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16.5.05

Índices

Foi divulgado o Índice de desigualdade de gênero do Fórum Econômico Social, no qual o Brasil estaria em 51º lugar. Nas palavras da Folha, "
Na classificação geral, o Brasil ficou atrás de países como Bangladesh (39º) e Zimbábue (42º). A Argentina ficou em 35º. A melhor colocação do Brasil foi em oportunidades econômicas (21º lugar) e a pior, no índice de presença em cargos decisórios (57º). Em termos de acesso a educação, o Brasil ficou em 27º lugar, enquanto a Argentina ficou em terceiro."

E daí? Daí que o índice, que mistura números "duros" e os resultados de uma pesquisa junto a executivos, lista em "acesso à educação" os fatores : meninas/meninos, escola primária, secundária, terciária, alfabetização, anos de estudo. Em quase todos esses quesitos, o Brasil já passou da paridade, assim como muitos outros dos países avaliados. Quando falam do índice de saúde, eles mesmos mencionam práticas de clitoridectomia, mas o quesito final só inclui questões ligadas à saúde reprodutiva, mais uma pergunta aos executivos sobre "a eficácia de esforços do governo para reduzir a pobreza e a desigualdade." Além de usarem, como deflator dos índices de saúde reprodutiva, o número de médicos por habitante, ao invés da universalização do saneamento básico, que tem relação mais direta.

Os outros quesitos são igualmente questionáveis "mulheres no posto máximo nos últimos 50 anos" inclui todas as viúvas e filhas das dinastias políticas asiáticas, e faria da Aquitânia de Leonor ou da Castela de Isabela países em que as mulheres eram "politically empowered." Desemprego é questionável quando usado sem se prestar atenção no emprego (se 20% das mulheres que trabalham estão desempregadas, de um total de 50% das mulheres em idade ativa que trabalham, isso é melhor ou pior do que 10% de um total de 30%?) Mulheres no ministério em 2002 não leva em conta a relevância do ministério (alguém acha equivalentes a Dilma Roussef e a Benedita?), além de, sendo um dado instantâneo, poder não representar muita coisa.

Para um índice feito por uma entidade liberal (e que, portanto, deveria prezar mais a liberdade do que a igualdade, e mais a ciência jurídica do que a estatística), é até estranho que ele não mencione, a não ser de forma indireta, no quesito política, o mais essencial, e desrespeitado em muitos dos países avaliados : os direitos básicos, civis e humanos, da mulher e da cidadã. Uma mulher que tenha que usar burca e andar doze passos atrás de seu marido não lhe é igual, mesmo que ganhe a mesma coisa no mesmo emprego. Um código penal que acata a legítima defesa da honra, ou que não acredita em estupro conjugal, está discriminando contra mulheres.

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