Auferre, trucidare, rapere, falsis nominibus imperium; atque, ubi solitudinem faciunt, pacem appellant.
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31.10.05
Perdendo a transcendência
Tem gente que questiona as ciências exatas. A meia-vida de materiais radioativos é crescente, para que a terra possa só ter 6000 anos, uma camada imensa de gelo cobria a terra antes do Dilúvio, e evolução é uma lenda. Ah sim, e já inventaram o moto-perpétuo, mas ele está escondido pelas empresas de petróleo.
Mas questionar a matemática, pra mim é novidade. Com vocês, Mohammed-Reza Mehdinia e o verdadeiro valor de π.
Gil Alkabetz
30.10.05
Em meu nome
Se ao menos fosse uma exceção...a emboscada, utilizando informantes para levar os bandidos a pontos onde serão fuzilados, é técnica corrente há alguns anos em São Paulo, Pernambuco, e agora no Rio. O Brasil parece seguir, no "combate ao crime," um caminho parecido com o que os EUA trilham no "combate ao terrorismo," e que me assusta muito. Tanto na condução da política imperial americana quanto na repressão cotidiana brasileira, a barbárie é um fato corrente há muito tempo, e ninguém deixa de saber disso, mas até recentemente essa barbárie não era oficializada, era hipocriticamente varrida para debaixo do tapete, apresentada como exceção vinda de agentes truculentos, e não do topo. Era mentira, claro - a polícia metropolitana de Londres não mata menos porque os policiais ingleses são bonzinhos, mas porque a ordem de cima não é porrar e matar. Mas confesso que prefiro a hipocrisia, no caso, à aceitação honesta do assassinato e da tortura como instrumentos válidos, à defesa de peito aberto do que a humanidade tem de pior.
Inclusive porque essa defesa da tortura significa a aceitação pela comunidade do princípio organizador "nós e eles." Tá que, em certo nível, esse princípio é inescapável, afinal "tu és aquilo," tat tvam así, é o dito indiano que, negando essa diferença, serve de declaração fundadora do monismo. Mas a definição de "nós" como sendo "o homem e o cidadão," o reconhecimento da nossa humanidade comum, é um traço da Civilização Ocidental e das revoluções burguesas que esses pulhas alegam defender. Inclusive porque a teoria utilitária de que a sujeição da tortura às regras legais se baseia na teoria de que a tortura legalizada tomaria o lugar da ilegal, o que contraria a regra. O mesmo vale para o assassinato policialesco. E não custa lembrar, falando de utilitarismo: a Colômbia, paraíso da força policial ilimitada, onde os esquadrões da morte são mais de 40.000 e controlam diretamente a maior parte do campo, também tem o pior índice de homicídios do planeta.
Voltando ao nós e eles, outro desenvolvimento brasileiro, além da aceitação da pena forte e dura cada vez maior, é a exaltação do cidadão de bem, que não é definido por não infrigir a lei, sendo que muitos inclusive exaltam o fato de se desobedecer certas leis. E mesmo os que não são a favor de sonegar imposto têm que admitir que não desobedecer nenhuma lei, no Brasil, é muito, muito difícil. O cidadão de bem é outra coisa, é um sujeito dessa classe oprimida que somos os brancos heterossexuais cristãos de classe média,* é alguém cuja condição é essencial e divorciada da prática ou de sua relação com a lei. É um ícone da aceitação cada vez maior do apartheid social,** também simbolizada na campanha anti-favela do Globo, ressuscitando a idéia da remoção dos favelados para alguma township distante. Me pergunto se todo mundo terá que usar o seu passaporte, ou só os Midenklaas mais escurinhos, pra provar que podem entrar nas áreas net Midenklaas?
Um, pensando melhor, a comparação com o regime de Apartamento sul-africano é injusta. As forças de segurança sul-africanas, num país do tamanho de São Paulo, nunca passaram de 900 assassinatos por ano, o que no Brasil, e especialmente no Rio, seria uma melhora e tanto.
*Classe média é um conceito infinitamente extensível pra cima no Brasil; afinal, o casal Staheli, assassinado na Barra, era de classe média, ganhando alguns milhões de dólares por ano.
**Que não deixa de ser em parte racial - afinal, a piada diz o sistema de cotas racial devia deixar a decisão sobre quem é preto a cargo de porteiros e PMs. E os profissionais citados são reguladores de relações de classe.
26.10.05
Apagão em Laranjeiras
Falando em apagão, alguém devia mencionar essa palavra pro Aldo Rebelo - é um caso de anglicismo (blecaute) que foi substituído por uma palavra nativa, sem que ninguém legislasse sobre isso. Hoje em dia, ouço a palavra blecaute principalmente no sentido 2. "cortinas completamente opacas, geralmente de material plástico e utilizadas em conjunto com outras cortinas de materiais mais nobres."
Kenneth Starr
25.10.05
Federação pra quê (de novo)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já está sendo pressionado por sua base de apoio a reformular a sua política para a área de segurança pública, em face da derrota da proibição da venda de armas do referendo. Junto com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, Lula deverá manter algumas reuniões com integrantes da aliança governista mais identificados com o tema, para determinar novas linhas de ação.
As primeiras pressões começaram ainda no dia da votação, quando o presidente do Senado e da Frente Brasil Sem Armas, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que a União era " voluntariamente omissa na segurança". "O referendo foi um sinal de alerta para o governo. Todas as pesquisas de opinião sempre mostram que o tema da segurança pública divide as atenções do eleitorado com a geração de empregos e o governo passou mais de dois anos sem dar tratamento prioritário para a área", afirmou o deputado petista Antonio Carlos Biscaia, do Rio de Janeiro, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
E sobre agropecuária:
Uma novidade da lei é a criação de um "SUS agropecuário", batizado Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária. As alterações na legislação buscam acabar com a forte influência política nas discussões sobre sanidade. A regulamentação da lei criará comitês científicos de sanidade animal para discutir a questão sem a ingerência de secretários e governadores estaduais.
PS ainda na matéria sobre segurança, medo, muito medo:
A pressão por mais recursos para a área não é a única que o governo federal terá que enfrentar. A vitória do "não" no referendo entusiasmou lideranças que pretendem um endurecimento no Código Penal, alterando até as chamadas cláusulas pétreas da Constituição, como o direito à vida. Há o entendimento no meio jurídico que as chamadas cláusulas pétreas, descritas no artigo 60 da Constituição, só podem ser revistas por uma Assembléia Nacional Constituinte e um debate sobre a possibilidade destas mudanças serem feitas também por consulta popular.
"Sou a favor de levar a questão da pena de morte para um referendo popular. A sua proibição é uma cláusula pétrea da Constituição, mas eu tenho uma tese de que a democracia direta pode decidir, por meio de plebiscito ou referendo, até mesmo sobre essas questões", afirmou o presidente nacional do PMDB, o deputado Michel Temer (SP).
24.10.05
20.10.05
Comunidade da Soja e do Gado
Ora, o gado infectado com aftosa do Paraguai, que fez o PSDBFL pedir a renúncia do ministro da Agricultura, deixa claro que imitar os europeus nos detalhes pode ajudar com esses dois entraves. É só lembrar que a UE, que hoje se estende da foz do Tejo ao Mar Báltico, nasceu como Comunidade do Carvão e do Aço, em volta do Reno. Assim como o vale do Reno é um centro importante de produção de carvão e aço, pelo qual os membros iniciais da CEE já entraram em guerra, no Mercosul temos o vale do Paraguai-Paraná, centro importante de produção de soja e gado, pelo qual os países envolvidos já brigaram. A coordenação da agropecuária, principalmente da vigilância sanitária, entre os cinco países (mais a Bolívia) é do interesse (econômico) de todos eles; igualmente a proteção do Pantanal dividido entre os três que estão rio acima, inclusive para não correr risco de perder a hidrovia do Paraná.
É claro que vão continuar existindo diferenças importantes entre o processo de integração de ex-potências mundiais e ex-colônias, um durante os trinta anos da Idade de Ouro da social-democracia e crescimento econômico, outro em tempos de globalização, um com Krupp-Usinor o outro com Cargill-Bunge. Mas seria um começo - um órgão do Mercosul com atribuições reais, que interessa aos poderes econômicos de todos os envolvidos.
18.10.05
Sartori
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Não é o Hélio Costa. É que o clima de caça às bruxas está tão forte que nem os políticos de estimação servem. Vale lembrar que a escrava caribenha Tituba, a única "bruxa" do episódio de Salem, não esteve entre os enforcados...
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Ali Kamel tem uma revelação própria a fazer - os trens lotados da Central do Brasil são ilusão sensória, já que "Tais áreas já são servidas por trens, que, hoje, têm serviços melhores e grande capacidade ociosa." Talvez o pessoal devesse meditar sobre uns koans para se livrar da ilusão de gente lhes apertando e trens que quebram. E o Ali Kamel deveria ler o próprio jornal, que detalhava o estado precário do transporte de massas no Rio, na edição de anteontem.
Spam de chumbo
A cláusula da OMC não existe. E se existisse, não seria afetada pelo referendo. A Grã-Bretanha vende armas pro mundo inteiro, e lá as restrições à venda são bem mais severas, não apenas do que as do Brasil pós-2003, mas do que a situação se o "Sim" vencer.
Todo mundo que está falando em cartas-correntes que a violência é fruto da pobreza e da desigualdade deveria ser terminantemente proibido, depois, de repetir discursos contra impostos progressivos, transferências de renda e desenvolvimentismo. Ia diminuir a poluição sonora.
Esse plebiscito não é "você é contra ou a favor da classe política brasileira?", e votar "não" só é protesto contra a corrupção na sua cabeça. Já viu quem está na frente pelo "não"? Ou, aliás, quem está recomendando a cassação alheia?
E PAREM DE ME MANDAR SPAM POR CONTA DESSA DROGA DE PLEBISCITO. Não sabia em quem votar, nem me importava muito. Inclusive porque o desarmamento já aconteceu, em 2003, com a aprovação do estatuto. De um milhão de armas vendidas para 60 mil - o fuzuê todo é por conta dos 6% restantes. Vou votar sim só por conta dessa propaganda do "não."
17.10.05
Será o Hélio Costa?
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Com 13 anos de existência, o casamento entre César Maia e o Globo parece que passa por um divórcio nada amigável. No jornal deste domingo, uma lista imensa dos factóides do prefeito; na série neo-lacerdista sobre limpeza étnica em favelas, a culpa pela primeira vez não é do "governo federal que não ajuda"; no caderno Rio de hoje, "ATÉ O FAVELA-BAIRRO É CONTESTADO." Por mim, acho ótimo...mas que eu gostaria de saber o motivo, gostaria.
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A Revista (de domingo não, olha o JB), mais uma vez, tem uma definição elástica de classe média. No caso, inclui empresários que contratam equipes de segurança, pagando de 50 a 750 reais por noite de sábado (mais o que os filhos já gastam). E na mesma reportagem, me sinto um pouco Simão Bacamarte, porque o "empresário da segurança" explica que depois das 10 da noite é uma temeridade andar pelas ruas do Rio, depois de uma da manhã elas estão entregues aos traficantes, e é inevitável topar com um "bonde" de traficantes.
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Ancelmo Gois reescreve a história brasileira, fazendo de Zumbi o fundador de Palmares. Zumbi, tradicionalmente, teria nascido no quilombo, o que para satisfazer o colunista significaria que ele fundou Palmares ainda no útero. Fora ter se escondido e não envelhecido por uns 80, 90 anos.
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Olavo se foi, mas o Globo nos presenteia com a coluna cômico-reaça do Rosenfield.
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Entre as promessas imperiais não cumpridas, arroladas pelo Grobo, está a do Transpan. Volto a perguntar sobre o Transpan: de superfície, ligando os aeroportos? Por onde, pelo meio da Rio Branco?
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O Globo cita Larry Rohter, o crítico musical-correspondente estrangeiro, que no NY Times diz que madeireiros, desdenhando da lei, rapinam a Amazônia. Deixando inteiramente de lado a tendenciosidade de um sujeito que segue no mesmo caminho da sua matéria sobre "boatos de que o presidente é pinguço" (há sobre tudo quanto é presidente do mundo, mas acertadamente o NY Times não reproduz os boatos de que o Bush, ex-alcóolatra, voltou a beber), a matéria mostra porque crítico musical como correspondente estrangeiro não é uma boa idéia, na confusão que o Rohter faz com os números. A não ser que, ao confundir valor com volume e falar de diferenças sazonais ao falar da comparação entre dados da mesma estação, ele esteja sendo desonesto mesmo.
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O Panorama Político está divertidíssimo, pelo menos pra quem encara a política como circo.
E uma minha
16.10.05
Santas falácias, Batman!
E assim, ligando ao subtítulo, começa a lista das falácias do desarmamento. Ela não inclui os absurdos inventados pela Veja, que não são falácias, são mentiras tiradas de blogs reaças americanos e cartas-corrente, só falácias de gente razoável. A primeira, que é a que tem a ver com o Batman, é "a arma é uma ferramenta como outra qualquer, quem mata é a pessoa." O único erro aí está no "como outra qualquer." A arma é uma ferramenta, sim, só que um martelo é usado para pregar, e pregar é considerado uma atividade razoável. O verbo associado à arma é "matar," o que a sociedade condena. Mais, até onde eu saiba, do que condena "fabricar drogas," e os produtos químicos usados para fabricar drogas são proibidos. Pode dizer que a arma também é usada para outras coisas, mas o verbo primário dela é matar - até a autodefesa envolvendo uma arma parte do princípio de que aumentam as suas chances de matar o agressor.
"Quem quer matar alguém ou a si mesmo vai fazer isso de qualquer jeito." Olha, eu posso estar enganado, mas a última batalha de verdade perdida por gente usando armas de fogo, contra gente que não as portava, foi a batalha de Isandlwana, entre as tropas da rainha Vitória da Grã-Bretanha e as do rei Cetswayo da Zululândia. Isso em 1879. Armas de fogo modernas são muuuuito melhores do que as de 1879. E os impi zulus são considerados alguns dos melhores regimentos de lanceiros da história da humanidade. E estavam em vantagem numérica. O Borges comenta sobre algo semelhante, sobre como com as armas de fogo acabam os "valentes" da juventude dele, os grandes duelistas de faca - com revólver, os que se metiam a valente demais acabavam mortos antes de construir uma reputação. Até os suicidas entram nessa conta - a maioria se arrepende depois de uma tentativa fracassada; muitos tem vidas felizes e produtivas depois. Suicídios com armas de fogo têm mais chances de dar certo.
"Desarmam os cidadãos de bem ao invés dos bandidos" Cidadão de bem é a BEEEEEEP BEEEEEP BEEEEEEP. Essa diferença maniqueísta e essencial entre cidadão de bem e bandido é uma bobagem com tintas de preconceito de classe e de cor.
Passando de lado:
"A situação de violência brasileira faz com que o desarmamento seja urgente e necessário." A situação de violência brasileira é estrutural, e afeta relativamente pouco os mais histéricos com ela. Vem do fato de, para boa parte da nossa população, o estado ser um tirano, um Caveirão ou Antônio das Mortes, responsável diretamente por um número de execuções comparável ao de uma pequena guerra, enquanto à sua sombra (e em parte graças à sua cooperação ativa) reizinhos, sejam eles os coronés, as mineiras ou os traficantes, prosperam. O desarmamento afeta principalmente um tipo de violência que não é, no Brasil, particularmente intenso.
"Vote pelo desarmamento" O Estatuto do Desarmaento já está em vigor, e ajudou a cortar em 90% a venda de armas. E, justamente em troca do plebiscito sobre a proibição da venda de armas a civis, abre uma exceção justamente para os responsáveis pela maior parcela das mortes, dentre os que compram arma com nota fiscal, os policiais e seguranças. E se pensar no mercado negro, se está cortando um quarto do suprimento (armas internacionais, brasileiras trianguladas no paraguai, brasileiras vendidas a guardas, brasileiras vendidas a particulares). Existe, inclusive, uma possibilidade real de que, como no caso de outros itens, a probição radical estimule o contrabando. Essa possibilidade só se torna por sua vez uma falácia quando é feita a analogia direta com a droga - se é por aí, vamos proibir, porque a evidência é de que mais gente fica viciada em drogas ilegais, mas menos gente tem acesso em geral. E não existe "vício" em dar tiros.
"Sou da paz" A paz é que nem a democracia, é de todos. Desde a morte do Mussolini e do Marinetti que ninguém fala mal delas. Acho que o Fernandinho Beira-mar é da paz, tenho certeza de que o Bush é da paz. Saddam Hussein devia ser da paz, creio que o Jonas Savimbi já se disse da paz, e se Volodya Putinho não for da paz eu quero ser um mico de circo.
*Frank Miller: Cavaleiro das Trevas. Miller e Mazzucheli: Ano Um. Grant Morrison e Dave McKean: Arkham Asylum. Mark Waid e Alex Ross: Kingdom Come.
Vote sim, ou ele quebra a sua espinha.
PS - Opiniões mais bem escritas e pensadas do que as minhas disponíveis no Nós na Rede
7.10.05
6.10.05
Estado de Seguro-estar Social
4.10.05
Te cuida, jegue
As principais empresas de máquinas agrícolas que atuam no país estão fazendo pesquisas para adaptar os motores de seus tratores à era dos biocombustíveis. A brasileira Agrale iniciou neste ano, em parceria com a A parceria foi firmada em 2004, e a meta da Agrale é lançar motores e tratores bicombustíveis em 2006. "O objetivo é atender principalmente à demanda da agricultura familiar, que tende a voltar seu foco para o biodiesel", diz Sílvio Rigoni, gerente de tratores da companhia. A Agrale também desenvolve pesquisas em parceria com a |