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10.6.08

O homem branco é um Sísifo

Os bananais em chamas em Camarões permitem aos pentelhos como eu desconfiar do novo fardo do homem branco que cada vez mais é disseminado de mil maneiras primeiro mundo afora. A idéia de que a África esteja na pindaíba porque é "ignorada" pelo mundo, e que esse mundo deveria dar mais atenção a ela para se redimir do colonialismo, esbarra na constatação de que o colonialismo - inclusive armado, afinal pra que diabos serve a Legião Estrangeira? - continua vivo, atuante, e assassino.

Aliás, é exatamente esse probleminha que me faz não gostar da idéia da internacionalização da Amazônia. Não sou nacionalista o bastante pra achar que a posse brasileira sobre aquela área seja mais importante do que o bem-estar dos seus moradores ou a preservação da sua natureza, e sei muito bem que na prática o Brasil trata a Amazônia como uma colônia, também. O diacho é que é muito difícil acreditar na intenção ou capacidade das potências mundiais de tratar a Amazônia de outra forma. Ainda mais sabendo que as ditas-cujas nem preservar o pouco que restou de seus próprios biomas conseguem - as florestas inglesas e alemãs diminuíram mais de 50% no pós-guerra, e a floresta úmida temperada do noroeste americano mais de 80%.

Por outro lado, a real cobiça estrangeira sobre a Amazônia é utilizada da forma mais cara de pau possível por grupos reacionários aqui no Brasil. Porque é necessária muita cara de pau - além de algum racismo - pra dizer que a reserva indígena, sob controle da União, é um corpo estranho, enquanto a terra grilada em associação com conglomerados multinacionais é um baluarte da nação.

E além de cara de pau, a maluquice - achar que o interesse na Amazônia envolveria carregar água pra fora. Mais fácil gastar esse óleo diesel em dessalinizadoras. Se a água da Amazônia for exportada, vai ser como é exportada a água do cerrado brasileiro, ou do semiárido australiano, ou ainda a das pradarias americanas: sob a forma de produtos agrícolas. A produção de óleo de dendê, como na Malásia, nem afetaria o clima, provavelmente caindo na definição Mangabeira Unger de sustentável...

Um comentário:

Anônimo disse...

Esqueci quem disse - acho que foi o Possuelo - que o problema das reservas indígenas é simplesmente fundiário: terra removida do mercado numa área cobiçada.