O PSoL, nascido como dissidência do PT, sempre foi acusado por este de "fazer o jogo da direita." Em geral, a acusação serve para toda e qualquer ação que vá contra o que o partido-mãe faz, aí incluídas as denúncias, corretíssimas, de cooperação entre este e a direita - ruralista, evangélica, industrial, a que seja. É mais difícil, entretanto, deixar de achar que o PSoL faz o jogo da direita quando assina embaixo, junto com os líderes dos Democratas, do PPS, e do PSDB de uma representação criminal contra Lula elaborada por Álvaro Dias, baseada numa entrevista de Gilmar Mendes, à Veja.
Reparem em rigorosamente todos os nomes mencionados. A defesa do PSoL da ação é nas linhas do "quem não deve não teme," e que o partido já havia pedido o impeachment de Gilmar, ao contrário do PT. Ora, se o partido realmente acreditar que a representação é um passo investigativo, e não uma ação política, que ajuda a blindar - de novo, politicamente - Gilmar Mendes e seus companheiros na Veja e no PSDEMB, é de uma ingenuidade incrível. Literalmente incrível, para qualquer político, quanto mais um partido político inteiro, o que leva a duas possibilidades: ou bem o PSoL, como alega o PT, está cego de raiva por este, e considera a sua derrota o bem maior, mesmo que isso implique na vitória de partidos que lhe estão à direita (não acreditar que exista diferença entre PT e DEM é outra ingenuidade que, de novo, não cabe bem em nenhum político), ou bem o PSoL ignora as repercussões políticas do fato político ao qual se associou, porque sua vantagem e vontade é a de aparecer, qual promotor com ambições políticas de filme B, sempre acusando.* Como, digamos, a UDN.
Neste segundo caso, o cálculo é inteiramente correto: a esquerda propriamente dita tem muito pouca força no Brasil, e aparecer como UDN rediviva é algo que dá votos; tanto que até os DEMos, de resto mais afetos ao idéario da UDN do que o PSoL, mas em compensação de reputação um pouquinho menos que imaculada, já tentaram fazê-lo; não só a Globo já deu demonstrações de afeto pelo candidato do PSoL à prefeitura carioca, Marcelo Freixo, conhecido por uma luta que é meritória, mas não particularmente de esquerda,** como este pediu e recebeu o apoio da vereadora do PSDB, higienista, e irmã do presidente eterno da Firjan Andrea Gouvea Vieira.
Inteiramente correto, mas no mínimo problemático em termos do avanço de uma agenda de esquerda; mesmo com os votos dos cidadãos de bem indignados, o PSoL não ganhará eleições nacionais tão cedo, e a radicalização do udenismo ameaça deixar de lado, como na candidatura Heloísa Helena, essa agenda. Não que Plínio tenha sido o candidato dos meus sonhos - ele se juntou ao "amigo Serra" contra Dilma e Marina no debate, e encampou uma proposta de redução de imposto de renda para a classe média - mas pelo menos em linhas gerais dessa armadilha ele fugiu. Mas a atração do udenismo é forte - é algo que junta o retorno pragmático com a satisfação da indignação (que todo mundo sente - eu, você, a Heloísa Helena ou o ACM Neto, todo mundo. Ok, talvez não o Keanu Reeves).
E sabe o que é o pior? Esse partido que estou chamando de UDN vai ganhar meu voto no primeiro turno, assim como o PT vai ganhar no segundo, até onde possa prever. Por absoluta falta de opções, em ambos os casos. Porque o voto no PSoL, mal ou bem, significa um voto num partido que foi contra o "veto" meia-boca de Dilma ao código desflorestal, que fala abertamente de direitos humanos, inclusive os GLBT, enfim, que eu gostaria que tivesse muito mais poder do que tem. (O Bispo Macedo teve três vezes mais votos contra o código desflorestal, versão Piau, do que o PSoL.) Quem sabe até, se tivesse mais poder, prescindisse do udenismo?
*Claro que, aí, poderia ter feito representação em separado, pedindo a investigação de ambos, ao invés de subscrever a do bloco de direita.
**Petistas que denunciaram o fato para justificar seu apoio a Eduardo Paes, candidato preferido da Globo, sofrem de um pequeno problema de dissonância cognitiva. Petistas que falam que ele "se aproveita politicamente" da luta contra as milícias deveriam se juntar aos antipetistas que falam que Lula se aproveita politicamente do próprio câncer, e passar umas férias na Arábia Saudita vestidos de mulher.
PS Menção honrosa ao deputado Jean Wyllis, que já declarou ser contra a subscrição da representação do Álvaro Dias.
PPS e atualização: o PSoL protocolou (dessa vez, sem os aliados da primeira representação DEM, PPS, e PSDB) também uma representação contra Gilmar Mendes. Provando que é o udenismo, mais do que o ódio ao PT, que importa. A não ser que alguém ache que qualquer uma das representações tem efeitos práticos e investigativos, ao invés de políticos, o que de novo é ingenuidade demais.
3 comentários:
é triste ter que votar no psol por pura falta de opção a esquerda (não, PSTU e PCO não são opção, não dialogam externamente, nem com essa década/século/continente/país).
Neste segundo caso, o cálculo é inteiramente correto: a esquerda propriamente dita tem muito pouca força no Brasil"
Fala sério tiago, que governo tivemos no brasil que não fosse de esquerda?
Podemos ter gradaçoes da esquerda, mas o a esquerda é sempre a mesma.
Hoje chegou-se ao ponto em que nem oposição nos temos.
Desde a era (Itamar) FHC e a Lula a politica economica tem sido a mesma, mudou-se algumas coisas aqui e ali mas no geral as mesmas.
O verdadeiro conservadorismo ou pensamento conservador há muito não existe mais, na politica então..., olha nem na Igreja desde o CV II, se existisse 90% do que vc escreve nesse blogue seria reescrito e digo que o seria por vc mesmo.
Hoje vivemos na ditadura do esquerdismo ocidental.
Hoje não existe opção a direita ou ao conservadorismo.
Chamar o Maluf, alckimin de direita é uma piada.
Fica batendo em cachorro morta pra dizer que bate em alguém quer mais covardia que isso?
E os verdadeiros escoceses, existem?
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