A prefeitura do Rio de Janeiro fechou um terminal de ônibus sem aviso prévio. A justificativa para o fechamento é em si discutível: trata-se da "revitalização" (gentrificação), pela qual o terminal hoje utilizado principalmente pelos empregados do complexo de tribunais e do hospital próximos viraria uma praça, bonita de se ver das janelas dos juízes e procuradores. Digo discutível, e não errada, porque a solução encontrada pela prefeitura é tornar as linhas que param ali em circulares, ou seja, teoricamente a disponibilidade de transporte não mudaria.
O que é errado, bizarro, e grotesco, é o fechamento sem aviso prévio, e a razão desse fechamento: é que o fechamento foi prometido pelo prefeito ao presidente do Tribunal de Justiça, Sérgio Zveiter, e como o mandato deste termina amanhã, teve que ser feito rápido. El-rey fez um mimo a sua eminência o juiz da côrte de cassação, sem respeitar minimamente as pessoas que o elegeram. A atitude tecnocrática e alérgica à opinião, que dirá influência, da própria população são exageradas na atual prefeitura do Rio (um exemplo é que das coisas em que não apenas não se melhorou como se piorou desde os tempos de César Maia foi a transparência através da Internet). Mas não é apenas Eduardo Paes que decide secreta e imperialmente os destinos de seu governo: a tecnocracia demofóbica é uma constante mundo afora. Que o digam as chamadas pelos bancos centrais formalmente independentes, que conseguiram sua apoteose no banco central europeu, que é não apenas independente como quase superior aos governos da Eurolândia.
Às vezes dá vontade de avisar ao pessoal que está arriscando a própria vida para derrubar um ditador, nas ruas do Cairo, sobre quão pobre pode ser a democracia que eles (tomara) conseguirão.
Atualização: depois de protestos, a prefeitura decidiu reabrir o tal terminal. Mostrando, acho, o corolário do precedentemente exposto: a democracia nunca pode se dar apenas na urna. O protesto constante é saudável.
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