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29.6.04

Placas, placas e mais placas

Tempo de eleição, tempo de placas enormes anunciando ISSO AQUI É DA PREFEITURA. Eu, burro, achava que era do povo, mas tudo bem. Vai ver César pagou do próprio bolso.


Aliás, quem dera o MEU rico dinheirinho não estivesse sendo enterrado numa estátua do meu, do seu, do nosso Ditador Fascista Brasileiro, o Pai dos Pobres, o homem, o mito, a lenda Getúlio Vargas. E desfigurando uma das praças mais legais do Rio de lambuja.

Aguardo ansiosamente pela enorme placa laranja deixando claro a origem do monumento a Emílio Garrastazu Médici (antiga Praça Paris), da estátua de Costa e Silva (no lugar do Campo de Santana), e do mausoléu Figueiredo (artista previamente conhecido como Passeio Público).

Pelo menos da estátua a Evita estamos a salvo, já que a Evita de décima categoria é inimiga de César.


PS - Falando nela, pensar que, se o segundo turno for Conde vs. César eu voto no CM. Deprimente. Quer dizer, não que haja diferença entre os dois amigos do Paulo Casé, mas um é amigo da belzebua cruz creda e seu mestre.

PPS - www.ruavista.com

24.6.04

Bond in Barra

Santa Teresa, que já tem os trilhos, periga perder seu bonde. O do centro por enquanto é só factóide (apesar de já ter dinheiro do BNDES prometido). Mas, enquanto anunciava o mini-metrô Fashion Mall-PUC, César Epitácio aproveitou para dizer que quer criar linhas de bondes na barra.


É nessas horas que você reza para ser só factóide. Bonde na Avenida das Américas? Claro, porque a alta densidade populacional da Barra e a falta de opções de transporte local dos seus desvalidos habitantes é um problema urgente.

Só pra lembrar, se o custo por quilômetro for o mesmo do projeto de bonde moderno pro centro, o bonde da Barra sai por no mínimo uns 4 bilhões. Se privilegiar a Barra é tão importante, podia pelo menos fazer a barca pra lá. Desafogava o trânsito e ainda tinha um belo passeio turístico de presente. E economizava 3,8 bilhões.

Big Brother is watching you II a revanche

E não é que o César Maia teve a decência de vetar a lei que obriga boates a instalar uma parafernália de vigilância eletrônica?

Infelizmente, o veto foi derrubado, por votação quase unânime da Câmara de vereadores.

"Venha para o Rio, o único balneário do mundo sem vida noturna e sem praias limpas" vai ser o próximo slogan da Riotur, eu acho. Por outro lado, hoje em dia só um quarto dos visitantes são turistas mesmo, e o número total (1,7 milhão internacional, 3,5 milhão nacional) já é pífio. Então se alguém acha que o Rio é uma cidade turística, tá enganado. O Rio é uma capital do petróleo. Tipo assim uma Houston mais bonitinha. Se bem que, atualmente, Houston recebe mais turistas. E não tem leis nazistas controlando as casas noturnas.

21.6.04

Big Brother is watching you

E, aqui no Brasil, todo mundo gosta de ser vigiado, peloe visto. Afinal, não só não tem ninguém protestando contra a proliferação de câmeras pela cidade, como (aproveitando a lei da Rosinha que permite abatimento de até 10% do ICMS) pagam para isso. Agora além de Copacabana, Botafogo vai ter um sistema de câmeras pago pela associação de comerciantes local.

Repetindo - as pessoas estão PAGANDO para serem vigiadas pela gloriosa Polícia do Rio de Janeiro.

Vamos lá de novo - os cariocas GOSTAM de ser vigiados por uma polícia que mata mais gente num ano que o Sharon desde que sentou no Knesset.


E de novo - se um Grande Irmão vigiando a todos igualmente já assusta, imagina numa sociedade como a nossa, em que a igualdade de uns é tão maior que a dos outros?

Alguém acha que essas câmeras vão resolver alguma violência? Nem eu.

20.6.04

Rio, cidade poluída por opção

O Rio tem dois focos de poluição : a Reduc e a Avenida Brasil. O resto é resto. Quer dizer, é óbvio que existe poluição na Nossa Senhora de Copacabana às seis da tarde de um dia de inverno, mas as únicas fontes que geram poluição pesada sobre uma área grande e acima do nível do solo são essas duas.

No primeiro caso, é de se perguntar porque o governo do Rio, um estado que poderia ter vocação para o turismo e a economia do conhecimento, chantageia tanto o governo federal para pedir indústria pesada aqui. Normalmente, indústria poluidora e que gera (relativo ao investimento) poucos empregos é uma coisa que ninguém quer. Mas vai ver Deus segredou ao casal Garotinho que poluição é uma coisa boa.

No caso da Avenida Brasil, o pior da sua poluição não são apenas os carros particulares, mas a ênfase dada no Rio ao transporte de ônibus. Note-se que a maior parte das áreas cobertas por ônibus que usam a avenida Brasil já é coberta por trens. Então não se trata de falta de dinheiro, como é alegado. O trem transporta hoje 400.000 pessoas por dia, um milhão a menos do que no seu auge. A privatização, ao invés de acabar com a necessidade de subsídios com corte de custos, o fez com o aumento da passagem, de quase 100% em termos reais. Se apenas a qualidade do serviço fosse melhorada, teríamos um transporte de massa verdadeiro para quase toda a população do Rio, e poderíamos reorganizar as linhas de ônibus, eliminando as de longa distância.

E o metrô nisso? O metrô do Rio tem duas linhas. Uma delas na verdade funciona como trem, isso é, como uma linha de baixa densidade ligando o subúrbio ao centro. Que, aliás, já foi mal concebida, porque é paralela e próxima a uma linha de trem. Ou seja, se trocassem de linha na Central ao invés de no Estácio, os passageiros poderiam ir pro mesmo lugar. Não seria um problema se a linha fosse subterrânea; seria um problema menor se fosse elevada ou semi-enterrada. Com uma linha de superfície, temos um imenso muro cego a mais cortando a cidade. A outra, projetada para servir às áreas mais ricas e densamente povoadas da cidade, se rarefaz logo em Copacabana. Inexplicavelmente, porém, linhas de ônibus inteiramente paralelas ao metrô, como a 119-Copacabana Praça XV, continuam operando.

Existem ainda projetos para o metrô. Pela ordem de importância dada pelos governos.

1- Linha 4, Barra- Linha 1.

Essa linha liga um bairro de baixa densidade à "rede" de metrô. Existem duas opções de traçado, ambas começando no Cebolão, Alvorada, uma acabando numa estação da linha 1 entre Botafogo e Copacabana, embaixo do Morro de São João, a outra acabando na Carioca. As duas têm uma densidade baixa de estações, ou seja, seriam algo mais pra trem de subúrbio, só que pro subúrbio rico ao invés do subúrbio industrial. Em termos de substituição ao ônibus, de dinâmica de transporte, não é uma linha tão importante. Por servir a um bairro rico, e ainda mais por ser apresentada como uma vantagem para o Pan e as Olimpíadas, ganhou mais importância. Atualmente, uma versão ridícula dela, com três ou quatro estações entre a Barra e a PUC, foi anunciada. Vai servir pra algum estudante da PUC ir ao Fashion Mall, se for feita, e pra mais nada.

2 - Linha 6 (Transpan), Barra - Galeão + ou Santos Dumont ou Caxias

Liga de novo o Alvorada ao Galeão. Tem uma versão alternativa da prefeitura, toda em superfície (a opção Santos Dumont), que parece mais um factóide. A versão original é elevada da Barra a Cidade de Deus, subterrânea até a Av. Brasil, elevada de novo até a Ilha do Governador e aí semi-enterrada. Seria uma ótima idéia para integrar todas as linhas de trem da cidade, mais a linha 2 do metrô, se não fosse que os dois transportes não são integrados. Poderia absorver, também, um bom fluxo de final de semana. A atenção dada, porém, é mais uma vez pelos eventos esportivos, e a idéia de se fazer da Barra o "novo centro" do Rio.

3 - Linha 3, Carioca - São Gonçalo

É a que aposentaria mais ônibus. Já licitada. Túnel só debaixo da baía, depois elevada de Araribóia em diante.

4 - Completar as existentes.

A linha 2 deveria bater na Carioca, que é o destino final da maioria dos usuários. Com estações no Catumbi, na Cruz Vermelha, e na Praça XV. Essa seria boa inclusive para a concessionária, já que aumentaria muito a demanda na linha 2, e desafogaria o Estácio. A Carioca já foi planejada, como estação, para comportar várias linhas.

A linha 1 deveria ser um anel, com estações no Cantagalo, General Osório, Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah/Praça de Espanha, Bartolomeu Mitre, Praça Santos Dumont, Usina e Uruguai. O túnel até a Rua Uruguai já está cavado, e com estacionamentos subterrâneos prontos.

5 - Linha 5, Santos Dumont- Galeão

Não existe nem como projeto.

Só pra finalizar, existem várias propostas de empresários para, sem ônus nenhum do Estado ou da Prefeitura, criar uma ligação hidroviária entre os aeroportos, Copacabana, e a Barra. Um catamarã entre o Alvorada e o Centro seria quase tão rápido quanto o metrô, teria de quebra um potencial turístico, e não custaria um bilhão mais subsídios operacionais, como o minimetrô anunciado pelas ôtoridades. Inclusive, se um dia a linha 6 for feita, poderia ser estendida ao píer da Barca depois do Alvorada, integrando os dois meios de transporte.

19.6.04

O Rio e as contas

O PIB do município do Rio de Janeiro é de 100 bilhões de reais. Uns 55% do estado inteiro. A arrecadação de impostos, por outro lado, é 45% do total do estado (aviso pro movimento Guanabarino). Depois do Rio, por sinal, os municípios que arrecadam mais são, pela ordem, Caxias, Nova Iguaçú e São Gonçalo.

O orçamento do município é de 7 bilhões. Do estado, 24bn. Incluídos os 2.8bn que a Petrobras paga de royalties. Sim, isso quer dizer que 13% do orçamento do Rio não depende de imposto. É o equivalente de alguns países exportadores de energia. Na lista de despesas do estado por setor, a maior é "encargos especiais," com 7 bi, seguida de "educação" (4.7), "segurança" (3.4), e "previdência" (2.1).

43% do gasto em saúde do estado do Rio vai para "gestão administrativa." A segunda maior rubrica é "serviços hospitalares e ambulatoriais." "Saúde de Família" recebeu R$1.078,00

A CEDAE dos bueiros voadores recebeu 1.9bn do estado nos últimos anos. A SABESP, por outro lado, pagou 700 milhões em dividendos ao estado de São Paulo no mesmo período. A receita da SABESP é de 4.3bn, a da CEDAE um ponto oito. A despesa administrativa da CEDAE, no entanto, é de 600 milhões, contra 550 da SABESP.

A secretaria de turismo, no orçamento da prefeitura, vale 570.000R$. O gabinete do prefeito, 650 milhões. A câmara de vereadores recebe 179 milhões - mais ou menos a mesma coisa que a secretaria de habitação.

16.6.04

Subúrbio da Música

Houve um tempo em que as autoridades do Rio imitavam Paris. Hoje a referência é a mesma, mas o termo certo seria macaquear.

Um exemplo é a "Cidade da Música," a ser construída (R$ 100 milhões, por enquanto) na Barra da Tijuca. O nome é copiado da Cité de la Musique parisiense, o arquiteto é o mesmo, mas as semelhanças param por aí.

A cité de la musique faz parte do parque de La Villete. Trata-se do antigo matadouro, numa região degradada recuperada pelo parque. É um complexo de lazer e educação integrado, atendendo a toda a população, que inclui parque, museu de ciência, centro de exposições/convenções, e uma casa destinada à memória do lugar. Pode ser alcançada pelo metrô.

A cidade da música ergue-se na Barra da Tijuca. Não há história do lugar para preservar. A descrição que o arquiteto faz do lugar remete a Brasília nos anos 60, não a uma cidade com quatrocentos anos de história, quando ele fala de um vazio a ser preenchido por um marco visual forte.

Nada contra Portzamparc, que é um ótimo arquiteto. Mas enquanto o exemplo francês segue uma tendência mundial estética (na valorização dos ambientes industriais contrapostos a obras pós-modernas) e urbanística, na valorização e aproveitamento de vazios urbanos, a sua macaquice carioca é construída no bairro mais rico e que mais cresce - e cuja estrutura suburbana faz a proximidade da Cidade da Música ser absolutamente irrelevante. Sem contar a "facilidade" de acesso à Barra pela maior parte da população do Rio. O que não deixa de ser uma tradição carioca - obras de prestígio para insuflar orgulho nos ricos.

Talvez seja porque pensa que o Rio não tem história? Ora, o Rio não só tem história, como está cheio de vazios urbanos a serem aproveitados. Muitos com imensas construções industriais, se o objetivo é imitar Paris e construir La Villete. Até mesmo um matadouro abandonado - hoje sede dum CETEP. Do lado da linha do trem, por sinal.

Pelo visto, porém, a idéia não é imitar Paris. É imitar um estereótipo de americano kitsch imitando Paris, comprando uma carrocinha de waffle e uma mini torre Eiffel pra pôr no jardim.

Mas pode deixar que num bairro de pobre está sendo feita a Cidade do Samba. "É que gringo é uma raça esquisita, gosta de pobre" deve ser o que eles pensam, enquanto sonham com mais shopping centers. Fora que mantém as coisas "no seu devido lugar" - alta cultura é pra rico, samba é pra pobre, e não se deve misturar os dois, senão é capaz do Rio se civilizar.