A ONG SOS Mata Atlântica tem como símbolo uma bandeira do Brasil em que o verde - que representaria as matas - está pela metade comido. Não deixa de ser uma representação realista: é mais ou menos essa a proporção de cobertura vegetal desmatada no país. (Se representassem a cobertura desmatada da própria Mata Atlântica, o verde estaria restrito a um cantinho da bandeira, visto que desta só sobraram uns dois porcento.) Não deixa de ser interessante perguntar pelo que representam as outras cores da bandeira. O ouro, já se sabe, há muito se foi, fosse para pagar as dívidas de Portugal, fosse para pagar os faustos de Donas Beijas, Xicas da Silva, e congêneres. Também pode ser encontrado nas igrejas do Brasil e da Península Ibérica, e graças a estas nas casas da aristocracia tupiniquim, já que a talha tanto das igrejas demolidas quanto das que continuam de pé adorna apartamentos na Vieira Souto e mansões no Morumbi.
E o azul? Bem, o azul não vai lá muito bem. O mar brasileiro já é pobre por natureza, graças aos azares das correntes mundiais; as águas mornas de boa parte da costa, não compensadas em geral por nenhuma abundância de sedimento, significam uma escassez de vida marinha. Só há uma abundância de vida na costa de Santa Catarina, Pará, e Maranhão; ou mais rente à terra, nas áreas de mangues, que estão sob ataque da ocupação humana, tanto da urbana quanto da carcinocultura, ambas anistiadas no código desflorestal sancionado semana passada. Mesmo assim, o governo fez, para acomodar aliados, um bizarro ministério da Pesca, como se estimular uma exploração já no limite fosse uma boa idéia. Bizarramente, e apesar de esse "no limite" ser sabido, o ministério não tem uma estrutura de pesquisa digna do nome.
Tampouco pode-se dizer que, apesar de todas as praias e baías, as universidades do Brasil são lá muito bem equipadas em termos de pesquisa oceanográfica. A USP comemora a vinda de um novo navio, o Alpha Crucis, para substituir o antigo que já era o maior de qualquer universidade do Brasil. Ora, o Alpha Crucis tem um quatorze avos do tamanho do Almirante Irizar, maior navio de pesquisa oceanográfica da Argentina - que, lembremos, tem a mesma população e PIB do Estado de São Paulo. Tem mais: há dois outros navios oceanográficos argentinos maiores do que o Alpha Crucis. Mas esperem, universidade não é tudo. Afinal, a Marinha do Brasil tem barcos maiores que o Alpha Crucis. O maior deles, o Almirante Maximiano, chega a um pouco mais de um terço do tamanho do Almirante Irizar...
O desconhecimento das condições do mar territorial brasileiro dá vazão ao descaso, que também se estende ao policiamento desse mar. Dizia o oceanógrafo David Zee, em introdução ao seu livro procurando arrecadar fundos para um aquário marinho na zona portuária do Rio: "o Carioca tem muita cultura de praia, mas pouca cultura de mar." Não é só o carioca.
PS Não sei muito bem o que representa o branco. Imagino que a cocaína que irmana frequentadores de baile funk na periferia e boates putsputs de filhos dazelite. Essa vai bem.
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