O Jornal do Commercio noticia que os moradores da região Portuária do Rio estão com os dois pés atrás em relação à proposta de revitalização da prefeitura. Têm toda razão, visto que a proposta da prefeitura é explicitamente voltada à realização, como em Puerto Madero, de um empreendimento imobiliário de grande porte, voltado à "cidade global" preconizada pelos andarilhos que consultam os índices de atratividade de cidades da Economist Intelligence Unit antes de se decidir pelo próximo emprego. É basicamente a mesma idéia de cidade defendida pelo César Maia, o que demonstra uma surpreendente linhagem na política de uma cidade que gosta de se pensar de esquerda, e na qual os candidatos mais à esquerda para o governo federal geralmente se dão relativamente bem.
O que é curioso nessa palavra, "revitalização," é que a premissa dela, de que uma área urbana está morta, não é falsa. Nas grandes cidades com mais de cinquenta anos (isto é, quase todas), existem quase sempre grandes áreas com poucos empregos, o que leva ou à depressão econômica dos moradores, ou à sua fuga, ou aos dois. No caso específico da zona portuária do Rio, isso é bem claro; com a perda de importância da atividade portuária, deslocada para o cais do Caju e automatizada, boa parte da área virou uma cidade deserta. E uma área assim deveria, sim, ser revitalizada. Voltar a se encher de gente e de empregos para essa gente.
Entretanto, que a função da "revitalização" quando é mencionada, significa "especulação imobiliária" é provado por um caso flagrante de revitalização de uma área sem intervenção estatal; a revitalização da praça Roosevelt através da mudança, para lá, de companhias de teatro independentes, já mencionada na crônica anterior. O melhor? A prefeitura, após diminuir a intensidade dessa revitalização, continua falando numa obra para "revitalizar" o local. (Isto é, torná-lo mais atraente para o mercado imobiliário.) Do mesmo modo, no Rio, a prefeitura justifica a permissão para que se viole o gabarito da Lapa com a "revitalização" - sendo que na Lapa não só não há falta de vida como, sinceramente, qualquer um que tente atravessar o bairro entre quinta e sábado gostaria que tivesse um pouco menos de vida.
Na Luz, como no Porto do Rio, a alegação de "revitalização" faz um pouco mais de sentido. A solução - um imenso shopping center, além de uma academia de dança - é que não faz nenhum. Shopping centers desvitalizam seu entorno, e não o contrário. Ou melhor, faz todo o sentido só se você fizer a tradução de novilíngua para português.
Um comentário:
E o jornal do commercio noticia alguma coisa? Hehe
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