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31.10.05

Perdendo a transcendência

Tem gente que questiona a história que ELES querem te empurrar. O holocausto é uma farsa sionista, e o World Trade Center foi destruído por um míssil; a alunissagem do Armstrong foi filmada num estúdio de TV em Houston, e o comunismo matou 8.356.783.578.331 pessoas. Sem falar na Atlântida.

Tem gente que questiona as ciências exatas. A meia-vida de materiais radioativos é crescente, para que a terra possa só ter 6000 anos, uma camada imensa de gelo cobria a terra antes do Dilúvio, e evolução é uma lenda. Ah sim, e já inventaram o moto-perpétuo, mas ele está escondido pelas empresas de petróleo.

Mas questionar a matemática, pra mim é novidade. Com vocês, Mohammed-Reza Mehdinia e o verdadeiro valor de π.

Gil Alkabetz

Neste fim de semana, fui ao Parque das Ruínas assistir desenhos animados do Gil Alkabetz, que é absurdamente genial, e que talvez as pessoas lembrem como animador do Corra Lola, Corra. Pois um amigo, ao ler no programa "israelense radicado na Alemanha," comentou que isso era esquisito. O que é verdade, mas também é, por sua vez, esquisito. Afinal, não só Israel foi fundada por alemães, mas há um intercâmbio cultural até bastante intenso entre os dois países, possivelmente mais do que entre Israel e qualquer outro país, pelo menos se você se prender ao significado mais usado de "cultura," entre a alta cultura e a cultura jovem, e ignorar os americanos e colonos.

30.10.05

Em meu nome

Na primeira página dos jornais de ontem, a manchete reza que "[A] Polícia mata chefe do tráfico da Rocinha numa emboscada." Não é verdade. Quem mata em emboscada não é polícia. A palavra mais correta é "assassino," mas se quiser atentar para o caráter institucional dos assassinos, pode usar "esquadrão da morte" ou "exército ocupante." Não faz absolutamente a mínima diferença se a vítima de assassinato é o Bem-te-vi ou a Madre Teresa de Calcutá.

Se ao menos fosse uma exceção...a emboscada, utilizando informantes para levar os bandidos a pontos onde serão fuzilados, é técnica corrente há alguns anos em São Paulo, Pernambuco, e agora no Rio. O Brasil parece seguir, no "combate ao crime," um caminho parecido com o que os EUA trilham no "combate ao terrorismo," e que me assusta muito. Tanto na condução da política imperial americana quanto na repressão cotidiana brasileira, a barbárie é um fato corrente há muito tempo, e ninguém deixa de saber disso, mas até recentemente essa barbárie não era oficializada, era hipocriticamente varrida para debaixo do tapete, apresentada como exceção vinda de agentes truculentos, e não do topo. Era mentira, claro - a polícia metropolitana de Londres não mata menos porque os policiais ingleses são bonzinhos, mas porque a ordem de cima não é porrar e matar. Mas confesso que prefiro a hipocrisia, no caso, à aceitação honesta do assassinato e da tortura como instrumentos válidos, à defesa de peito aberto do que a humanidade tem de pior.

Inclusive porque essa defesa da tortura significa a aceitação pela comunidade do princípio organizador "nós e eles." Tá que, em certo nível, esse princípio é inescapável, afinal "tu és aquilo," tat tvam así, é o dito indiano que, negando essa diferença, serve de declaração fundadora do monismo. Mas a definição de "nós" como sendo "o homem e o cidadão," o reconhecimento da nossa humanidade comum, é um traço da Civilização Ocidental e das revoluções burguesas que esses pulhas alegam defender. Inclusive porque a teoria utilitária de que a sujeição da tortura às regras legais se baseia na teoria de que a tortura legalizada tomaria o lugar da ilegal, o que contraria a regra. O mesmo vale para o assassinato policialesco. E não custa lembrar, falando de utilitarismo: a Colômbia, paraíso da força policial ilimitada, onde os esquadrões da morte são mais de 40.000 e controlam diretamente a maior parte do campo, também tem o pior índice de homicídios do planeta.

Voltando ao nós e eles, outro desenvolvimento brasileiro, além da aceitação da pena forte e dura cada vez maior, é a exaltação do cidadão de bem, que não é definido por não infrigir a lei, sendo que muitos inclusive exaltam o fato de se desobedecer certas leis. E mesmo os que não são a favor de sonegar imposto têm que admitir que não desobedecer nenhuma lei, no Brasil, é muito, muito difícil. O cidadão de bem é outra coisa, é um sujeito dessa classe oprimida que somos os brancos heterossexuais cristãos de classe média,* é alguém cuja condição é essencial e divorciada da prática ou de sua relação com a lei. É um ícone da aceitação cada vez maior do apartheid social,** também simbolizada na campanha anti-favela do Globo, ressuscitando a idéia da remoção dos favelados para alguma township distante. Me pergunto se todo mundo terá que usar o seu passaporte, ou só os Midenklaas mais escurinhos, pra provar que podem entrar nas áreas net Midenklaas?

Um, pensando melhor, a comparação com o regime de Apartamento sul-africano é injusta. As forças de segurança sul-africanas, num país do tamanho de São Paulo, nunca passaram de 900 assassinatos por ano, o que no Brasil, e especialmente no Rio, seria uma melhora e tanto.


*Classe média é um conceito infinitamente extensível pra cima no Brasil; afinal, o casal Staheli, assassinado na Barra, era de classe média, ganhando alguns milhões de dólares por ano.
**Que não deixa de ser em parte racial - afinal, a piada diz o sistema de cotas racial devia deixar a decisão sobre quem é preto a cargo de porteiros e PMs. E os profissionais citados são reguladores de relações de classe.

26.10.05

Apagão em Laranjeiras

Depois do tilte, o post sobre as usinas nucleares foi cortado pelo apagão.

Falando em apagão, alguém devia mencionar essa palavra pro Aldo Rebelo - é um caso de anglicismo (blecaute) que foi substituído por uma palavra nativa, sem que ninguém legislasse sobre isso. Hoje em dia, ouço a palavra blecaute principalmente no sentido 2. "cortinas completamente opacas, geralmente de material plástico e utilizadas em conjunto com outras cortinas de materiais mais nobres."

Kenneth Starr

Com a criação da quarta CPI dedicada a achar "alguma coisa sobre o Lula" (os nomes são irrelevantes), daqui a pouco acham um vestido vermelho com manchas de sêmen.

25.10.05

Federação pra quê (de novo)

No Valor, sobre segurança



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já está sendo pressionado por sua base de apoio a reformular a sua política para a área de segurança pública, em face da derrota da proibição da venda de armas do referendo. Junto com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, Lula deverá manter algumas reuniões com integrantes da aliança governista mais identificados com o tema, para determinar novas linhas de ação.

As primeiras pressões começaram ainda no dia da votação, quando o presidente do Senado e da Frente Brasil Sem Armas, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que a União era " voluntariamente omissa na segurança". "O referendo foi um sinal de alerta para o governo. Todas as pesquisas de opinião sempre mostram que o tema da segurança pública divide as atenções do eleitorado com a geração de empregos e o governo passou mais de dois anos sem dar tratamento prioritário para a área", afirmou o deputado petista Antonio Carlos Biscaia, do Rio de Janeiro, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.


E sobre agropecuária:

Uma novidade da lei é a criação de um "SUS agropecuário", batizado Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária. As alterações na legislação buscam acabar com a forte influência política nas discussões sobre sanidade. A regulamentação da lei criará comitês científicos de sanidade animal para discutir a questão sem a ingerência de secretários e governadores estaduais.


PS ainda na matéria sobre segurança, medo, muito medo:


A pressão por mais recursos para a área não é a única que o governo federal terá que enfrentar. A vitória do "não" no referendo entusiasmou lideranças que pretendem um endurecimento no Código Penal, alterando até as chamadas cláusulas pétreas da Constituição, como o direito à vida. Há o entendimento no meio jurídico que as chamadas cláusulas pétreas, descritas no artigo 60 da Constituição, só podem ser revistas por uma Assembléia Nacional Constituinte e um debate sobre a possibilidade destas mudanças serem feitas também por consulta popular.

"Sou a favor de levar a questão da pena de morte para um referendo popular. A sua proibição é uma cláusula pétrea da Constituição, mas eu tenho uma tese de que a democracia direta pode decidir, por meio de plebiscito ou referendo, até mesmo sobre essas questões", afirmou o presidente nacional do PMDB, o deputado Michel Temer (SP).

20.10.05

Comunidade da Soja e do Gado

O Mercosul nasce, pelo menos em parte, como uma imitação da Comunidade Européia. Nessas duas décadas, tem muito pouco a mostrar de concreto - nem a normalização das estatísticas conseguimos. Uma das razões apontadas para a fragilidade do mercado comum é a tensão entre interesses e ideais. Outra é a falta de complementaridade entre os interesses econômicos dos países envolvidos, com economias ainda largamente básico-exportadoras, "coloniais" e pouco integradas até nacionalmente.

Ora, o gado infectado com aftosa do Paraguai, que fez o PSDBFL pedir a renúncia do ministro da Agricultura, deixa claro que imitar os europeus nos detalhes pode ajudar com esses dois entraves. É só lembrar que a UE, que hoje se estende da foz do Tejo ao Mar Báltico, nasceu como Comunidade do Carvão e do Aço, em volta do Reno. Assim como o vale do Reno é um centro importante de produção de carvão e aço, pelo qual os membros iniciais da CEE já entraram em guerra, no Mercosul temos o vale do Paraguai-Paraná, centro importante de produção de soja e gado, pelo qual os países envolvidos já brigaram. A coordenação da agropecuária, principalmente da vigilância sanitária, entre os cinco países (mais a Bolívia) é do interesse (econômico) de todos eles; igualmente a proteção do Pantanal dividido entre os três que estão rio acima, inclusive para não correr risco de perder a hidrovia do Paraná.

É claro que vão continuar existindo diferenças importantes entre o processo de integração de ex-potências mundiais e ex-colônias, um durante os trinta anos da Idade de Ouro da social-democracia e crescimento econômico, outro em tempos de globalização, um com Krupp-Usinor o outro com Cargill-Bunge. Mas seria um começo - um órgão do Mercosul com atribuições reais, que interessa aos poderes econômicos de todos os envolvidos.

18.10.05

Sartori

Sua Santidade Benedito XVI reclamou, uma vez, dos que lhe consideram fundamentalista. Vendo uma primeira comunhão conduzida por ele, com aquela cara de pinto no lixo, veio a revelação: Ratzinger não é fundamentalista, é carola. É aquela coisa relativamente rara, uma beata que não só vira padre como avança na hierarquia. E tudo bem, a Congregação para a Doutrina da Fé pode ter sido a Inquisição Universal em outros tempos, mas o novo Benedito XIV está mais preocupado em beber o vinho certo do que em queimar hereges.


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Não é o Hélio Costa. É que o clima de caça às bruxas está tão forte que nem os políticos de estimação servem. Vale lembrar que a escrava caribenha Tituba, a única "bruxa" do episódio de Salem, não esteve entre os enforcados...

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Ali Kamel tem uma revelação própria a fazer - os trens lotados da Central do Brasil são ilusão sensória, já que "Tais áreas já são servidas por trens, que, hoje, têm serviços melhores e grande capacidade ociosa." Talvez o pessoal devesse meditar sobre uns koans para se livrar da ilusão de gente lhes apertando e trens que quebram. E o Ali Kamel deveria ler o próprio jornal, que detalhava o estado precário do transporte de massas no Rio, na edição de anteontem.

Spam de chumbo

Primeiro, a história do totalitarismo é MENTIRA. Todos os episódios mencionados são inventados. Alguns mostram o mau nível do ensino de história, porque dizer que o governo da China comunista desarmou a "população ordeira" em 1935, BEEEEEEP BEEEEEP BEEEEEP. Segundo, é ridículo ver quem apoiou e defende a p.... da DITADURA, pra não falar da "segurança," que significa truculência policial, falar de autoritarismo.

A cláusula da OMC não existe. E se existisse, não seria afetada pelo referendo. A Grã-Bretanha vende armas pro mundo inteiro, e lá as restrições à venda são bem mais severas, não apenas do que as do Brasil pós-2003, mas do que a situação se o "Sim" vencer.

Todo mundo que está falando em cartas-correntes que a violência é fruto da pobreza e da desigualdade deveria ser terminantemente proibido, depois, de repetir discursos contra impostos progressivos, transferências de renda e desenvolvimentismo. Ia diminuir a poluição sonora.

Esse plebiscito não é "você é contra ou a favor da classe política brasileira?", e votar "não" só é protesto contra a corrupção na sua cabeça. Já viu quem está na frente pelo "não"? Ou, aliás, quem está recomendando a cassação alheia?

E PAREM DE ME MANDAR SPAM POR CONTA DESSA DROGA DE PLEBISCITO. Não sabia em quem votar, nem me importava muito. Inclusive porque o desarmamento já aconteceu, em 2003, com a aprovação do estatuto. De um milhão de armas vendidas para 60 mil - o fuzuê todo é por conta dos 6% restantes. Vou votar sim só por conta dessa propaganda do "não."

17.10.05

Será o Hélio Costa?

Todos os comentários abaixo se referem ao jornal O Globo.

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Com 13 anos de existência, o casamento entre César Maia e o Globo parece que passa por um divórcio nada amigável. No jornal deste domingo, uma lista imensa dos factóides do prefeito; na série neo-lacerdista sobre limpeza étnica em favelas, a culpa pela primeira vez não é do "governo federal que não ajuda"; no caderno Rio de hoje, "ATÉ O FAVELA-BAIRRO É CONTESTADO." Por mim, acho ótimo...mas que eu gostaria de saber o motivo, gostaria.


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A Revista (de domingo não, olha o JB), mais uma vez, tem uma definição elástica de classe média. No caso, inclui empresários que contratam equipes de segurança, pagando de 50 a 750 reais por noite de sábado (mais o que os filhos já gastam). E na mesma reportagem, me sinto um pouco Simão Bacamarte, porque o "empresário da segurança" explica que depois das 10 da noite é uma temeridade andar pelas ruas do Rio, depois de uma da manhã elas estão entregues aos traficantes, e é inevitável topar com um "bonde" de traficantes.


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Ancelmo Gois reescreve a história brasileira, fazendo de Zumbi o fundador de Palmares. Zumbi, tradicionalmente, teria nascido no quilombo, o que para satisfazer o colunista significaria que ele fundou Palmares ainda no útero. Fora ter se escondido e não envelhecido por uns 80, 90 anos.

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Olavo se foi, mas o Globo nos presenteia com a coluna cômico-reaça do Rosenfield.

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Entre as promessas imperiais não cumpridas, arroladas pelo Grobo, está a do Transpan. Volto a perguntar sobre o Transpan: de superfície, ligando os aeroportos? Por onde, pelo meio da Rio Branco?

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O Globo cita Larry Rohter, o crítico musical-correspondente estrangeiro, que no NY Times diz que madeireiros, desdenhando da lei, rapinam a Amazônia. Deixando inteiramente de lado a tendenciosidade de um sujeito que segue no mesmo caminho da sua matéria sobre "boatos de que o presidente é pinguço" (há sobre tudo quanto é presidente do mundo, mas acertadamente o NY Times não reproduz os boatos de que o Bush, ex-alcóolatra, voltou a beber), a matéria mostra porque crítico musical como correspondente estrangeiro não é uma boa idéia, na confusão que o Rohter faz com os números. A não ser que, ao confundir valor com volume e falar de diferenças sazonais ao falar da comparação entre dados da mesma estação, ele esteja sendo desonesto mesmo.

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O Panorama Político está divertidíssimo, pelo menos pra quem encara a política como circo.

E uma minha

Existe uma lei segundo a qual sempre que você criticar a gramática alheia cometerá você mesmo algum erro. Pois bem, ao criticar as falácias alheias, cometi eu mesmo uma falácia: a de não diferenciar entre armas de fogo. É verdade que o verbo primário de uma arma (de fogo ou não) é "matar," mas não é verdade que todas tenham a mesma eficiência, nem "matar" significa necessariamente "matar gente," nem deixam de existir as armas que, por mais que usem pólvora de verdade, são na prática armas de brinquedo. Tá aí mais uma crítica ao desarmamento: ao invés de abrir exceções que podem ser manipuladas a pessoas que seriam "de bem," para se juntar em clubes de tiro, poderiam abrir a exceção à arma em si - muito mais fácil de fiscalizar e muito mais difícil de fazer besteira. E para as armas de caça, escopetas sem ação automática e de calibre reduzido. Ainda dá pra matar gente com uma? Dá, mas não é a mesma coisa que um revólver.

16.10.05

Santas falácias, Batman!

O Batman nasceu armado. Na versão original do Bob Kane, ele era um milionário vigilante que matava criminosos. Eventualmente, foi transformado numa coisa esquisita afrescalhada, como todo super-herói americano, pelo comics code, que proibia até cachorro mijando. Nos anos 80, graças ao Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller (o mesmo do Sin City), renasceu como herói "sério," com direito a uma série de excelentes revistinhas se concentrando no lado psicopata do orelhudo. Apesar disso, em todas elas*, o Batman se recusa a usar uma arma, explicitamente. Por quê? Porque, segundo os autores, no fundo no fundo o Batman é alguém que, tendo visto os pais serem assassinados, não quer que ninguém mais morra. (Nada contra as pessoas ficarem tetraplégicas ou banguelas...)

E assim, ligando ao subtítulo, começa a lista das falácias do desarmamento. Ela não inclui os absurdos inventados pela Veja, que não são falácias, são mentiras tiradas de blogs reaças americanos e cartas-corrente, só falácias de gente razoável. A primeira, que é a que tem a ver com o Batman, é "a arma é uma ferramenta como outra qualquer, quem mata é a pessoa." O único erro aí está no "como outra qualquer." A arma é uma ferramenta, sim, só que um martelo é usado para pregar, e pregar é considerado uma atividade razoável. O verbo associado à arma é "matar," o que a sociedade condena. Mais, até onde eu saiba, do que condena "fabricar drogas," e os produtos químicos usados para fabricar drogas são proibidos. Pode dizer que a arma também é usada para outras coisas, mas o verbo primário dela é matar - até a autodefesa envolvendo uma arma parte do princípio de que aumentam as suas chances de matar o agressor.

"Quem quer matar alguém ou a si mesmo vai fazer isso de qualquer jeito." Olha, eu posso estar enganado, mas a última batalha de verdade perdida por gente usando armas de fogo, contra gente que não as portava, foi a batalha de Isandlwana, entre as tropas da rainha Vitória da Grã-Bretanha e as do rei Cetswayo da Zululândia. Isso em 1879. Armas de fogo modernas são muuuuito melhores do que as de 1879. E os impi zulus são considerados alguns dos melhores regimentos de lanceiros da história da humanidade. E estavam em vantagem numérica. O Borges comenta sobre algo semelhante, sobre como com as armas de fogo acabam os "valentes" da juventude dele, os grandes duelistas de faca - com revólver, os que se metiam a valente demais acabavam mortos antes de construir uma reputação. Até os suicidas entram nessa conta - a maioria se arrepende depois de uma tentativa fracassada; muitos tem vidas felizes e produtivas depois. Suicídios com armas de fogo têm mais chances de dar certo.

"Desarmam os cidadãos de bem ao invés dos bandidos" Cidadão de bem é a BEEEEEEP BEEEEEP BEEEEEEP. Essa diferença maniqueísta e essencial entre cidadão de bem e bandido é uma bobagem com tintas de preconceito de classe e de cor.

Passando de lado:

"A situação de violência brasileira faz com que o desarmamento seja urgente e necessário." A situação de violência brasileira é estrutural, e afeta relativamente pouco os mais histéricos com ela. Vem do fato de, para boa parte da nossa população, o estado ser um tirano, um Caveirão ou Antônio das Mortes, responsável diretamente por um número de execuções comparável ao de uma pequena guerra, enquanto à sua sombra (e em parte graças à sua cooperação ativa) reizinhos, sejam eles os coronés, as mineiras ou os traficantes, prosperam. O desarmamento afeta principalmente um tipo de violência que não é, no Brasil, particularmente intenso.

"Vote pelo desarmamento" O Estatuto do Desarmaento já está em vigor, e ajudou a cortar em 90% a venda de armas. E, justamente em troca do plebiscito sobre a proibição da venda de armas a civis, abre uma exceção justamente para os responsáveis pela maior parcela das mortes, dentre os que compram arma com nota fiscal, os policiais e seguranças. E se pensar no mercado negro, se está cortando um quarto do suprimento (armas internacionais, brasileiras trianguladas no paraguai, brasileiras vendidas a guardas, brasileiras vendidas a particulares). Existe, inclusive, uma possibilidade real de que, como no caso de outros itens, a probição radical estimule o contrabando. Essa possibilidade só se torna por sua vez uma falácia quando é feita a analogia direta com a droga - se é por aí, vamos proibir, porque a evidência é de que mais gente fica viciada em drogas ilegais, mas menos gente tem acesso em geral. E não existe "vício" em dar tiros.

"Sou da paz" A paz é que nem a democracia, é de todos. Desde a morte do Mussolini e do Marinetti que ninguém fala mal delas. Acho que o Fernandinho Beira-mar é da paz, tenho certeza de que o Bush é da paz. Saddam Hussein devia ser da paz, creio que o Jonas Savimbi já se disse da paz, e se Volodya Putinho não for da paz eu quero ser um mico de circo.


*Frank Miller: Cavaleiro das Trevas. Miller e Mazzucheli: Ano Um. Grant Morrison e Dave McKean: Arkham Asylum. Mark Waid e Alex Ross: Kingdom Come.

Vote sim, ou ele quebra a sua espinha.

PS - Opiniões mais bem escritas e pensadas do que as minhas disponíveis no Nós na Rede

6.10.05

Estado de Seguro-estar Social

O primeiro ministro japonês, Junichiro Koizumi, pretende cortar 35,000 empregos do setor público.Algumas categorias profissionais, porém, não precisam se preocupar - o plano prevê aumento de pessoal nos escritórios de imigração, prisões, polícia e aduana.

4.10.05

Te cuida, jegue

No Valor,


As principais empresas de máquinas agrícolas que atuam no país estão fazendo pesquisas para adaptar os motores de seus tratores à era dos biocombustíveis. Agrale, CNH, Valtra e AGCO realizam testes e adaptações para que seus veículos aceitem, misturas de 5% a 20% de biodiesel (de soja, mamona ou girassol) e até mesmo o biodiesel puro.

A brasileira Agrale iniciou neste ano, em parceria com a Agropalma, testes com tratores de pequeno porte (até 36 cv de potência) adaptados a misturas de diesel com o biodiesel à base de óleo de palma (dendê). As empresas também testam motores movidos a biodiesel puro.

A parceria foi firmada em 2004, e a meta da Agrale é lançar motores e tratores bicombustíveis em 2006. "O objetivo é atender principalmente à demanda da agricultura familiar, que tende a voltar seu foco para o biodiesel", diz Sílvio Rigoni, gerente de tratores da companhia. A Agrale também desenvolve pesquisas em parceria com a Embrapa e universidades públicas do Rio Grande do Sul para motores adaptados a misturas de biodiesel de mamona e outros óleos vegetais, mas não informa o valor investido nesses projetos.