Normalmente, eu odeio comparações entre Israel e os nazistas. Não gosto de "ironias e lições da história" reducionistas, e essa em particular tem um odor a anti-semitismo que, por mais leve que seja, fede. O anti-semitismo, em parte graças à contribuição israelense fornecendo desculpas para ele, nunca esteve tão morto quanto, na ressaca do pior crime da história, gostaríamos de supor que ele estivesse, afinal.
Mas a comparação é inevitável, quando Israel estabelece uma razão de 1:10 a ser observada em termos de prédios atingidos por bombas. Isso é retribuição coletiva, sem nenhuma "razão militar" (sem entrar no mérito do caráter esfarrapado das justificativas militares para bombardeios aéreos). E fala em prédios por pura hipocrisia, para não falar em gente. Aliás, a razão è obviamente muito maior do que dez pra um, já que a densidade populacional nos subúrbios de Haifa é muito menor do que no Líbano, e as bombas israelenses muito mais destrutivas do que os foguetes do Partido de Deus.
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O mencionado Hezbollah não é flor que se cheire, de jeito nenhum. É uma milícia violenta, racista e fundamentalista religiosa, no pior sentido. Mas essa é uma característica comum das vítimas de massacres: se recusam a ser puras e angélicas. Não eram anjos as vítimas de Pol Pot, Hitler, Stálin, Mao, Saddam, ou de qualquer outro massacre. Condenar o crime, felizmente, pra qualquer pessoa decente, não depende dessa pureza, e para qualquer pessoa inteligente não implica em inventá-la. Quem insiste nessa falta de pureza para exonerar os criminosos lembra um advogado de estuprador dizendo que a vítima usava saia curta. (Outro exemplo comum são aqueles articulistas que "denunciam" que índios também guerreavam, ou que africanos fizeram a sua parte no tráfico atlântico).
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Falando em massacres de muçulmanos, com o terrorismo islâmico como desculpa esfarrapada, por que nos emocionamos tanto com Israel, quando a Rússia faz a mesma coisa, talvez pior, com os chechenos? Será, como querem os APAICs da vida, um resto de anti-semitismo? Será um outro tipo de preconceito, em que "nós ocidentais" não deveríamos ser monstros, como é facultado aos tirânicos russos? Será o envolvimento americano? Neste exato momento, uma milícia nos moldes meio almorávidas da talibã está se expandindo às custas dos senhores guerreiros somalis, num conflito que envolve mais gente do que o Israel-Líbano, quantos cadernos especiais foram preparados sobre ele?
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Última pergunta: desde quando "as grandes potências" passaram a ser conhecidas pelo termo mais neutro "a comunidade internacional"?
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