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25.5.11

Amazon na Amazônia

A Amazon, maior livraria virtual do mundo, pretende adicionar .br à sua lista de sufixos, que hoje conta, além do .com original americano, com .ca, .cn, .uk, .fr, .de, .it e .jp (Canadá, China, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, e Japão). A notícia não é apenas de que o Brasil terá uma nova loja de comércio virtual para se juntar às demais; a Amazon é e sempre foi extremamente agressiva nos descontos, além de ter um site que está (até pela abertura à participação dos usuários) léguas à frente de qualquer outro, que dirá dos brasileiros. E, não sendo tão FDP nas relações com pequenas empresas quanto a média das companhias americanas (que dirá as brasileiras) pela sua rede de pequenos vendedores associados. Comparar o Submarino (inspirado na Amazon) com a Amazon é covardia sem tamanho. E isso é importante porque até hoje, no Brasil, as livrarias virtuais mais bem sucedidas, apesar da Submarino ter se juntado a elas, têm sido as próprias grandes redes de livrarias físicas.

Nos EUA, a Amazon tem sido um problemão para grandes redes desse tipo, que têm assistido ano a ano suas filiais se tornarem cada vez menos lucrativas, ao ponto de terem que fechar várias delas, algumas abertas há não muito tempo, no boom dos anos 90. E aí é que está a minha Schadenfreude, que agora se aplicará à Cultura, Saraiva, FNAC e congêneres: a maioria dessas grandes filiais foram implantadas às custas de pequenas e médias livrarias independentes, "de bairro," como se diz aqui em São Paulo, ou "mom and pop" como se diz nos EUA. Aliás, engraçado dizer "aqui em São Paulo," porque justamente aqui em São Paulo, em comparação com o Rio, é que isso mais aconteceu; o número de livrarias independentes declinou muito ao longo deste começo do século XXI, justamente em função da incapacidade da maioria de competir com os esforços em desconto e propaganda das grandes. (A metragem de livraria nas duas metrópoles é mais ou menos equivalente, e o número delas no Rio é algo como o dobro ou triplo de São Paulo.)

Aliás, a Schadenfreude é temperada por saber que a Amazon não afeta negativamente apenas as grandes redes; as independentes podem até resistir melhor (porque as que sobrevivem já tiveram que resistir a problemas similares que já lhes foram impostos pelas redes), mas também vão cortar um dobrado. E no Centro do Rio, em particular, esse dobrado será duplo, porque além da criação da Amazon vão ter que encarar a abertura simultânea de uma Livraria Cultura (no prédio do antigo Cine Vitória, na Senador Dantas) e de uma FNAC (no edifício Sul América).

E além dessas duas emoções negativas, a alegria com o predicado da Cultura, da Saraiva, e da FNAC e a preocupação com o destino de Travessa, Da Vinci, Livraria da Vila, Argumento, Timbre & Co., uma emoção inteiramente positiva: cada vez é maior o acesso de quem vive no interior do Brasil à leitura. Apesar do velho dito de que em Buenos Aires haveria mais livrarias do que no Brasil provavelmente nunca ter sido verdade, não sei muito bem se continuaria nunca tendo sido verdade com a adição da cláusula "fora das grandes metrópoles." A imensa maioria das cidades e vilas brasileiras não tem livraria nem biblioteca, ou tem apenas uma filial desenxabida da Nobel e um galpão poeirento com menos livros do que lá em casa e uma funcionária mal paga pra cuidar de tudo.

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