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25.11.09

O horror, o horror

Faltar luz, tudo bem. Faltar água, tudo bem. Esgoto, escola, hospital, ar, tudo isso é supérfluo.

Mas faltar COCA COLA é indizível, obsceno, grotesco, inominável.

19.11.09

Defendendo o indefensável

Também conhecido como Gilberto Kassab. Sério, eu odeio o Kassab do fundo do meu coraçãozinho negro, mas pô. A Folha desde o começo da semana repete, como manchete do caderno de Cotidiano, que "Kassab vai aumentar o IPTU" ou variantes. E isso é uma pusta mentira. A prefeitura de São Paulo (e digo a prefeitura, não o Kassab, porque se trata de uma operação rotineira e técnica da prefeitura, não uma decisão de governo) vai corrigir os valores da tabela de IPTU para refletir os atuais valores das áreas ocupadas. Chamar isso de "aumento de imposto" é como se eu dissesse que aumentou meu imposto porque paguei mais depois de receber um aumento de salário. E em locais que sofreram depreciação de valor do metro quadrado, vai haver redução do IPTU.

Comentário sobre a situação um: por mim, aumentava-se de verdade o IPTU. Assim como o imposto de renda a nível federal, o imposto sobre a propriedade fundiária municipal é responsável por uma fatia muito pequena da arrecadação. E por mim o gordo dos impostos recairia sobre a renda e a propriedade, não sobre o consumo e a produção como hoje ocorre.

Comentário dois: a Folha continua firme na campanha Serra Presidente 2009 / Vamos Encerrar Esse Ciclo*, então porque malha desse jeito, recorrendo a distorcer os fatos, um aliado do Serra?


*Frase de Aecim que, se a Dilma for esperta, vai usar muito na campanha. Se for muito esperta, o horário eleitoral do PT vai consistir unicamente da foto de um certo ex-presidente com um pé na cozinha, com a legenda "PSDB" embaixo.

17.11.09

Varões Vigorosos da Virgínia

O Partido Republicano americano, ressentido com a vitória democrata ano passado, deu liberdade plena pra sua ala mais raivosa e irracional fazer "tea parties" e besteiras do gênero, inventar maluquices sobre a nacionalidade do presidente e de modo geral se apresentar como dez vezes mais radical do que um partido que já se movimentou bastante pra longe do "centro" político, como quer que você o defina.

Mas os Republicanos, que como diria Gore Vidal são "a ala militarista do Partido Corporativo," não podem eles mesmos se entregar completamente ao movimento Tea Party. E agora, o inevitável aconteceu - a galera vestida de índio e jogando chá no porto está tentando assumir o controle.

O histórico global de políticos estimulando radicais e achando que podem controlá-los não é lá grandes cousas. A ver no que vai dar o movimento político que fala de "Jesus e John Wayne." Falando no que, o excelente cartum abaixo, do Tim Kreider

13.11.09

A festa da democracia

Nas universidades públicas brasileiras, as eleições resultam numa lista, da qual o "dono" (secretário estadual ou ministro da educação) escolhe o reitor. Geralmente, entretanto, essa "escolha" é protocolar; o mais votado é escolhido. Paulo Renato, como ministro da educação, decidiu, de forma controversa, desrespeitar essa tradição na UFRJ; agora, como secretário da educação, decidiu fazer isso na USP. (É a primeira vez que o primeiro colocado não vira reitor da USP desde 1981.)

Pra notícia ficar realmente divertida, o motivo pro sujeito ser tudibom e se ignorar a praxe é ele ser "grande administrador," tendo presidido o CADE que aprovou a fusão da AMBEV e posto a PM pra porrar os alunos da SanFran depois de uma ocupação de um dia.

Curioso é que ele fala que uma das prioridades dele é a autonomia universitária, apesar de estar sendo escolhido por cima da preferência da universidade. Por outro lado, o significado dele de autonomia parece ser "arrumar mais dinheiro e dar mais poder às fundações."

12.11.09

Prudência ou pirraça?

Um artigo bem interessante da Scidev trata da construção e operação de satélites por países em desenvolvimento - o artigo cita nominalmente a Índia, a África do Sul, e a Nigéria.

O artigo cita a acusação de que a construção de satélites seria apenas uma obra de prestígio, que tem um pouco de verdade e um pouco de ciúme, feita pelos órgãos de países desenvolvidos, cujos dados são, hoje em dia, disponíveis digrátish em boa parte, o que tornaria redundante a construção de satélites por outros. Logo depois contrabalança ela falando da necessidade de controle sobre a informação, e de informações mais detalhadas e atualizadas do que as tais informações disponíveis de graça.

Mas o que acho interessante na acusação de que seria um projeto de prestígio é que, bem, boa parte da corrida espacial sempre foi exatamente isso. Os astronautas e cosmonautas pesquisam, principalmente, "os efeitos do espaço em astronautas e cosmonautas." Vá, e taiconautas. Não há muito que eles façam que não possa ser feito - às vezes melhor - por robôs, a uma fração insignificante do custo. Com o preço de se mandar duas vezes astronautas para consertar o Hubble, dá pra comprar um novo Hubble. Quanto a dizer que isso é feito por países ricos, e não por países que, nas palavras do artigo, "do not even manage to feed their own people," bem, isso é verdade, de certa forma, também da China e da Rússia - e até os EUA têm milhões de pessoas desnutridas e em situação de insegurança alimentar. Sem nem ampliar a questão para a solidariedade global. (Ie o dinheiro do programa espacial indiano poderia alimentar indianos carentes, mas o dinheiro do programa espacial americano também poderia alimentar indianos carentes.)

Estou longe de, ao dizer isso, condenar os programas de vôo espacial tripulado. Há quem argumente que a grana fabulosa gasta no projeto Apolo teve um retorno, em termos de incentivo à educação científica e relações internacionais, muito mais do que suficiente. O problema dessa discussão é que, bem, ela é muito difícil de medir. Ao contrário da maioria das discussões políticas, não se trata de algo que possa ser tratado de alguma forma objetiva, o que é ignorado por quem advoga medidas irracionais (cf. "Guerra ao crime" no Brasil), mas algo que legitimamente escapa à apreensão técnica. Qualquer argumento a favor ou contra esbarra em coisas como história contrafactual, e cadeias de se, se, se deeeeeeeeeeeeeste tamanho.

Nessas horas que agradeço por não ser deputado.

10.11.09

Desmatando a peroba

Com a entrada em campo de Marina Silva, o governo Serra busca estabelecer suas credenciais verdes editando uma lei que prevê a queda nas emissões de gases do efeito estufa do estado. Com direito ao secretário de meio ambiente (aquele mesmo que odeia ambientalistas) declarando que "está faltando a coragem ao governo federal de assumir essa agenda com a altivez que nós estamos aqui empenhados em São Paulo pelo nosso governador."

Curiosamente, é a primeira lei de restrição de emissões de carbono de que já ouvi falar que não mereceu um protesto, um pio, um ai por conta de qualquer entidade empresarial, nem da FIESP, nem do CIESP, nem do IBA, ninguém. Nem o agronegócio paulista, geralmente tão aguerrido contra ambientalistas quanto contra sem-terra. Que coisa.

Olhando para a lei, a coisa se explica. Primus, a lei não fala em fazer absolutamente nada até 2014. O plano vai ser formulado "nos próximos dois anos." Secundus, Serra já dá a dica: a meta vai ser atingida "com a troca de combustíveis poluentes na indústria, com o incentivo a transportes mais limpos e com o reflorestamento de matas ciliares" - ou seja, com medidas que o estado e sua indústria já serão obrigados a cumprir, por lei ou programa de incentivos federais, e com meios dúbios como chamar o metrô de "investimento em redução de emissões" e incentivos fiscais a plantações de eucalipto.

Tertio, a cereja do bolo: a lei fala em uma emissão atual de 122MtCO2eq, a ser reduzida para 98MtCO2eq até 2020 através dessas medidas "a conferir." Ora, o último inventário da CETESB, referente a 2006, falava que tinham sido emitidos 72Mt no estado...

Tobin e Strauss Kahn, no parque se beijam

OK, OK, não é uma taxa Tobin. O Dominique Strauss-Kahn, mulherengo profissional e diretor do FMI nas horas vagas, diz isso com todas as letras.

Ainda assim, é interessante que o FMI esteja propondo um imposto internacional, o que até há pouco tempo atrás seria um tabu completo. Pessoalmente, sou mais a favor de uma taxa Tobin de verdade - digamos, 0,005%, o que desestimularia um pouco a especulação, e arrecadaria uns cinquenta bilhões de dólares por ano - por baixo - pra se destinar à ONU, que por enquanto tem que mendigar dinheiro pra agências de pouca importância como o Programa Mundial de Alimentação e a UNICEF.

Alguém não gosta da ONU, ou acha que a turma reaça dos EUA que crê em helicópteros pretos? Tranqs, destine-se ao invés disso os proventos da taxa Tobin pra sanar as dívidas públicas dos países mais pobres, em ordem ascendente de IDH. Dava pra zerar o total em menos de quatro anos. (Hoje em dia, vários dos LDCs dedicam mais de 40% da arrecadação pública ao pagamento de títulos da dívida.)

9.11.09

Alto valor agregado

Um dos problemas da discussão sobre o efeito estufa é que geralmente ela se concentra no dióxido de carbono, tanto que as emissões de outros gases, na hora de fazer a conta, ao invés de serem convertidas em algum índice abstrato, são convertidas em "toneladas de CO2 equivalentes."

E, bem, cada vez mais se acha outros gases problemáticos. Isso porque quase qualquer outro gás contendo carbono captura mais calor do que o CO2. O metano, tão comum nas vaquinhas, é o pior deles; contando seu potencial de captura é responsável por um terço mais ou menos do efeito estufa humano. Possivelmente. Possivelmente porque nunca se sabe exatamente quanto - e novos estudos sempre saem pra pior. Por exemplo, agora se reavaliou o papel da drenagem de pântanos no efeito estufa e, surpresa, eles respondem por quase metade das emissões por mudança de solo, bem mais do que o que se pensava até há pouco. (Não confundir com as emissões de pântanos e outros depósitos de carbono pelo próprio aquecimento global, também conhecidas como "nóis sifu.)

Por isso que, às vésperas de uma nova reunião sobre o aquecimento global, as posições "moderadas" não são nem de longe suficientes. Xiítismo, no caso, é necessário. Pelo menos para um país que tem metade da sua população na costa, e pode se desertificar no interior (perdendo, entre outras coisas, as hidrelétricas).