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1.6.11

Ebenezer Scrooge

David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, quis deixar bem claro que não é apenas bombas que as grandes potências jogam sobre o mundo árabe. Não, ele vai fazer jorrar sobre os pobres nativos a dinheirama de 110 milhões de libras. Ao longo dos próximos quatro anos. Condicionadas, claro, para evitar o risco moral... Para a região entre o Marrocos e Omã. E conclamou seus pares no G8 a imitá-lo em sua generosidade.

Eu disse milhões, não bilhões.

Para mal comparar, um único dos Rafales que estão soltando bombas sobre a Líbia custa uns 15 milhões. A qualquer dado momento, ativos da OTAN em valor superior à generosa promessa de Call-me-Dave estão sobrevoando a Líbia. Para falar dos domínios de outro ditador sanguinário que mata o próprio povo, um único dos navios de escolta da OTAN atracados na base de Bahrain custa mais de 240 milhões de libras. O dobro da ajuda a ser distribuída, ao longo de quatro anos, cheia de condicionantes, por uma área continental com centenas de milhões de habitantes.

A parte do "condicionado" é o melhor. Afinal de contas, aquilo que é, comparativamente, esmola, tem que ser bem vigiado para prevenir o risco moral. O raciocínio não se aplica a todos os casos - o nível de "garantias" exigidas aos bancos em seu resgate após a crise de 2008 não é lá muito alto - mas é coerente com a visão de David Cameron e congêneres para a ajuda do Estado aos pobres e desvalidos da própria Grã-Bretanha. Afinal, a visão dos tories é de que se deveria retornar as coisas à feliz sensação de comunidade e pertença da era vitoriana, que eles chamam de "Big Society." A era das Poor Laws. A era que viu impostas à Índia sob os britânicos (primeiro a Companhia das Índias, depois o Raj) mais grandes fomes do que em toda a história pregressa ou futura. A era em que viver deixou de ser considerado um direito humano e passou a ser efeito da caridade alheia.

Bela meta.

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