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22.9.10

Em defesa do PIG 2 - por um PIG melhor

O André Kenji comentou que a minha defesa da imprensa não funciona porque é graças à histeria dela que o Lula a usa como oposição de brincadeirinha. Quanto a isso, duas coisas:

1) Mais ou menos. Como o próprio André comentou, a mídia aqui derruba ministros.

2) Bem, isso é porque a nossa mídia, com todo o respeito pelos muitos bons jornalistas espalhados por ela, é uma porcaria. E ela é isso porque ser uma porcaria é mais fácil do que fazer jornalismo de verdade. Boa parte das reportagens que se vê por aí são mais próximas de posts em forum de discussão do que de reportagens propriamente ditas.

E finalmente, 3) mesmo assim, o jornalismo investigativo, que só existe por conta da necessidade de ferrar com o adversário, ainda presta serviços. Um brinde à Veja pelo Israel Guerra.

Agora, isso dito, porcaria é mesmo. Nem pensar direito pensa. Um exemplo: com toda a má vontade de parte da imprensa quanto à realização das Olimpíadas e Copa, ninguém foi além de repetir clichês sobre desgoverno corrupção, etc, para por exemplo questionar por que o túnel da Grota Funda, no Rio, foi apresentado como parte dos encargos olímpicos, se conecta equipamento olímpico nenhum a equipamento olímpico inexistente? Ou por que, logo após o lançamento do edital do "transoeste," a Multiplan e a Cyrella anunciaram imensos empreendimentos imobiliários na área a ser aberta pelo túnel? Que coisa, né?

Como diz o Alon Feuerwerker, falta mais gente perguntando "por que."


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Soninha demonstrou ontem, no seu surto paranóico, o problema e virtude do twitter. Ele é uma caixa de amplificação caótica que provavelmente vai servir para te ferrar muito mais do que para você usar dela. Pior que isso, só quando a Stephenie do Crepúsculo puxou briga com o subfórum 4chan/b - inda bem que a pobre da Soninha não chegou a xingar twitteiros em geral. Políticos em geral deviam se abster de tentar usar mídias horizontais enquanto ainda podem.


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Porque volta e meia alguém me aparece na internet, falar nisso, dizendo que "o crescimento do PIB só mudou devido à melhor situação internacional," fui olhar nos sites do IBGE e FMI. Surpresa!

Aqui as fontes

http://www.ibge.gov.br/series_estatisticas/exibedados.php?idnivel=BR&idserie=SCN02
http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2010/01/weodata/download.aspx

Repare que a média mundial passa de 3,4 em 1995-2002 para 3,8 em 2003-2010. A brasileira passa de 2,27 para 4.02

Mais importante, entretanto, é que se você freia de 80 para 20km/h em dez segundos, a sua velocidade média é exatamente a mesma que se você acelera de 20 para 80, certo? Bem,

21.9.10

Em defesa do PIG

Paulo Henrique Amorim, desde que levou um pé na bunda da Globo, se tornou lulista de carteirinha, e cunhou para o cartel Globo-Folha-Abril-Estadão a alcunha "PIG - Partido da Imprensa Golpista." A expressão sempre me pareceu singularmente infeliz. Partidária até as raias da desonestidade, sem sombra de dúvida a grande imprensa brasileira é, com posições que vão do quase moderado à Veja, que deixa a Fox News americana parecendo razoável. E olha que a Fox News inventou a fórmula da desinformação conservadora como produto. Mas golpista é outra coisa, e não conseguia ver (nem na Veja) uma real intenção golpista. Mas agora me aparece a Cantanhede editorializando na Folha que "o PT é contra os costumes e os militares," e bem, vivandeiras, bivuaques.

Mas quer saber? Não vejo perigo real à democracia aí. E não havendo risco real de golpe, a imprensa ser de oposição até os limites do golpismo é bem melhor do que uma imprensa morna, como tínhamos no período FH, em que só os piores escândalos apareciam, e olhe lá. Se a imprensa americana tivesse o ódio por Bush que a imprensa brasileira tem por Lula, talvez um milhão de Iraquis estivessem hoje vivos.

15.9.10

Propostas que ninguém vai ler I - Impostos progressivos

Recentemente, o sindicato do funcionários da Receita apresentou ao presidenciável socialista Plínio de Arruda Sampaio uma proposta que eles chamaram de "reforma tributária progressiva." A proposta me chocou um pouco porque, noves fora eliminar algumas distorções e falhas de nosso sistema tributário,* (o que eu apóio), de progressiva ela não tem muito. Pelo contrário, quando fala da distribuição tributária propriamente dita, cai no velho chavão de que o trabalhador assalariado é vítima do imposto de renda que deve ser "atualizado" (eles querem dizer diminuído; atualizado ele já é, anualmente).

Ora, o imposto de renda de pessoa física, o famoso leão, é, no Brasil, banguela de marré de si. Vejamos como (atenção: números chatos adiante).

Muita gente acredita na bobagem de que "alguém que ganhe logo menos do que a alíquota do imposto de renda vai perder dinheiro se ganhar mais, porque vai ser taxado em mais. Como diria o Morbo do Futurama, não é assim que funciona. Você continua sendo taxado à mesma alíquota sobre o dinheiro ganho até x; a alíquota superior só incide sobre os ganhos acima de x. Fazendo a hipótese de que você fosse taxado em 10% acima de 100 reais, e 50 acima de 200, alguém que ganhe 300 pagaria

0% sobre os primeiros 100
10% sobre os 100 entre 100 e 200 = 10
50% sobre os últimos 100 reais = 50

No total, 60 reais, ou 20%, apesar de um terço de sua renda já estar na alíquota de 50%. Ora, é claro que no Brasil, ao contrário de outros países, a alíquota máxima não chega nem perto disso, e é de 27,5%. As alíquotas brasileiras são:

0% até R$ 1.500
7,5% de 1.500 até 2.246
15% de 2.246 até 2.995
22.5 de 2.995 até 3.743
27,5% acima de 3.743 reais por mês.

Ora, quem é o "pobre trabalhador assalariado" que paga isso? Vamos dar uma olhada nos decis de renda domiciliar per capita no Brasil (isto é, qual a renda média em cada 10% da população), em R$:

MÉDIA GERAL 1.078
10% mais pobres: 208
293
366
488
586
732
947
1327
2225

Em outras palavras, quem paga imposto de renda está entre os 20% mais ricos da população brasileira. Não só isso; alguém que ganhe 2.500 reais, ou seja mais do que a média dos 10% mais ricos, pagará

0% de 1500 + 7,5% de 746 + 15% de 244 = R$ 93, ou um pouco mais de 4% de sua renda, no total. Ou um pouco menos que uma assinatura de tv a cabo média.

Mesmo se você der todos os descontos possíveis e imagináveis nessa conta, resta a evidência de que menos de um quarto da população ativa sequer declara, quanto mais paga imposto de renda. São 24 milhões de declarações para uma PEA de uns cento e poucos milhões de pessoas.

Não parece tanto assim, né? Claro que alguém que ganhe mais que 2.500 vai pagar mais, mas mesmo no limite não tanto assim. E alguém pra quem uma alíquota de imposto de renda ou duas acima dos 27,5% faria diferença percentual é alguém que, definitivamente, não vai morrer de fome por conta dessas novas tarifas; no máximo vai ter que reduzir a idade dos vinhos ou aumentar a idade dos carros.

Por isso que eu, ao contrário do sindifisco, proponho não só não "atualizar" a tabela do imposto de renda de pessoas físicas como também inserir mais duas alíquotas

35% acima de 7.000
45% acima de 14.000

Com essa mudança, que afetaria coisa de 5% da população, poderíamos ver a arrecadação do Imposto de Renda de Pessoa Física dobrar, de 65bn para 130bn. (Hoje, o IRPF constitui menos de um terço do imposto sobre a renda, e cerca de um oitavo das receitas correntes da União, excluídas as receitas da seguridade social. Ou um quinze avos do total de tributos e contribuições.) Isso permitiria, se a idéia fosse não alterar a carga tributária, zerar o IPI. Lembrando que os produtos que tiveram o IPI zerado seletivamente durante a crise viram um aumento de 15 a 30% a.a. na sua produção...

*Apesar de uma delas, a de cobrar IPVA de lanchas e aviões, me incomodar um pouco do ponto de vista lógico - o IPVA não tem a função de justiça social ou arrecadação, mas de pagar pelas ruas, estradas, e engenharia de trânsito. Não existe infraestrutura pública grátis que jatinhos e lanchas possam utilizar.