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10.5.05

E a tinta que nos tira?

Xico Graziano faz uma interessante redação de volta às aulas no Globo. Comentários em negrito. Nome tirado desta tira da Mafalda:




O boi é um bicho extraordinário. .Sua capacidade de elaborar proteína, a partir de gramínea, o diferencia entre os animais. Domesticado, sua carne foi fundamental para a evolução humana.

O boi compartilha essa extraordinariedade com pouquíssimas espécies animais - só umas 687.000

A evolução humana, surpreendentemente, ocorre antes da domesticação do gado. Mas talvez os índios tenham dado tanta dor de cabeça aos pobres latifundiários oprimidos que Xico apagou seu nome da família humana.


Na digestão está o segredo. Os herbívoros ruminantes, como se classifica o boi, possui duplo estômago, o que permite uma espécie de remastigação dos alimentos ingeridos. Nesse processo, a celulose acaba sintetizada em aminoácidos essenciais. O verde do capim vira carne vermelha.

Os herbívoros ruminantes possui(sic) quatro, ou um estômago. Sim, este é um comentário irrelevante e mesquinho. Mas pô, o cara é agrônomo.

Outros animais fornecem proteínas ao homem, destacando-se os suínos e as aves. Diferentemente dos bovinos, todavia, eles competem com as pessoas na alimentação, pois sintetizam seus aminoácidos a partir de rações, cujos componentes básicos são soja, milho ou trigo. Nesse caso, a proteína vegetal, que se transformará em carne, é a mesma servida na mesa da família.

Isso é a falácia da petição de princípio, já que grama ou ração não são componentes primários, e sim solo e água, e o gasto de recursos agrícolas pra sustentar um boi, por quilo, é muito maior que o de um porco ou galinha. Se os últimos são onívoro e granívoro é irrelevante, como pode ser comprovado pelo mercado (experimente, apesar de o Brasil consumir mais carne de gado do que de frango ou porco, pedir ao açougueiro que cobre menos pelo bife que pelo frango). Ah sim- boi também come ração. Na verdade, hoje em dia a maior parte da dieta bovina também é ração.

Quando surgiu a doença da vaca louca, na Europa, o mundo tomou consciência de que, nos trópicos brasileiros especialmente, o gado pastava ao sol. Lá, o inverno rigoroso exige o confinamento e o arraçoamento artificial. Aqui, a natureza privilegia o boi “verde”. A ecologia adorou essa história.

O fato de o boi brasileiro ainda ser herbívoro, ao contrário do calega euro-americano, é ignorado pelo resto do mundo. O que a ecologia sabe do boi brasileiro é que ele desmata a Amazônia. O que é uma injustiça - detona o cerrado e a caatinga também, e o pantanal já não está se sentindo muito bem.

Desde então, a carne nacional avançou no mundo. Ano passado, o país assumiu a liderança mundial nas exportações. Churrascarias do tipo rodízio, invenção brasileira, se inauguram aos montes nos EUA, no Japão, na China. O bife brasileiro virou campeão.

A carne brasileira, graças a técnicas inovadoras como o trabalho escravo, compete principalmente no preço. Só agora o ministério da agricultura está conseguindo convencer os amigos do Graziano de que controle fitossanitário é importante pra exportar carne cara. As churrascarias criadas pelo êxodo de mais de um milhão de emigrantes brasileiros, desde os anos 90, usam carne local ou vinda da Austrália.

O rebanho cresceu. Mais que gente, existe 196 milhões de bovinos no Brasil. De mamando a caducando, como se diz na roça. Trata-se do maior rebanho comercial do mundo. Fala-se “comercial” porque, na Índia, o rebanho é maior, mas a vaca é sagrada. Hindu não come carne bovina. Apenas ordenha o leite.

Ocorre, silenciosamente, uma revolução na pecuária nacional. É positiva a agenda da pecuária bovina. Existem, porém, ameaças negativas. Na mídia, muitos ainda raciocinam como nos velhos tempos. Volta e meia o pecuarista, na novela, faz papel de latifundiário, quando não de bandido.

Coitados. Só porque tentam se preservar de arruaceiros Ainda bem que o Xico Graziano e os colegas estão se opondo a esse pogrom . Mas que a agenda é positiva é inegável, principalmente se você acha que essa área de mato é um desperdício, e concorda com o Severino

Na reforma agrária, pastagens se confundem com terra ociosa. Influenciados pela época inflacionária, quando o boi servia à especulação fundiária, os do MST, agora conluiados com o Incra, teimam em invadir fazendas de criação de gado. Pensam, os justiceiros agrários, que capim serve ao mal.

Quiçá o visual da planície os incomode. Esses esquerdosos, ou desconhecem os avanços da pecuária, ou não gostam do boi. Talvez, vai saber, sejam vegetarianos enrustidos. Os trabalhadores em geral, sem-terra ou operários urbanos, adoram um bom bife ou um ensopado com batatas. Ora, os agraristas, pequenos burgueses, comem filé mignom.

A culpa é dos esquerdosos. Se a esquerda não estivesse no poder há 500 anos, o Brasil seria um país de primeiro mundo

O governo também não tem ajudado a pecuária como poderia. O sistema de sanidade animal do país continua frágil. O conhecido SIF está caduco. Nas fronteiras, a fiscalização é deficiente. O Ministério da Agricultura teve 63% da verba para defesa sanitária cortada do orçamento de 2005. Na guerra comercial da globalização, configura uma temeridade.

Eu pensava que subsídios fossem coisa de esquerdoso?

Há atritos no próprio setor. Os frigoríficos se locupletam na exportação, ganhando rios de dinheiro, enquanto arrocham o preço do boi. Em 2004 houve um aumento de 67% no volume exportado, cujos preços valorizaram, em dólares, 37%. As divisas somaram R$ 2,6 bilhões, um recorde.

A concentração de mercado nos frigoríficos é menor do que na maioria dos outros setores no Brasil. Majors = 35%. A Ambev tem isso sozinha, por exemplo. 

No mesmo período, a arroba do boi caiu 12% ao produtor. Um absurdo. Não é por outro motivo que os pecuaristas denunciaram os frigoríficos ao Cade. Claramente ocorre manipulação da margem de lucro. Fora o tradicional desconto na balança.

De novo, eu achava que reclamar do mercado fosse coisa de esquerdoso. Mas uma pergunta - a concentração só começou depois que o Xico deixou de ser ministro?

Por fim, certos ambientalistas inventaram de falar mal da boiada por conta do efeito estufa. Como assim? Explica-se: o processo da digestão dos ruminantes fabrica gás metano como subproduto. Os bichos, coitados, precisam expelir os vapores do estômago, duplo como se viu. Fizeram as contas e concluíram: o arroto do boi é antiecológico. Fora a flatulência!

O gás metano é o segundo causador do efeito estufa, atrás apenas do CO2. Por volume, é várias vezes pior, mas a emissão é menor. Não faz diferença se a indústria que o libera é mecânica ou biológica. No caso do Brasil, a indústria biológica (ie a pecuária) libera mais gases do efeito estufa do que a mecânica. Mesmo sem contar as queimadas. Graças ao arroto das vaquinhas. E só pra ser chato, quem já leu a bula do Luftal sabe que arrotos são eructações. Flatulência é o peido.

Osho, guru indiano, ensina que a tolice é o maior dos defeitos humanos. Para combatê-la, o caminho passa pelo conhecimento, fonte da sabedoria. Talvez assim, com informação, caia o preconceito contra o mundo rural.

Informação sobre Osho©: o guru prega o vegetarianismo.

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