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27.4.11

Effluvium vitalis II

Que a palavra da moda quando se fala em reforma urbana no Brasil, "revitalização," muitas vezes esconde mais do que simplesmente trazer nova vida a áreas abandonadas é algo que não parece precisar de ser argumentado; que o digam os exemplos mencionados no primeiro post com nome igual ao deste, da Lapa e da Praça Roosevelt, em que áreas quase literalmente transbordando de vida são candidatas à "revitalização." Os mesmos exemplos também servem para indicar o verdadeiro significado da palavra, "valorização imobiliária" de áreas próximas; numa perspectiva menos mesquinha, a inserção dos países em uma economia global transiente, como descrito por Marcelo Lopes de Souza em seu livro mudar a cidade. (Ou, talvez ao sonho globalizante de uma elite ainda principalmente local.)

Os dois maiores projetos de revitalização brasileiros repetem o modelo do primeiro e mais emblemático desses projetos, as docklands londrinas, que sepultaram sob carradas de mármore e arquitetura neoshoppingcenter de César Pelli as históricas áreas de quando o porto de Londres era o maior do mundo, com direito a um belo chute na bunda dos moradores locais, ao transferir atribuições públicas a entes privados. Também no que tange a ignorar as necessidades e anseios dos sem-terno; no Rio de Janeiro, apesar da abundância de terrenos públicos na zona portuária, os projetos de moradia social atendem apenas a uma parte pífia da demanda, e quase nenhum equipamento público local será construído.

Em São Paulo, devido à falta dos tais espaços em mãos do poder público, e talvez à demofobia que marca as administrações Serra-Kassab, a companhia que detém a concessão da Nova Luz tem a remoção dos atuais moradores e comércio para serem substituídos pelos mais branquinhos e engomadinhos uma meta quase explícita - nas infelizes palavras do secretário de habitação de Serra, "essa gente, você sabe, é muito promíscua, além disso não vai ao Mappin comprar tesoura, não faz a economia circular." E para cumprir essa meta, assim como as Docklands londrinas, a concessionária teria o direito de desapropriar terras para revendê-las - uma ingerência no direito à propriedade privada que, curiosamente, não se vê muitos liberais protestarem.
Por outro lado, se vê, agora, uma liminar bem dada contra a inconstitucionalidade da coisa.

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