Lembram do mapa feito por um estagiário do Facebook, mostrando as "amizades" mundo afora? Pois bem, um sujeito que trabalha com bibliometria acaba de fazer a versão lattes dele.
No mapa que detalha colaborações em artigos científicos entre pesquisadores de cidades diferentes, algumas coisas saltam aos olhos, tanto óbvias quanto surpreendentes, tanto surpreendentes mas lógicas quanto surpreendentes tout court. Em parte, estas últimas podem ser resultado das escolhas de design do sujeito - ele usou a projeção de Mercator, de que normalmente não gosto mas que no caso permite a ampliação das áreas mais densas, e que permitiria a utilização de linhas retas - mas ao invés de desenhar as linhas retas fez umas parábolas bonitinhas. E usou branco sobre preto, com aquele look de foto noturna do mundo, o que é pior para ver a intensidade e posição das linhas. Em suma, o mapa é, ahem, mal escrito.
As óbvias: EUA, EU, e Japão são os pontos mais rabiscados, com os BRICs, México, Coréia e Austrália seguindo. As surpreendentes mas lógicas: como boa parte das colaborações, mesmo na União Européia, ainda são intranacionais, países com a pesquisa muito concentrada em poucas cidades são menos rabiscados do que aqueles mais espalhados; contraste a Itália com a França, ou Porto Alegre com Buenos Aires. E os paises de língua inglesa, como em bibliometria em geral, estão sobrepresentados. E surpreendente pronto: o Brasil aparece mais rabiscado do que Índia ou China.
(Sim, muito deliberadamente, apesar do instinto, eu usei rabiscado ao invés de luminoso.)
Auferre, trucidare, rapere, falsis nominibus imperium; atque, ubi solitudinem faciunt, pacem appellant.
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25.3.11
24.3.11
Biciclovias
A maioria das grandes universidades públicas brasileiras tem seus campi principais em "cidades universitárias," grandes extensões que poderiam muito bem ter nascido, armadas de égide e lança, da testa de Le Corbusier. As faculdades dentro de uma cidade universitária se espalham por vastos parques de grama com algumas árvores, têm poucos andares e são interligadas por estradas asfaltadas largas, com duas a quatro pistas carroçáveis por sentido. Como tais, essas cidades universitárias dependem do uso do automóvel para locomoção interna (ou de ônibus circulares). Mesmo quando estão próximas à rede de transporte de massa, essa forma de campus faz com que essa proximidade seja, quando muito, relativa; assim, para ir da estação "Cidade Universitária" da rede de trens paulista (ou da extensão via ônibus do metrô) até algumas das faculdades da USP é uma caminhada de pelo menos
Educação Física: 670m
Educação: 1300m
História: 2000m
Comunicação: 2100m
Economia: 2600m
Arquitetura: 2730m
Nem pode-se alegar que essa situação é algum tipo de herança maldita dos anos do alto modernismo e do CIAM, nos quais foram erguidas as cidades universitárias. Afinal, a USP, pelo menos continua sendo contra a instalação de uma estação do metrô dentro de sua cidade universitária. E, mais absurda e imediatamente, não se vê ninguém fazendo, a custo quase zero, a solução óbvia, aliás a oportunidade oferecida pelas tais avenidas de seis, oito faixas.
Vá a qualquer faculdade da Ivy League americana. Aliás, a qualquer faculdade em boa parte do mundo. O que você vai ver são bicicletários dignos da Holanda: o modo natural de se deslocar em universidades é a bicicleta. A bicicleta como modo de deslocamento urbano em geral apresenta dificuldades de implantação (falta de espaço para ciclovias), relevo (ninguém vai ao trabalho subindo a Augusta de bicicleta), distância (ninguém vai de Santa Cruz a Botafogo de bicicleta), e segurança, no caso da bicicleta pública. Nenhum desses problemas está presente nas cidades universitárias. O preço de se fazer de um terço das pistas de carro duas vezes o seu número de pistas de bicicleta, e converter parte dos estacionamentos em bicicletários, é mínimo (e deveria ser feito mesmo sem ser como parte do projeto maior). As distâncias são, de bicicleta, pequenas. Com chips RFID, controlar onde estão bicicletas públicas modelo Vélib é facílimo, ainda mais que as cidades universitárias têm um número relativamente restrito de entradas e saídas. E com isso poderia-se abater em muito o número de carros e até ônibus circulando pelos campi.
Pera, esqueci de explicar o que é modelo Vélib, não? É o modelo parisiense de locação de bicicletas. Funciona assim: as bicicletas ficam estacionadas em pontos ligados a totens. Esses totens têm um painel digital e entrada para cartão de crédito/débito. Você pode alugar a bicicleta usando um, com uma quantia bem módica - mas ao mesmo tempo tem que aceitar uma "caução" imposta sobre o cartão, que será cobrada caso a bicicleta não seja devolvida em alguma estação do sistema. Outra dificuldade do modelo vélib no Brasil é o acesso restrito a cartões de crédito/débito. Ora, noves fora o próprio público universitário (obviamente alunos e professores, mas até os funcionários) ser bem mais rico do que a média brasileira, seria relativamente fácil criar um sistema de pagamento e caução paralelo, utilizando as identidades universitárias e pagamento em dinheiro.
(Pessoalmente, acho que vélibs funcionariam mesmo nas cidades brasileiras como um todo, apesar de dificuldades maiores em algumas cidades e áreas. Mas nas CUs, é mais fácil ainda.)
Educação Física: 670m
Educação: 1300m
História: 2000m
Comunicação: 2100m
Economia: 2600m
Arquitetura: 2730m
Nem pode-se alegar que essa situação é algum tipo de herança maldita dos anos do alto modernismo e do CIAM, nos quais foram erguidas as cidades universitárias. Afinal, a USP, pelo menos continua sendo contra a instalação de uma estação do metrô dentro de sua cidade universitária. E, mais absurda e imediatamente, não se vê ninguém fazendo, a custo quase zero, a solução óbvia, aliás a oportunidade oferecida pelas tais avenidas de seis, oito faixas.
Vá a qualquer faculdade da Ivy League americana. Aliás, a qualquer faculdade em boa parte do mundo. O que você vai ver são bicicletários dignos da Holanda: o modo natural de se deslocar em universidades é a bicicleta. A bicicleta como modo de deslocamento urbano em geral apresenta dificuldades de implantação (falta de espaço para ciclovias), relevo (ninguém vai ao trabalho subindo a Augusta de bicicleta), distância (ninguém vai de Santa Cruz a Botafogo de bicicleta), e segurança, no caso da bicicleta pública. Nenhum desses problemas está presente nas cidades universitárias. O preço de se fazer de um terço das pistas de carro duas vezes o seu número de pistas de bicicleta, e converter parte dos estacionamentos em bicicletários, é mínimo (e deveria ser feito mesmo sem ser como parte do projeto maior). As distâncias são, de bicicleta, pequenas. Com chips RFID, controlar onde estão bicicletas públicas modelo Vélib é facílimo, ainda mais que as cidades universitárias têm um número relativamente restrito de entradas e saídas. E com isso poderia-se abater em muito o número de carros e até ônibus circulando pelos campi.
Pera, esqueci de explicar o que é modelo Vélib, não? É o modelo parisiense de locação de bicicletas. Funciona assim: as bicicletas ficam estacionadas em pontos ligados a totens. Esses totens têm um painel digital e entrada para cartão de crédito/débito. Você pode alugar a bicicleta usando um, com uma quantia bem módica - mas ao mesmo tempo tem que aceitar uma "caução" imposta sobre o cartão, que será cobrada caso a bicicleta não seja devolvida em alguma estação do sistema. Outra dificuldade do modelo vélib no Brasil é o acesso restrito a cartões de crédito/débito. Ora, noves fora o próprio público universitário (obviamente alunos e professores, mas até os funcionários) ser bem mais rico do que a média brasileira, seria relativamente fácil criar um sistema de pagamento e caução paralelo, utilizando as identidades universitárias e pagamento em dinheiro.
(Pessoalmente, acho que vélibs funcionariam mesmo nas cidades brasileiras como um todo, apesar de dificuldades maiores em algumas cidades e áreas. Mas nas CUs, é mais fácil ainda.)
23.3.11
Muamar X.
Neste momento, em que cada vez mais dúvidas se avolumam sobre o resultado e o significado dos ataques da OTAN às forças de Khadafi, leio uma crônica do Veríssimo reclamando da profusão de grafias utilizadas para transliterar o nome do ditador no alfabeto latino. O que o Veríssimo talvez não saiba é que essa profusão é oficial. Khadafi, com o espírito de porco e o gosto pelo espalhafatoso e bombástico que lhe são peculiares, tem alterado a grafia latina oficial de seu nome ao longo de suas quatro décadas de poder, justamente para confundir todo mundo. A Biblioteca do Congresso americana finalmente desistiu de acompanhá-lo, para efeito de indexação, lá pelo fim dos anos 90.
Falei de espírito de porco e gosto pelo espalhafato? Pode ser. A descrição também se aplica à tenda que ele carrega por onde anda ao invés de se hospedar em hotel ou nas embaixadas líbias, com o resultado de atrapalhar a vida de todo mundo. Ou à sua guarda pessoal de ninjas gostosas. Ou aos caftãs de beduíno que, combinados aos óculos escuros, lhe dão meio uma aparência de camelô do Saara. (Bem, um camelô que usasse botox.) Mas acontece que todas essas coisas ajudam a montar uma imagem que é útil a um sujeito que, afinal, sobreviveu como ditador durante quase uma década a mais do que eu tenho de vida. "Excentricidades" e "fraquezas" que ajudam alguém a construir a imagem que deseja são coisa de esperto. Qadaffi, com elas, neutraliza parte da sua imagem de ditador no exterior (muita gente chega a apoiá-lo, principalmente contra os EUA) e se autoapresenta como um "homem do povo" na Líbia - uma de suas afetações menos conhecidas fora do país é só falar num carregado dialeto local de sua tribo, coisa que tem poucas chances de ser natural já que até os anos 80 ele ainda falava árabe padrão culto.
Mesmo a guarda pessoal de ninjas gostosas, ou a "voluptuosa" enfermeira ucraniana mencionada no wikileaks, não deixam de se prestar a essa narrativa. No caso, funciona como com o seu colega de festas bunga bunga, Silvio Berlusconi, e a imagem de velho tarado é simpática a uma fração significativa do eleitorado machista.
*********************************
Alguém mais tem a impressão de que, se para o povo líbio e árabe em geral a situação na Líbia é uma sinuca de bico em que não se pode ganhar, para o Ocidente tanto a cooptação quanto a derrota da "primavera dos povos" árabe são boas conclusões do processo desencadeado com a resolução da ONU?
Falei de espírito de porco e gosto pelo espalhafato? Pode ser. A descrição também se aplica à tenda que ele carrega por onde anda ao invés de se hospedar em hotel ou nas embaixadas líbias, com o resultado de atrapalhar a vida de todo mundo. Ou à sua guarda pessoal de ninjas gostosas. Ou aos caftãs de beduíno que, combinados aos óculos escuros, lhe dão meio uma aparência de camelô do Saara. (Bem, um camelô que usasse botox.) Mas acontece que todas essas coisas ajudam a montar uma imagem que é útil a um sujeito que, afinal, sobreviveu como ditador durante quase uma década a mais do que eu tenho de vida. "Excentricidades" e "fraquezas" que ajudam alguém a construir a imagem que deseja são coisa de esperto. Qadaffi, com elas, neutraliza parte da sua imagem de ditador no exterior (muita gente chega a apoiá-lo, principalmente contra os EUA) e se autoapresenta como um "homem do povo" na Líbia - uma de suas afetações menos conhecidas fora do país é só falar num carregado dialeto local de sua tribo, coisa que tem poucas chances de ser natural já que até os anos 80 ele ainda falava árabe padrão culto.
Mesmo a guarda pessoal de ninjas gostosas, ou a "voluptuosa" enfermeira ucraniana mencionada no wikileaks, não deixam de se prestar a essa narrativa. No caso, funciona como com o seu colega de festas bunga bunga, Silvio Berlusconi, e a imagem de velho tarado é simpática a uma fração significativa do eleitorado machista.
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Alguém mais tem a impressão de que, se para o povo líbio e árabe em geral a situação na Líbia é uma sinuca de bico em que não se pode ganhar, para o Ocidente tanto a cooptação quanto a derrota da "primavera dos povos" árabe são boas conclusões do processo desencadeado com a resolução da ONU?
22.3.11
Radiação
Diretamente do xkcd, um gráfico situando o risco de Fukushima. Eu adicionaria a ele "radiação anual acumulada se você mora em Guarapari, 175mSv. Lá na parte vermelhinha da tabela.
Valendo o quanto pesa
Um artigo do New York Times fala da quinoa, e de como o cereal boliviano, que caiu nas graças de yuppies e "foodies" mundo afora, está por conta disso ficando caro demais para os bolsos dos bolivianos que tradicionalmente lhe comiam; estes assim passam a comer, como pobres mundo afora, os produtos globalizados da indústria alimentícia, que por sua vez ficam mais baratos. E a exportação de alimentos tradicionais tornados em chiques significa que menos gente é autoprodutora, e o governo passa a ter que sustentar mais gente.
A estória poderia ser em qualquer lugar do mundo, e não só na Bolívia. É o quinoa, mas poderia ser o açaí, o dendê, ou qualquer das miríades de frutas e comidas regionais que eu ainda não comi. Nem é restrita aos países pobres - queijos e vinagres de luxo eram queijos e vinagres locais há nem tanto tempo assim, e a "safra de segunda" dos grandes vinhos franceses cada vez é menos distribuída aos viticultores e mais engarrafada e distribuída mundo afora.
É um resultado do acesso à informação cada vez maior, do mundo cada vez mais interligado por redes virtuais tanto de comunicação quanto de logística; são desfeitas as barreiras que antes resultavam em custos exponencialmente maiores de dinheiro, ou na necessidade de custos não-monetários (o clássico sendo a disponibilidade para viajar - eu mesmo conheci o quinoa às margens do Titicaca, numa versão meio sopa de caminhoneiro).
Assim, e de maneira bem linear, cada vez mais a qualidade e variedade do que se tem acesso depende do quanto se pode pagar, ou melhor, vai deixando de ser condicionado por outros fatores; a localização e especificidades culturais dela vão se tornando irrelevantes na metrópole virtual em que vai se tornando o mundo. Ainda não é uma coisa absoluta - eu mesmo estava reclamando outro dia de como no Brasil ainda não se acha facilmente um bom queijo de Minas no supermercado - mas vai caminhando para isso. E cada vez mais o dinheiro vai se tornando, realmente, a medida de todas as coisas.
PS a deslocalização fica completa pelo passo que o quinoa ainda está apenas começando a dar - a produção, mais competitiva, por produtores estrangeiros, não tradicionais, ou bem em maior escala ou bem "gourmet." O boom econômico para os agricultores representado pela escalada dos preços do quinoa pode não durar muito.
A estória poderia ser em qualquer lugar do mundo, e não só na Bolívia. É o quinoa, mas poderia ser o açaí, o dendê, ou qualquer das miríades de frutas e comidas regionais que eu ainda não comi. Nem é restrita aos países pobres - queijos e vinagres de luxo eram queijos e vinagres locais há nem tanto tempo assim, e a "safra de segunda" dos grandes vinhos franceses cada vez é menos distribuída aos viticultores e mais engarrafada e distribuída mundo afora.
É um resultado do acesso à informação cada vez maior, do mundo cada vez mais interligado por redes virtuais tanto de comunicação quanto de logística; são desfeitas as barreiras que antes resultavam em custos exponencialmente maiores de dinheiro, ou na necessidade de custos não-monetários (o clássico sendo a disponibilidade para viajar - eu mesmo conheci o quinoa às margens do Titicaca, numa versão meio sopa de caminhoneiro).
Assim, e de maneira bem linear, cada vez mais a qualidade e variedade do que se tem acesso depende do quanto se pode pagar, ou melhor, vai deixando de ser condicionado por outros fatores; a localização e especificidades culturais dela vão se tornando irrelevantes na metrópole virtual em que vai se tornando o mundo. Ainda não é uma coisa absoluta - eu mesmo estava reclamando outro dia de como no Brasil ainda não se acha facilmente um bom queijo de Minas no supermercado - mas vai caminhando para isso. E cada vez mais o dinheiro vai se tornando, realmente, a medida de todas as coisas.
PS a deslocalização fica completa pelo passo que o quinoa ainda está apenas começando a dar - a produção, mais competitiva, por produtores estrangeiros, não tradicionais, ou bem em maior escala ou bem "gourmet." O boom econômico para os agricultores representado pela escalada dos preços do quinoa pode não durar muito.
16.3.11
Madeira Mamoré vive!
Me refiro, evidentemente, às práticas trabalhistas, e não ao rio. Afinal, exatamente o que motiva este post é o acontecido no canteiro de obras devotado a barrar o Madeira. Operários se insubordinaram contra o tratamento dado a eles, incendiando dúzias de ônibus. O acontecido não serve só para se revoltar e falar tut tut, mas também para pesar prós e contras, num momento em que o acontecido em Fukushima serve para pôr bem pra baixo na estimativa mundial da energia nuclear, que é, repito, a única alternativa viável e pouco efeitoestufável à energia hidrelétrica no Brasil (a eólica ainda tem muito o que investir, e deveria ser prioridade até se chegar a seu limite, mas não serve de carga-base).
Hidrelétricas, e grandes obras em geral, na Amazônia vão resultar em cenas como essa, curiosamente objeto de pouca atenção dos jornalões brasileiros - mesmo admitindo que este começo de 2011 é um verdadeiro embaras de richesses para órgãos noticiosos, entre as sublevações árabes (e iraniana), os desastres naturais no Japão (teve vulcão, terremoto, e maremoto; imagino que, apesar de não ser temporada de tufões no Pacífico, um extemporâneo dê as caras só pra sacanear), o drama da usina nuclear, sem contar com o Carnaval, que é manjado mas sempre dá caldo. São uma expansão da fronteira de povoamento, e das mais intensas.
E não custa lembrar que, de novo menos cotada nas notícias do que outros assuntos, a violência na fronteira de povoamento brasileira é mais intensa do que em qualquer outro "ecossistema" social, incluídas as periferias das grandes cidades. Proporcionalmente, morre muito mais gente na fronteira agrícola do que nas periferias do Nordeste (exceto Piauí) ou do Espírito Santo, onde por sua vez morre mais gente do que nas periferias do Rio e São Paulo.
Hidrelétricas, e grandes obras em geral, na Amazônia vão resultar em cenas como essa, curiosamente objeto de pouca atenção dos jornalões brasileiros - mesmo admitindo que este começo de 2011 é um verdadeiro embaras de richesses para órgãos noticiosos, entre as sublevações árabes (e iraniana), os desastres naturais no Japão (teve vulcão, terremoto, e maremoto; imagino que, apesar de não ser temporada de tufões no Pacífico, um extemporâneo dê as caras só pra sacanear), o drama da usina nuclear, sem contar com o Carnaval, que é manjado mas sempre dá caldo. São uma expansão da fronteira de povoamento, e das mais intensas.
E não custa lembrar que, de novo menos cotada nas notícias do que outros assuntos, a violência na fronteira de povoamento brasileira é mais intensa do que em qualquer outro "ecossistema" social, incluídas as periferias das grandes cidades. Proporcionalmente, morre muito mais gente na fronteira agrícola do que nas periferias do Nordeste (exceto Piauí) ou do Espírito Santo, onde por sua vez morre mais gente do que nas periferias do Rio e São Paulo.
15.3.11
Você prefere morrer depressa ou devagar?
(Com mil perdões a quem ficou com essa música imbecil na cabeça)
No último post, falei sobre como a energia nuclear tem associada a ela um problema de histeria, comparando as atenções mundiais que atualmente se focam na usina de Fukushima-Daiichi com a atenção dada à catástrofe do rio Pomba, quando um dique de rejeitos de mineração se rompeu com as chuvas, em Minas Gerais, afetando o vale do Paraíba até a foz. O número de pessoas postas em risco naquela ocasião era mais ou menos comparável ao número de pessoas em risco neste momento; o número de mortos, a cenários bem próximos do pior que pode acontecer. Et pourtant, nem no Brasil o rio Pomba é, creio, um nome que todo mundo identifique de orelhada.
Pode parecer que eu estava simplesmente defendendo a indústria nuclear de uma reputação imerecida, ou pelo menos imerecida em relação a outras indústrias, mas não é exatamente esse o caso. Acho que dá pra decupar essa preocupação exagerada, entre aspas, com o nuclear em duas vertentes, uma irracional e outra não. Primeiro, pra situar ainda melhor os riscos com a indústria nuclear: esta tem mais ou menos um sexto da importância das térmicas a carvão, em termos de geração global de energia elétrica. Ora, morre mais gente todo ano graças à indústria do carvão do que graças à nuclear desde seu nascimento, a imensa maioria destes sendo os mortos graças a Chernobyl. Isso é, o carvão, em termos de riscos, é como se tivéssemos uma Chernobyl a cada seis anos. Então, dizer que há algum tipo de exagero em nossa análise de risco do nuclear não me parece temerário demais.
A primeira vertente é o medo representado pela própria palavra "nuclear," uma combinação da falta de compreensão do que seja uma reação nuclear e do merecido terror que inspiram as armas portadoras do mesmo adjetivo. Em boa parte da história do movimento ambientalista, a oposição às usinas nucleares tem, inclusive, se misturado à oposição às armas nucleares. Por outro lado, pessoas entendem tão pouco de como funciona uma usina nuclear que perguntam se vai ter uma explosão atômica em Fukushima (não vai), se a nuvem radioativa vai chegar aos EUA (não vai), e se o reator pode derreter e furar até o centro da terra, explodindo o planeta (pelamordejesuiscristinho). Carvão, por outro lado, é carvão. Queima. Todo mundo sabe como.
O outro motivo pelo qual se desconfia dos riscos associados à geração de energia nuclear mais do que de riscos equivalentes ou maiores, entretanto, é eminentemente racional. Ele se baseia na diferença entre um risco gradual e permanente e um risco eventual e catastrófico. Nós podemos fazer, constantemente, correções e melhorias na indústria de carvão. Podemos ver se morreu mais gente este ano e fazer com que morra menos ano que vem. Estamos acostumados a fazer isso, desde sempre, e sistemáticamente desde o iluminismo, pelo menos. Conseguimos administrar problemas incrementais. Estamos, em suma, no controle da situação (mesmo que ela seja horrível). Se não estamos no controle, isso é um erro e um problema, geralmente de causa humana e moralmente condenável. A catástrofe, por outro lado, é obra divina, se nos escapa.
Há mais do que um componente psicológico na rejeição ao risco catastrófico, na preferência pelo (ainda que sabidamente maior) risco constante: é que, por ser catastrófico, ele é (quase por definição) imprevisível. Além disso, a responsabilidade e atuação de outras partes na prevenção desse risco catastrófico é difícil de conhecer, se não propriamente incognoscível. Assim, ninguém sabia que Chernobyl era uma bomba relógio até explodir. Ninguém tinha como saber que a Tokyo Electric tinha comprado geradores imprestáveis para seu sistema de emergência até eles se revelarem como tais numa emergência. E por aí em diante. E suspeitar da capacidade alheia, e da transparência das grandes corporações responsáveis por essa administração de riscos, não é nem um pouco irracional.
Angra 1, por enquanto, só se mostrou uma porcaria na geração de energia e resíduos. Que se saiba, ainda não explodiu...
No último post, falei sobre como a energia nuclear tem associada a ela um problema de histeria, comparando as atenções mundiais que atualmente se focam na usina de Fukushima-Daiichi com a atenção dada à catástrofe do rio Pomba, quando um dique de rejeitos de mineração se rompeu com as chuvas, em Minas Gerais, afetando o vale do Paraíba até a foz. O número de pessoas postas em risco naquela ocasião era mais ou menos comparável ao número de pessoas em risco neste momento; o número de mortos, a cenários bem próximos do pior que pode acontecer. Et pourtant, nem no Brasil o rio Pomba é, creio, um nome que todo mundo identifique de orelhada.
Pode parecer que eu estava simplesmente defendendo a indústria nuclear de uma reputação imerecida, ou pelo menos imerecida em relação a outras indústrias, mas não é exatamente esse o caso. Acho que dá pra decupar essa preocupação exagerada, entre aspas, com o nuclear em duas vertentes, uma irracional e outra não. Primeiro, pra situar ainda melhor os riscos com a indústria nuclear: esta tem mais ou menos um sexto da importância das térmicas a carvão, em termos de geração global de energia elétrica. Ora, morre mais gente todo ano graças à indústria do carvão do que graças à nuclear desde seu nascimento, a imensa maioria destes sendo os mortos graças a Chernobyl. Isso é, o carvão, em termos de riscos, é como se tivéssemos uma Chernobyl a cada seis anos. Então, dizer que há algum tipo de exagero em nossa análise de risco do nuclear não me parece temerário demais.
A primeira vertente é o medo representado pela própria palavra "nuclear," uma combinação da falta de compreensão do que seja uma reação nuclear e do merecido terror que inspiram as armas portadoras do mesmo adjetivo. Em boa parte da história do movimento ambientalista, a oposição às usinas nucleares tem, inclusive, se misturado à oposição às armas nucleares. Por outro lado, pessoas entendem tão pouco de como funciona uma usina nuclear que perguntam se vai ter uma explosão atômica em Fukushima (não vai), se a nuvem radioativa vai chegar aos EUA (não vai), e se o reator pode derreter e furar até o centro da terra, explodindo o planeta (pelamordejesuiscristinho). Carvão, por outro lado, é carvão. Queima. Todo mundo sabe como.
O outro motivo pelo qual se desconfia dos riscos associados à geração de energia nuclear mais do que de riscos equivalentes ou maiores, entretanto, é eminentemente racional. Ele se baseia na diferença entre um risco gradual e permanente e um risco eventual e catastrófico. Nós podemos fazer, constantemente, correções e melhorias na indústria de carvão. Podemos ver se morreu mais gente este ano e fazer com que morra menos ano que vem. Estamos acostumados a fazer isso, desde sempre, e sistemáticamente desde o iluminismo, pelo menos. Conseguimos administrar problemas incrementais. Estamos, em suma, no controle da situação (mesmo que ela seja horrível). Se não estamos no controle, isso é um erro e um problema, geralmente de causa humana e moralmente condenável. A catástrofe, por outro lado, é obra divina, se nos escapa.
Há mais do que um componente psicológico na rejeição ao risco catastrófico, na preferência pelo (ainda que sabidamente maior) risco constante: é que, por ser catastrófico, ele é (quase por definição) imprevisível. Além disso, a responsabilidade e atuação de outras partes na prevenção desse risco catastrófico é difícil de conhecer, se não propriamente incognoscível. Assim, ninguém sabia que Chernobyl era uma bomba relógio até explodir. Ninguém tinha como saber que a Tokyo Electric tinha comprado geradores imprestáveis para seu sistema de emergência até eles se revelarem como tais numa emergência. E por aí em diante. E suspeitar da capacidade alheia, e da transparência das grandes corporações responsáveis por essa administração de riscos, não é nem um pouco irracional.
Angra 1, por enquanto, só se mostrou uma porcaria na geração de energia e resíduos. Que se saiba, ainda não explodiu...
14.3.11
Forewarned is forearmed
O terremoto de Myagi, além de compartilhar um nome com o velhinho do Karatê Kid, demonstrou de maneira bastante eloquente a importância do planejamento prévio. Apesar do otimismo das primeiras horas, em que se pensava ainda que a conta dos mortos se resumiria às centenas, não ter se confirmado, ainda assim é bem provável que a conta não se aproxime daquela dos últimos grandes terremotos, como no Haiti ou no Oceano Índico. E isso apesar de ter sido um terremoto de quase nove graus na escala Richter, numa área extremamente densamente povoada. (A costa nordeste de Honshu é, depois de Hokkaido, a área menos povoada do Japão - mas isso é tipo dizer que fulano é o baixinho da seleção holandesa de vôlei.)
Nem é esse preparo simplesmente uma questão de dinheiro e recursos, como pode ser visto ao se comparar a devastação causada pelos furacões de categoria cinco Katrina e Ike, em que Cuba, apesar de ter cerca de um vigésimo da renda per capita dos EUA, e menos de um seiscentésimo da grana total, sofreu muito menos, em vidas humanas. Aliás, parte da preparação que salvou vidas, no Japão e ao largo das costas Oceano Pacífico afora, se deveu exatamente ao horror dos mortos do tsunami do terremoto do Boxing Day, no Oceano Índico; atualmente o Pacífico e o Índico estão coalhados de bóias e sismógrafos, e a maioria dos países tem um sistema de evacuação para tsunamis. O sistema ainda está longe de ser perfeito, e pelo visto teve gente que morreu porque o governo disse que podia voltar pra casa quando ainda vinham ondas por ali, mas se morreram dez pessoas ao invés de 10.000, acho que já é uma vitória na nossa luta contra mamãe Gaia Theron.
O outro lado da moeda do preparo está na usina termonuclear de Fukushima, que, detonada pelo terremoto, já causou a evacuação de 200.000 pessoas. A usina já está sendo usada como exemplo de que energia nuclear é perigosa, mas - e sabendo que corro o risco de ser desmentido da pior forma possível - até agora a reação às explosões dos reatores testemunha, não sobre o risco inerente de centrais nucleares, mas sobre o medo que se tem delas, por um lado, e a regra pela qual sempre que se disser "é pouco tempo, até lá não deve dar problema" se estará tentando as Nornes. Este porque a usina, que é das mais velhas ainda em operação, estava para ser desativada de qualquer jeito, e justamente por causa disso não recebeu o upgrade, nos sistemas de contenção anti-explosão e de resfriamento em caso de catástrofe, que outras usinas antigas Japão afora receberam. (Uma agora hipotética central Angra 3, construída hoje, aguentaria o terremoto mais tsunami sem maiores problemas.)
Já a questão da catástrofe ser superdimensionada pelo medo e pela sua natureza catastrófica - alguém se lembra se o vazamento do rio Pomba foi notícia mundial? O número de pessoas postas em risco por ele, e o grau (de novo, até agora, correndo o risco de ser tragicamente desmentido) foram mais ou menos equivalentes ao ocorrido na usina de Fukushima.
Nem é esse preparo simplesmente uma questão de dinheiro e recursos, como pode ser visto ao se comparar a devastação causada pelos furacões de categoria cinco Katrina e Ike, em que Cuba, apesar de ter cerca de um vigésimo da renda per capita dos EUA, e menos de um seiscentésimo da grana total, sofreu muito menos, em vidas humanas. Aliás, parte da preparação que salvou vidas, no Japão e ao largo das costas Oceano Pacífico afora, se deveu exatamente ao horror dos mortos do tsunami do terremoto do Boxing Day, no Oceano Índico; atualmente o Pacífico e o Índico estão coalhados de bóias e sismógrafos, e a maioria dos países tem um sistema de evacuação para tsunamis. O sistema ainda está longe de ser perfeito, e pelo visto teve gente que morreu porque o governo disse que podia voltar pra casa quando ainda vinham ondas por ali, mas se morreram dez pessoas ao invés de 10.000, acho que já é uma vitória na nossa luta contra mamãe Gaia Theron.
O outro lado da moeda do preparo está na usina termonuclear de Fukushima, que, detonada pelo terremoto, já causou a evacuação de 200.000 pessoas. A usina já está sendo usada como exemplo de que energia nuclear é perigosa, mas - e sabendo que corro o risco de ser desmentido da pior forma possível - até agora a reação às explosões dos reatores testemunha, não sobre o risco inerente de centrais nucleares, mas sobre o medo que se tem delas, por um lado, e a regra pela qual sempre que se disser "é pouco tempo, até lá não deve dar problema" se estará tentando as Nornes. Este porque a usina, que é das mais velhas ainda em operação, estava para ser desativada de qualquer jeito, e justamente por causa disso não recebeu o upgrade, nos sistemas de contenção anti-explosão e de resfriamento em caso de catástrofe, que outras usinas antigas Japão afora receberam. (Uma agora hipotética central Angra 3, construída hoje, aguentaria o terremoto mais tsunami sem maiores problemas.)
Já a questão da catástrofe ser superdimensionada pelo medo e pela sua natureza catastrófica - alguém se lembra se o vazamento do rio Pomba foi notícia mundial? O número de pessoas postas em risco por ele, e o grau (de novo, até agora, correndo o risco de ser tragicamente desmentido) foram mais ou menos equivalentes ao ocorrido na usina de Fukushima.
11.3.11
Estocolmo 2 - a revanche
Há um tempo atrás, comentei aqui de como extremistas de direita têm a capacidade de manter reféns os políticos de centro-direita. A fórmula, evidentemente, é aplicável na outra mão do espectro político, se houvesse alguma proposta de extrema-esquerda com a combinação de apoio popular e irrelevância para interesses econômicos das de extrema-direita, mas não há, até quase por definição.
O curioso é que neste artigo da Al Qaida, digo da Al Jazeera, dá pra subentender uma situação em que, por sua vez, os políticos de centro-esquerda mantém reféns os eleitores de esquerda em geral. No caso, é o Obama mandando torturar alguém que denunciou crimes de guerra, mas poderia ser o Blair indo à guerra, a Dilma falando em privatização branca do sistema de saúde, ou qualquer outro governante "de esquerda" tomando medidas identificadas com a direita. A equação política é relativamente simples, e bastante razoável de um ponto de vista maquiavélico: você por acaso imagina os republicanos, tories, ou tucanosfazendo diferente? Diferente pro lado esquerdo da coisa?
Com isso, temos uma situação que, aparentemente inescapavelmente, cria uma dupla sinuca. Por um lado, os políticos de direita são reféns da extrema direita; por outro, os políticos de esquerda, sabendo que a esquerda é refém deles, buscam votos ao centro com políticas de direita, o que por sua vez torna os políticos de direita ainda mais reféns da extrema direita... E assim vai sendo minada a democracia, dentro do mais perfeito funcionamento da democracia formal e com farta e entusiástica ajuda da plutocracia que sempre conviveu com ela, através de campanhas de mídia mais ou menos conscientes.
Em vários países, a "solução" para essa sinuca tem sido a rua, com protestos de grande porte. O problema é que, aparentemente, esses protestos não têm o condão de afetar significativamente as coisas em países mais estáveis, como os exemplos da França (sempre) e do Winsconsin (agora) deixam claro. Mesmo na Bolívia e na Argentina, onde deram certo, o campo de manobra posterior dos governantes não tem sido tão livre quanto se esperava, até porque nos países menos estáveis é justamente onde a plutocracia tem mais força. Mesmo no caso - único - da Venezuela, em que a imensa dinheirama do petróleo deveria ter ajudado, os resultados sociais pífios (menos intensos do que no Brasil de Lula) de uma década de governo "socialista" não podem ser atribuídos apenas a falhas pessoais de Hugo Chávez.
A solução para esse conjunto de sinucas de bico pós-industriais? Não tenho a menor idéia. Vai ver os árabes encontram uma, se finalmente virarem democracias (eu pelo menos me disponho a aguentar o terceiro choque do petróleo se Muamar Kadafi e sua santa majestade Abdullah bin Abdul-Aziz bin Abdul-Rahman bin Faisal bin Turki bin Abdullah bin Muhammad bin Saud, guardião da Terra Santa, passarem a ver o sol nascer quadrado).
O curioso é que neste artigo da Al Qaida, digo da Al Jazeera, dá pra subentender uma situação em que, por sua vez, os políticos de centro-esquerda mantém reféns os eleitores de esquerda em geral. No caso, é o Obama mandando torturar alguém que denunciou crimes de guerra, mas poderia ser o Blair indo à guerra, a Dilma falando em privatização branca do sistema de saúde, ou qualquer outro governante "de esquerda" tomando medidas identificadas com a direita. A equação política é relativamente simples, e bastante razoável de um ponto de vista maquiavélico: você por acaso imagina os republicanos, tories, ou tucanosfazendo diferente? Diferente pro lado esquerdo da coisa?
Com isso, temos uma situação que, aparentemente inescapavelmente, cria uma dupla sinuca. Por um lado, os políticos de direita são reféns da extrema direita; por outro, os políticos de esquerda, sabendo que a esquerda é refém deles, buscam votos ao centro com políticas de direita, o que por sua vez torna os políticos de direita ainda mais reféns da extrema direita... E assim vai sendo minada a democracia, dentro do mais perfeito funcionamento da democracia formal e com farta e entusiástica ajuda da plutocracia que sempre conviveu com ela, através de campanhas de mídia mais ou menos conscientes.
Em vários países, a "solução" para essa sinuca tem sido a rua, com protestos de grande porte. O problema é que, aparentemente, esses protestos não têm o condão de afetar significativamente as coisas em países mais estáveis, como os exemplos da França (sempre) e do Winsconsin (agora) deixam claro. Mesmo na Bolívia e na Argentina, onde deram certo, o campo de manobra posterior dos governantes não tem sido tão livre quanto se esperava, até porque nos países menos estáveis é justamente onde a plutocracia tem mais força. Mesmo no caso - único - da Venezuela, em que a imensa dinheirama do petróleo deveria ter ajudado, os resultados sociais pífios (menos intensos do que no Brasil de Lula) de uma década de governo "socialista" não podem ser atribuídos apenas a falhas pessoais de Hugo Chávez.
A solução para esse conjunto de sinucas de bico pós-industriais? Não tenho a menor idéia. Vai ver os árabes encontram uma, se finalmente virarem democracias (eu pelo menos me disponho a aguentar o terceiro choque do petróleo se Muamar Kadafi e sua santa majestade Abdullah bin Abdul-Aziz bin Abdul-Rahman bin Faisal bin Turki bin Abdullah bin Muhammad bin Saud, guardião da Terra Santa, passarem a ver o sol nascer quadrado).
10.3.11
Neurobrasil
O ministério de ciência e tecnologia anunciou a formação de uma "comissão do futuro," dedicada a pensar a ciência brasileira a longo prazo. A idéia parece um pouco redundante quando se lembra que o governo tem um ministério inteiro que, teoricamente, serve só pra isso, a Secretaria de Assuntos Estratégicos, mas como a "visão" que vem desta é extremamente conservadora e orientada para o lado territorial-militar, com apenas as noções mais vagas acerca de qualquer outra coisa, vá lá.
O curioso é que da lista de nomes, além do próprio presidente e "escolhedor," que foi o Nicolelis, constam mais três neurocientistas e dois médicos ligados à área, num total de quase um terço da comissão. A lista não inclui nenhum climatologista, por outro lado, o que pode ser preocupante. E nem membros "institucionais," o que definitivamente é preocupante; pensar a ciência brasileira a longo prazo sem perguntar o que a Fiocruz, a USP, ou a área de meio ambiente pensam do assunto é no mínimo mais difícil.
* Alan Rudolph, Biólogo, International Neuroscience Foundation, EUA
* Alexander Triebnigg, Médico, Presidente da Novartis, Brasil
* Conceição Lemes, Jornalista, Brasil
* Débora Calheiros, Pesquisadora, EMBRAPA, Brasil
* Jon H. Kaas, Neurocientista, Vanderbilt University, US National Academy of Science, EUA
* Luiz A. Baccalá, Engenheiro, Escola Politécnica, USP, Brasil
* Luiz Belluzzo, Economista, Professor Emérito UNICAMP, Brasil
* Mariano Sigman, Neurocientista, Universidade de Buenos Aires, Argentina
* Marilena Chauí, Filósofa e Professora, USP, Brasil
* Mariluce Moura, Jornalista, FAPESP, Brasil
* Mauro Copelli, Físico, UPFE, Brasil
* Patrick Aebischer, Neurocientista, Presidente da École Polytechnique Fédérale de Lausanne, Suíça
* Ricardo Abramovay, Cientista Político, FEA-USP, Brasil
* Robert Bishop, Cientista Computacional, ex-CEO da Silicon Graphics, EUA
* Ronald Cicurel, Matemático e Filósofo, Suíça
* Selma Jeronimo, Médica-Pesquisadora, UFRN, Brasil
* Stevens Rehens, Biólogo, UFRJ, Brasil
* Thereza Brino, Educadora em Tecnologia da Informação, Brasil
* Victor Nussenzweig, Médico, New York University, Brasil/EUA
* William Feiereisen, Cientista Computacional, Intel, EUA
O curioso é que da lista de nomes, além do próprio presidente e "escolhedor," que foi o Nicolelis, constam mais três neurocientistas e dois médicos ligados à área, num total de quase um terço da comissão. A lista não inclui nenhum climatologista, por outro lado, o que pode ser preocupante. E nem membros "institucionais," o que definitivamente é preocupante; pensar a ciência brasileira a longo prazo sem perguntar o que a Fiocruz, a USP, ou a área de meio ambiente pensam do assunto é no mínimo mais difícil.
* Alan Rudolph, Biólogo, International Neuroscience Foundation, EUA
* Alexander Triebnigg, Médico, Presidente da Novartis, Brasil
* Conceição Lemes, Jornalista, Brasil
* Débora Calheiros, Pesquisadora, EMBRAPA, Brasil
* Jon H. Kaas, Neurocientista, Vanderbilt University, US National Academy of Science, EUA
* Luiz A. Baccalá, Engenheiro, Escola Politécnica, USP, Brasil
* Luiz Belluzzo, Economista, Professor Emérito UNICAMP, Brasil
* Mariano Sigman, Neurocientista, Universidade de Buenos Aires, Argentina
* Marilena Chauí, Filósofa e Professora, USP, Brasil
* Mariluce Moura, Jornalista, FAPESP, Brasil
* Mauro Copelli, Físico, UPFE, Brasil
* Patrick Aebischer, Neurocientista, Presidente da École Polytechnique Fédérale de Lausanne, Suíça
* Ricardo Abramovay, Cientista Político, FEA-USP, Brasil
* Robert Bishop, Cientista Computacional, ex-CEO da Silicon Graphics, EUA
* Ronald Cicurel, Matemático e Filósofo, Suíça
* Selma Jeronimo, Médica-Pesquisadora, UFRN, Brasil
* Stevens Rehens, Biólogo, UFRJ, Brasil
* Thereza Brino, Educadora em Tecnologia da Informação, Brasil
* Victor Nussenzweig, Médico, New York University, Brasil/EUA
* William Feiereisen, Cientista Computacional, Intel, EUA
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