O nome parece tirado diretamente de um filme de aventura de terceira categoria. "Cidade dos Mortos." E como tal, sua localização no Egito parece um clichê. Afinal, os egípcios eram, e ainda devem ser, obcecados com a morte, certo?* Mas a Cidade dos Mortos cairota não tem nada a ver com algum tipo de adoração aos mortos, e muito mais com a falta de opções de moradia num país com densidade populacional altíssima (na wikipédia você verá 82 pessoas por Km2, o que é pouco - mas 90% do território do país é deserto, ou seja o número real está mais perto de 820) e crescimento populacional explosivo. O cemitério de el-Arafa é dos mais antigos e maiores do mundo, e já era famoso pelo tamanho e pelos mausoléus da nobreza cairota há séculos; no século XX, quando comunidades de baixa renda foram arrasadas para abrir bulevares, boa parte dos expulsos se mudou para os enormes mausoléus, que no Egito geralmente têm salas para que a família do morto viva durante o período de luto.
Nem toda a favela assim criada está dentro do cemitério propriamente dito; boa parte é uma favela plana mais comum. São mais de 200.000 habitantes (Mike Davis, em Planeta Favela, fala em mais de meio milhão, mas os números do livro são consistentemente exagerados) no total do complexo, dos quais talvez metade more em tumbas e mausoléus. O ambiente surreal, com pessoas formando uma fila de pão defronte a uma tumba elaboradamente decorada, perde um pouco da força para quem está acostumado a cemitérios católicos porque as convenções figurativas são diferentes, fazendo com que a "cara de morte" ou de cemitério, não seja tão forte, mas mesmo assim já surgiram os favela tours que levam turistas para ver, além da miséria, o insólito; o nome "cidade dos mortos" é mais invenção desses favela tours do que qualquer outra coisa, e no Cairo as pessoas chamam o conjunto de el-Arafa, ou simplesmente de "o cemitério."
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