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31.8.06

Dia do Blog

Tem uma propaganda de carro flexfuel em que um moleque não consegue decidir nada. Pois bem, fora andar de carro eu sou o tal moleque. Então não vou escolher cinco blógues pra pôr aqui. Ao invés disso, madame Zara Yonara conclama quem quiser a perguntar qualquer coisa que será respondido. (Tá que pra muita coisa a resposta vai ser "no sé, señor Haddock.")

E recomenda, claro, o primeiro parágrafo, o de blogs, da lista de links ao lado.

29.8.06

Crescer o bolo pra depois dividir

Depois de vinte anos de estagnação econômica, no Brasil parece ter se cristalizado a idéia de que ser desenvolvimentista é ser de esquerda. Em outras palavras, tem gente dando razão aos neoliberais doidos que acusam a esquerda de estatólatra, ou dizendo, se preferir, que a ditadura era (economicamente) de esquerda. Ao mesmo tempo, a candidata que se identifica no pólo esquerdo da disputa presidencial denuncia a assistência social.

Eu acho isso meio esquisito. Os anos do "milagre" econômico brasileiro foram anos em que cresceu radicalmente a desigualdade, e a proporção de miséria ficou estagnada. O desenvolvimentismo no Brasil, como em boa parte do mundo, sempre significou por dinheiro público na mão de endinheirados, mas aqui é pior porque o dinheiro público foi tirado equanimemente de todo mundo. O IR é comparativamente pequeno e pouco progressivo, o grosso dos impostos são sobre o consumo e pagos igualmente por todos.

Não é que eu seja a favor de laisser faire, veja bem. Muito menos da forma grotesca que o liberalismo assumiu no Brasil (com mais dinheiro público, de impostos menos progressivos ainda, sendo entregues aos ricos, e com menos controle do estado em troca). Mas que acho muito esquisito que Cingapura se torne o modelo da esquerda enquanto Cuba é assistencialista, acho.

Enfim. Só pensei nisso porque saiu matéria no Valor falando sobre a situação do trabalho no Milagre Asiático.

O aumento impressionante da produtividade do trabalho na Ásia entre 1995 e 2000 não foi seguido nem de perto pelos salários. Na China, o ganho de produtividade foi de 6,3% ao ano em média, mas o dinheiro no bolso dos assalariados cresceu bem menos. Na Índia, houve baixa de salários, apesar da alta produtividade, significando deterioração do poder de compra dos trabalhadores justo quando sua eficácia no emprego aumenta.

Os ganhos de produtividade tambem não reduziram o tempo de trabalho. Os seis países campeões do mundo em horas anuais trabalhadas estão todos na Ásia: Bangladesh, Hong Kong (território chinês), Malásia, Coréia do Sul, Sri Lanka e Tailândia, onde boa parte da população trabalha mais de 50 horas por semana.

O trabalho infantil declinou, mas a região ainda conta 122 milhões de criancas em atividades produtivas, representando 64% do total mundial. Tambem a segurança e saúde dos trabalhadores não melhoraram: cerca de 1 milhão de empregados morrem anualmente na Ásia por causa de acidentes de trabalho ou doenças profissionais. A Aids avança, inclusive na China.

A Ásia é também a região com a menor ratificação de convenções internacionais do trabalho, incluindo direito de associação. A OIT diz que os próximos dez anos serão críticos, quando 250 milhões de novos trabalhadores estarão em busca de emprego na Ásia.

28.8.06

A diferença entre cidadania e diamantes.

Diamantes são pra sempre. O slogan, que já virou nome de filme de James Bond, foi cunhado pela quase-monopolista empresa De Beers, produtora de diamantes que controla o mercado mundial desde que era a empresa do seu Rhodes, que teve país com nome dele e tudo. Também não deixa de ser verdade - os diamantes têm dureza dez naquela escala que parece material pra bodas, com materiais de referência, mas de verdade verdadeira mesmo são várias vezes mais duros do que rubis e safiras (9) e milhares de vezes mais duros do que o resto dos materiais.

Já a cidadania, pelo visto, não é exatamente pra sempre. Se você viajar e for parente de alguém suspeito de alguns crimes, e o país estiver numa certa guerra eterna...bem:

Do San Francisco Chronicle


The federal government has barred two relatives of a Lodi man convicted of supporting terrorists from returning to the country after a lengthy stay in Pakistan, placing the U.S. citizens in an extraordinary legal limbo.

Muhammad Ismail, a 45-year-old naturalized citizen born in Pakistan, and his 18-year-old son, Jaber Ismail, who was born in the United States, have not been charged with a crime. However, they are the uncle and cousin of Hamid Hayat, a 23-year-old Lodi cherry packer who was convicted in April of supporting terrorists by attending a Pakistani training camp.

Federal authorities said Friday that the men, both Lodi residents, would not be allowed back into the country unless they agreed to FBI interrogations in Pakistan. An attorney representing the family said agents have asked whether the younger Ismail trained in terrorist camps in Pakistan.

24.8.06

Minha velha, cancele o pão

Plutão, deus dos tesouros subterrâneos e da morada dos mortos, perdeu oficialmente seu status planetário, com a definição oficial para planetas do congresso internacional de astronomia. Um planeta tem que estar em órbita estelar, ser grande o bastante pra ser uma bola, e abnsorver ou transformar em seu satélite toda a matéria nas imediações.

Eu, pessoalmente, preferia a definição anterior (que não exigia a eliminação da matéria circuncidante), porque ia deixar duas deusas entrarem pro rol dos planetas - Ceres, deusa da agricultura, que deixou de ser planeta antes de Plutão ser descoberto, o maior asteróide do cinturão, e Xena, a princesa guerreira, que por ser a ídala de um seriado de ação, ao invés de algo sério, sempre teve minha simpatia.

O divertido são as reações a algo tão " importante." O blog da Scientific American é um dos que perguntam o que vai ser das frasezinhas de decoreba, e num tablóide na banca tava anunciado que isso não afetará a astrologia...

22.8.06

Get rich quick

Join the force!

A guerra às drogas, nos EUA como cá, tem sido motivo de erosão de direitos dos cidadãos constante (igualzinho uma guerra de verdade, como diria o caubói da maconha com Paraquat, do Feiffer). Uma das belezuras da sua versão americana (em que, por outro lado, a execução imediata de "inimigos" é umas sete vezes menos comum do que aqui) é a possibilidade de a polícia apreender (e guardar pra si, inclusive distribuindo a parte em dinheiro como "incentivos") bens de suspeitos. Veja bem, não condenados. Suspeitos. Bem, até essa definição tá sujeita a ampliações. Pelo menos se você for mexicano, já que não imagino a polícia, ao revistar um Hummer dirigido pelo Ken Lay, confiscasse a grana. Como diria minha tia-avó, ainda bem que eu sou branquinho.

PS Ignorem o "o" em Gonzalez...


Eighth Circuit Appeals Court ruling says police may seize cash from motorists even in the absence of any evidence that a crime has been committed.

US Court of Appeals, Eighth CircuitA federal appeals court ruled yesterday that if a motorist is carrying large sums of money, it is automatically subject to confiscation. In the case entitled, "United States of America v. $124,700 in U.S. Currency," the U.S. Court of Appeals for the Eighth Circuit took that amount of cash away from Emiliano Gomez Gonzolez, a man with a "lack of significant criminal history" neither accused nor convicted of any crime.

On May 28, 2003, a Nebraska state trooper signaled Gonzolez to pull over his rented Ford Taurus on Interstate 80. The trooper intended to issue a speeding ticket, but noticed the Gonzolez's name was not on the rental contract. The trooper then proceeded to question Gonzolez -- who did not speak English well -- and search the car. The trooper found a cooler containing $124,700 in cash, which he confiscated. A trained drug sniffing dog barked at the rental car and the cash. For the police, this was all the evidence needed to establish a drug crime that allows the force to keep the seized money.

Associates of Gonzolez testified in court that they had pooled their life savings to purchase a refrigerated truck to start a produce business. Gonzolez flew on a one-way ticket to Chicago to buy a truck, but it had sold by the time he had arrived. Without a credit card of his own, he had a third-party rent one for him. Gonzolez hid the money in a cooler to keep it from being noticed and stolen. He was scared when the troopers began questioning him about it. There was no evidence disputing Gonzolez's story.

Yesterday the Eighth Circuit summarily dismissed Gonzolez's story. It overturned a lower court ruling that had found no evidence of drug activity, stating, "We respectfully disagree and reach a different conclusion... Possession of a large sum of cash is 'strong evidence' of a connection to drug activity."



21.8.06

Educação é a solução

No debate presidencial, leio hoje no jornal velho (junto com a revelação de que persas e afegãos são árabes, e Brent é o termo para petróleo líquido), Cristóvam Buarque explicou que "a educação é a única questão que, ao ser solucionada, soluciona as outras. Se você resolver a segurança, não resolve a educação, mas se resolver a educação resolve a segurança."

Bem, acho louvável que ele tenha uma prioridade, acho importante mesmo. Sem prioridades claras, a grana e as energias do governo vão pra quem grita mais alto. E educação é uma prioridade que me agrada. Mas essa declaração é uma besteira das grossas. Resolvendo a segurança, resolve-se boa parte do problema de moradia (ao remover uma condicionante negativa do mercado de imóveis e da ocupação), alivia-se o problema da educação (ao tornar mais atraente a profissão de professor), melhora-se a saúde (hospitais sem feridos a bala têm mais leitos), etc. O mesmo é verdade pra qualquer Grande Questão Nacional.

E se educação fosse uma pérola mágica, que sozinha não só ajuda mas resolve os outros problemas, então a Rússia e outros países da exURSS não estariam na bosta em que estão, com o crescimento exclusivamente atrelado à exportação de energia, índices de morte violenta piores do que os brasileiros, moradia insuficiente apesar da população declinante (devido à deterioração da moradia de péssima qualidade construída no período da reconstrução), tuberculose grassando, etc etc etc. Têm, todos, um nível educacional de causar inveja ao "primeiro mundo."

20.8.06

Pena de Mueeeerte

A pena de morte, barbárie na qual o Estado comete o crime sem retorno contra um de seus cidadãos (ou, mais raramente, um cidadão de outro Estado), foi oficialmente banida da maioria dos países do mundo. O time que ainda encampa, entretanto, é uma pusta primeira divisão. Dos países com mais de 100 milhões de habitantes, apenas Brasil (5º maior) e México (11º) renunciaram à pena de morte com o devido processo legal. Como a maior executora, a China, não é lá muito transparente nessas horas, não se tem uma estimativa confiável do número de execuções legais no mundo, mas estima-se que sejam pelo menos duas mil. O segundo maior carrasco, a Arábia Saudita, matou uns 100, o terceiro, os EUA, uns 60. Há denúncias entre criminalistas chineses de que o número verdadeiro da China esteja mais próximo de 8000 que dos mil e setecentos que a Anistia Internacional conseguiu confirmar a partir de fontes na imprensa.

Os "com o devido processo," entretanto, são uma minoria ínfima. Só no Brasil, são executados pelo Estado, sem nenhum processo legal e com a aprovação às vezes entusiástica de governadores e secretários de segurança, entre três e quatro mil "criminosos" por ano (mesmo deixando de lado uma situação aberrante como a deste ano, em que a polícia de São Paulo deliberadamente assassinou familiares inocentes de suspeitos). Um terço no Rio de Janeiro, um terço em São Paulo. No mundo inteiro, os assassinados extrajudicialmente pelo estado são mais de 30.000, um número quase dez vezes maior do que os assassinados com devido processo. (Nos EUA a proporção é parecida.)

Os países que não têm nem uma nem a outra versão da pena de morte são poucos - basicamente parte da Europa Ocidental, mais Canadá. Cagadas excepcionais, como no caso do Jean Charles de Menezes, não contam, porque a pena de morte extrainstitucional não se trata apenas de o estado matar alguém, mas de o estado fazer isso de forma regular, institucionalizada, mesmo que fora da lei. Claro que isso não quer dizer que os ditos estados estejam livres de culpa - a maioria deles comete atos de tortutra, ilegal ou não - a tortura legal está presente em coisas como o RDD-Supermax e outros regimes prisionais em que se enfia o sujeito num buraco, sem nada pra fazer ou sequer algo pra olhar, por 22 horas a fio ou mais, ou mesmo em métodos de "controle" aprovados utilizando armas "menos letais" como bastões de eletrochoque e spray de pimenta.

18.8.06

Grade inflation

Segundo a Folha, o ar de Sampa está regular em todas as 30 estações de medição. Qual o critério deles de regular? Porque até onde eu tô, num décimo andar na Lorena, que tá longe de ser o canto mais poluído, o ar tem um cheiro parecido com o que, no Rio, eu tô acostumado a sentir na esquina da Rio Branco com a Presidente Vargas. Não quero nem imaginar o cheirinho nas marginais.

Enfim, coisas da cidade PJ Harvey.


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O ex-prefeito dela, aliás, agora diz que o problema das escolas é a migração. Serra virou, pelo visto, seguidor de Pat Buchanan. Só falta começar a falar da cultura nordestina, junto com o bando de brasileiros de classe média que se acham "ocidentais." Infelizmente, branquelo e rico, Serra nunca vai passar pelo que muitos deles passam quando se descobrem cucarachos brownzinhos no Primeiro Mundo de seus sonhos.

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O INPE avisa que secas vão ser mais comuns no Brasil, devido ao desmatamento e ao aquecimento global. Parece que ninguém avisou a empresa de pesquisa energética, que continua pondo a ênfase em grandes hidrelétricas. Se bem que, pela notícia veiculada no valor de hoje, eles nem as perdas de transmissão consideram, alterações climáticas vão demorar mesmo.

16.8.06

Pero que las hay...

Tem gente dizendo que o manifesto do PCC pelos direitos humanos, ao invés de prova definitiva do surrealismo que é o Brasil, seria uma armação. Teria sido escrito pela própria secretaria de tortura e extermínio, digo, de segurança pública, de São Paulo.

Não gosto de teorias de conspiração, e muito menos das mundanas. Acho o mundo das sombras e dos mistérios fascinante, mas prefiro deixá-lo nas sombras entre as letras de uma página a imaginar que fosse real, prefiro a realidade dita como se fosse mentira à mentira dita como se verdade fosse; e ainda que procurasse um mundo secreto, seria o dos djinns e shaitans, dybbuks e exus, nunca o dos Jack Bauers e James Bonds. Aliás, cada vez mais, James Bond só me interessa pelo lado das Bond Girls.

Mas conspirações, volta e meia, existem. A Operação Brother Sam, descartada como paranóia esquerdista, era na verdade bem maior do que na lenda. Os acordos secretos do fin de siècle existiam, e tiveram influência na formação da Grande Guerra. Até o Ouro de Moscou existia, se bem menor do que diziam.

E temos, dessa vez, por um lado uma organização vendida como genial fazendo, na TV, um conjunto de exigências genéricas (o que vai contra a lógica de sequestros), quando ela sabe que toda a população lhe odeia e que, portanto, ver esse conjunto de exigências na sua boca vai deslegitimar todas elas a ponto de torná-las impossíveis. E isso apesar de ter uma pá de organizações legítimas e respeitadas fazendo as mesmas exigências, que se resumem a um mínimo de decência e direitos humanos, na prática.

Ora, as tropas do secretário Saulo Ramos já fizeram todo tipo de ilações e sugestões ligando o PCC a essas organizações legítimas, além de ao PT e na tentativa de caracterizar o grupo criminoso como "comando político." Até inventaram de chamar a organização mafiosa de "organização em células terroristas," pelo visto um outro nome para "bandos criminosos sem comando organizado," que é a forma normal de um grupo desses, e não tem nada a ver com uma verdadeira organização de células terrorista.

Então, por que não acreditar que essas pessoas, que já estão mentindo, mintam mais, dessa vez sequestrando um repórter? Não é como se sequestro e assassinato de inocentes estivessem fora do seu portifólio, comprovado. E o ódio aos direitos humanos nutrido por esse povo, expresso no cartaz do deputado Bolsonaro que reza "direitos humanos : lixeira de bandido," foi o que engordou com o vídeo da Globo, não qualquer bandeira do PCC.

Detalhe - o tal regime disciplinar diferenciado combina coisas realmente úteis para se isolar chefes criminosos, como a exigência de microfone para agentes penitenciários chegarem perto, com a coisa absolutamente desumana que são 22 horas por dia na solitária. Sua origem está em prisões supermax americanas, que também envolvem o uso de eletrochoques e gás valium no tratamento dos prisioneiros. Tinha que acabar mesmo, não importa se o PCC ou Lúcifer também são contra.

O engraçado é que se apresenta a repressão, ignorando os direitos humanos, ou o aumento do crime/terrorismo/seiláquê como uma "escolha de sofia." O dilema é tão falso que se pode demonstrar que, pelo contrário, existe uma correlação positiva muito forte entre os dois, e temporalmente defasada no sentido terror de cima/terror de baixo. Isso é, o "endurecimento" não é só vergonhoso. Ele alimenta aquilo que supostamente reprimiria.

8.8.06

Crise do agronegócio

Rápido! Dêem (mais) dinheiro público aos coitadinhos!

Revisionismo

Na revista America Economia, a colunista Susan Kaufman Purcell nos ensina que


Há, entretanto, um lado negativo dessa crescente dependência latino-americana da China e da Venezuela, assim como da redução relativa da influência norte-americana na região. Primeiro, nem China nem Venezuela dão muita importância ao fortalecimento da democracia. Talvez no início muitos governos latino-americanos possam ter acolhido favoravelmente a não-intervenção nos assuntos internos de seus países, mas o apoio dos EUA à democracia é uma importante explicação de por que nos anos recentes a região tem sido mais democrática que outros mercados emergentes.

...


O terceiro custo da menor influência dos Estados Unidos e o crescimento da influência venezuelana e chinesa tem relação com os militares latino-americanos. Alinhado com seu apoio às democracias e às economias de mercado, Washington tentou ajudar a região a evitar uma custosa corrida armamentista. Seus programas de treinamento militar na América Latina enfatizaram a importância do controle civil das forças armadas e respeito pelos direitos humanos, apesar de que esses esforços nem sempre produziam os resultados desejados.


2.8.06

Culatra

Deu no Valor (e não é nenhuma surpresa o voto do Marco Aurélio de Mello):

O PT obteve, ontem, uma importante vitória no Supremo Tribunal Federal e conseguiu derrubar a blindagem à instauração de CPIs na Assembléia Legislativa de São Paulo. A decisão pode dificultar a campanha do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin.

...


Curiosamente, a decisão que ontem beneficiou o PT foi fundamentada em outro julgamento que envolveu o partido. Em junho do ano passado, o STF decidiu aceitar a tese do direito da minoria numa ação cujo objetivo era garantir a abertura de investigações contra o governo do presidente Lula. Os ministros decidiram, na época, que o governo federal não poderia impedir o funcionamento da CPI dos Bingos, requerida pela minoria do Congresso Nacional.

1.8.06

10:1, ou as israélicas

Normalmente, eu odeio comparações entre Israel e os nazistas. Não gosto de "ironias e lições da história" reducionistas, e essa em particular tem um odor a anti-semitismo que, por mais leve que seja, fede. O anti-semitismo, em parte graças à contribuição israelense fornecendo desculpas para ele, nunca esteve tão morto quanto, na ressaca do pior crime da história, gostaríamos de supor que ele estivesse, afinal.

Mas a comparação é inevitável, quando Israel estabelece uma razão de 1:10 a ser observada em termos de prédios atingidos por bombas. Isso é retribuição coletiva, sem nenhuma "razão militar" (sem entrar no mérito do caráter esfarrapado das justificativas militares para bombardeios aéreos). E fala em prédios por pura hipocrisia, para não falar em gente. Aliás, a razão è obviamente muito maior do que dez pra um, já que a densidade populacional nos subúrbios de Haifa é muito menor do que no Líbano, e as bombas israelenses muito mais destrutivas do que os foguetes do Partido de Deus.

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O mencionado Hezbollah não é flor que se cheire, de jeito nenhum. É uma milícia violenta, racista e fundamentalista religiosa, no pior sentido. Mas essa é uma característica comum das vítimas de massacres: se recusam a ser puras e angélicas. Não eram anjos as vítimas de Pol Pot, Hitler, Stálin, Mao, Saddam, ou de qualquer outro massacre. Condenar o crime, felizmente, pra qualquer pessoa decente, não depende dessa pureza, e para qualquer pessoa inteligente não implica em inventá-la. Quem insiste nessa falta de pureza para exonerar os criminosos lembra um advogado de estuprador dizendo que a vítima usava saia curta. (Outro exemplo comum são aqueles articulistas que "denunciam" que índios também guerreavam, ou que africanos fizeram a sua parte no tráfico atlântico).

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Falando em massacres de muçulmanos, com o terrorismo islâmico como desculpa esfarrapada, por que nos emocionamos tanto com Israel, quando a Rússia faz a mesma coisa, talvez pior, com os chechenos? Será, como querem os APAICs da vida, um resto de anti-semitismo? Será um outro tipo de preconceito, em que "nós ocidentais" não deveríamos ser monstros, como é facultado aos tirânicos russos? Será o envolvimento americano? Neste exato momento, uma milícia nos moldes meio almorávidas da talibã está se expandindo às custas dos senhores guerreiros somalis, num conflito que envolve mais gente do que o Israel-Líbano, quantos cadernos especiais foram preparados sobre ele?

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Última pergunta: desde quando "as grandes potências" passaram a ser conhecidas pelo termo mais neutro "a comunidade internacional"?