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11.2.11

I, too, am Larry Summers

Digo, Spartacus. O Brasil Grande tem motivos para se orgulhar da redução do desmatamento ocorrida na década de 2000. Apesar de ainda estar entre os piores do mundo na média da década, , a taxa de desmatamento atual, mesmo com o pequeno repique havido este ano, é de menos da metade dessa média, além de menos de um quinto da taxa pré-Marina e Minc. Isso inclusive faz com que as emissões de gases de efeito estufa brasileiras, que sempre tiveram no desmatamento seu principal culpado, tenham se reduzido consideravelmente apesar do aumento na produção industrial, e torna enigmático por que diabos o Brasil se alinha, nas discussões sobre o efeito estufa, aos países poluidores. Deveria se alinhar aos verdes mais raivosos, já que tem credenciais para isso. (Repare aliás, na tabela acima linkada, a proporção de floresta remanescente.) Mesmo as taxas de desmatamento do Cerrado já passaram de absurdas a apenas horríveis.

Ou melhor, o Brasil é essa cocada toda dentro de suas fronteiras. Discutir atuação externa do Brasil, para além de histerias anti-ONU (de parte da esquerda) ou anti-Irã (por parte da grande mídia), nunca foi lá muito o forte do Brasil, até porque historicamente o país é relativamente isolado. A corrente de comércio representa parcela relativamente pequena do PIB; não há interesses significativos brasileiros fora das fronteiras (ou não havia, antes da Bolívia). E a relação privilegiada do Brasil, até por preconceito, sempre foi com o mundo rico, pelo que os impactos de qualquer negociação são antes os internos do que os externos. Ninguém se preocupa muito, afinal, com como a política externa brasileira afetará a França ou os EUA.

Mas o novo Brasil Grande é espaçoso, e tem com Lula ultrapassado as fronteiras nacionais. Se parte dessa atividade é inegavelmente boa (fábricas de remédios na África), outra parte, mesmo ignorando as histerias acima mencionadas, é bem mais questionável. Para muita gente, assim como as Américas já foram consideradas o quintal dos Estados Unidos, a América do Sul seria o quintal natural do Brasil. E nem isso é um movimento primariamente ideológico - pelo contrário, empresas brasileiras estão neste momento explorando ou com projetos de explorar os rios do Peru, o gás da Bolívia, os cerrados da Bolívia e do Paraguai, e até a Gran Sabana venezuelana, que é dos lugares mais remotos ainda existentes no mundo.

Em boa parte desses empreendimentos brasileiros na América do Sul, a motivação explícita é a dificuldade em concretizar empreendimentos semelhantes no Brasil, devido à legislação e ao ativismo ambientalistas. Assim, de certa forma, estamos fazendo com nossos vizinhos o mesmo que Europa, Japão, e EUA querem fazer conosco, isso é empurrar os custos ambientais e sociais da base da cadeia produtiva para lugares menos poderosos. Não é exatamente algo de que se orgulhar, para dizer o mínimo. Além disso, o explícito antagonismo entre as vantagens a se concentrarem no consumidor (e talvez nos governos nacionais) e as desvantagens locais significa enredar o Brasil numa rede de relacionamentos desiguais, e muitas vezes violentos. O Brasil não invadiu nem pressionou a Bolívia, quando esta nacionalizou seu petróleo, por decisão pessoal do Lula, e houve uma considerável pressão política nesse sentido. Só que nem sempre vai haver Lulas no palácio do planalto, e realidades de interesse e poder têm esse mau hábito de se imporem às melhores intenções.

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