Neste post sobre a aproximação entre o PT e o PSD, eu comentava sobre como a coisa, para além da falência moral, era um primor de imbecilidade. Afinal, só sendo muito burro para acreditar que Kassab ficaria contra Serra nas eleições paulistanas, ou que, mesmo que o ficasse, a base eleitoral dele (que base eleitoral?) votaria no PT. Pois o PT parece decidido a repetir a dose ao jogar as bichas aos leões.
A defesa dos direitos LGBT é uma bandeira histórica do PT. Foi o partido que introduziu no Congresso projetos de defesa do casamento igualitário, foi sob o PT que paradas do orgulho gay pararam de ser perseguidas e foram estimuladas (até virar micareta, mas isso não vem ao caso); foi sob o PT, e especificamente sob Haddad, que se preparou um kit anti-homofobia para ser distribuído em todas as escolas brasileiras. E o PSDB, não crendo que nenhuma bandeira das suas era palatável à população, agarrou-se à bandeira da homofobia com força nas eleições de 2010, denunciando o "kit gay" e associando-se aos piores pastores televangelistas.
O PT, ao invés de defender suas bandeiras históricas, preferiu mostrar a barriga aos evangélicos, aproximando-se deles e negando os gays três vezes. De novo, mesmo ignorando inteiramente o lado moral, é uma decisão problemática do ponto de vista político. Os evangélicos e homofóbicos em geral continuam achando que o PT é o partido gay, e a negação da propaganda negativa (como marqueteiros em geral sabem muito bem) não adianta de nada. Enquanto isso, os dividendos eleitorais que o partido poderia conseguir se apresentando como um partido progressista vão pro saco. Até eleitores do PSDB se sentem no direito de criticar a homofobia do governo petista.
A estratégia, já errada a nível nacional, se torna ainda mais idiota quando se trata da eleição à cidade de São Paulo. A quantidade de pessoas que vai na parada gay é de alegados 4 milhões de pessoas. Descontados os turistas (no máximo, pelo tamanho da rede hoteleira, uns 300.000) e o exagero (vamos tirar 2 milhões), sobram uns 1,7 milhões. 1,7 milhão de paulistanos são LGBT ou simpatizantes, e isso não conta os simpatizantes e gays que querem distância daquela micareta do inferno. Enquanto isso, os neopentecostais somam 1,2 milhão, contando crianças de colo.
Alguém faz essa conta pro Haddad, na próxima vez que ele quiser renegar a sua própria (e boa) iniciativa?
2 comentários:
É ilusão achar que o voto gay faz grande diferença. Se 40% da população realmente fosse LGBT (ou mesmo simpatizante), isto não se chamaria São Paulo e sim São Francisco. Números inflados à parte, a parada gay de São Paulo reúne menos de um milhão, como já foi discutido pelo Datafolha (e a Marcha para Jesus menos ainda).
http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/944645-datafolha-desvenda-o-misterio-das-multidoes-paulistanas.shtml
Mesmo que fosse maior, pouquíssima gente vai votar ou deixar de votar no PT por causa de sua posição em relação aos direitos LGBT. As grandes maiorias estão mais interessadas em progressos na segurança das ruas, qualidade do atendimento nos hospitais e centros de saúde, saneamento etc. Mesmo quem acha os direitos LGBT importantes reconhece essas prioridades e sabe que os outros partidos (com exceção, talvez, de alguns dos pequenos partidos de esquerda) defendem ainda menos esses direitos.
Se Obama resolveu apoiar o casamento gay, não é porque isso dá diretamente votos. É porque lá traz doações e militância das organizações homossexuais - assim como, digamos, a posição sobre Israel é importante para o apoio dos lobbies sionistas, ainda que os judeus pesem pouco nas urnas.
Aqui, onde o movimento homossexual tem pouca organização e menos dinheiro, se Haddad levantar essa questão (que pouco tem a ver com a competência da prefeitura), não vai ter nada a ganhar. Isso vai apenas ocupar tempo e espaço dos jornais com falsas polêmicas e abafar a discussão de questões mais decisivas para o voto municipal.
Em resumo: voto gay não ganha nem perde eleição. Militância e dinheiro gay, sim, talvez, mas é mínima por aqui.
Sim, concordo plenamente. Acho que passei a impressão de que estava transformando a conta da parada gay numa conta de votos, o que se fosse verdade significaria uma vitória fácil e automática para o lado pró-gay. Não é isso, é só que o ganho relativo com a homofobia, em São Paulo, é provavelmente menor do que a perda.
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