Pesquisar este blog

29.2.08

And a star to steer her by

Admita-se, a vela proposta pela companhia alemã Skysails não tem exatamente a beleza de um clíper ou uma mesmo de uma das barcas que, no começo do século XX, foram os últimos navios a vela em rotas de longo curso, levando minério do Chile pra Europa e EUA, quando a velocidade já era domínio dos vapores. Pra falar a verdade, parece que um pára-quedas gigante ficou preso na proa do navio.

Mas a grande vantagem dela é que, ao contrário de velas modernas mais radicais, como
os juncos metálicos japoneses do segundo choque do petróleo ou o E/S Orcelle, a skysail pode ser adaptada, a um custo relativamente baixo, em qualquer estaleiro, a qualquer navio. É uma solução que não precisa galgar a montanha das práticas, desenhos e interesses preexistentes - mas mesmo assim garante uma redução de 10 a 40% no consumo de combustível. Como os navios de carga consomem mais ou menos 5% do combustível usado no mundo, e esse combustível, o sujíssimo óleo bunker, responde por quase 10% das emissões de gases de efeito estufa, na hipótese de a Skysails ter um sucesso retumbante, algo como 2% da contribuição humana para o aquecimento global poderia sumir.

Não é nada, não é nada, é o equivalente ao total emitido pelo Reino Unido.

26.2.08

Virtude sem virtuosos

A imprensa brasileira, apesar de ser de modo geral bastante de direita, se orgulhou ano passado da oposição dos brasileiros ao aquecimento global. Ora, considerando-se a quantidade de assuntos em que as correntes políticas americanas são copiadas sem mais cá na Terra de Santa Cruz, e lembrando que o aquecimento global é a maior bête noire científica dos conservadores americanos, junto com a evolução e a embriologia, isso poderia parecer esquisito.

É menos quando se lembra que as "dúvidas" sobre o aquecimento global, ao contrário do criacionismo e congêneres, não são derivados de alguma oposição ideológica básica, de cunho moral, mas dos interesses da grande indústria americana, especialmente a automobilística. Enquanto isso, a indústria brasileira não se vê ameaçada pelo debate sobre como conter o aquecimento global, muito pelo contrário - no que têm uma certa razão, já que ninguém no Brasil presta muita atenção à expansão da nossa própria pegada ambiental. Isso apesar de mesmo o álcool, combustível "verde," pode estar contribuindo pra ela, se aumenta o desmatamento.

Agora vai ver o quanto parlamentares e associações industriais concordam com a comunidade científica quando o assunto é desmatamento. Quer ser xingado? Apresenta o estudo recente sobre necessidade de expansão das matas ciliares protegidas por lei na tribuna do Congresso que pretende reduzir as reservas legais.

20.2.08

A nova califórnia

Um artigo na Carta Capital fala das possibilidades de que estaria prenhe a Caatinga. Sempre é bem-vindo, considerando-se a tara pela Amazônia 90% de quem fala em ecologia ou meio ambiente no Brasil. (Como demonstrado pelo mapa dos projetos do WWF, abaixo) Mas, sinceramente, pelo andar da carruagem o semiárido vai virar a Califórnia brasileira é noutro sentido. Vai virar a Califórnia das grandes extensões de terras irrigadas no deserto pra plantar hortaliças e frutas, e o Velho Chico vai ter o mesmo destino do Colorado - bem, talvez não tão poluído quanto o seu primo americano, mas igualmente exangue


19.2.08

Weltanschauung

A campanha eleitoral de 2008 começou com a campanha moralista da grande imprensa contra as despesas do governo. Algo atrasados, parece que os jornalistas da Folha e companhia descobriram o Portal da Transparência, e estão pouco a pouco publicando ele inteiro.

O poroberema aí é que, misturando a ânsia por escândalos e a tradicional demonização dos funcionários públicos, esses veículos estão indo muito além de denunciar verdadeiros abusos - o que, mesmo que feito de maneira seletiva e politizada, seria cumprir seu papel jornalístico - e denunciando simplesmente o uso dos instrumentos em questão. Como se o simples fato do funcionário viajar a serviço, ou se utilizar do cartão corporativo, fosse um erro. Isso é perigoso, tanto porque acaba com a capacidade do público de distinguir os verdadeiros abusos quanto porque resulta em reações nocivas dos governantes, como a do Serra, de jogar fora o sofá.

Não custa lembrar novamente: cartões corporativos e diárias são dos gastos mais transparentes do governo, acessíveis, em sua maioria, integralmente a qualquer cidadão. Em si, são uma coisa boa, não um crime, e eventuais abusos não mudam isso.


*****************



O governo do estado de São Paulo acaba de anunciar um trem turístico ligando a Estação da Luz, no centro de São Paulo, a Jundiaí.

Combinado com os trens-bala já anunciados, mais os trens de subúrbio virando "metrô de superfícies," e já que a Luz é bem pequena pr'uma estação ferroviária (tem exatamente três plataformas), a conclusão é inevitável: conseguiram revogar o axioma de Lavoisier, e enfiar diversos corpos no mesmo lugar no espaço.

Aliás, mesmo que a Luz tivesse espaço pro trem-bala, não seria uma idéia melhor, se o negócio é competir com a ponte aérea, não enfiar o pessoal no meio do movimento da hora do rush do metrô? Digamos, com uma estação nova, ou de superfície/aérea nas cercanias da Luz ou subterrânea próxima ao Centro? (Ou mesmo mais ao sul, perto da Paulista - há áreas demolíveis na Nove de Julho.)