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31.3.06

Samba da liberdade da Willy

Vem cá, como diabos comemorar uma decisão do congresso é quebra do decoro parlamentar? Pensei que comemorar um ato só fosse ruim se o ato fosse ruim, e que o ato original continuasse sendo pior do que a comemoração. Ou seja, se é pra punir a deputada sambista, só depois de aplicar pena pior ao congresso inteiro.

Vau recidivus

Em tempos de pós-fordismo, ganhar as massas não passa necessariamente por aumentar seus salários. Mas voltou a ser um santo graal das grandes múltis, que por enquanto vendem basicamente pro quinto mais rico do mundo, e querem ganhar os outros quatro bilhões e meio. Quem começou o movimento foram as de bens descartáveis, inclusive com episódios como a Nestlé empurrando leite em pó em substituição ao leite materno na África, mas desde a virada do século as indústrias de bens duráveis começaram a se preocupar com isso, inclusive devido ao medo de as nascentes "múltis" chinesas e indianas chegarem primeiro.

Do Valor:

Entre os dias 1º e 3 de março, 170 funcionários da Philips de vários países debruçaram-se sobre um único tema: como crescer em mercados emergentes. Dentro do seu novo posicionamento estratégico, a Philips quer vender produtos desenvolvidos especialmente à multidão de consumidores que residem na base da pirâmide social, nas classes C2, D e E.

A multinacional, com sede na Holanda, criou grupos de trabalho nos seis países conhecidos como BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e Asean (Indónesia e Vietnã), que irão trabalhar, em conjunto, em projetos que usem conhecimentos globais para criar produtos locais.

Uma das idéias que saíram do encontro em Nova Déli, é desenvolver um filtro de água que utilize a tecnologia de raios ultra-violeta. "A água é uma preocupação nos países emergentes e está entre os temas que nós deveremos investir", afirma o presidente da Philips para a América Latina.

Assim como a maioria das grandes marcas de aparelhos eletrônicos, a Philips possui produtos desenhados para as classes A, B e C1. "A forma como nós chegamos às classes de renda mais baixa talvez não seja a melhor forma", observa Magalhães. A empresa chegou à conclusão de que oferece às classes C e D os mesmos produtos que são feitos para as classes A e B. "A única diferença está no crédito. As classes de renda mais baixa pagam em longas parcelas, caso contrário não conseguiriam pagar pelos produtos", diz Magalhães.

No Brasil, a Philips já vem estudando produtos que caibam no bolso do consumidor de menor renda. Uma das novas idéias - e que foi apresentada por Magalhães em Nova Déli - é uma luminária de teto, que já traz o soquete e a lâmpada acoplados. O kit custa US$ 15 (cerca de R$ 33) e chegará às lojas brasileiras em junho.

Segundo Magalhães, a nova luminária surgiu a partir de um estudo que mostrou que as pessoas de baixa renda deixam a lâmpada (amarela, mais barata que a lâmpada de luz branca) pendurada no teto, sem luminária. O consumidor explicou que a luminária faria a sala ficar mais escura. "Nós enviamos pesquisadores para a casa das pessoas, onde eles puderam analisar como elas vivem". O kit da Philips trará a lâmpada de luz branca, O vendedor na loja, espera Magalhães, mostrará ao consumidor que o kit será mais econômico do que a lâmpada comum.

29.3.06

Mein Auge

Repassar spam é irritante. Postar spam no blog é só desinteressante. Mas dessa vez eu não resisto:



AMIGO(A)
PARE POR DOIS MINUTOS PARA TESTAR SEUS CONHECIMENTOS.


Leia o texto abaixo e responda às duas questões que seguem.

"Uma das peculiaridades do homem branco ocidental cristão é sua capacidade de culpar-se pelo sofrimento que seus antepassados impuseram a outros povos. Dos gregos aos romanos, dos hunos aos teutônicos, dos maias aos astecas, dos tupis aos ianomâmis, nenhuma civilização ágrafa ou conhecedora do alfabeto deixou um único registro escrito ­ ou na tradição oral ­ de lamento de suas conquistas obtidas com o uso da violência. Essa consciência só passou a existir modernamente. Embora pregada pelos cristãos há 2 000 anos, ela só veio com os confortos materiais que o capitalismo trouxe a certas parcelas das populações. É um luxo, assim como o secador de cabelos, a anestesia e os antibióticos."


1) Aponte a origem da pensata:

a) A apresentação de uma nova comunidade do Orkut chamada "Abaixo os Valores Civilizatórios", criada em homenagem a Slobodan Milosevic.

b) Uma conversa íntima, mas grampeada, entre Donald Rumsfeld e Dick Cheney na qual os dois colegas de governo comentam as críticas ao tratamento recebido por detentos em Abu Ghraib. (Diante da fala, proferida por Rumsfeld, Cheney teria dito algo como "ô, Donald, também não é bem assim".)

b) Mein Kampf

c) O manifesto apócrifo, intitulado "Fogo no Rabo", que marca a fundação da confraria satanista homônima.

d) A última edição da revista Veja, cujo tema de capa, mui coerentemente, é a crise ética que se abate sobre o Brasil (graças ao PT e ao governo Lula, evidentemente).


2) Comente a síntese analógica que agrupa a preocupação com os direitos dos espoliados, secadores de cabelo e antibióticos na categoria "luxos da modernidade".


Boa sorte. A nós e aos que não deixam de ler o indispensável.


A matéria é AS FALSAS VÍTIMAS

Está na página 84 da edição de 29 de março.

Olho: Tratados como crianças sem malícia pela Funai e ONGs, os índios já tiram 24 milhões de reais de grandes empresas

Autores: José Edward e Leonardo Coutinho

Para quem tem acesso à Veja, a página é:

http://veja.abril.com.br/290306/p_084.html

28.3.06

Eureka

Uma coisa que tem me intrigado desde que o circo, digo, as CPIs foram armadas é a insistência nas prostitutas. Afinal, por que diabos se insistia tanto, ao inquirir as testemunhas, em detalhes de alcova desse tipo? Aqui, ao contrário dos EUA, frequentar prostitutas não tira voto. Dá um certo ibope, é verdade, mas não o bastante para justificar a importância dada ao assunto.

Hoje, ao ler sobre a queda do Palófi, deu o click: falar de puteiros não afeta tanto o eleitorado, mas é um golpe na família dos acusados. A intenção, como a de um boxeador xingando o outro durante a luta, é fazer com que o adversário perca o controle e faça besteira. Besteira tipo cometer um crime óbvio e desnecessário, sei lá, violar o segredo bancário de um caseiro pra mostrar que ele recebeu propina. Ou coisa parecida.

Pra mim pelo menos, a não ser que o episódio se prove decisivo na eleição do Chuchu-com-tortura, a estratégia até deu em lucro. O Mantega, apesar do apelido óbvio de sem-sal, me agrada mais como ministro da Fazenda do que o Palófi.



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Enquanto o Artur Virgílio e até o Ronaldo Rogério de Freitas Mourão ficam preocupados em acusar de eleitoreira e assassina a viagem do astronauta brasileiro, o Brasil se torna o maior fornecedor mundial de fotos de satélite, junto com a China. Pergunta: é verdade que a função principal do vôo tripulado é a propaganda, mas essa é uma propaganda que tem seu efeito principal no interesse de crianças pela ciência, não na política eleitoral. Qual o efeito da crítica, se é que existe algum?

23.3.06

Força!

Nos últimos dias, o governo Lula parece determinado a me fazer votar em outro candidato. Não vai conseguir porque, sinceramente, os dois outros com mais chances de levar a presidência não são políticos, são vilões de opereta. Alckmin, obreiro da Opus Dei, com revistas constantes nas ruas e rebeliões diárias nos presídios, entregando o patrimônio do estado a seus correligionários pseudo-pios, professando a fé no que é bom para a Daslú (nem sequer é para a GM), parece o Inocêncio IV de Grendel. Garotinho está meio pra Pai Ubu. E, apesar de tudo, o governo Lula tem alguns pontos pra pôr no currículo, de ter desarmado a bomba econômica armada pelo FH à instituição, 70 anos depois da hora, de uma rede de proteção social, ao software livre, ao restabelecimento do orçamento do sistema federal de pesquisa, incluídas as universidades federais.

Mas só nos últimos dias, o governo, fora ter descido quase ao nível da oposição na CPI Suprema e Absoluta que Pode Tudo ("dos bingos," para os não-iniciados), anunciou que vai acabar de detonar o que sobrou da Baía da Guanabara, fazendo uma refinaria ao lado da reserva ecológica (a refinaria não só polui como também usa água, que hoje forma os rios de mangue - como já foi o caso em Caxias), pisou no acelerador da idéia de jerico de fazer hidrelétricas no coração da Amazônia, deixou passar em branco o Mercosul indo pras cucuias, e ainda por cima colou um cartaz imenso na Rua das Laranjeiras que eu sempre tenho que ver, anunciando as obras absurdas de expansão-shopping center do Santos Dumont.

Fazer besteira tudo bem. Mas anunciar em outdoor?

22.3.06

Castigando a virtude

Enquanto caça-níqueis e fábricas de diploma como a UniverCidade e a Universo prosperaram de maneira absurda desde os anos 90 (se você deixar uma caixa de papelão numa rua de pouco movimento, um mês depois acha lá um "campus" da Estácio de Sá), com a cooperação e apoio do governo, e fazendo do Brasil um dos pouquíssimos países onde há mais universidades voltadas ao lucro do que ao ensino, as poucas universidades privadas que honram o nome no Brasil vão cada vez afundando mais.

Com isso, a "expansão" no ensino terciário brasileiro das últimas décadas passa de farsa a tragédia. A expansão se concentra em cursos que dão diploma, e pronto; enquanto isso, três dos quatro conjuntos (chamá-los de redes seria muita bondade) de universidades propriamente ditas brasileiros enfrentam a falência (falência financeira propriamente dita), e o quarto não está tão melhor assim - a saber, as universidades federais, as católicas, as independentes, e as do estado de SP. Em parte, essa falência é fruto da própria farsa da expansão, que fez com que todos os quatro, apesar de verem sua entrada de dinheiro cair, tenham aumentado seus gastos. As universidades federais, amargando um corte no financiamento de 83% em termos reais de 1994 a 2002 e a novela das aposentadorias aumentar o gasto fixo, ainda assim aumentaram o provimento de vagas. As católicas, apesar de se beneficiarem do sucateamento das federais, não aproveitaram pra radicalizar o preço, e aumentaram a quantidade de bolsas. E as independentes fizeram um esforço maior para tentar se equiparar aos dois primeiros conjuntos. (As de SP estão em situação parecida com as federais, fora não terem amargado o corte no orçamento)

Isso tudo faz com que, a não ser que algo de extraordinário aconteça, o ganho em pesquisa que, contra toda a lógica, o Brasil conseguiu nos últimos anos, seja insustentável. Pior: não estão sendo formados, em todas essas novas faculdades, sequer professores suficientes para todas as matérias do segundo grau que, com a outra farsa da progressão continuada, também explodiu. Na nova república dos bacharéis, advogados já são mais comuns do que nos EUA (tradicionalmente a pátria do litígio), mas professores de matemática ou química são quase uma espécie em extinção.

Claro que esse último problema também vem de uma falta de interesse nas ciências exatas que chega a ser vergonhosa, ainda mais quando combinada com a obsessão econômica. É um monte de gente quase "innumerate" falando em números o dia inteiro. (Não, eu não estou pensando especificamente na Míriam Leitão.) E isso, sinceramente, sem nenhum interesse próprio e apenas pensando objetivamente na melhor relação custo-benefício, só vai ser resolvido com um investimento maciço em museus de ciências, à La Villette. Aliás, Lula, César Maia ou Garotinho, se vocês estiverem lendo isso: reloquem as instalações públicas do lado da Quinta da Boa Vista para expandir o zoológico e criar na penitenciária um museu de história natural, deixando o palácio só pra etnografia, transformem o gasômetro num aquário, e criem o museu de ciências no terreno da associação da RFFSA na Francisco Bicalho. Vai aumentar o crescimento do PIB em 5% ao ano e reeleger vocês. Juro.

21.3.06

Como o PT é burro,

Não vai usar essa frase do Hah-Joon Chang na campanha, (seguir as recomendações dele, nem em sonho - mas podiam pelo menos usar o elogio):


O Brasil tem tido um papel muito positivo nas negociações da OMC, o País ficou mais determinado com o governo Lula. Até então era só a Índia que defendia os países em desenvolvimento.




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Vai deixar que se trate a quebra do sigilo do caseiro como um novo watergate, quando quebras de sigilo e vazamentos de documentos da CPI têm sido a regra, não a exceção, com direito ao Paes de Barros e a Heloísa Helena dizendo em alto e bom som que chegavam cedo pra ver se tinha algo de interessante pra imprensa na sala de documentos.


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Vai continuar a jogar fora algumas das iniciativas mais inteligentes e com mais rendimento eleitoral do governo, como o software livre e o apoio à indústria cultural, pra agradar às grandes empresas-doadoras de campanha. Além de prejudicar o país, perde mais voto do que ganha.


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Enfim. Boas vindas a nosso próximo presidente, filho bastardo do Lacerda com o Adhemar de Barros.

16.3.06

Por que diabos

...Discute-se sobre o Chávez ser ou não ditador, mas o Uribe, com merdas equivalentes (controle do legislativo e judiciário, alterações em causa própria na constituição, retórica polarizante) ou muito piores (liberdade de imprensa, paramilitares, uso indiscriminado da força) nunca?

...O MST vandalizando um laboratório de eucalipto é notícia de página inteira, com direito a leads falando do histórico de vandalismo, mas sem-terra mortos ou presos sem mandato não merecem nem nota de rodapé, como não merecem as comunidades indígenas e quilombolas expulsas de suas terras pela Aracruz Celulose?

...Falando nisso, por que chamam o latifúndio de monocultura de "reflorestamento" se ele for feito com plantas lenhosas?

...De novo falando nisso, por que o MST se preocupa tanto com a depredação ambiental da Aracruz, se parques nacionais, pra eles, são "imposições burguesas," que devem ser ocupadas, com direito a ameaçar de violência os diretores?

...a ata do Copom brasileiro demora uma semana pra ser liberada? Mesmo que seja censurada e manipulada, o que leva tanto tempo assim?

...a Rosinha não está tão indignada quanto o César Maia com o sucesso de público do Exército? Tem alguma combinação entre o marido e senhor dela e o Lula?

...marqueteiros e "manageiros" falam em marquetês, se nem pro marketing ele funciona?

14.3.06

Contras

Da energia nuclear, num país que não é exatamente a Alemanha:


Um levantamento inédito da Câmara dos Deputados sobre fiscalização e segurança na área nuclear identifica supostas irregularidades no funcionamento da usina de Angra 2 e na unidade de beneficiamento de urânio de Caetité (BA), aponta a inexistência de locais apropriados ao depósito de lixo radioativo, indica o ferimento de convenções internacionais pelo Brasil e levanta dúvidas sobre a eficácia do plano de evacuação no caso de acidentes nucleares na região de Angra dos Reis.


(Na Alemanha, como se sabe, eles são tão certinhos que até locomotivas com transmissão mecânica, que no resto do mundo não funcionam porque falhas microscópicas nas engrenagens fazem o treco escangalhar com muita potência, lá funcionam)
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De assistir Capote, que fora isso é um bom filme:

Lembrar o tempo todo da frase do Gore Vidal, "O meu problema, como escritor homossexual famoso, é não ter trejeitos. Todo mundo gosta quando o Tennessee Williams se veste com as roupas da mãe, ou Truman Capote aparece falando que nem sua prima que acabou de chegar da roça." Por outro lado, catando a forma exata da farpa, achei a opinião do Vidal sobre o filme e o próprio, que é dessas de deixar o Mike Tyson com inveja.

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Da pujança do agronegócio:

O Brasil vai (a essa altura, "pode" é algo que nem a Pollyana diz mais) ganhar desertos de verdade. Sem essa de semiárido. Não custa lembrar que o Saara já foi uma Amazônia...


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Do fim da loucura:

Com a decadência dos arsenais russos, os americanos voltam à situação do pós-guerra imediato, a da possibilidade de arrasar qualquer inimigo sem retaliação. Bem, assumindo-se que os russos não tenham guardado nenhuma "arma de fim do mundo," como mísseis de cobalto e Marburg IV colombino.

13.3.06

Ops

Uma semana depois, o troféu Crioulo Doido na Imprensa 2006, que vai por antecipação pra crítica gastronômica do Globo, Luciana Fróes, por criar uma matéria intitulada "tudo zen" pra falar de comida indiana. Faz menos sentido do que falar de Brasil e pôr pra tocar Nkosi Sikelele Africa, ou mencionar pirâmides maias pra falar da Argentina.

9.3.06

Chama o Guy Fawkes!

As câmaras do Rio e de São Paulo estão mostrando porque o terrorismo pode ser uma boa idéia. Em Sampa, um vereador do PDT (o gaullismo brasileiro, que por algum motivo está na Internacional Socialista), explica que isso:



ofende a moral e os bons costumes. Veja bem, todos os cartazes uterinos e onipresentes de mulher pelada não ofendem, nem os de casais hetero se beijando. Afinal, "- Quem quer ser gay, que seja gay. Mas não precisa ficar fazendo propaganda disso." A noção de tolerância e respeito do nobre vereador é tocante. Dá vontade de porrar ele sempre que for assinar o nome ("Quem quiser se chamar Carlos Apolinário que se chame. Mas não precisa ficar fazendo propaganda disso.") Taí porque o projeto da Martaxa Suplicy, adicionando homofobia à lista de preconceitos da constituição, não emplaca no Congresso. Iam ter que prender metade dos políticos.

No Rio, o vereador imbecil em questão é, pelo menos, de um partido abertamente fascista, o Prona (ligado a um movimento internacional capitaneado por um doido que acha que a família real britância é alienígena. Sério.) Quer proibir que se use máscaras na rua, mesmo no Carnaval, a não ser quando expressamente permitido pelo governo. Faz sentido; prum fascista, ao invés de o Estado só poder fazer o que é expressamente permitido pela lei, é o cidadão que só pode fazer o que o Estado expressamente lhe autorizar. O nobre vereador, por exemplo, deveria ter que pedir permissão à FEEMA (a mesma que explicou que toneladas de bauxita no rio não eram poluição), em três vias, sempre que for defecar, por qualquer extremidade do aparelho digestivo.

8.3.06

Vermelho até na chuva

Kerala, estado do extremo sul da Índia, foi o primeiro governo comunista democrático do mundo. O contraste entre seus indicadores sociais e os do resto do país-continente* sempre foi um trunfo que socialistas deveriam utilizar mais em discussões; é muito mais radical do que a diferença entre Cuba e a América Latina, e não tem ditadura pra ser criticada. Ou melhor, deveriam ter utilizado, porque recentemente, se o contraste dos indicadores sociais continua o mesmo, em compensação a economia kerali tem empacado, enquanto o resto da Índia avança. Com isso, aos altos índices de suicído (que pelo visto acompanham a melhoria nas condições de vida em qualquer parte do mundo) somaram-se altos índices de desemprego e de crimes contra o patrimônio.

Pois bem, não é que, abrindo a Wikipédia hoje, eu descubro que Kerala é comunista até na chuva? Reparem que, como é de praxe na Índia, explicações malucas estão disponíveis.


*O Brasil, a Rússia ou o Canadá podem ter grandes territórios. Mas a Índia e a China, "civilizações fingindo ser países," na frase do De Gaulle, são de uma escala completamente diferente, que o domínio sobre a Sibéria, a Amazônia ou o as ilhas boreais não muda.


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Hoje é dia internacional da mulher, em homenagem às grevistas americanas porradas pela polícia e incendiadas pelo patrão. Como disse Jon Stewart sacaneando as pretensões ao ativismo low-profile da festa do Oscar, "e nada disso aconteceu de novo. Nunca." Amanhã, voltamos à programação habitual do Dia Internacional do Homem Branco Heterossexual Cristão de Classe Média.

7.3.06

Latinoamericanas

O Chile, apesar de ter se tornado uma visão do paraíso pra a Revista Exame e outros próceres do liberalismo rastaquera brasileiro, tem uma economia quase tão pouco diversificada quanto a de seus colegas andinos. Baseia-se na exportação de minério (principalmente o cobre; a estatal Codelco é a maior mineradora do mundo) e de hortifrutis e pescado.

Os dois ramos podem entrar em conflito, mas aí os fazendeiros são os fracos, frente às mineradoras corporativas e acaba-se matando a galinha em nome dos ovos de ouro.


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Na Bolívia, Evo Morales está indo bem - conseguiu, até agora, frustrar todo mundo. Eu, pelo menos, aprovo. Agora é ver se, com a nova constituição (e, a esperança é a última que morre, cooperação brasileira, especialmente se o nove-dedos for reeleito), a Bolívia para de ser mencionada sempre com a observação "o país mais pobre da América do Sul."


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Em meio à ofensiva de sedução ao Lula empreendida pelo governo Blair (com direito a mandar a Rainha mexer o traseiro), com o objetivo de ver se ou se quebra o G22 ou pelo menos se extrai dele alguma concessão, a Economist fez uma longa entrevista com o presidente brasileiro.



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A reforma agrária, tema perene do continente do latifúndio, volta à cena mundial. A Agência Carta não fala de outra coisa. O divertido é que, apesar de ela nunca ter saído de cena no Brasil, nunca foi levada a sério. Em outros países, reforma agrária significou quebrar latifúndios, sem diferenciar entre os "bons" e os "maus" (improdutivos). Aqui, até o MST, de inspiração maoísta, não diz "foda-se a produtividade," mas tenta inventar razões pra chamar de improdutivo o que invade.

6.3.06

Aide-mémoire






























Pra quando os jornais publicarem o próximo panfleto do IBPT, digo, a próxima reportagem sobre a carga tributária brasileira. Clicando nas imagens, acessa-se a versão de melhor resolução. Os dados são de 2003 e 2004, tirados do pdf da Fazenda, cuja url eu perdi.

3.3.06

Estado de Bem-Estar Corporativo

...mas nesse caso, ao contrário das AES e EdF da vida, eu aprovo: estão tentando fazer com que o governo socorra a PUC-SP.

Por mim, dava a mesma quantidade de dinheiro do BNDES que deu pras supracitadas. O que, claro, não vai acontecer. Ninguém merece tanto dinheiro público quanto uma multinacional.

2.3.06

Adolescência

"Deitado eternamente em berço esplêndido" talvez não seja a melhor analogia pro Brasil, mas sim uma adolescência prolongada, na qual o país, ao mesmo tempo que se preocupa muito com o que pensam dele, não tenta conversar pa descobrir - e muito menos sabe divulgar suas reais qualidades.

O químico neozelandês Alan McDiarmid, em entrevista à revista Desafios do Desenvolvimento, aponta (reclama?) de uma das facetas disso: a incapacidade do país que se ufana de sua bionergia (realmente a mais avançada do mundo) de transformar essa superioridade em liderança, cooperando com outros países, inclusive para manter-se na frente. Na mesma edição da revista, outro exemplo: desde que começou a ser promovida agressivamente, a porcaria da música francesa contemporânea virou sucesso de vendas internacionais. Imagina um país que tenha música decente. Exemplo mais antigo: ao invés de se aproveitar do fato de suas emissões de carbono serem realmente baixas, pra tomar um papel de protagonista nas negociações sobre efeito estufa, avançar a eterna pretensão ao UNSC, e exorcizar a reputação de vilão ambiental, o Brasil resolveu se juntar à Índia e à China na atitude "agora é a minha vez de sujar."

Imagino que qualquer um lendo isso consiga lembrar de mais dois ou três exemplo sem se esforçar.