O pior acidente nuclear desde Chernobyl, e segundo pior da história, até agora tem desapontado o povo que tem sede por catástrofes. Não é que ele tenha matado menos gente do que o maremoto e o terremoto que foram seus "pais," ou do que o terremoto de hoje no Sudeste Asiático, é que até agora não matou ninguém, fazendo dele um desastre menos letal do que a obra dum prédio aqui do lado, que em setembro viu um operário falecer depois de lhe cair na cabeça um vergalhão. Pois bem, agora finalmente uma vítima de Fukushima apareceu: o partido democrata-cristão alemão. Pela primeira vez desde 52, a CDU perdeu as eleições no estado de Baden-Württenberg, e ninguém duvida de que uma das, talvez a razão principal para isso tenha sido o fato de que justamente o primeiro-ministro de Baden-Württenberg (sim, parece nome de salsicha) era o principal defensor na Alemanha da energia termonuclear. O partido liberal, principal aliado da CDU desde o pós-guerra, também se deu mal, quase caindo abaixo da cláusula de barreira.
É particularmente interessante que isso aconteça para o povo que, como eu, é pessimista quanto aos destinos da democracia liberal, e acredita na idéia dos dois reféns (os políticos de direita e os eleitores de esquerda). Afinal de contas, de todos os partidos conservadores da Europa Continental, os alemães da coligação CDU-FDP são justamente o mais estável e poderoso, além de se dividirem entre conservadores e liberais numa clareza semântica bem alemã. O resultado parece vindicar aqueles que - como, no Brasil, a Marina Silva - pensam que os verdes representam o, ou pelo menos um, possível futuro da política para além da dupla armadilha. Pra mim, entretanto, ele é mais equívoco do que isso. Os verdes conseguiram uma vitória bem muxibinha, num momento em que um grande fato está nas manchetes de jornais a favor dele; nem o apoio aberto à indústria nuclear é algo que necessariamente faz parte de seus oponentes políticos em toda a parte. Se se depender de alguma causa célebre verde com opositores nitidamente identificados em partidos concorrentes, haja desgraça para sustentar um partido verde ao longo de décadas.
Por outro lado, ele deixa clara a origem última do problema da dupla armadilha: a maior parte da população está insatisfeita com a atual situação, mas não de maneira urgente. Essa falta de urgência pode até ser vista como uma coisa boa - significa que pouca gente está passando fome - mas também significa que é fácil manipular a população atrás de inimigos imaginários. E assim ignorar quem está passando fome mesmo.
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