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14.3.11

Forewarned is forearmed

O terremoto de Myagi, além de compartilhar um nome com o velhinho do Karatê Kid, demonstrou de maneira bastante eloquente a importância do planejamento prévio. Apesar do otimismo das primeiras horas, em que se pensava ainda que a conta dos mortos se resumiria às centenas, não ter se confirmado, ainda assim é bem provável que a conta não se aproxime daquela dos últimos grandes terremotos, como no Haiti ou no Oceano Índico. E isso apesar de ter sido um terremoto de quase nove graus na escala Richter, numa área extremamente densamente povoada. (A costa nordeste de Honshu é, depois de Hokkaido, a área menos povoada do Japão - mas isso é tipo dizer que fulano é o baixinho da seleção holandesa de vôlei.)

Nem é esse preparo simplesmente uma questão de dinheiro e recursos, como pode ser visto ao se comparar a devastação causada pelos furacões de categoria cinco Katrina e Ike, em que Cuba, apesar de ter cerca de um vigésimo da renda per capita dos EUA, e menos de um seiscentésimo da grana total, sofreu muito menos, em vidas humanas. Aliás, parte da preparação que salvou vidas, no Japão e ao largo das costas Oceano Pacífico afora, se deveu exatamente ao horror dos mortos do tsunami do terremoto do Boxing Day, no Oceano Índico; atualmente o Pacífico e o Índico estão coalhados de bóias e sismógrafos, e a maioria dos países tem um sistema de evacuação para tsunamis. O sistema ainda está longe de ser perfeito, e pelo visto teve gente que morreu porque o governo disse que podia voltar pra casa quando ainda vinham ondas por ali, mas se morreram dez pessoas ao invés de 10.000, acho que já é uma vitória na nossa luta contra mamãe Gaia Theron.

O outro lado da moeda do preparo está na usina termonuclear de Fukushima, que, detonada pelo terremoto, já causou a evacuação de 200.000 pessoas. A usina já está sendo usada como exemplo de que energia nuclear é perigosa, mas - e sabendo que corro o risco de ser desmentido da pior forma possível - até agora a reação às explosões dos reatores testemunha, não sobre o risco inerente de centrais nucleares, mas sobre o medo que se tem delas, por um lado, e a regra pela qual sempre que se disser "é pouco tempo, até lá não deve dar problema" se estará tentando as Nornes. Este porque a usina, que é das mais velhas ainda em operação, estava para ser desativada de qualquer jeito, e justamente por causa disso não recebeu o upgrade, nos sistemas de contenção anti-explosão e de resfriamento em caso de catástrofe, que outras usinas antigas Japão afora receberam. (Uma agora hipotética central Angra 3, construída hoje, aguentaria o terremoto mais tsunami sem maiores problemas.)

Já a questão da catástrofe ser superdimensionada pelo medo e pela sua natureza catastrófica - alguém se lembra se o vazamento do rio Pomba foi notícia mundial? O número de pessoas postas em risco por ele, e o grau (de novo, até agora, correndo o risco de ser tragicamente desmentido) foram mais ou menos equivalentes ao ocorrido na usina de Fukushima.

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