Um artigo bem interessante da Scidev trata da construção e operação de satélites por países em desenvolvimento - o artigo cita nominalmente a Índia, a África do Sul, e a Nigéria.
O artigo cita a acusação de que a construção de satélites seria apenas uma obra de prestígio, que tem um pouco de verdade e um pouco de ciúme, feita pelos órgãos de países desenvolvidos, cujos dados são, hoje em dia, disponíveis digrátish em boa parte, o que tornaria redundante a construção de satélites por outros. Logo depois contrabalança ela falando da necessidade de controle sobre a informação, e de informações mais detalhadas e atualizadas do que as tais informações disponíveis de graça.
Mas o que acho interessante na acusação de que seria um projeto de prestígio é que, bem, boa parte da corrida espacial sempre foi exatamente isso. Os astronautas e cosmonautas pesquisam, principalmente, "os efeitos do espaço em astronautas e cosmonautas." Vá, e taiconautas. Não há muito que eles façam que não possa ser feito - às vezes melhor - por robôs, a uma fração insignificante do custo. Com o preço de se mandar duas vezes astronautas para consertar o Hubble, dá pra comprar um novo Hubble. Quanto a dizer que isso é feito por países ricos, e não por países que, nas palavras do artigo, "do not even manage to feed their own people," bem, isso é verdade, de certa forma, também da China e da Rússia - e até os EUA têm milhões de pessoas desnutridas e em situação de insegurança alimentar. Sem nem ampliar a questão para a solidariedade global. (Ie o dinheiro do programa espacial indiano poderia alimentar indianos carentes, mas o dinheiro do programa espacial americano também poderia alimentar indianos carentes.)
Estou longe de, ao dizer isso, condenar os programas de vôo espacial tripulado. Há quem argumente que a grana fabulosa gasta no projeto Apolo teve um retorno, em termos de incentivo à educação científica e relações internacionais, muito mais do que suficiente. O problema dessa discussão é que, bem, ela é muito difícil de medir. Ao contrário da maioria das discussões políticas, não se trata de algo que possa ser tratado de alguma forma objetiva, o que é ignorado por quem advoga medidas irracionais (cf. "Guerra ao crime" no Brasil), mas algo que legitimamente escapa à apreensão técnica. Qualquer argumento a favor ou contra esbarra em coisas como história contrafactual, e cadeias de se, se, se deeeeeeeeeeeeeste tamanho.
Nessas horas que agradeço por não ser deputado.
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