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17.6.11

O fosso do Sena

Após o assassinato na USP, maior universidade pública brasileira, agora foi noticiada uma série de furtos no campus da Praia Vermelha da UFRJ, a "Universidade do Brasil" criada em 1912 para que o rei da Bélgica pudesse ganhar um honoris causa. As autoridades da UFRJ falam em manter a abertura da comunidade para uso público, "mas..." Não sei o que esse "mas" embute na UFRJ; na USP, o assassinato foi usado como justificativa de uma política que já o antecedia, que é justamente de isolar cada vez mais a universidade da cidade, restringindo seu uso aos membros da comunidade universitária. Aos sábados, quem tenta adentrar a cidade universitária só o fará se conseguir explicar o que fará lá - isso se estiver de carro. Os ônibus dão meia-volta na entrada.

Houve um tempo, na idade média, em que a universidade era um problema. Ao contrário de hoje, em que a universidade de elite tem medo dos danos a serem causados pelos peões ao seu redor, os burgueses (no sentido original da palavra) consideravam os jovens universitários um bando de arruaceiros e encrenqueiros. Os peões, esses também no sentido original da palavra, estavam no campo e, como os pobres respeitosos das crônicas de Kipling e João do Rio, não ousariam causar confusão para seus superiores sociais porque sabiam que se o fizessem viria porrada, e muita. Bem, a não ser quando, na beira do desespero, se faziam bandidos, ou se amotinavam em gigantescas jacqueries. O que pensaria o burgomestre de Paris, que reclamava da "instituição bolonhesa" que só lhe dava dor de cabeça, de seu descendente direto, o reitor Rodas?

O movimento atual de foco total na faculdade como unicamente local de produção de saber técnico, isolado o máximo possível da comunidade, responde a um duplo anseio de isolamento entre elites e inferiores e de eliminação das contradições. Nesse sentido, o assassinato caiu como uma luva para o circo armado. Aliás, circo não, teatro - "teatro de segurança" é a expressão usada por muitos analistas para as medidas de segurança tomadas pelo governo Americano* após o atentado às torres gêmeas**, que em geral são consideradas ineficazes em si e de si, mesmo sem serem postas na balança contra o custo, aos confres do governo e à liberdade, pra não falar da paciência das pessoas, mas que provêem uma sensação, não de segurança, mas de estar se fazendo algo perante uma insegurança que só crescerá e que só pode ser enfrentada desse jeito. Cabe como uma luva num isolamento frente ao exterior como medida imposta após um assassinato que aconteceu no interior, e sem evidência de ter sido cometido por um meteco.

O curioso é isso estar acontecendo justo no momento em que o discurso da integração entre a faculdade e a sociedade está na moda...

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