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24.5.12

Ali Kamel e seus discípulos

O diretor de jornalismo das organizações Globo Ali Kamel ficou famoso pelo livro Não Somos Racistas, um dos muitos livros lançados para se contrapor ao reconhecimento oficial de que existe racismo no Brasil, durante a conferência de Durban. A opinião parece ser popular na mídia brasileira; afinal, como diria Roberto Civita, “As pessoas que não concordam, veem o mundo de outro jeito, acabam não ficando, são meio rejeitadas pelo organismo," e o organismo em questão é a vontade de um patrão que, em geral, apoiou o golpe militar de 64 ou é filho (filho mesmo, biológico) de gente que o fez. Há exceções honrosas, como Elio Gaspari e Míriam Leitão, no que concerne à política de ação afirmativa e ao reconhecimento do racismo, mas elas são exceções, em geral de jornalistas que chegaram a medalhões (seguindo as orientações dos patrões em outros respeitos, no caso da Míriam Leitão).

É nesse contexto que é curioso, no mínimo, que na semana em que dois casos fragorosos de racismo são relatados no Brasil, o assunto não tenha merecido repercussão particular. No caso dos estudantes angolanos que foram chamados de macacos e baleados em São Paulo, a matéria da Folha sequer faz alusão aos detalhes do caso. A matéria do Estadão fala da injúria racista, mas ainda leva o título Discussão de bar deixa universitária morta e angolanos feridos no Brás. Não achei nada no site dO Globo. O assunto é tratado como se fosse mais um caso de páginas policiais internas, e a dimensão do racismo, que todavia é crime constitucional no Brasil mesmo sem o assassinato, esquecida. E olha que mesmo sob a definição de crime racial muito mais estrita americana, isso é um caso mais do que claro. Faz sentido; se você quer dizer que não existe racismo no Brasil, não é bom que as pessoas sejam lembradas de que uma mulher grávida foi baleada por um homem que lhe chamava de macaca.

No outro caso, mais espetacular porque caiu no youtube, quem cometeu o crime de racismo foi a própria imprensa, na pessoa de uma repórter da retransmissora baiana da Bandeirantes. Com a repercussão que o caso tomou, incluindo ação do Ministério Público, a rede de TV rapidamente sacrificou a repórter e usou a defesa da maçã podre - não questionada por nenhum outro órgão de imprensa, apesar de a matéria, evidentemente, ter passado por algum editor. Ainda mais considerando-se que já eram passados mais de oito dias entre sua veiculação na TV e o começo da gritaria no youtube.

Em ambos os casos, a conclusão é clara: não existe racismo no Brasil. E se existir, será ignorado. Não dá pra deixar de achar que é o inverso da máxima de Goebbels: uma verdade, suficientemente ignorada, ganhará foros de mentira.

Um comentário:

Mosca disse...

E, por falar nisso, por onde anda Ali Kamel? Tão quieto...