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9.5.11

Oferta e demanda

Responda rápido: qual dos museus abaixo recebeu mais visitantes em 2010?

CCBB-RJ
Museu Rainha Sofia
Galeria degli Ufizzi
Galeria Tate
Rijskmuseum

A resposta, obviamente, é o CCBB-RJ, que está logo atrás, na lista, do Hermitage. O conjunto dos CCBBs, com pouco mais de quatro milhões de visitantes, está entre a Galeria Nacional de Washington e o MoMA de Nova Iorque. (E tem pouco mais da metade do campeão hors-concours eterno, que é o Louvre.) Além dos CCBBs, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e o MASP também entraram para a lista de museus de arte com mais de meio milhão de visitantes no ano passado, sem contar o pavilhão da Bienal.

Agora, quais as nacionalidades dos artistas e curadores envolvidos em três das cinco exposições de arte contemporânea mais populares no mundo em 2010? Isso mesmo. Pela ordem, foram a exposição da sérvia radicada em Nova Iorque Marina Abramovic, no MoMA, a Bienal de São Paulo, e duas exposições no CCBB-RJ. Este ainda tem a exposição temática mais assistida do mundo, com a retrospectiva sobre o Islã. (A revista faz as contas, nessas categorias, por número de visitantes por dia, não total.)

A conclusão parece óbvia: o lugar-comum de que brasileiro não entende de arte e não gosta de ir a museus é falho. Pode até não entender grandes cousas de arte, mas visita museus mais do que muita gente com mais tempo e dinheiro disponíveis para isso. (OK, bem menos do que os japoneses.) E idem em relação a outros equipamentos culturais; a porcaria do zoológico do Rio tem números de visitantes comparáveis aos do zôo de Londres. O que deixa por terra toda a mistificação de que, para a cultura no Brasil, precisamos investir em educação para formar a demanda. Demanda existe, o que falta é oferta mesmo. A maioria dos museus brasileiros tem números de visitantes pífios por um motivo bem simples: são uma porcaria. O Rio de Janeiro tem mais de 120 museus, um número comparável a Londres ou Nova Iorque. São Paulo tem mais de 70, próximo de Madri e mais que o dobro de Bruxelas ou Milão. Obviamente ninguém acha que Rio e SP têm a mesma oferta de museus que esses países; a imensa maioria desses "museus" são coisa que, em outras paragens, quando muito seriam considerados "casas históricas."

Na categoria se encaixa até, de certa forma, o museu que inexplicavelmente recebe loas tanto dos guias 4 Rodas quanto do poder público, que é o Palácio do Getúlio, digo Museu da República. Et pourtant, falta de acervo para fazer museus que prestam não é um problema tão grande assim. O Museu Nacional, hoje largado às moscas, tem a maior coleção antropológica e paleontológica fora das casas de butim dos velhos países colonialistas ou da China, que além de repaginar as exposições na Quinta da Boa Vista serviria para montar subsedes, pelo menos, em cada região do Brasil. Os MAMs e a Pinacoteca, igualmente, poderiam muito bem emprestar parte de suas coleções para museus menores em cidades médias. E os museus de arte contemporânea, ciência, design, e história natural têm uma oferta de material praticamente inexaurível, se alguém, com verba extra mas também com parte daquela ganha com a extinção dos musecos, se dedicasse a construí-los ou reformá-los. E público, pelo visto, mais que garantido.

2 comentários:

Guilherme Basto Lima disse...

E na comparação por exibições nenhum museu Europeu aparece na frente dos brasileiros

Leonardo disse...

O Museu de Arqueologia e Etnologia da USP tem também um acervo invejável, mas infelizmente está na Cidade Universitária, separada da cidade pelo fosso da Marg. Pinheiros...
Sobre o CCBB-SP, há alguns fatores que a meu ver justificam o surpreendente fato de ele estar à frente do MASP e da Pinacoteca. Tem uma monitoria esmerada e que se dedica a de fato fazer o visitante compreender e não apenas ver rapidamente as exposições. Além disso, o fato de ser gratuito e ter uma porta que dá para a rua, sem elevador como o MASP, inspira as pessoas a entrar. No horário do almoço é cheio de trabalhadores da região que vão dar uma olhada. A Pinacoteca, num lugar de pouco movimento e também paga, não obtém o mesmo efeito do CCBB.