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4.12.05

À moda antiga

Num documentário da Sandra Kogut, em que ela narra a própria busca por passaporte e nacionalidade magiares, uma coisa que chama a atenção é o antisemitismo que aparece na Hungria. Um antisemitismo à moda antiga, bem Old Country, sem nenhuma relação com Israel ou política. Quase pitoresco, nos dias que correm.

Coisa estranha: tanto os defeitos (como o anti-semitismo) quanto as qualidades (a leitura, ou a ida a concertos) da humanidade do entreguerras foram preservados pelo comunismo. É estranho, estranhíssimo, que um movimento que, logo após a revolução, incluía aqueles que pregavam por uma nova humanidade, que se propunha mudar tudo, virou ao invés disso um formol dos povos. O comunismo trocou Malevitches e Tretiakóvs, Maiakóvskis e Bulgakovs, pelo academicismo, trocou o antinomismo por um oficialismo de deixar assustado Felipe II. Com direito à perseguição de homossexuais, judeus, ciganos, tártaros, povos nômades, etc etc etc, mas o essencial dessa perseguição é menos o horror dela do que a falta de imaginação. Stálin foi mais um Czar, a China "comunista" paga ao Zhang Yimou pra resgatar a imagem do Primeiro Imperador.

E não, eu não consigo achar que esse formol dos povos, que nos dá a oportunidade de - mais ou menos - viajar ao passado indo a Cuba ou à Europa Oriental, fosse predestinado.

Última observação - é estranho que o cyberpunk não tenha nascido em países comunistas. Tem tudo a ver. Se bem que referências a samizdata e visões de Magnitogorsk abundam na literatura - um filho de espírito não precisa ser filho do solo.

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