O Globo noticia "Club Med em praia entre Cabo Frio e Búzios será o mais luxuoso do mundo" Há dois problemas reais, o título de duas linhas e que nenhuma das fontes citadas fala em "mais luxuoso do mundo," uma alegação bastante exótica e que ocupa metade do título. Mas não é isso que me chamou a atenção. É que, sabe, eu acho que noticiaria como "Dinheiro público para construir em reserva ecológica."
A Área de Proteção Ambiental, que será cortada pelo Club Med e pela infraestrutura que atende ao resort, a ser criada pelos diferentes níveis de governo, apesar do pequeno tamanho, é das mais diversas do estado, incluindo lagoas, dunas, uma pequena serra e planície costeira. Ela foi criada especificamente para ser um corredor ecológico preservando a sucessão de biomas entre mar e morro, função que será eliminada com a estrada pavimentada e o resort.
Numa área de proteção ambiental, ausentes Resorts Mais Luxuosos do Mundo, são proibidos desmatamentos, abates de árvores, extração de madeiras, retiradas de espécies vegetais, promoção de queimadas, caça, perseguição de animais, funcionamento de indústrias poluidoras e desmatamento ou ocupação nas faixas marginais de mananciais e lagoas. mas a estrada a ser pavimentada e duplicada , de sete quilômetros por 7 metros, ocupará uma área adicional, contando a infra lindeira, de 10ha, o que não é tanto assim comparado aos 9.900 da área total, mas é desmatamento, e pode ser considerado "indústria poluidora." Vai gastar quatro milhões. O resort, a um custo de 70 milhões, vai ocupar, alegadamente, outros 70ha, e é justificado por gerar "3000 empregos." - entre a estrada e incentivos diversos, sem contar o custo da reserva ecológica depredada, nem a ampliação do aeroporto de Cabo Frio, dá mais ou menos 5.000R$ de investimento público por emprego, o que é, admita-se, uma produtividade bem maior do que a média dos investimentos e incentivos governamentais em indústria pesada. (120.000 por emprego). Como no caso da refinaria que o governo federal resolveu pôr em Itaboraí, ninguém explicou direito ainda de onde vai sair a água para abastecer o empreendimento.
Não que o Club Med seja em nada excepcional. Os grandes resorts, pouco integrados na economia e muito menos na sociedade local (como no caso, até com aeroporto quase particular) ocupam áreas de grande beleza cênica, e portanto frequentemente de proteção ambiental, em todo o mundo. Não poluem tanto quanto uma siderúrgica da vida, mas compensam se situando em pontos críticos. Volta e meia, como emblemas da divisão mundial de riqueza que são, têm que encarar o ataque de um grupo terrorista ou de bandidos da vida, principalmente na Ásia onde são mais comuns. (O último ataque terrorista foi no Egito, em Abril deste ano)
Auferre, trucidare, rapere, falsis nominibus imperium; atque, ubi solitudinem faciunt, pacem appellant.
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30.6.06
28.6.06
Você sabe que está ficando velho
Quando tem saudades do tempo em que chacinas eram um acontecimento anual, que recebia atenção generalizada da imprensa brasileira e estrangeira. Desde que Saulo Ramos instituiu o comunicado oficial sobre emboscadas na polícia de São Paulo, isso parece ser coisa do passado. A chacina do mês (13 "bandidos") mal apareceu no miolo dos jornais; por pouco ia ser nota de pé de página. Teve 69 fontes no google news, contra 276 de "Justiça adia decisão sobre Varig."
Tudo bem, a última grande chacina ainda mal acabou, mas mesmo assim...
E sabe o que mais me estranha? Um partido tão preocupado com a imagem internacional quanto o PSDB, que fez tanto barbadas fenomenais quanto boas ações* com a quase exclusiva intenção de aparecer bem na fita, ter admitido que quadros seus efetuassem a institucionalização do caráter assassino da polícia brasileira, que antes funcionava "por fora," em esquadrões da morte e escuderias LeCoq. Vejamos pelo lado bom essa institucionalização: não dá mais pra empregar a defesa Rumsfeld, das maçãs podres, quando a violência é uma estratégia oficial da polícia, resultado de táticas coordenadas empregando tanto o setor de "inteligência" quanto o de repressão. Fica mais claro que o problema não é algum defeito de fabricação nos nossos policiais, que seriam piores que os dos ingleses, mas uma estratégia deliberada, uma "política de governo," contando com apoio de pelo menos grande parte da população.
Depois reclamam quando um tablóide australiano de quinta fala mal dessa bodega.
*Eg 1: os tratados desiguais de proteção de investimentos. Eg 2: o reconhecimento da existência de racismo no Brasil.
Tudo bem, a última grande chacina ainda mal acabou, mas mesmo assim...
E sabe o que mais me estranha? Um partido tão preocupado com a imagem internacional quanto o PSDB, que fez tanto barbadas fenomenais quanto boas ações* com a quase exclusiva intenção de aparecer bem na fita, ter admitido que quadros seus efetuassem a institucionalização do caráter assassino da polícia brasileira, que antes funcionava "por fora," em esquadrões da morte e escuderias LeCoq. Vejamos pelo lado bom essa institucionalização: não dá mais pra empregar a defesa Rumsfeld, das maçãs podres, quando a violência é uma estratégia oficial da polícia, resultado de táticas coordenadas empregando tanto o setor de "inteligência" quanto o de repressão. Fica mais claro que o problema não é algum defeito de fabricação nos nossos policiais, que seriam piores que os dos ingleses, mas uma estratégia deliberada, uma "política de governo," contando com apoio de pelo menos grande parte da população.
Depois reclamam quando um tablóide australiano de quinta fala mal dessa bodega.
*Eg 1: os tratados desiguais de proteção de investimentos. Eg 2: o reconhecimento da existência de racismo no Brasil.
27.6.06
Répi burfdei chu iú...
Agora que eu reparei. Essa porcaria aqui tá fazendo dois anos e 11 dias. Então, de resolução de ano novo, vou atualizar os links do lado, e voltar a postar quase todo dia.
Em comemoração, alguns posts de que eu mesmo gostei olhando os primeiros meses, numa vergonhosa demonstração de egolatria:
Pirando
Falando mal das olimpíadas
Malhando meu Judas predileto
Falando besteira
Outro Leitmotif
E um mês, mais recente, em que as notícias foram interessantes, em geral.
Em comemoração, alguns posts de que eu mesmo gostei olhando os primeiros meses, numa vergonhosa demonstração de egolatria:
Pirando
Falando mal das olimpíadas
Malhando meu Judas predileto
Falando besteira
Outro Leitmotif
E um mês, mais recente, em que as notícias foram interessantes, em geral.
25.6.06
Tudo pelo social
No Brasil e no mundo, cada vez mais fica a impressão de que, se a ação política em alguns temas cada vez mais segue um consenso "responsável" à direita (não que o resto dos temas, em que há discussão, não seja importante), o discurso por sua vez se divide entre temas controversos e um consenso "responsável" à esquerda. Coisas como Cláudio Lembo falando da elite branca. O mais bizarro é quando, como no presente momento em Westminster, se usa um consenso pra avançar o outro...
http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/politics/5115912.stm
Os tories estão propondo introduzir legislação sobre direitos humanos no Reino Unido, se inspirando na Bill of Rights americana pra isso. Conservadores a favor dos direitos humanos? Mais ou menos - a tal da Carta substituiria o atual decreto de direitos humanos, que codifica a legislação européia nesse sentido e, segundo os conservadores,
"any fair audit of the Human Rights Act would come to the conclusion that change is needed in order to protect both our security and freedom more effectively".
("qualquer avaliação imparcial do Decreto de Direitos Humanos chegará à conclusão de que mudanças são necessárias para proteger de forma mais eficaz tanto nossa segurança quanto nossa liberdade")
Por que será que eu tô lembrando da Iniciativa Céus Puros do Bush, que basicamente substituía leis exigindo controles de poluição por incentivos à indústria poluidora, independentes de controles?
http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/politics/5115912.stm
Os tories estão propondo introduzir legislação sobre direitos humanos no Reino Unido, se inspirando na Bill of Rights americana pra isso. Conservadores a favor dos direitos humanos? Mais ou menos - a tal da Carta substituiria o atual decreto de direitos humanos, que codifica a legislação européia nesse sentido e, segundo os conservadores,
"any fair audit of the Human Rights Act would come to the conclusion that change is needed in order to protect both our security and freedom more effectively".
("qualquer avaliação imparcial do Decreto de Direitos Humanos chegará à conclusão de que mudanças são necessárias para proteger de forma mais eficaz tanto nossa segurança quanto nossa liberdade")
Por que será que eu tô lembrando da Iniciativa Céus Puros do Bush, que basicamente substituía leis exigindo controles de poluição por incentivos à indústria poluidora, independentes de controles?
22.6.06
Pai Tomás Moreno e a Grande Coalizão
No mesmo blog em que dá o possível (se for verdade) furo de que o PT e o PSDB podem estar preparando uma versão brasileira da coalizão CDU-Socialistas alemã, sem indicar se o "FL" do PSDBFL estaria sendo rifado ou não, o Moreno, do Globo, solta esta pérola:
Em matéria de negritude, não aceito lição de moral de ninguém! Já fui convidado a me retirar de palácios, já fui impedido de entrar pela porta da frente deles. Nunca denunciei, nunca me incomodei. Eu sou um crioulo de bem com a vida e com a cor.
Em matéria de negritude, não aceito lição de moral de ninguém! Já fui convidado a me retirar de palácios, já fui impedido de entrar pela porta da frente deles. Nunca denunciei, nunca me incomodei. Eu sou um crioulo de bem com a vida e com a cor.
20.6.06
Culatra
Uma das promessas de campanha do candidato Lula foi "construir no Brasil as plataformas de petróleo da Petrobras." Em termos reais, isso quis dizer aumentar o índice de nacionalização das encomendas da empresa, até porque literalmente não tinha como ser feito, já que não existe no Brasil estaleiro com um dique ou carreira capaz de construir um casco de plataforma.*
A medida, que parecia secundária, teve resultados de gente grande. A metalurgia fluminense (segunda do país) já havia começado a se recuperar com o aumento da demanda da Petrobras por embarcações de apoio, que apesar das regras de funcionamento "de múlti" anteriores já tinha resultado num reaquecimento parcial da indústria naval. Com o aumento da nacionalização, pela primeira vez em muito tempo o Rio de Janeiro teve crescimento na indústria de transformação (o resultado de declínio decenal tem sido maquiado pela apresentação de dados da "indústria" que incluem as atividades de extração mineral). Empresas de tudo que é porte, filiais de múltis ou domésticas, de baixa ou alta tecnologia, se instalaram ou reativaram, a um custo relativamente baixo quando comparado ao orçamento da Petrobras.
Expandindo o mesmo princípio, o governo decidiu se voltar para a indústria nacional para a renovaçã da frota da Transpetro, subsidiária de transportes da petroleira. Se antes se falava de umas poucas, apesar de caras, obras, dessa vez estavam sendo anunciadas em licitação as encomends de 22 navios de grande porte, com mais 20 a vir depois (a renovação integral e adequação às regras internacionais de toda a frota ainda exigiria mais uns 40 outros). Apesar de um navio custar um quinto de uma plataforma, fazendo com que o investimento total não fosse tão maior, mais desse investimento estaria concentrado no Brasil, incluindo o casco e talvez os motores (um motor de petroleiro é grande o bastante pra que transportá-lo, mesmo de navio, seja um custo enorme), as peças mais caras. Além disso, a natureza quase seriada das encomendas permitiria aos estaleiros mais economia de escala; e permitiria, também, que eles adquirissem meios materiais e conhecimento para produzir navios para terceiros.
Pois bem, a licitação (cujo resultado será anunciado mais ou menos agora, enquanto eu escrevo) não contava com a astúcia do Chapolim, digo, dos donos de estaleiros. A maioria dos estaleiros brasileiros (fora a indústria do Norte do Brasil, no Amazonas, que não tem tamanho pra fazer petroleiro) ou pertence a grandes grupos internacionais, ou é sobrevivente da "fase áurea" da construção naval, no fim dos anos 70. E essa "fase áurea" se baseou na distribuição à farta de recursos do governo brasileiro, fazendo com que navios caros e ruins fossem baratos para o comprador, o bastante para tornar o Brasil o segundo maior produtor do mundo por tonelagem. Os estaleiros, ao ver a promessa de uma encomenda do governo, se atiçaram no sentido de conquistá-la, por quaisquer meios legais e políticos que pudessem se impor ao governo e à Transpetro, e não fazendo uma boa oferta.
Desse modo, o tiro saiu pela culatra. O estímulo à construção naval pode até vir quando a licitação for concluída, mas durante esses três anos, com a demanda nacional e mundial de navios em alta e os grandes estaleiros asiáticos sobrecarregados de encomendas, os estaleiros nacionais deixaram passar encomendas privadas, às vezes ostensivamente, de olho na Transpetro, ou então seus donos impediram que as empresas fossem passadas adiante para voltar a funcionar, de novo de olho nos contratos bilionários.
*Diques e carreiras são os lugares onde se monta um navio. No primeiro caso, é uma grande forma, com portas que se abrem para que entre a água quando o navio fica pronto; no segundo, um plano inclinado, para que ele possa escorregar até a água. No momento, o governo planeja construir um dique seco para a construção de plataformas (que não precisa ser tão comprido quanto um pra navios, mas muito mais largo) em Pernambuco ou no Rio Grande do Sul.
'
Empreendedor brasileiro decepcionado com o fim da Primeira Leitura
A medida, que parecia secundária, teve resultados de gente grande. A metalurgia fluminense (segunda do país) já havia começado a se recuperar com o aumento da demanda da Petrobras por embarcações de apoio, que apesar das regras de funcionamento "de múlti" anteriores já tinha resultado num reaquecimento parcial da indústria naval. Com o aumento da nacionalização, pela primeira vez em muito tempo o Rio de Janeiro teve crescimento na indústria de transformação (o resultado de declínio decenal tem sido maquiado pela apresentação de dados da "indústria" que incluem as atividades de extração mineral). Empresas de tudo que é porte, filiais de múltis ou domésticas, de baixa ou alta tecnologia, se instalaram ou reativaram, a um custo relativamente baixo quando comparado ao orçamento da Petrobras.
Expandindo o mesmo princípio, o governo decidiu se voltar para a indústria nacional para a renovaçã da frota da Transpetro, subsidiária de transportes da petroleira. Se antes se falava de umas poucas, apesar de caras, obras, dessa vez estavam sendo anunciadas em licitação as encomends de 22 navios de grande porte, com mais 20 a vir depois (a renovação integral e adequação às regras internacionais de toda a frota ainda exigiria mais uns 40 outros). Apesar de um navio custar um quinto de uma plataforma, fazendo com que o investimento total não fosse tão maior, mais desse investimento estaria concentrado no Brasil, incluindo o casco e talvez os motores (um motor de petroleiro é grande o bastante pra que transportá-lo, mesmo de navio, seja um custo enorme), as peças mais caras. Além disso, a natureza quase seriada das encomendas permitiria aos estaleiros mais economia de escala; e permitiria, também, que eles adquirissem meios materiais e conhecimento para produzir navios para terceiros.
Pois bem, a licitação (cujo resultado será anunciado mais ou menos agora, enquanto eu escrevo) não contava com a astúcia do Chapolim, digo, dos donos de estaleiros. A maioria dos estaleiros brasileiros (fora a indústria do Norte do Brasil, no Amazonas, que não tem tamanho pra fazer petroleiro) ou pertence a grandes grupos internacionais, ou é sobrevivente da "fase áurea" da construção naval, no fim dos anos 70. E essa "fase áurea" se baseou na distribuição à farta de recursos do governo brasileiro, fazendo com que navios caros e ruins fossem baratos para o comprador, o bastante para tornar o Brasil o segundo maior produtor do mundo por tonelagem. Os estaleiros, ao ver a promessa de uma encomenda do governo, se atiçaram no sentido de conquistá-la, por quaisquer meios legais e políticos que pudessem se impor ao governo e à Transpetro, e não fazendo uma boa oferta.
Desse modo, o tiro saiu pela culatra. O estímulo à construção naval pode até vir quando a licitação for concluída, mas durante esses três anos, com a demanda nacional e mundial de navios em alta e os grandes estaleiros asiáticos sobrecarregados de encomendas, os estaleiros nacionais deixaram passar encomendas privadas, às vezes ostensivamente, de olho na Transpetro, ou então seus donos impediram que as empresas fossem passadas adiante para voltar a funcionar, de novo de olho nos contratos bilionários.
*Diques e carreiras são os lugares onde se monta um navio. No primeiro caso, é uma grande forma, com portas que se abrem para que entre a água quando o navio fica pronto; no segundo, um plano inclinado, para que ele possa escorregar até a água. No momento, o governo planeja construir um dique seco para a construção de plataformas (que não precisa ser tão comprido quanto um pra navios, mas muito mais largo) em Pernambuco ou no Rio Grande do Sul.
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Empreendedor brasileiro decepcionado com o fim da Primeira Leitura
14.6.06
Ovo e galinha, com receita
Os gastos militares no mundo cresceram 3,4%, e a fatia dos EUA subiu pra 48% disso.
A opinião alheia sobre o país da Pecan Fudge Chocolate Pie continua no poço.
(Pra fazer a pâte brisée mencionada (pie shell), misture 125g de margarina com 50g de açúcar e 250g de farinha, e opcionalmente um ovo, até conseguir abrir com o rolo. Ajuda misturar antes com um garfo, pra quebrar a margarina.)
A opinião alheia sobre o país da Pecan Fudge Chocolate Pie continua no poço.
(Pra fazer a pâte brisée mencionada (pie shell), misture 125g de margarina com 50g de açúcar e 250g de farinha, e opcionalmente um ovo, até conseguir abrir com o rolo. Ajuda misturar antes com um garfo, pra quebrar a margarina.)
10.6.06
7.6.06
...the government should fear its people
Sou contra a violência. Por princípio, mesmo em boas causas.
Acho que esse quebra quebra no Congresso só fez bem à galera da violência cotidiana, como demonstrado pelo ACM (4 cadáveres de jornalistas nas costas, um número indeterminado de cadáveres comuns).
Aliás, ainda não me juntei aos que acham que é armação, mas que las hay las hay. Nem seria a primeira vez.
Em suma, acho todo o episódio um despautério, o Bruno Maranhão uma mula que não pode ficar de quatro porque não levanta, e a agressão aos seguranças do lobby uma covardia.
Mas que deu um gostinho maneiro ouvir o medinho na voz dos deputados, especialmente dos mais escrotos, implorando pelo Choque, exército, US Marines pra protegê-los, ah isso deu.
Shall we dance, my dear?
Acho que esse quebra quebra no Congresso só fez bem à galera da violência cotidiana, como demonstrado pelo ACM (4 cadáveres de jornalistas nas costas, um número indeterminado de cadáveres comuns).
Aliás, ainda não me juntei aos que acham que é armação, mas que las hay las hay. Nem seria a primeira vez.
Em suma, acho todo o episódio um despautério, o Bruno Maranhão uma mula que não pode ficar de quatro porque não levanta, e a agressão aos seguranças do lobby uma covardia.
Mas que deu um gostinho maneiro ouvir o medinho na voz dos deputados, especialmente dos mais escrotos, implorando pelo Choque, exército, US Marines pra protegê-los, ah isso deu.
Shall we dance, my dear?
6.6.06
Por que a Veja gosta da Índia?
Tá, eu sei. É porque eles podem apresentar como um exemplo de rápido crescimento devido à "liberalização." Deixa pra lá que: liberalização deles é o mesmo apanhado distorcido que parte da esquerda brasileira chama de neoliberalismo, o estranho é que alguém seja a favor; pra dizer que a Índia representa isso, em relação ao Brasil, a si mesma no passado ou a qualquer lugar, você precisa de uma dose cavalar de desonestidade e vieses de seleção; e o "sucesso" indiano não é tão claro ou simples assim, precisando talvez de um pouco menos de desonestidade pra se enxergar do que o neoliberalismo, mas da mesma dose de visão seletiva.
Mas fica a tentação de dizer que o verdadeiro motivo é esse aqui:
Mas fica a tentação de dizer que o verdadeiro motivo é esse aqui:
India: Pro-America, Pro-Bush
Bucking the Global Trend, U.S. Popularity Soared among Indians in '05
Honestidade
O governo Bush, na pessoa de seu ministro da justiça, se referiu à convenção de Genebra como um documento pitoresco (como ninguém na oposição comparou isso com o "pedaço de papel" da neutralidade belga durante a Primeira Guerra é algo que eu não entendo). Criou um sistema global de campos de concentração secretos onde prisioneiros são maltratados, e sua resposta ao relatório da Anistia Internacional sobre o sistema foi reclamar da palavra GULAG ter sido usada. Imagino que só pela referência ao comunismo. Do mesmo modo, ficou evidentemente preocupado, em Abu Ghraib, com as falhas de segurança, não com a tortura sistemática - e se você acha que um bando de soldados chucros inventou do nada as mesmas técnicas de tortura desenvolvidas pelos boinas verdes e SAS, com direito a se restringir quanto à porrada propriamente dita, tenho um belo terreno na lua pra lhe vender.
Depois dessa performance, que deixa pra trás de longe o funcionamento habitual de uma grande potência, a notícia de agora não deixa de ser refrescante, em sua honestidade. Segundo o Los Angeles Times, o Pentágono pretende remover do manual de campo do exército a referência ao artigo terceiro da Convenção de Genebra. Sabe, aquele que proíbe a tortura de prisioneiros de guerra.
Pelo menos assim os "combatentes inimigos" de Guantánamo vão poder ganhar algum status legal. É um status que agora vale menos do que "favelado brasileiro," mas é alguma coisa. Pros cidadãos americanos, a coisa é um pouco mais preocupante. Isso porque o congresso, via o (veterano de guerra torturado) McCain, tentou tornar a tortura ilegal. O executivo americano está, mais uma vez, no caso através de uma "declaração de assinatura," outras por ordem executiva ou simplesmente através da execução comme si de rien n'était, se recusando a obedecer legislação explícita passada pelo Congresso, ou resoluções da suprema corte também explícitas. Preciso soletrar o que isso significa pros famosos checks and balances da democracia americana?
Depois dessa performance, que deixa pra trás de longe o funcionamento habitual de uma grande potência, a notícia de agora não deixa de ser refrescante, em sua honestidade. Segundo o Los Angeles Times, o Pentágono pretende remover do manual de campo do exército a referência ao artigo terceiro da Convenção de Genebra. Sabe, aquele que proíbe a tortura de prisioneiros de guerra.
Pelo menos assim os "combatentes inimigos" de Guantánamo vão poder ganhar algum status legal. É um status que agora vale menos do que "favelado brasileiro," mas é alguma coisa. Pros cidadãos americanos, a coisa é um pouco mais preocupante. Isso porque o congresso, via o (veterano de guerra torturado) McCain, tentou tornar a tortura ilegal. O executivo americano está, mais uma vez, no caso através de uma "declaração de assinatura," outras por ordem executiva ou simplesmente através da execução comme si de rien n'était, se recusando a obedecer legislação explícita passada pelo Congresso, ou resoluções da suprema corte também explícitas. Preciso soletrar o que isso significa pros famosos checks and balances da democracia americana?
2.6.06
Educação é a solução!
A imprensa brasileira gosta muito de vaticinar que a solução que levará a esse Graal nebuloso que é o "Desenvolvimento" é o investimento na educação. A educação no sentido abstrato da coisa, ou só pra dizer que não se deve investir em outros aspectos "do social," imagino, porque a mesma imprensa não dá a menor bola pra sucessivas crises na educação. Assim, pouca gente sequer ouviu falar nos detalhes do plano pra transformar em OS as universidades federais, do corte efetivo de 85% de suas verbas de 94 a 2002, ou da remoção da responsabilidade do Estado pelas escolas técnicas.
Do mesmo jeito, no Rio de Janeiro, o casal Garotinho, que viu que não se elege mais nem pra síndico, está roubando até a prataria do Palácio Laranjeiras, e entre os maiores atingidos pelo desvio está a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. Há algum tempo que a universidade está literalmente caindo aos pedaços - caiu uma marquise outro dia - mas na última semana, com o corte do ponto e o fechamento dos elevadores do prédio principal (de 13 andares), parece que morreu de vez.
A UERJ ainda tem, apesar da penúria, algumas das melhores escolas do Brasil, em campos tão diversos quanto direito e desenho industrial. Sua primeira encarnação como Universidade do Distrito Federal, criada em 1935, foi a segunda universidade de verdade do Brasil, depois da USP, que é um ano mais velha. (A Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920 pra conferir um honoris causa ao rei dos belgas, só foi virar universidade de verdade, a futura UFRJ, nos anos 50.) Infelizmente, o projeto "liberal-democrático" de Anísio Teixeira não tinha a mesma importância para o governo federal que o projeto "liberal-elitista" da USP tinha para os paulistas, que pretendiam recuperar pela universidade o status que tinham perdido pelas armas, e com o Estado Novo veio o fechamento da UDF, para só reabrir em 1950. Mesmo a segunda data ainda a torna das instituições de ensino superior mais antigas do país. Em termos de produção científica, já esteve também entre as mais importantes (hoje, apesar de ilhas de excelência, a universidade tem um papel relativamente reduzido até dentro do Rio de Janeiro, perdendo para a UFF o segundo lugar.) Curiosidade: o prédio horrível que se encontra paralisado porque o governo estadual não provê sua manutenção foi projetado pelo atual vice-governador, Luiz Paulo Conde.
Com o fim da universidade, combinado ao subsídio pesado à indústria idem, o Rio mostrou definitivamente o que pensa da tal prioridade da educação, ou da teoria do conhecimento. A vocação do estado, aos olhos de quem o dirige, é se transformar em "Manchester tropical." O fato de Manchester, como todas as outras cidades da primeira revolução industrial, querer escapar desse destino pobre, poluído e incerto - incerto porque hoje em dia se carrega fábricas de um lado pro outro do mundo baratinho, e a indústria pesada fica nas mãos de conglomerados que efetivamente o fazem. A oportunidade para o estado representada pela herança do governo federal, que foi-se embora mas, meio sem querer, deixou por aqui o grosso de suas instituições acadêmicas e culturais, foi solenemente jogada fora. E a grande mídia, que gosta tanto de falar da importância da educação, não dá ao assunto um átimo da importância que dá ao circo em que se tornou o Congresso, mesmo que nada de novo aconteça no tal picadeiro, ou à divulgação repetitiva de índices econômicos sem maiores surpresas.
Do mesmo jeito, no Rio de Janeiro, o casal Garotinho, que viu que não se elege mais nem pra síndico, está roubando até a prataria do Palácio Laranjeiras, e entre os maiores atingidos pelo desvio está a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. Há algum tempo que a universidade está literalmente caindo aos pedaços - caiu uma marquise outro dia - mas na última semana, com o corte do ponto e o fechamento dos elevadores do prédio principal (de 13 andares), parece que morreu de vez.
A UERJ ainda tem, apesar da penúria, algumas das melhores escolas do Brasil, em campos tão diversos quanto direito e desenho industrial. Sua primeira encarnação como Universidade do Distrito Federal, criada em 1935, foi a segunda universidade de verdade do Brasil, depois da USP, que é um ano mais velha. (A Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920 pra conferir um honoris causa ao rei dos belgas, só foi virar universidade de verdade, a futura UFRJ, nos anos 50.) Infelizmente, o projeto "liberal-democrático" de Anísio Teixeira não tinha a mesma importância para o governo federal que o projeto "liberal-elitista" da USP tinha para os paulistas, que pretendiam recuperar pela universidade o status que tinham perdido pelas armas, e com o Estado Novo veio o fechamento da UDF, para só reabrir em 1950. Mesmo a segunda data ainda a torna das instituições de ensino superior mais antigas do país. Em termos de produção científica, já esteve também entre as mais importantes (hoje, apesar de ilhas de excelência, a universidade tem um papel relativamente reduzido até dentro do Rio de Janeiro, perdendo para a UFF o segundo lugar.) Curiosidade: o prédio horrível que se encontra paralisado porque o governo estadual não provê sua manutenção foi projetado pelo atual vice-governador, Luiz Paulo Conde.
Com o fim da universidade, combinado ao subsídio pesado à indústria idem, o Rio mostrou definitivamente o que pensa da tal prioridade da educação, ou da teoria do conhecimento. A vocação do estado, aos olhos de quem o dirige, é se transformar em "Manchester tropical." O fato de Manchester, como todas as outras cidades da primeira revolução industrial, querer escapar desse destino pobre, poluído e incerto - incerto porque hoje em dia se carrega fábricas de um lado pro outro do mundo baratinho, e a indústria pesada fica nas mãos de conglomerados que efetivamente o fazem. A oportunidade para o estado representada pela herança do governo federal, que foi-se embora mas, meio sem querer, deixou por aqui o grosso de suas instituições acadêmicas e culturais, foi solenemente jogada fora. E a grande mídia, que gosta tanto de falar da importância da educação, não dá ao assunto um átimo da importância que dá ao circo em que se tornou o Congresso, mesmo que nada de novo aconteça no tal picadeiro, ou à divulgação repetitiva de índices econômicos sem maiores surpresas.
1.6.06
Magic carpet made of steel
O trem, chamado pelos índios de cavalo de ferro, anda numa ferrovia, num caminho de ferro - é o magic carpet made of steel da música. O caminho de ferro, normalmente, é feito de um leito de brita, no qual flutuam dormentes de madeira, presos aos quais ficam os trilhos de aço, que afinal são, portanto, uma parte bem pequena da estrada. A proporção de aço pode aumentar, no entanto, com as peças que têm o lindo nome de dormente mudando de material. No transporte de massa urbano, em que o preço é menos importante e a durabilidade mais, há muito o material favorito não é a madeira, mas concreto de alta resistência, ou se a empresa for, como a Supervia, diferentemente dotada de escrúpulos, escória, o lixo gerado pela atividade siderúrgica.
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Morales agora diz que os EUA querem lhe matar. É vontade de dar razão à mídia reaça que tenta lhe pintar como mini-me do Chávez? E se ele encetar um movimento político personalista, vai se chamar moralismo?
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Morales agora diz que os EUA querem lhe matar. É vontade de dar razão à mídia reaça que tenta lhe pintar como mini-me do Chávez? E se ele encetar um movimento político personalista, vai se chamar moralismo?
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