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23.2.06

Incentivo

O Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares foi das peças diplomáticas levadas mais a sério, desde o pós-guerra, por diplomatas e analistas internacionais. Apesar disso, a conclusão a que se pode chegar, pensando não na retórica "e se" que diz que sem ele estaríamos nadando em tsar bombas, mas nos resultados práticos do tratado, é de que ele foi o fracasso retumbante que tem gente que alega que toda a ONU foi. Não porque países para além dos cinco grandes desenvolveram armas nucleares, o que, afinal, por si não diz nada sobre o funcionamento do tratado; ainda que a adoção seja uma medida do sucesso de um tratado internacional, ninguém pode querer que todos os quase duzentos países do mundo concordem. O problema é com os próprios mecanismos dele: tanto as sanções contra signatários que pretendam desenvolver armas nucleares (agora testadas contra o Irã) quanto a ajuda na pesquisa sobre energia nuclear pra fins pacíficos. Ao contrário, fora dos mecanismos de cooperação internos à Europa (que se sobrepõem ao uso conjunto do armamento nuclear americano pela OTAN), foram justamente os países que desenvolviam armas nucleares que receberam mais cooperação em pesquisa nuclear dos cinco grandes.

Nem tô falando de operações meio furtivas, cujo destino fosse especificamente a bomba, como quando a França e a Grã-Bretanha ajudaram os israelenses a adquirir bombas atômicas, a China ajudou o Paquistão, ou Israel deu uma forcinha pra África do Sul. Tô falando de ajuda nuclear explícita e anunciada, teoricamente apenas pra fins pacíficos, que se dirigiu muito mais a países que desenvolviam ou já desenvolveram a bomba, do que para os signatários certinhos. O Brasil recebeu cooperação americana pra Angra 1 enquanto tentava explodir a Serra do Cachimbo; a Índia acaba de receber ofertas de cooperação da França e dos EUA; até o Paquistão, que confere em todos os itens da "besta-fera" americana - islâmico desde a origem (a única justificativa da existência do país, cujo nome quer dizer "terra dos puros," é o Islã), ditadura, laços com a Al-Qaeda (a ISI paquistanesa foi o elo entre a CIA e os Mujahedin, incluindo ObL) e outros grupos terroristas, instável, regionalmente ambiciosa e conflituosa, disposta a vender segredos nucleares...recebeu sua ajudinha.

Diga-se em defesa do Grande Satã, apesar de o dito Paquistão ser um "Most Favored Non-NATO Ally," a Casa Branca, de modo geral, tem trabalhado pra impedir que a arraia miúda ganhasse "God's Terrible Swift Sword."* Israel e Taiwan tiveram destinos opostos pra seus programas nucleares, em parte porque os EUA souberam antes dos planos da República da China. e quando Israel e a África do Sul já eram testas de ferro americanas, os dois ainda assim tiveram que cooperar escondidos da CIA (não é lá muito difícil...). E cooperação nuclear americana (privada) com o Brasil, apesar de ser uma sacanagem com os signatários do TNPN que não receberam coisa semelhante, também não envolvia pesquisa bélica.


*A diferença entre a estatura popular dos "pais" da bomba A e H pode ser explicada por coisas que não têm nada a ver com a competência deles em física. Resumida nas citações: Oppenheimer citou o Mahabharatta (na tradução do coronel Polier), mais especificamente o verso do Bhagavad Gita em que Vishnu, oferecendo a Árjuna sua "forma universal," declara que "I am become death, the destroyer of worlds." Teller citou o Battle Hymn of the Republic, o menos popular dos três "hinos nacionais" americanos, dizendo "Mine eyes have seen the fire of his terrible swift sword."


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Falando em questões militares, o porta-aviões Clemenceau foi barrado na tentativa de entrar em águas indianas pra ser desmontado. O bicho, com centenas de toneladas de amianto, é tóxico demais até pra Índia. Não custa lembrar: o irmão gêmeo dele, o Foch, hoje se chama São Paulo, e á a nau capitânea da marinha brasileira. Com a mesma quantidade de amianto.

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