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18.5.12

Prioridades da defesa nacional

Uma das coisas que mais me deixam curioso - caso a nova lei de acesso à informação realmente dê em algo - é saber dos gastos detalhados do Ministério da Defesa. E algo que ouvi outro dia sobre as plataformas da Petrobrás me deixou ainda mais curioso:

As plataformas de extração de petróleo, a 100, 200km da costa, são verdadeiros recifes artificiais que, isolados da maioria das fontes poluidoras, atraem um sem-número de peixes e moluscos. O lugar seria ainda mais seguro para eles porque a plataforma - uma estrutura do tamanho de alguns quarteirões, com linhas de âncora para todo lado, tubos de petróleo, e rebocadores do tamanho de um navio médio girando em torno - não é exatamente segura para seres humanos. Além de ser proibida a estes, claro, ela e um raio de 500m no entorno.

O perigo, obviamente, não afasta os pescadores atraídos por estas lajes artificiais, nem os comerciais nem os amadores. Estes, levados por embarcações que anunciam a atividade ilegal na internet, fazem pesca com arpão dentro da plataforma, se expondo a perigo de morte e arriscando furar com seus arpões algum sistema importante  - e causar um desastre ambiental sem tamanho. Os profissionais, principalmente atuneiros, causam desastre ambiental desde o começo: é que, para espantar as gaivotas que concorrem com eles pelos peixes arpoados, espalham óleo no mar à sua volta.

Para a Petrobrás, ambos os tipos são problemáticos acima de tudo porque atrapalham, ou até interrompem, a produção. A Marinha, chamada pela empresa, explica que não tem recursos para fazer o patrulhamento. Ora, a mesma Marinha que não tem recursos para mandar uma lancha patrulhar cada campo (mais ou menos uns 20 milhões de investimento total, 1 milhão por ano de gasto) está comprando uma nova base de submarinos/estaleiro, mais um pacote de submarinos, a oito bilhões de reais em Itaguaí. Apesar de já ter ali ao lado um estaleiro apto a construir qualquer submarino do mundo.

O Ministério da Defesa, com orçamento de 50 bilhões, é dos maiores da Esplanada. Perde só para a Saúde e a Previdência Social. Apenas o custeio e investimento valem uns 10 bilhões (o que por si só já mostra o quanto é desperdiçado nos soldos e pensões de oficiais). E não dá pra achar 10 milhões pra proteger tanto a economia quanto o meio ambiente brasileiros em larga escala? Será porque os 1,7 bilhão (por ano) do submarino nuclear e base de submarinos são prioritários? Ou a manutenção do nosso porta-aviões?  Outra coincidência: lendo sobre a reconstrução francesa no pós-guerra, acho uma menção ao São Paulo, que na época chamava-se Foch: foi o primeiro casco francês construído depois da Segunda Guerra Mundial. Por isso que, apesar de ter sido comprado por um bilhão à França (na mesma época em que seu irmão mais novo, o Clemenceau, foi barrado de entrar na Índia para ser desmontado), vive parado - a tal ponto que a primeira guerra do Brasil no século XXI será contra, provavelmente, a prefeitura do Rio de Janeiro, que se cansará dos rolos de fumaça negra emitidos sempre que tentam ligar o porta-aviões.

Repetindo: o orçamento do Ministério da Defesa é de 50 bilhões por ano. É o segundo maior orçamento militar do hemisfério ocidental, e um dos dez maiores do mundo. Mas Canadá, Peru, Chile, Colômbia, e outros países das Américas com orçamentos muito menores do que o brasileiro têm armas mais avançadas e em maior quantidade. Aonde está sendo usada essa grana toda? Mesmo descontando todos os projetos que fazem gosto à vaidade de almirantes e generais, ainda sobram os quatro quintos do orçamento que não são nem investimento nem custeio; são o quê, já que bons salários e alimentação para os recrutas é que não são?

A caixa-preta das forças armadas continua fechada, um quarto de século depois do fim da ditadura. Já seria hora de abri-la.

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