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4.5.11

De porque a Modesta Proposta não era tão absurda quanto Swift o queria, e como coisa parecida foi e é implantada; uma jeremíada

O economista medalhado (ex-reitor de Harvard e secretário do Tesouro americano) Larry Summers ficou infame por ter sugerido que o terceiro mundo estava "sub-poluído." A recomendação dele, seguida por gente como a Thyssen-Krupp, que instalou a CSA no Rio, era de que as indústrias poluentes deviam migrar dos países ricos para os pobres. Agora, como relatado na Economist, pesquisadores noruegueses encontraram evidência estatística de que a recomendação dele foi cumprida pelo primeiro mundo em geral.

A base de medida da pesquisa, e o foco do artigo na Economist, foi a emissão de gases de efeito estufa, um problema global em termos do qual o maior senão dessa transferência, e do fato dela estar oculta da percepção geral, é a questão da culpabilidade moral, em que os países ricos seriam "mais culpados" do que o assumido por algo que afetará a todos. (Mesmo que, anatolefrancianamente, um tanto mais a camponeses bengalis do que a banqueiros suíços.) Mas o cerne do argumento do Summers era, não custa nada lembrar, um tanto mais local e um muito mais macabro: como as vidas de africanos, em termos estritos de produtividade ao longo da expectativa de vida base, valem menos do que as de noruegueses, um africano morto prematuramente pela poluição é uma externalidade negativa de menor custo a ser suportada para a produção de determinado bem. Em outras palavras, africanos deveriam morrer em lugar dos americanos e europeus para que estes pudessem fruir as benesses da indústria.

Não deixa de lembrar as discussões em torno das grandes fomes na Índia ao final do século XIX (que o Mike Davis argumenta que foram essenciais para a criação do que hoje é o terceiro mundo), durante as quais primeiro-ministors e vice-reis deixaram bem claro que a Índia, mesmo durante um apocalipse de seca, doença, e fome, deveria ser um gerador de divisas para a Grã-Bretanha, e não um objeto de caridade. Mais do que isso, mesmo em meio à fome generalizada que matou milhões, deveria, como a Irlanda em muito menor escala e três décadas antes, continuar exportando grãos para a metrópole, para que o preço dos alimentos nesta se mantivesse baixo.

Preços mais baixos nos países mais ricos, graças a um sistema mundial legalmente acionável e largamente legitimizado...lembra alguma coisa?

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