O lado ruim das coisas boas, ou o lado bom das coisas ruins:
A queda no número de alunos do ensino médio guarda uma correlação muito forte, por estado, com a evolução do caged. Estados em que a economia não-agrícola cresceu mais, com a reativação do mercado interno (inclusive graças ao tão mal-falado bolsa-família, que gerou empregos de serviços no Nordeste e na indústria paulista) tiveram maiores quedas no ensino médio; foram 137.000 a menos no Brasil inteiro, 131.000 a menos em SP.
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O fim dos subsídios agrícolas, anunciado num acordo para "salvar" a reunião da OMC - o único grupo de lobby do mundo que também julga governos - ainda vai criar muitos sem-terra mundo afora. Vai, também ajudar a acabar de vez com o cerrado, e boa parte da Floresta Amazônica e de outros ecossistemas tropicais.
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Fazer o Brasil ser condenado pela ONU, com a possibilidade de sofrer sanções ao estilo da África do Sul do Apartheid, não vai prejudicar as chances eleitorais do Alckmin. Bandido bom é bandido morto, e a solução para o crime no Brasil é diminuir a idade da maioridade penal. Deixa pra lá que, ao contrário da imagem popular, apenas uma proporção ínfima dos crimes graves seja cometida por menores.
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Colin Powell é candidato.
Auferre, trucidare, rapere, falsis nominibus imperium; atque, ubi solitudinem faciunt, pacem appellant.
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19.12.05
14.12.05
Declarações pra se comemorar
Uma de verdade: enquanto se discute sobre a transposição do São Francisco, o programa de cisternas do governo federal, que é muito mais importante do que ela no sentido de assegurar um suprimento de água para o semiárido (ênfase no semi), vai acabar o ano tendo passado da marca de cem mil cisternas, cada uma capaz de garantir água pruma família de seis durante a estação seca. Muito aquém da meta de um milhão até 2006, pelo visto, mas pode ser que chegue a 300.000, o que já quer dizer quase dois milhões de pessoas livres da seca.
Outra de fantasia: o governo federal prometeu construir um trem de alta velocidade entre o Rio e São Paulo. Por enquanto, é tão fantasia que as estações-terminais propostas são a Central e a Luz, que já estão abarrotadas, e a velocidade anunciada é de trem de planície. Apesar de já existir um estudo do Ministério dos Transportes, patrocinado pelo governo alemão (em troca de uma vantagem pra Siemens na hora de se comprar os trens), para um corredor Rio-SP-Campinas de alta velocidade. Com términos na Leopoldina e numa estação nova a se construir na Barra Funda.
Outra de fantasia: o governo federal prometeu construir um trem de alta velocidade entre o Rio e São Paulo. Por enquanto, é tão fantasia que as estações-terminais propostas são a Central e a Luz, que já estão abarrotadas, e a velocidade anunciada é de trem de planície. Apesar de já existir um estudo do Ministério dos Transportes, patrocinado pelo governo alemão (em troca de uma vantagem pra Siemens na hora de se comprar os trens), para um corredor Rio-SP-Campinas de alta velocidade. Com términos na Leopoldina e numa estação nova a se construir na Barra Funda.
12.12.05
Chorando de barriga cheia
Quando se fala em marketing, são comuns duas posições quase opostas. Uma atribui ao marketing em si - portanto ao discurso deliberado - o poder de criar noções; a outra reza que o bom marketing diz o que o alvo quer ouvir. As duas noções só se tornam erros se absorvidas e repetidas como o resumo da atividade. O convencimento ajuda a influenciar as pessoas dentro de um campo de possibilidades; e esse campo de possibilidades não é pautado tanto pelo que se quer ouvir quanto pelo que se considera plausível - as duas coisas só são sinônimas no caso de seguidores de Olavo de Carvalho e outros eloi avant la lettre.
E desse modo as forças armadas brasileiras, no seu carpir eterno, conseguiram estabelecer um consenso nacional. Estão à míngua, coitadas, oprimidas pelo medo ou revanchismo dos governos civis. Fora a explicação politizada, a reclamação é uma constante dos exércitos em todo o mundo. De certa forma, é comum a toda burocracia - nenhuma delas tem os fundos para fazer tudo aquilo que se propõe, e no caso dos exércitos houve de fato uma diminuição no gasto militar dos últimos anos. Até o Pentágono, sentado sobre uma montanha de dinheiro maior do que o PIB da Espanha, queria mais.
No caso das forças armadas brasileiras, a choradeira tem um pequeno probleminha: os "investimentos" (a imprensa brasileira tomou gosto, não sei influenciada por que ou quem, por um maniqueísmo entre investimentos virtuosos e gastos correntes maléficos), no sentido puro das FA brasileiras durante o período FH foram superiores - principalmente em termos de capacidade de defesa efetiva, ou seja, excluindo sandices como a corrida nuclear, ganha pela Argentina - aos feitos durante a ditadura. Mesmo descontando os milhões de dólares roubados pelo PSDB, o SIVAM representou um investimento inicial de 1.4bn, e investimentos anuais de centenas de milhões - equivalente, uma vez que você considere a diferença de 15x entre o PIB brasileiro e o americano, ao tão (mal)falado programa de defesa balística do Bush, para comparar dois sistemas de bases de rastreamento e aparato auxiliar. O também bilionário - e controverso - programa Calha Norte foi reativado pelo FH e intensificado pelo Lula. A Marinha ganhou um porta-aviões operacional, e promessas à ela e à força aérea de comprar caças de combate novos - promessa descumprida por conta da troca de governo, mas em compensação Lula aumentou o soldo.
Tanto na comparação com outros ministérios brasileiros quanto na comparação com outros ministérios da defesa na Europa e Américas, as forças armadas brasileiras aumentaram na última década, não encolheram. É verdade, encolheram como proporção do PIB brasileiro - segundo o SIPRI, os gastos militares brasileiros oscilaram em torno de 3% do PIB durante a década de 80, em torno de 1,9% durante a de 90, de 1,6% durante o governo Lula. Mas boa parte desse encolhimento pode ser creditado ao abandono da bomba atômica, e depois do corte fundo do Collor - de 3,3 em 89 pra 1,4 em 91 - a tendência tem sido estável. E sempre associada ao comportamento da economia brasileira - se tem crise, sensatamente baixa-se o gasto militar. Enquanto isso, na Argentina o gasto, que já era menor que o brasileiro, mesmo proporcionalmente, tem apresentado uma queda leve mas consistente ao longo da década. O México, que enfrenta uma rebelião, não variou o gasto, mas em compensação ele não passa de zero-vírgula-cinco por cento do PIB - um terço do gasto brasileiro. O Canadá, terceira potência militar das Américas, também caiu consistentemente ao longo da década, de 2,0 pra 1,2. Até os EUA gastavam a mesma coisa em dólares, uma proporção muito menor do PIB, em 2004 que em 88.
Mas faz sentido a explicação de que elas estariam à míngua. E realmente elas não estão perfeitamente aparelhadas para sua missão - nem se você imaginar que sabem qual é essa missão, porque pra defesa territorial ou patrulhamento costeiro o uso de um porta-aviões é questionável, pra dizer o mínimo. Se bem que nem os milicos, deixando de lado a propaganda, levam a sério a possibilidade de o Brasil entrar em guerra. Se levassem, a esquadra de guerra não estaria no Rio e os draga-minas em Salvador.
E desse modo as forças armadas brasileiras, no seu carpir eterno, conseguiram estabelecer um consenso nacional. Estão à míngua, coitadas, oprimidas pelo medo ou revanchismo dos governos civis. Fora a explicação politizada, a reclamação é uma constante dos exércitos em todo o mundo. De certa forma, é comum a toda burocracia - nenhuma delas tem os fundos para fazer tudo aquilo que se propõe, e no caso dos exércitos houve de fato uma diminuição no gasto militar dos últimos anos. Até o Pentágono, sentado sobre uma montanha de dinheiro maior do que o PIB da Espanha, queria mais.
No caso das forças armadas brasileiras, a choradeira tem um pequeno probleminha: os "investimentos" (a imprensa brasileira tomou gosto, não sei influenciada por que ou quem, por um maniqueísmo entre investimentos virtuosos e gastos correntes maléficos), no sentido puro das FA brasileiras durante o período FH foram superiores - principalmente em termos de capacidade de defesa efetiva, ou seja, excluindo sandices como a corrida nuclear, ganha pela Argentina - aos feitos durante a ditadura. Mesmo descontando os milhões de dólares roubados pelo PSDB, o SIVAM representou um investimento inicial de 1.4bn, e investimentos anuais de centenas de milhões - equivalente, uma vez que você considere a diferença de 15x entre o PIB brasileiro e o americano, ao tão (mal)falado programa de defesa balística do Bush, para comparar dois sistemas de bases de rastreamento e aparato auxiliar. O também bilionário - e controverso - programa Calha Norte foi reativado pelo FH e intensificado pelo Lula. A Marinha ganhou um porta-aviões operacional, e promessas à ela e à força aérea de comprar caças de combate novos - promessa descumprida por conta da troca de governo, mas em compensação Lula aumentou o soldo.
Tanto na comparação com outros ministérios brasileiros quanto na comparação com outros ministérios da defesa na Europa e Américas, as forças armadas brasileiras aumentaram na última década, não encolheram. É verdade, encolheram como proporção do PIB brasileiro - segundo o SIPRI, os gastos militares brasileiros oscilaram em torno de 3% do PIB durante a década de 80, em torno de 1,9% durante a de 90, de 1,6% durante o governo Lula. Mas boa parte desse encolhimento pode ser creditado ao abandono da bomba atômica, e depois do corte fundo do Collor - de 3,3 em 89 pra 1,4 em 91 - a tendência tem sido estável. E sempre associada ao comportamento da economia brasileira - se tem crise, sensatamente baixa-se o gasto militar. Enquanto isso, na Argentina o gasto, que já era menor que o brasileiro, mesmo proporcionalmente, tem apresentado uma queda leve mas consistente ao longo da década. O México, que enfrenta uma rebelião, não variou o gasto, mas em compensação ele não passa de zero-vírgula-cinco por cento do PIB - um terço do gasto brasileiro. O Canadá, terceira potência militar das Américas, também caiu consistentemente ao longo da década, de 2,0 pra 1,2. Até os EUA gastavam a mesma coisa em dólares, uma proporção muito menor do PIB, em 2004 que em 88.
Mas faz sentido a explicação de que elas estariam à míngua. E realmente elas não estão perfeitamente aparelhadas para sua missão - nem se você imaginar que sabem qual é essa missão, porque pra defesa territorial ou patrulhamento costeiro o uso de um porta-aviões é questionável, pra dizer o mínimo. Se bem que nem os milicos, deixando de lado a propaganda, levam a sério a possibilidade de o Brasil entrar em guerra. Se levassem, a esquadra de guerra não estaria no Rio e os draga-minas em Salvador.
11.12.05
Tomara que seja factóide
Hugo Chávez gosta de factóides. Nem poderia ser de outro jeito um cara que tem que administrar a dicotomia entre ser bête noire do grande satã e dono da segunda maior rede de postos de gasolina dos EUA. Por isso, dá pra ter alguma esperança de que o gasoduto apresentado como Grande Obra durante a adesão da Venezuela ao Mercosul seja só um factóide mesmo. Ainda mais que, por mais fundos que sejam os bolsos da PDVSA, 30 bilhões de dólares (fazendo a conta-padrão pra grandes obras de infraestrutura sobre o preço anunciado) num projeto de viabilidade econômica duvidosa, ligando duas regiões produtoras ao longo de milhares de quilômetros sem consumidores, acho que só o governo americano banca, e olhe lá.
E tem que rezar pra ser só factóide. O gasoduto anunciado iria cortar a Gran Sabana, a Amazônia e o Pantanal ao meio. Três regiões a perigo, concentrando boa parte dos índios que sobraram na América do Sul, fora da área do índio-campesino andina. As obras auxiliares de infra que seria razoável associar a ele abririam, segundo estudo do Imazon, mais de 265.000Km2 de floresta à exploração pecuária, por baixo - o equivalente a dez anos de desmatamento recorde, uma área maior do que o Reino Unido. Na conta mais "otimista," com controle da aftosa e pavimentação das rodovias brasileiras, quase um milhão de quilômetros quadrados, mais do que a área da própria Venezuela.
Se é pra anunciar grandes obras simbólicas, sou mais uma "Smithsonian do Mercosul." Imagina o que não ia dar pra fazer de museu e universidade com essa grana? Se puser em Asunción, transformava o Paraguai de economia do contrabando em centro tecnológico e cultural.
E tem que rezar pra ser só factóide. O gasoduto anunciado iria cortar a Gran Sabana, a Amazônia e o Pantanal ao meio. Três regiões a perigo, concentrando boa parte dos índios que sobraram na América do Sul, fora da área do índio-campesino andina. As obras auxiliares de infra que seria razoável associar a ele abririam, segundo estudo do Imazon, mais de 265.000Km2 de floresta à exploração pecuária, por baixo - o equivalente a dez anos de desmatamento recorde, uma área maior do que o Reino Unido. Na conta mais "otimista," com controle da aftosa e pavimentação das rodovias brasileiras, quase um milhão de quilômetros quadrados, mais do que a área da própria Venezuela.
Se é pra anunciar grandes obras simbólicas, sou mais uma "Smithsonian do Mercosul." Imagina o que não ia dar pra fazer de museu e universidade com essa grana? Se puser em Asunción, transformava o Paraguai de economia do contrabando em centro tecnológico e cultural.
9.12.05
O espetáculo do crescimento de verdade
...é o da paranóia carioca. Tudo bem, brasileira, mas especialmente carioca. Incentivado pelos "especuladores" de sempre. A ALERJ acaba de aprovar lei prevendo a instalação de detectores de metais em ônibus e estações de trem, metrô e barcas, com multa de 10.000 UFIRs por dia por detector "faltando" pras empresas que não obedecerem. Enquanto essa praga é imposta com tanta veemência, a lei que prevê que míseros 10% dos ônibus sejam adaptados para deficientes físicos continua sendo tão respeitada quanto o teto de 12% para os juros da constituição. Desde que parei de morar na rota do 472, não vejo um ônibus adaptado há anos.
Pensando bem, faz todo o sentido. Cadeiras de rodas iam acionar o detector de metais.
Pensando bem, faz todo o sentido. Cadeiras de rodas iam acionar o detector de metais.
8.12.05
Jornalistas e Matemática
PQP
Escrevendo para O Globo sobre a nova fórmula do Banco Mundial para contar a riqueza nacional, José Meirelles Passos consegue fazer uma confusão entre PIB e renda per capita de envergonhar aluno de geografia da oitava série primária.
Vamos lá, Zezinho: PER CAPITA significa dividido entre todos os habitantes do país. Em nenhuma conta de renda per capita o Brasil foi algum dia "o mais rico da América Latina" ou "a décima primeira maior economia do planeta."
Escrevendo para O Globo sobre a nova fórmula do Banco Mundial para contar a riqueza nacional, José Meirelles Passos consegue fazer uma confusão entre PIB e renda per capita de envergonhar aluno de geografia da oitava série primária.
Vamos lá, Zezinho: PER CAPITA significa dividido entre todos os habitantes do país. Em nenhuma conta de renda per capita o Brasil foi algum dia "o mais rico da América Latina" ou "a décima primeira maior economia do planeta."
7.12.05
Povos do Livro na era da Pesquisa de Opinião

Observações:
Algumas das diferenças podem ser atribuídas a padrões de resposta genéricos para as diferentes culturas nacionais, de interpretação do entrevistado do que sejam as cinco categorias (muito positivo a muito negativo) do questionário. Assim, os EUA tem menos gente contra e menos gente a favor da mesma religião que os europeus. Mesmo com essa ressalva, os números de "contra," principalmente contra muçulmanos na Alemanha e Holanda, são assustadores. Previsivelmente, anti-semitas grassam na Alemanha, Rússia, Polônia e Espanha.
Infelizmente, a pesquisa não decupa os anti-semitas franceses ou canadenses, mas dá pra chutar a origem de parte deles baseado nos números dos países islâmicos - até o Marrocos e a Indonésia, em pólos opostos do mundo islâmico, e ambos distantes em todos os sentidos da situação palestina, são alarmantes. Não que falte anti-semita "tradicional" no Canadá ou na França.
O resto da pesquisa, com muito mais coisa interessante, tá aqui.
6.12.05
Das Eisenoctopus
Enquanto foi estatal, a Vale do Rio Doce nunca se constituiu em monopólio. Estava até meio removida da estrutura produtiva nacional: era basicamente uma produtora de minério para exportação, com uma estrutura logística dedicada. Uma estrutura logística dedicada sem tamanho, diga-se - os terminais da Vale em Vitória e São Luís são ambos maiores do que o porto de Santos, pelo critério de toneladas de carga movida, e o conjunto Vitória-Minas/Porto de Tubarão (Vitória) já transportava boa parte do minério de terceiros para exportação.
Foi privatizada em um só lote (o que, por conta da falta de capital disponível no Brasil para comprar uma empresa desse tamanho, significou "privatizada de graça"), e desde então tem agido como seria natural uma empresa com a geração de caixa que tem agir: comprando as concorrentes, tanto na área de mineração quanto na de logística. A Vale, hoje, é quase monopolista na exportação de minério de ferro, e somou às suas estradas de ferro a FCA e uma participação de 40% na MRS (a segunda, menor, é também mais importante, porque liga, em bitola larga, os principais centros industriais do Brasil). Isso permite, entre otras cositas más, que ela jogue pesado com as mineradoras que sobraram e siderúrgicas, o que fez com que o preço do minério de ferro brasileiro se aproximasse do preço internacional.
Agora, a empresa considera mais um passo no caminho do monopólio logístico, a compra da Brasil Ferrovias.
Foi privatizada em um só lote (o que, por conta da falta de capital disponível no Brasil para comprar uma empresa desse tamanho, significou "privatizada de graça"), e desde então tem agido como seria natural uma empresa com a geração de caixa que tem agir: comprando as concorrentes, tanto na área de mineração quanto na de logística. A Vale, hoje, é quase monopolista na exportação de minério de ferro, e somou às suas estradas de ferro a FCA e uma participação de 40% na MRS (a segunda, menor, é também mais importante, porque liga, em bitola larga, os principais centros industriais do Brasil). Isso permite, entre otras cositas más, que ela jogue pesado com as mineradoras que sobraram e siderúrgicas, o que fez com que o preço do minério de ferro brasileiro se aproximasse do preço internacional.
Agora, a empresa considera mais um passo no caminho do monopólio logístico, a compra da Brasil Ferrovias.
4.12.05
À moda antiga
Num documentário da Sandra Kogut, em que ela narra a própria busca por passaporte e nacionalidade magiares, uma coisa que chama a atenção é o antisemitismo que aparece na Hungria. Um antisemitismo à moda antiga, bem Old Country, sem nenhuma relação com Israel ou política. Quase pitoresco, nos dias que correm.
Coisa estranha: tanto os defeitos (como o anti-semitismo) quanto as qualidades (a leitura, ou a ida a concertos) da humanidade do entreguerras foram preservados pelo comunismo. É estranho, estranhíssimo, que um movimento que, logo após a revolução, incluía aqueles que pregavam por uma nova humanidade, que se propunha mudar tudo, virou ao invés disso um formol dos povos. O comunismo trocou Malevitches e Tretiakóvs, Maiakóvskis e Bulgakovs, pelo academicismo, trocou o antinomismo por um oficialismo de deixar assustado Felipe II. Com direito à perseguição de homossexuais, judeus, ciganos, tártaros, povos nômades, etc etc etc, mas o essencial dessa perseguição é menos o horror dela do que a falta de imaginação. Stálin foi mais um Czar, a China "comunista" paga ao Zhang Yimou pra resgatar a imagem do Primeiro Imperador.
E não, eu não consigo achar que esse formol dos povos, que nos dá a oportunidade de - mais ou menos - viajar ao passado indo a Cuba ou à Europa Oriental, fosse predestinado.
Última observação - é estranho que o cyberpunk não tenha nascido em países comunistas. Tem tudo a ver. Se bem que referências a samizdata e visões de Magnitogorsk abundam na literatura - um filho de espírito não precisa ser filho do solo.
Coisa estranha: tanto os defeitos (como o anti-semitismo) quanto as qualidades (a leitura, ou a ida a concertos) da humanidade do entreguerras foram preservados pelo comunismo. É estranho, estranhíssimo, que um movimento que, logo após a revolução, incluía aqueles que pregavam por uma nova humanidade, que se propunha mudar tudo, virou ao invés disso um formol dos povos. O comunismo trocou Malevitches e Tretiakóvs, Maiakóvskis e Bulgakovs, pelo academicismo, trocou o antinomismo por um oficialismo de deixar assustado Felipe II. Com direito à perseguição de homossexuais, judeus, ciganos, tártaros, povos nômades, etc etc etc, mas o essencial dessa perseguição é menos o horror dela do que a falta de imaginação. Stálin foi mais um Czar, a China "comunista" paga ao Zhang Yimou pra resgatar a imagem do Primeiro Imperador.
E não, eu não consigo achar que esse formol dos povos, que nos dá a oportunidade de - mais ou menos - viajar ao passado indo a Cuba ou à Europa Oriental, fosse predestinado.
Última observação - é estranho que o cyberpunk não tenha nascido em países comunistas. Tem tudo a ver. Se bem que referências a samizdata e visões de Magnitogorsk abundam na literatura - um filho de espírito não precisa ser filho do solo.
3.12.05
O fardo do homem branco
A República Francesa, sob a liderança do facho Sarkozy, não quer que falem mal dela.
E o que mais me assusta é que, no embate entre um Sarkozy assumindo o lado nazi e um Villepin tentando sair da canalhice habitual para posar de Estadista da República - um papel bem mais aceito na França de Richelieu e Talleyrand do que em outros lugares - o Sarkozy ganhou a parada. Sem pudores de aliciar eleitor da FN.
******
Voltando ao assunto específico dos pieds-noirs, taí mais uma demonstração de que a história não se presta a uma narrativa com bonzinhos e malvados. Afinal, os milicos argelinos - que alimentaram o fundamentalismo na base da botinada - promoveram a sua própria limpeza étnica. Assim como, na Europa Oriental, milhões de alemães foram mortos ou expulsos depois da II Guerra (e, na Polônia, o governo local tentou completar o serviço de Hitler com judeus e ciganos). Etc etc etc.
E o que mais me assusta é que, no embate entre um Sarkozy assumindo o lado nazi e um Villepin tentando sair da canalhice habitual para posar de Estadista da República - um papel bem mais aceito na França de Richelieu e Talleyrand do que em outros lugares - o Sarkozy ganhou a parada. Sem pudores de aliciar eleitor da FN.
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Voltando ao assunto específico dos pieds-noirs, taí mais uma demonstração de que a história não se presta a uma narrativa com bonzinhos e malvados. Afinal, os milicos argelinos - que alimentaram o fundamentalismo na base da botinada - promoveram a sua própria limpeza étnica. Assim como, na Europa Oriental, milhões de alemães foram mortos ou expulsos depois da II Guerra (e, na Polônia, o governo local tentou completar o serviço de Hitler com judeus e ciganos). Etc etc etc.
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