outros países com grande população negra. Nas regiões metropolitanas brasileiras, varia entre 37 e 41, com a exceção de Salvador (48), enquanto nos EUA varia entre 71 (Detroit) e 96 (Milwaukee), e na África do Sul está em 98. Mas enquanto nesses dois países houve uma melhora significativa nas últimas décadas, no Brasil a tendência é de estabilidade.


2 - A participação de energias renováveis na geração de energia elétrica brasileira (81%) está bem acima da média mundial, em torno de 40%, e ainda mais acima da média da OCDE, 6%. Mas enquanto as outras melhoraram nos últimos anos, a brasileira era de 93% há uma década. O mesmo se dá com as posições e tendências em termos de intensidade energética (gasto de energia por $ de PIB).


3 - O Islã e o Cristianismo fundamentalistas e intransigentes sempre tiveram penetração relativamente pequena, mais pelo imenso peso da religião tradicional, folclórica e localista, que pela influência das seções esclarecidas. Hoje, ainda são minorias, mas já representam mais de 10% do cristianismo (e crescendo, na África principalmente, exponencialmente). Não se sabe exatamente a proporção entre os muçulmanos, porque dois dos três países que concentram a imensa maioria da população muçulmana (Indonésia e China, o outro é a Índia) não gostam da idéia de saber disso.

Correção - substituam aí em cima China por Paquistão. O quarto é Bangladesh, a China tem modestos entre 40 e 90 milhões de muçulmanos. Não sei por que a piração na batatinha. Desculpas, e brigado pro Francisco!

5.9.06

Dove II

Tá, eu sei, além de não ser nem um pouco original, é um resmungo meu que já foi postado antes. Mas fazer o quê? A propaganda de sabonete de aveia Davene fala "descubra porque as melhores coisas vêm do campo" ou coisa que o valha, mostrando umas beldades louras pagando de camponesas. O que é legal na propaganda, pra mim, é que ela explicita o que todas essas modelos brasileiras loiras só deixam implícito. Quero dizer, são talvez uns 10% da população brasileira, sendo generoso, que têm fenótipo norte-europeu, mas essa proporção tá ao contrário no mercado de modelos. Isso tem mais de identificação da europeidade com o bom do que com uma preferência estética completamente eletivo; além da oposição preto/loiro cotidiana, a propaganda da Davene deixa isso claro ao situar as modelos gaúchas num campo europeu. Até porque a área plantada com aveia no Brasil, no Paraná e SC, é insignificante.

Tá, não é exatamente a mesma reclamação quanto às branquelas da Dove, porque esse mercado que quer as modelos brasileiras, mas branquelas, é mundial. A brasileira é exótica o bastante pra ser a terceiromundista, latina caliente, mas pode ser branquela, ergo bonita. O exótico, o não branco, é só sugerido, mas não precisa aparecer na revista. Sim, existem modelos internacionais não-brancas, mas são muito poucas, e mesmo essas no mais das vezes apresentadas com extremos de exotização de deixar um japoniste do fin de siècle envergonhado. O que torna de uma hipocrisia extrema as reações chocadas (e até imbuídas de um certo preconceito contra o "terceiro mundo preconceituoso") à miss Boliviana que, sentindo o racismo alheio, tentou exorcizá-lo se bandeando pro lado dos brancos ao invés de denunciando, quando declarou que na Bolívia também tem muita gente branca e bonita.