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31.5.12

Uma agenda para os ruralistas

A se julgar pelas defesas feitas pelos ruralistas do desmatamento amplo, geral, e irrestrito, não é - como poderia parecer - a sorte de grandes latifundiários que lhes preocupa, mas um rol de questões humanas, econômicas e sociais relevantes. Ora, os pobres coitados, pelo visto um pouco confusos, não sabem que existem jeitos melhores de se resolver essas questões do que o desmatamento de qualquer área maior do que o jardim da casa da velhinha de Taubaté. Assim, vão aqui algumas sugestões:


"Sem o desmatamento, estará ameaçada a segurança alimentar brasileira" : de si, a alegação é estranha, porque a fronteira agrícola não planta gêneros alimentícios em geral, mas carne e soja para exportação. Mesmo a carne consumida no Brasil não é um gênero alimentício de primeira necessidade, nem um do qual o Brasil precise aumentar a produção. Mas vamos lá, se a preocupação é com a mesa da brasileira, acho que deveriam se preocupar antes com o desperdício de alimentos no transporte e distribuição, que afeta mais da metade das hortaliças colhidas. Sério, daria para alimentar dois Brasis apenas zerando os desperdícios, e aumentar a disponibilidade de comida para o Brasil em 40% apenas levando eles para níveis europeus.

Se o problema é preservar os pequenos agricultores, a solução não é liberar que eles desmatem, nem isso é algo com poucas consequências. Ao contrário da visão pastoral idílica que até parte da esquerda encampa, os pequenos produtores desmatam sim, e muito - 67% do desmatamento brasileiro na década de 2000. Por isso, e não por um azar de um deus vingativo, que a bancada ruralista tem muito poder: porque seus interesses e os dos pequenos produtores se alinham na rejeição à regulação ambiental. Ora, há uma coisinha de somenos consequência na qual os interesses de pequenos produtores e os dos grandes divergem radicalmente, e que ajudaria muito mais os pequenos do que a anistia ao desmatamento: trata-se do ITR, que graças aos incentivos à produtividade (portanto ao desmatamento) deixa de ser progressivo. Com um imposto progressivo, os pequenos agricultores teriam muito mais chances de competir com os grandes sem desmatar tudo.

Se a questão é a balança comercial brasileira, vejam bem: os grandes superávits da balança comercial atual não são uma coisa boa. Ao valorizar o dólar, criam uma forma de doença holandesa, prejudicando as condições de sobrevivência de todo o resto da economia, e principalmente a indústria.

Se a questão é a sorte do trabalhador rural, os ruralistas seriam a favor, e não contra, a PEC do trabalho escravo, ora pois.

Se se preocupam com a soberania nacional frente às ONGs internacionais, poder-se-ia acusá-los de hipocrisia, devido ao fato de o agronegócio ser em boa parte posse de grandes empresas multinacionais, como Louis Dreyfus, Archer Daniels Midlands, Cargill, Bunge (esta o supra-sumo da transnacional, já que não possui dono (o maior acionista é a própria Bunge, via ações na tesouraria) e tem sede nas Bermudas) & Co. Mas deixando a acusação de lado, a soberania nacional implicaria, creio, não permitir que corporações estrangeiras se façam essenciais para o funcionamento da agricultura nacional, como é o caso de Monsanto e Basf, fornecedoras únicas das sementes (geneticamente modificadas ou não) usadas pela agricultura industrial e dos insumos a elas associados.

Não lembrei de mais nada em dez minutos. Alguém tem mais sugestões para nossos queridos amiguinhos ruralistas?

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