A usina de Belo Monte, cuja viabilidade econômica é questionável pela combinação de localização remota e disponibilidade de energia irregular, é um problemão ambiental que já derrubou ministra e chefe do Ibama. A atração dos 11.000 MW de energia elétrica, prometendo resolver de uma vez o problema de dez usinas menores, parece ser muito forte sobre o governo - fico pensando se ficaria menor caso se usasse o conceito de energia comprável na ponta Araraquara, de 2.400 a 7.000. A inviabilidade de Belo Monte seguindo as regras normais para a construção de usinas, ao invés de constadada fazer com que se desista da idéia, tem alterado as regras, fazendo da usina uma exceção gigante e mal explicada. Ou melhor, cuja explicação é sempre o terceiro excluído do "você quer ficar sem energia elétrica"?
Pelo menos, até agora, as exceções haviam sido pontuais, feitas através da desconsideração das regras para este empreendimento específico. Dilma, legalista, pelo visto prefere fazer as coisas da maneira certa. E é assim que, para viabilizar os megalinhões ligando Belo Monte e outras usinas amazônicas a São Paulo, vão mudar as regras para licenciamento ambiental de linhas de transmissão.
A idéia veio num momento infeliz em que o ministério do meio ambiente tenta barrar a malfadada proposta de código ambiental do Aldo Rebelo, que tem apoiadores tanto na base do governo quanto na oposição, e contempla absurdos como liberar o desmatamento em cumes de morro e a cinco metros de nascentes, ou anistiar todo o desmatamento ocorrido até sua promulgação, mais uma "moratória sem punição" de cinco anos, durante os quais os ruralistas bonzinhos se comprometeriam a não desmatar, mas não seriam punidos se desmatassem. Cada vez mais, Belo Monte vai se mostrando mais albatroz no pescoço do que solução técnica.
Outro caso de flagrante contradição entre intenções verdes e desenvolvimentos na economia é o do estado do Rio de Janeiro. Conhecido inclusive fora do Brasil pelas belezas naturais, o estado acaba de anunciar a criação de uma secretaria da economia verde. Pensando-se no turismo que ocupa a orla do estado da fronteira sul até Cabo Frio, mais a região serrana, e na posição ocupada pelo Rio na geração de conhecimento no Brasil, faz todo o sentido, certo? A questão é que o Rio de Janeiro é também o estado no qual a indústria pesada, extremamente poluente, está em expansão mais acelerada. O total de investimentos em indústria pesada no estado confirmados é mais do que o dobro de São Paulo, Maranhão ou Ceará, (estes graças às grandes refinarias anunciadas pela Petrobrás), sendo que o território fluminense é uma fração da área dos outros três estados, e ao contrário do Maranhão e Ceará o Rio já tem uma indústria pesada bastante densa.
A frase "entre um cerradinho e a soja, Lula é a soja" proferida por um ruralista (portanto insuspeito), ficou infame. E entre a indústria pesada e a mata atlântica, a restinga, cerrado, ou amazônia, o que será que Dilma e Cabral preferem? Pior que acho que sei a resposta.
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