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10.11.04

A surpresa e o absurdo

Que empresários no Brasil preferem embolsar o dinheiro a reinvestir no negócio é uma "surpresa" - o absurdo é que existe no Brasil uma lei OBRIGANDO as empresas a pagar dividendos, ao invés de reinvestir tudo. Taí um belo par de "reformas microeconômicas" que estimularia muito o crescimento, mas ao contrário das que beneficiam empresários, essas eu não ouço o Palocci mencionar. Reverte a lei de dividendos (pagamento máximo ao invés de mínimo), e corta as ações preferenciais da existência. Ações preferenciais são ações sem direito a voto na empresa, isso é, que só servem pra receber dividendos mesmo (e para serem negociadas em bolsa, claro). As "PN" não existem na maioria dos países, e é em parte por causa delas que existe a lei de dividendos, para proteger o vivente que compra uma e não tem o que fazer contra as decisões dos ON.

Detalhe - as melhores pagadoras de todas, chegando a 20%, são as prestadoras de serviços públicos privatizadas, as mesmas que reclamam ajuda do governo pra pagar sua dívida, que inclui a "dívida" com as matrizes estrangeiras.




Os investidores brasileiros têm o que comemorar quando o assunto é o ganho obtido com a distribuição de lucros para os acionistas. Estudo feito pela consultoria Economática, a pedido do Valor, mostra que o Brasil está entre os primeiros colocados no retorno obtido com dividendos.

Levando em conta a relação entre os proventos distribuídos pelas empresas e as cotações dos papéis que formam os principais indicadores dos mercados de ações de seis países, o Índice Brasil 50 (IBrX-50) proporcionou nos últimos 12 meses um retorno de 5,15%. Com isso, o Brasil só perde para o Chile no campeonato de retorno com a distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio, entre os países analisados pela consultoria.

O Índice de Preços Seletivos de Ações (IPSA) chileno acumula média de 6,63% de retorno sobre o preço das 40 ações do indicador, ponderadas de acordo com sua participação no indicador. Chama a atenção que, nos últimos 12 meses, o Brasil está à frente mesmo de mercados considerados "mais desenvolvidos" acompanhados pela consultoria, como Espanha, cujo IBEX 35, da bolsa de Madrid, teve um dividend yield de 2,97%.

Nos EUA, o retorno de proventos do Standard & Poor's 500 foi ainda menor, de 1,55%, percentual considerado bastante baixo pelos especialistas em carteiras de dividendos. Dos papéis, 124 empresas não distribuíram dividendos nos últimos 12 meses.

Desconsiderando os pesos de cada ação na carteira - o que elimina a concentração de casos como o da Petrobras e das empresas de telecomunicações -, em uma média simples, o Brasil mostra um desempenho ainda melhor, de líder no ganho com a distribuição de dividendos. O retorno é de 4,42% sobre o valor inicial das ações no IBrX-50. O Chile viria em seguida, com 4,23%. O S&P 500, dos EUA, continuaria na lanterna, com 1,33% de dividend yield.

Uma explicação dos analistas para a boa colocação do Brasil é o baixo preço das ações, o que aumenta o peso dos dividendos no cálculo. No entanto, nos 12 meses anteriores a 5 de novembro o Ibovespa acumulou variação de 28,59%, enquanto o IBrX-100 subiu 45,01% e o IBrX-50, 42,42%.

Especialistas reconhecem que a cultura de dividendos está crescendo no Brasil, indo além dos 25% obrigatórios pela Lei das S/A. Mas lembram que, muitas vezes, esta "boa vontade" pode estar associada à concentração do controle, ou seja, à quantidade de ações que o dono possui, já que ele também recebe dividendos proporcionais. Estas empresas podem dar frutos, mas menos voz ao acionista.

O diretor para América Latina da Economática, Einar Rivero, lembra que muitas ações nos EUA têm procura forte de investidores mesmo sem a distribuição de dividendos. Ele usa o exemplo da Microsoft, que ofereceu proventos pela primeira vez nesse ano. Nos EUA, a maioria das empresas prefere reinvestir os lucros, em vez de pagar dividendos, o que aumenta o valor das ações. Não há uma lei de dividendo mínimo como aqui.

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