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30.4.05

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S. Josemaría Escrivá de Balaguer

Na crônica da Veja, Diogo Mainardi faz uma apaixonada defesa do novo papa. Benedito XVI faz ele "ter pena de não ser católico."

Gozado. A única coisa que o DM já escreveu que não era chavão ridículo, que tinha algo de humano, era uma crônica falando da experiência dele de ter um filho PC. Será que ele concorda com Sua Santidade e seus amigos na Opus Dei, que acham que deficiências congênitas são uma punição pelos pecados dos pais? (Segundo o amigo do peito Dom Echevarría, especificamente pelo pecado de trepar antes do casamento, "segundo pesquisas científicas.")

Que ele admire a ligação visceral do santo mais rápido da História (pelo menos por enquanto) com o fascismo, tudo bem, tá no roteiro. Afinal, como diria São Josemaría, "Hitler salvará a cristandade do comunismo."


PS Me inspirando no Sumo Pontífice, gostaria de declarar que rezo para NÃO ficar com a Alessandra Negrini.

28.4.05

Novas da velha catástrofe

Entre as entidades do movimento social ligadas ao setor de saúde, no entanto, existe o medo de que a prefeitura inicie uma caça às bruxas com os servidores que colaboraram com o governo federal nos 41 dias que durou a intervenção. Outro temor diz respeito ao atendimento à população. O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) anunciou que vai responsabilizar Cesar e Coelho criminalmente caso morra algum paciente por falta de assistência: “O prefeito lutou pela devolução das unidades por uma questão meramente política. Ele sabe que o governo federal, nesse pouco tempo, já vinha dando solução a vários problemas, como a falta de remédios, por exemplo. Antes da intervenção, não havia sequer dipirona no Miguel Couto”, afirmou Márcia Rosa, presidente do Cremerj.

A perplexidade dos movimentos sociais com a decisão do STF foi resumida pelo presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, ao comentar a adoção do princípio federativo pelos ministros na hora da votação: “O STF considerou a intervenção inconstitucional por romper o princípio federativo. Espero agora que obrigue o prefeito a cumprir ele também a Constituição no que diz respeito à saúde como direito de todos, pois ele jamais garantiu isso à população do Rio de Janeiro”, disse.



César Maia pelo menos pode se orgulhar de estar seguindo uma tradição carioca. Afinal, o Rio já foi renomado internacionalmente pela sua insalubridade, a ponto de marinheiros às vezes deixarem a visita ao porto e às putas pra quando chegassem em Santos ou Montevidéu.

Gastando muito pra quem?

Não custa lembrar, de novo, que o Brasil, em que tantos reclamam por mais liberalismo e falam do tamanho do Estado, tem a menor influência do Estado na distribuição de renda do mundo. E, ao reclamarem um estado menor e ao mesmo tempo mais "investimentos" em infraestrutura, os nossos jornalistas "de esquerda" estão querendo que isso piore ainda mais.

Márcio Pochmann:

O que se identifica, por exemplo, como sendo farra do gasto público, desfaz-se rapidamente diante da simples comparação entre o conjunto de despesas dos dois últimos anos do governo FHC com os dois primeiros anos de governo Lula. Entre 2003 e 2004, o governo Lula apresentou uma despesa total média anual de 468,7 bilhões de reais, enquanto o governo FHC, entre 2001 e 2002, terminou comprometendo o valor médio anual de 477,8 bilhões de reais. Ou seja, as contas públicas do governo Lula foram 1,91% menores do que as de FHC, quando atualizadas pela inflação.

Há ainda as velhas e recorrentes críticas ao apelo efêmero do “absurdo” gasto com pessoal. Também aqui não há como prosperar, por hora, qualquer consistência que resista à luz da realidade. Nos dois últimos anos do governo FHC, por exemplo, a despesa com funcionário público foi de quase 96 bilhões de reais. Nos dois primeiros anos do governo Lula, o gasto com o funcionalismo público conseguiu ser, por incrível que possa parecer, 21,8 bilhões de reais a menos, atingindo apenas R$ 74,1 bilhões.

Frente ao corte de quase 23% no total das despesas de pessoal entre 2003 e 2004, torna-se difícil compreender a crítica contra o gasto público federal. Mas, mesmo assim, prossegue a febre anti-Estado, sinalizada pela constatação de que os municípios brasileiros teriam contratados 630 mil novos funcionários durante os três últimos anos do segundo governo FHC.

Com o maior número de funcionário público, o conjunto de municípios brasileiros passou a ter, em média, um servidor municipal a cada 42,3 habitantes. Acrescentando-se a isso, a parte de funcionários referentes às esferas estaduais e federal, o Brasil passou a ter cerca de um empregado do Estado para cada 20 habitantes.

Se comparado com outros países, o Brasil teria ainda muito que avançar. Na França, por exemplo, há menos de 9 habitantes para cada um servidor público, enquanto na Inglaterra a relação é de 1 para 16.

Se considerada a quantidade de empregados públicos em relação à população ocupada, a discrepância é ainda mais elevada. Enquanto o Brasil possui 1 empregado público a cada 10 ocupados, países como Estados Unidos e Inglaterra possuem a mesma relação de 1 servidor público para cada 6 ocupados e na França e Itália, a situação seria de 1 para 4.

Insatisfeitos com a realidade tal como ela se apresenta, sobram para alguns representantes dos interesses privados, as críticas em relação às despesas comprometidas com a contratação de serviços terceirizados. De fato, a reforma trabalhista branca que ocorreu no Brasil desde 1990 apontou para a substituição de empregados públicos por terceirizados do setor privado.

No município de São Paulo, por exemplo, a privatização do serviço público foi levada ao limite durante os anos 90. Praticamente, quase tudo foi terceirizado, da segurança ao transporte de pessoal, passando pela limpeza, varrição, conservação, fiscalização e até cobranças. Assim, a capital paulista, com quase 11 milhões de habitantes, passou a dispor de menos de 140 mil funcionários ativos municipais, com cerca um empregado público local para cada 80 habitantes.

Em contraposição, na capital mexicana há um funcionário público municipal a cada 24 habitantes. Apesar de possuir menos habitantes que a capital paulista, a cidade do México detém 2,5 vezes mais servidores municipais, descontando-se ainda o fato de que os professores da rede pública que atuam na capital mexicana pertencerem à esfera federal.

27.4.05

Habemus Tresoitão

...e o bicho não é feio



só perde (em tamanho e em buniteza) pro Mrya ("sonho") russo :



Os executivos da EADS deram um suspiro de alívio, ouvido até no Senegal, quando o bichão pousou sem pegar fogo. Os políticos europeus também, já que a Airbus é patrocinada pela comunidade européia, que nem a Boeing é patrocinada pelo governo americano, a Bombardier pelo Canadá, a Embraer pelo Brasil...aliás, não há indústria de aviação (ou, em geral, indústria pesada ou de ponta - aviões são as duas coisas) sem subsídio estatal. Tudo bem, o caso americano, em que compras estatais - via exército - correspondem à totalidade dos negócios de várias empresas de grande porte, incluindo setores inteiros (eg a indústria naval), é extremo, mas a coisa se repete mundo afora.

A pergunta que fica é - esse mundo de gente vai mesmo viajar, pra justificar, não só a compra do tresoitão, como a adaptação dos aeroportos pra enfiar 800 pessoas de cada vez pelo corredor? E pra onde?

Não custa lembrar que o mrya é um elefante branco. Muito de vez em quando, carrega algum trambolho que só cabe nele, mas geralmente voa por aí fazendo vôos de exibição, desde que seu uso original foi deixado de lado.

Déja Vu Preguiçoso

O berreiro em cima da gafe do Lula faz lembrar o escarcéu por conta dos "preguiçosos" do FH. Nos dois casos, as declarações têm um fundo de verdade, mas são infelizes. Nos dois casos, a imprensa só faltou babar (no de agora, com mais gosto).

Existe no Brasil um certo comodismo, um certo fatalismo em relação ao orçamento doméstico, sim. Aliás, o assunto traz à memória outra gafe do Lula. Principalmente quando confrontado com contas mais complicadas, ou situações legais e/ou que possam levar a uma sensação de ridículo. Tanto é que as tarifas dos bancos variam o quanto variam.

Os "vagabundos" do FH eram os que se aposentam aos 45 anos. Com nosso dinheiro. Que fazem com que a redução do coeficiente de Gini (medindo a desigualdade de renda) brasileira através das transferências ser de .06, enquanto nos EUA é .10 (já que não estamos falando de pobres se aposentando no sistema geral) Fora o fato de ele mesmo ser um destes (2 vezes, três agora), a figura sai um pouco diferente da imagem em que "FH xinga velhinhos."

Falando em hipocrisias do FH e em elitismo, um estudo da OECD sobre a desigualdade no Brasil, do qual aliás foi tirada a estatística acima, tem pelo menos um artefato estatístico, provavelmente deliberado. O custo por aluno da universidade pública brasileira está grosseiramente inflacionado, por dois fatores

1- A inclusão do gasto brasileiro com pesquisa nessa rubrica, que faria os números da OECD pularem.

2- Na contramão do senso comum, a pouca participação da universidade pública no total de vagas universitárias brasileiras, em relação a outros países, e a falta de uma hierarquia de universidades públicas no Brasil. Não que não haja uma hierarquia informal, mas todas as universidades federais, e as estaduais paulistas, almejam ser centros de excelência, e são iguais a princípio. Não é o caso de community colleges, California University e U. of California, ou similares. E o sistema S (que faz as vezes de politécnica, de certa forma) não entra na conta.

25.4.05

Lógica cristalina

Do jornal da força aérea americana, falando sobre as milícias apoiadas por eles no Iraque (o que foi apelidado, quando divulgado, como "the Salvador option," numa referência aos esquadrões da morte salvadorenhos)


"We don't call them militias. Militias are...illegal," says Maj. Chris Wales, who spent most of January tracking down and finding these new forces. "I've begun calling them 'Irregular Iraqi ministry-directed brigades.'



E o que essas forças da iniciativa privada fazem, além de ganhar dinheiro, que entra na conta de "reconstrução do Iraque"?

O Times de Londres (um jornal com um insuspeito pedigree Murdoch) narra uma das suas atividades - o fomento à indústria de entretenimento iraquiana e à produção televisiva em particular.


THE grim-faced young man looks shiftily in front of him, glancing from time to time at the lens recording his discomfort. A disembodied voice barks out: “Tell us about the crime you committed.”

The man clears his throat and begins to mumble. “We attacked the National Guard with machineguns and killed two of them. Then we beheaded one of them.” He stumbles for a moment, as if forgetting his lines. Then the interrogator prompts him with more details of his story and he continues with the tale of how he joined the insurgency and the attacks he carried out.

This is Terror in the Grip of Justice, the latest television hit in entertainment-starved Iraq where it is too dangerous to venture out at night and street life ends at last light. It is also the latest weapon in the Government’s propaganda war against the insurgents, aimed at exposing them as the enemies of ordinary Iraqis and cautioning those tempted to join them. Every night at 9pm thousands tune in to the state-run al-Iraqiya channel to see the “confessions” by insurgents paraded before the camera and interrogated.

19.4.05

Benedito (ou Bento) XVI

Habemus Papa, e ele é o cardeal-panzer Joseph Ratzinger, que até a morte de João Paulo II era o presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, que se chamou Santo Ofício de 1902 até os anos 70, e antes disso Inquisição Universal.

Pode ser só um chute, mas o nome foi escolhido mais em homenagem a Bento XIV do que a Bento XV. Bento XIV, papa de 1740 a 1758, promulgou bulas contra o sincretismo, a acomodação da doutrina católica à cultura local, e a diversidade de culto. Começou o processo de supressão dos jesuítas (anacronicamente falando, "a destruição dos católicos comunistas da América Latina).

Alguém pare o mundo que eu quero descer?

A nova ciência estatística

Depois de provar que não existe racismo no Brasil, Ali Kamel agora se atraca com outro mito pernicioso - a idéia de que há quem passa fome neste país.

Começa mostrando que as perguntas no questionário do IBGE são complicadas. O que é verdade (mas não da maneira exagerada e farsesca que ele apresenta), e deveria ser corrigido. Mas, através de uma operação fantástica, ao invés de concluir daí o óbvio (o IBGE precisa melhorar seu trabalho), ele defende o IBGE como "excelente" para atacar a própria noção de pesquisa de segurança alimentar. E conclui sua demonstração com uma lógica cristalina : pelo senso comum, não pode haver fome nos EUA*. Logo, se pesquisas mostram que há, pesquisas estarão sempre erradas. QED.

No próximo capítulo : Ali Kamel explica porque aviões não voam. Ou, mais próxima de seu campo de pesquisa (sociosensocomunismo), a inexistência de trabalho escravo (tese apresentada originalmente pelo grande sociosensocomuníco Severino Cavalcanti)



*O fome zero americano foi instituído por Franklin Delano Roosevelt, e existe até hoje, apesar do Clinton ter feito reformas que prejudicaram boa parte dos que o recebiam.

17.4.05

Foda-se o ursinho panda

Num momento infeliz, e reconhecendo o carisma do bicho, o World Wildlife Fund escolheu o urso panda como símbolo. Faz sentido, em termos mercadológicos - afinal, o bicho é a encarnação da expressão "megafauna carismática," é um urso de pelúcia vivo. O problema, fora "humanos acham você fofo" ser provavelmente a única vantagem evolutiva do infeliz que só come bambu, não trepa sem filme pornô, e tem propensão a doenças renais, é que, ao enveredar por esse ramo, a percepção do movimento ambientalista cresceu, mas na direção do "salve os bichinhos," se confundindo tanto com o sentimentalismo e as sociedades protetoras dos animais quanto com o elitismo Not In My Backyard, que pede morros com verdes para gozo dos ricos. Antagonizou tanto conservadores quanto socialistas no processo.

Hoje, talvez como parte da crescente monetização de toda a esfera pública, o ambientalismo está finalmente falando o óbvio - que ferrar com o meio ambiente pode ser muito caro, e, inversamente, recuperá-lo pode ser lucrativo. Ao exemplo paulistano mostrado no link (e baseado na Avaliação de Ecossistemas do Milênio), pode-se acrescentar, no Brasil, além da extensão da análise de Sampa a outras metrópoles, o ganho de até 5.000MW pela readequação dos lagos de hidrelétricas - maior do que a geração estável da usina de Belo Monte, e com a vantagem de que não é na PQP amazônica, mas espalhado pelo território nacional. O que leva a uma falácia dos próprios "ecologistas econômicos," a do desperdício na transmissão de energia elétrica brasileira. Esse desperdício é largamente estrutural, por conta da distância entre as hidrelétricas e os consumidores, e só vai ser reduzido a um custo altíssimo, e mesmo assim nunca vai chegar à média global, a não ser que se use supercondutores.

Nota - São Paulo é um caso particularmente extremo de importância da interação entre ambiente natural e ambiente construído porque é uma metrópole situada, não no curso baixo de um rio, como é mais comum, mas nas nascentes. Ou seja, o equilíbrio climático, hídrico, e etc... da área já está no limite, e pode ser alterado a um "custo" muito menor.

PQP

É o nome que poderia se dar à confusão histórica e moral do blog linkado, com direito a pitadas de essencialismo e xenofobia. Como num conto de fadas, a estética revela a alma - o estilo é uma imitação barata de Elio Gaspari.

O troféu PQp também é merecido, nesta semana, por

A) Merval, por confundir secularismo garantido por milicos com democracia.

B) O autor da matéria no Globo sobre consulados no Rio, por se ufanar de sua cidade, além de se embananar quanto ao que é consulado e o que é consulado honorário.

C) A O Eco, pelos versos de Míriam Leitão (nota - a própria Míriam Leitão, como Mario Sergio Conti e Olavo de Carvalho, é hors concours, mas a publicação por outrem de seus versos merce a admiração da comissão julgadora)

13.4.05

República das Alagoas

Em matéria de rolos judiciais, a política brasileira está entre as mais democráticas. Há investigações no Supremo Tribunal Federal (STF) contra parlamentares de 11 dos 16 partidos com representação no Congresso Nacional e de todas as unidades da Federação, à exceção de Alagoas.

...


A relação completa dos parlamentares que respondem às 185 investigações em andamento no STF será publicada ainda esta semana pelo Congresso em Foco.

Panaméricas de Áfricas

O governo brasileiro estuda trocar a dívida nigeriana, de US$ 160 milhões (mais de US$ 120 milhões em juros acumulados) por programas do governo nigeriano em educação e bolsas de estudo para nigerianos no Brasil. O tema terá de ser levado ao Legislativo local, que decidiu rejeitar dívidas passadas.

12.4.05

Tradução Instantânea

Onde se lê "maior inflação do ano em São Paulo," leia-se "prefeitura autoriza aumento da tarifa de ônibus, já que TODOS os componentes, administrados ou não, do índice FIPE tiveram variação menor que 0.98% - com a exceção da variação dos transportes, em 4.42%

A inflação brasileira é, hoje, basicamente controlada pelo governo (municipal, estadual ou federal), como numa versão ao contrário dos preços controlados. Ao invés de impedir que empresas privadas aumentem os preços, o governo coopera com empresas que, na prática, vendem a ele ou em parceria com ele. Para criar inflação, que depois tem que ser "combatida" com taxa de juros. Ora, a inflação controlada não é afetada negativamente por juros; se é que eles a afetam em alguma coisa, seria positivamente, já que as empresas poderiam investir em expansão, ao invés de forçar a mesma galinha a pôr cada vez mais ovos.

Deveriam fazer um índice de inflação que excluísse esse tipo de preço; seria mais verdadeiro e, só por coincidência, mais baixo. Quanto à fórmula tarifas-juros em si, o governo federal não tem coragem de renegociá-la, achando que se piscar o Mercado engole. Sei lá. Vai ver eles têm razão.

Ò mundo tão desigual

Márcio Pochmann (que por mim era o ministro do Planejamento, ou até da Fazenda) me poupa o trabalho de fazer um texto sobre as falácias galopantes da primeira página de hoje (ontem) do Globo.

Só pra completar o que ele não menciona, a reportagem é parte de um todo, incluindo editorial e uma matéria de opinião elogiando a AYN RAND. Ayn Rand é a "filósofa" americana que escreveu talvez a imitação de Nietzsche mais imbecil desde Mein Kampf, escrevia "romances-homílias" nos quais os Übermenschen protagonistas sempre estupravam uma Üntermädchenzinha, e inspirou o personagem Gordon Gecko. (Greed is Good)

Tudo de esquerda, claro. Assim como Sarney, ACM, Quércia - no Brasil, todo mundo é de esquerda. Até a perua de cabelo verde do Incal seria de esquerda.

11.4.05

Death, where is thy sting?

Assistir ao filme Wit, ontem na TV, me lembrou do conto linkado. Pra não contar o final da estória, ao invés de falar sobre o conto, aqui vai o poema de Donne que deu origem à peça que deu origem ao filme


DEATH be not proud, though some have called thee
Mighty and dreadfull, for, thou art not so,
For, those, whom thou think'st, thou dost overthrow,
Die not, poore death, nor yet canst thou kill me.
From rest and sleepe, which but thy pictures bee, 5
Much pleasure, then from thee, much more must flow,
And soonest our best men with thee doe goe,
Rest of their bones, and soules deliverie.
Thou art slave to Fate, Chance, kings, and desperate men,
And dost with poyson, warre, and sicknesse dwell, 10
And poppie, or charmes can make us sleepe as well,
And better then thy stroake; why swell'st thou then;
One short sleepe past, wee wake eternally,
And death shall be no more; death, thou shalt die.



E um pedaço da carta aos coríntios, na tradução do Rei James (que pode ter sido escrita por Shakespeare, ou por Ben Jonson) (que deu origem ao poema que deu origem à peça que deu origem ao filme)

Behold, I shew you a mystery; We shall not all sleep, but we shall all be changed,
15:52
In a moment, in the twinkling of an eye, at the last trump: for the trumpet shall sound, and the dead shall be raised incorruptible, and we shall be changed.
15:53
For this corruptible must put on incorruption, and this mortal must put on immortality.
15:54
So when this corruptible shall have put on incorruption, and this mortal shall have put on immortality, then shall be brought to pass the saying that is written, Death is swallowed up in victory.
15:55
O death, where is thy sting? O grave, where is thy victory?


(No capítulo 13, está a outra frase perfeita, é o da caridade.)

Feito Científico

Pesquisadores fluminenses conseguiram isolar o ridículo, antes considerado apenas uma conformação específica. O ridículo em estado bruto é um produto caro, tendo vista a necessidade de minérios de altíssimo teor para a extração, apesar da abundância do ridículo associado na crosta terrestre. Abaixo, uma imagem do elemento em estado de pureza:

10.4.05

Piadinha de novo

Dessa vez é do governo americano - enquanto defendia o sistema americano de subsídios, um funcionário americano declarou que
"Food security is often better served by opening markets to high-quality, low-cost produce than favouring domestic producers," segundo o Financial Times.

Enfim. "Faça o que eu digo e não faça o que eu faço" podia muito bem substituir "e pluribus unum," a essa altura do campeonato.

8.4.05

Hindenburg Gesellschaftsraum

Serra Pelada redux

Na década de 90, quando Serra Pelada virou uma cidade fantasma, cerca de mil pessoas insistiram em não arredar o pé de lá. Essas famílias viram o buraco virar um imenso lago e o local ficou conhecido mundialmente por conta do alto índice de malária e hanseníase. Com o anúncio de será reaberto para escavação, as primeiras famílias de garimpeiros já começaram a dar as caras na região.

Serra Pelada ainda deu ao Brasil um deputado - o coronel do exército mandado pra impor a ordem e a lei, que o invés disso criou um poder paralelo na região, e liderou os garimpeiros em depredações de áreas públicas, e um cerco à cidade onde está instalada a Vale do Rio Doce, Parauapebas.

6.4.05

A constituição européia

852 páginas.

A impressão que dá é que, invejosos, os constituintes europeus quiseram superar o Brasil, fazendo uma constituição ainda maior e mais complicada. Aí você se dá conta - que constituintes? A constituição européia é fruto dos poderosos do momento tentando agradar uns aos outros, empurrada sobre um monte de gente que, para "legitimá-la democraticamente" vai fazer um plebiscito. Um plebiscito sobre um texto legal de Oitocentas e Cinquenta e Duas páginas. Óbvio que ninguém leu. Nem os que ajudaram a escrever leram. Ou seja, a "democracia de manobrar as massas" entra em ação. É por isso que, na França, ganha força o movimento do não, o que à primeira vista parece paradoxal, já que a França sempre foi o maior esteio da "Europa." À segunda vista, o "non" é eurófilo, é um não às 852 páginas, que só podem ser confundidas com a Europa numa linha de pensamento capciosa.

O link é para um artigo explicando os princípios constitucionais que as 852 ferem.

1 - Uma constituição deve ser legível
2 - Uma constituição deve ser politicamente neutra
3 - Uma constituição deve ser revisável
4 - Uma constituição deve proteger da tirania através da separação dos poderes e controle destes uns pelos outros
5 - Uma constituição democrática é criada por outros que não os poderes estabelecidos

4.4.05

O Globo faz piadinha

Graças à nova Lei de Biossegurança sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a questão do cultivo de alimentos geneticamente modificados no Brasil sai da areia movediça dos critérios político-ideológicos e entra no terreno firme da orientação científica e da legislação ideologicamente neutra. (E do coelhinho da páscoa, papai noel, e criacionismo)

De imediato, é uma boa nova para o agronegócio, que, por falta de uma política de governo clara e objetiva, vinha operando na região fronteiriça entre o legal e o ilegal. (Diz-se de quando alguém comete crime mas tem dinheiro) A longo prazo, é um ganho importante para toda a sociedade brasileira, que se beneficiará das conquistas da ciência para atender às suas necessidades básicas de alimentação. (Aqui o Globo remete a um estudo revelando que a dieta brasileira no ano 2025 vai consistir principalmente de soja e algodão)

Ficam autorizadas a pesquisa em laboratório, a plantação e a venda em território nacional de produtos transgênicos, sem se conceder licença indiscriminada para ações irresponsáveis numa área ainda incipiente onde se recomenda cautela. (a primeira já foi concedida, pra uma variedade de algodão) A palavra final caberá à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, responsável por autorizar a pesquisa e o plantio. Antes da nova lei, as deliberações da comissão podiam ser derrubadas por ministros, sujeitando questões técnicas a conveniências políticas. (O fetichismo da "técnica" é extremamente útil para apoiar determinadas conveniências políticas)

Com a legislação, o Brasil se coloca em posição vantajosa. (Decúbito dorsal? Em relação a quem?) O cultivo de transgênicos é uma realidade irreversível no mundo inteiro, a despeito dos bolsões de rejeição, (também conhecidos como "Europa e China," ou se preferirem "os principais mercados brasileiros") muitas vezes criados pelo radicalismo e pelo medo da novidade e não pela prudência.(E outras, pela prudência.)

Nesses alimentos pode estar a desejada saída para o dilema de se atender as necessidades fundamentais sem expor o meio ambiente ao desgaste dos agrotóxicos. (Só que a soja Roundup Ready, estopim da campanha de desobediência civil da Monsanto, não é resistente a pragas sem precisar de herbicida, é resistente ao herbicida Roundup, que pode ser aplicado em doses maiores.)

1.4.05

Zepelins!

No site www.netmarinha.com.br, o governador do Amazonas anuncia que pretende incentivar pesquisa e uso de dirigíveis.

Ora, dirigíveis são a coisa mais maneira do mundo (isso pode ser cientificamente provado). Mas as tentativas de se ressuscitar o bicho geralmente fracassam; afinal, ele é uma vela gigante, e portanto relativamente pouco confiável para transporte regular de passageiros; para carga, custa o mesmo em combustível que um caminhão, então não é particularmente econômico. Mais o problema do vento, que só piora quando se pensa no "nicho" do dirigível, carregar peças unitárias extrapesadas (imagina uma locomotiva caindo no lago).

Na Amazônia, a equação muda. O preço do caminhão aumenta exponencialmente (se você contar aí o preço da construção da estrada, então...). A "malha" de rios geralmente não se presta ao transporte, porque está cheia de corredeiras e de trechos rasos; o próprio Amazonas e o Negro podem ser usados até por porta-aviões, mas até chegar lá é um problema. A idéia, então, é de que a dupla zepelim-navio pode substituir a dupla caminhão-tremouchata de outros lugares.

PS - No que só pode ser a história se repetindo como farsa, as principais pesquisas sobre dirigíveis hoje são do Pentágono e de companhias civis alemãs.