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28.6.11

Substituição de importações ao contrário

Lelé propõe que as habitações populares no Brasil deixem de ser uma porcaria do lado estético. E um grande segundo passo nesse sentido (o primeiro é mesmo ter simplesmente a idéia de que isso é possível) seria começar a ter concursos de arquitetura, e concursos que fossem levados a sério, para projetos públicos. Nesse sentido, Lelé ter sido chamado pela Dilma para dar uma garibada no visual do Minha Casa Minha Vida faz parte do problema, junto com as 1,623,596 obras públicas feitas pelo escritório Niemeyer a convite, e que não passam de reciclagens infinitas da Oca do Ibirapuera. Pelo escritório, porque não creio que ninguém acredite que o Niemeyer ainda faça alguma coisa.

Quando falo em concurso levado a sério, estou pensando no fato de que mesmo quando há algum tipo de concurso público no Brasil, os mesmos arquitetos, com as conexões certas, invariavelmente são os ganhadores. Qualquer um que se interesse por arquitetura contemporânea logo vai reparar que a quantidade de coisas inovadoras e/ou boas por aqui é muito menor do que na maioria dos países com um rol de novas construções equivalentes, e não se pode atribuir isso aos arquitetos brasileiros, como provam os resultados do concurso Porto Olímpico, no Rio de Janeiro. A área a ser desenvolvida, enorme e com um canal no meio, é perfeita para qualquer ousadia. Entretanto, os escolhidos foram os mesmos arquitetos com ligações de amizade para com a prefeitura do Rio de Janeiro. Não que sejam ruins, necessariamente (gostei bastante do primeiro e quarto colocados, e nem um pouco dos segundo e terceiro). Mas inovadores é que não são.

Uma solução para isso, mais ainda do que a de internacionalizar o concurso, querendo dizer os concorrentes, seria internacionalizar os juízes de concursos arquitetônicos, para evitar o compadrio. Para avalizar em termos de "realidade brasileira," pode-se fazer assim: 60% de arquitetos e críticos estrangeiros, 40% de brasileiros. Não seria a solução que faria do Brasil uma Holanda ou Japão, mas pelo menos daria uma bagunçada long overdue* no coreto.

*En français dans le texte.

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