Elio Gaspari, em sua coluna de hoje, termina uma boa descrição do "relatório" anual feito pelo Itamaraty com uma nota infeliz dizendo que os EUA não fazem isso. Ora, fazem, e muito - cada secretaria (ministério) americana lança mais relatórios impressos do que alguns países, e boa parte deles no mesmo tom. Fora órgãos inteiros dedicados ao imbecilismo de propaganda. Assim como o capitalismo virtuoso que ele compara com o capitalismo vicioso brasileiro não anda lá muito bem há décadas (a renda mediana real americana tem caído desde que Nixon estava na casa branca). No segundo caso, a jabuticaba ainda está mais próxima de existir - o capitalismo brasileiro e latino-americano em geral é, realmente, particularmente iníquo, como o demonstram os índices de Gini da região. Mesmo assim, a generalização disso pra "os ricos malvados brasileiros" já entra no campo da jabuticaba - afinal, os ricos e estado brasileiros, com toda a sua violência, permitem a existência de favelas em áreas hipervalorizadas - vai ver se isso é possível na África do Sul ou mesmo na Europa.
Elio Gaspari é especialista em inventar jabuticabas, mas o sentido da jabuticaba, a alegação de que "essas coisas só acontecem no Brasil" podia ser mais raro. Ainda mais porque, com uma ou duas exceções, ele se foca nas coisas ruins, o que, mais do que um insulto ao Brasil, é um insulto aos cidadãos de outros países que têm que conviver com os mesmos problemas. Coisas em que o Brasil é mesmo único, ou quase único, são raríssimas, tanto pra bem quanto pra mal. Aliás, são dificilmente coisas que dê pra chamar de boas ou ruins - por definição, se é único não é comparável.
Um comentário:
Essa história de inventar jabuticabas é um saco mesmo. Não apenas Gaspari, todo mundo faz isso.
Quando leio alguém dizendo que "o Brasil é o único país do mundo que...", já desqualifico automaticamente o que é dito...
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